sexta-feira, 2 de março de 2012

Para os que ficam, bye, bye - Parte V - Final

Continuação...

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Acapulco

Seu Antero encheu Leo de presentes, como roupas, perfumes, maquiagem, sapatos, bijuterias (ela não quis jóias de jeito nenhum), e depois um jantar num lugar simples, mas bem simpático: uma pizzaria regada a chop e música ao vivo. Se lembrava de sua juventude, quando dividia a pizza com mais dois casais amigos, todos pobres, mas felizes. Depois se lembrou de Dorotéia, do quanto ela também era simples e nem ligava para o luxo que tinha aos seus pés.
Nas próximas semanas, viveu dias maravilhosos de felicidade, de paz, de tranquilidade, para o desespero de seus filhos, que por debaixo do pano, moviam uma ação para interditar o pai.
Num dia nublado, com uma fina garoa, friozinho, seu Antero foi acordado por Guida, dizendo que tinha um oficial da justiça procurando por ele.
Levantou, tomou um banho rápido e foi receber o rapaz.
- Em que devo a visita? - disse, estendendo a mão num cumprimento cordial.
- Sou o oficial de justiça Mateus Damasceno, vim lhe entregar esse relatório e lhe informar que a partir de hoje, o senhor não tem mais o livre arbítrio sobre suas propriedades, seu dinheiro, nada mais. - disse o rapaz, secamente, estendendo uma pasta que continha toda a papelada do processo de interdição..
Antero começou a ler e não acreditou! Começou a esbravejar com ódio dos filhos que fizeram isso:
- Malditos, eu os criei, os sustentei, deixei tudo para eles e agora, querem me matar para poderem ficar com o resto? - esbravejou, xingando cada um dos filhos.
- Obrigado, sr. Damasceno. - se despediu do oficial e fechou a porta.
Imediatamente, pegou o telefone e ligou para Antoine:
- Eu quero que você venha aqui agora e me fale tudo isso me olhando nos olhos, seu cretino! - e desligou o telefone, tremendo nos nervos.
Duas horas depois, chega Antoine, com a cara mais sonsa que ele podia demonstrar e apenas disse:
- Eu avisei, pai, eu avisei que isso não ia ficar assim. É para o seu próprio bem... - disse tranquilamente, colocando as mãos nos bolsos.
- Vocês querem me matar? Querem o quê mais, heim, seus mal-agradecidos, interesseiros, insensíveis? Já não basta sua mãe ter ido embora, agora você também quer me ver morto? - respondeu com as lágrimas rolando pelo rosto vermelho de ódio.
- Calma, pai, calma... é só o senhor dispensar essa mulher que tudo volta ao normal. - mais uma vez respondeu com aquela cara cínica de debochado.
- Mas é muita petulância de vocês, seus moleques! Mal saíram dos cueiros e já querem tomar conta de tudo? Eu já dei para todos vocês o que lhes cabia por direito. E minha vida, eu vivo como eu quero! - gritou seu Antero, com lágrimas nos olhos.
- Pai, pai, o senhor não conhece essa mulher... é uma trambiqueira. Quem é a família dela? Por que ela vive tão longe do Brasil? Quem garante que ela não está interessada no seu dinheiro? - respondeu Antoine com a calma de um samurai.
- Eu sei que ela não é trambiqueira e nem interesseira! Interesseiros são todos vocês que querem me matar antes da hora! Eu deveria ter dado umas belas dumas palmadas nessas bundas folgadas que vocês têm, isso sim! - indignado, seu Antero se sentou e colocou as mãos na cabeça, inconformado.
- É para o seu próprio bem, pai, temos que preservar a família. O senhor deve estar confuso com a morte da mamãe...
- Não coloque a sua mãe no meio! - gritou seu Antero.
- Mas pai, temos que preservar a honra de mamãe, e o que os outros vão pensar? Já pensou nisso?
- Que explodam todos os outros e suas malditas bocas! Você pensa que eu sou alguma moleque? Que não tenho vivência, experiência? Quem você pensa que é para falar o que eu devo ou não fazer? - seu Antero se levantou e pegou Antoine pelo colarinho e quase o levantou do chão, com tanta raiva que estava sentindo agora.
- Se acalme, pai, olha a sua pressão... Quer que eu chame um médico? O doutor Alberto?
- Pro inferno, o médico! Eu vou é te internar num hospício! Seu louco! E quer saber, some daqui, agora! - empurrou Antoine que quase caiu para trás.
- Daqui a pouco passa... é só levar aquela mulher para onde ela não deveria ter saído. Só isso, pai! - respondeu, tranquilo.
Seu Antero, nervoso, pegou nos ombros de Antoine e sacudindo-o, dizendo:
- Olha aqui, seu merda, está bem! Vou levar Leonor de volta de onde a tirei. Para isso eu preciso pelo menos do dinheiro das passagens. Pode ser ou não? - disse, encarando o filho bem no fundo dos olhos.
Antoine, pegou a carteira no bolso da calça, tirou uma quantidade suficiente de dinheiro e entregou ao pai, e foi embora satisfeito.
Seu Antero, indignado, não perdeu tempo e foi falar com Leonor que iriam embora daquela casa, para um lugar mais lindo ainda, a beijou e pediu que também arrumasse as malas. Feito!
Foi até a cozinha, se despediu de Guida e Ruan, agradecendo por todos esses anos de fidelidade e bons serviços, deu para cada um o dinheiro que pegara de Antoine, pegou as malas e um dinheiro que tinha, guardado num cofre secreto no seu quarto, e seguiram ao aeroporto, de táxi.
Foram para Acapulco no primeiro voo disponível.
Chegando lá, ao pisar na praia, caiu de joelhos e com os braços abertos e silenciosamente começou uma oração: "Dorotéia, minha amada, agora é aqui que estou, e você estará sempre aonde eu estiver. Aqui que vou morrer para poder lhe encontrar, quando chegar minha hora. Eu te amo, minha amada, meu amor!". E chorou muito, ali quietinho, e Leonor do lado, também chorando, e entendendo a agonia do namorado.
Depois, seu Antero se levantou, abraçou Leonor, a rodopiou nos braços e disse para ela não se preocupar, porque grande parte de sua fortuna estava num dos bancos daquela cidade, que ele havia transferido quando estivera ali pela primeira vez, quando a conheceu. Continuava milionário!
- Que bobagem, Antero, eu faço sanduíches, esqueceu? E quem precisa de fortuna para viver, se temos tudo isso aqui aos nossos pés? - e o beijou longamente.
E a vida dos dois continuou assim por mais doze anos, com muitas alegrias, simples, mas com toda a natureza a lhes presentear todos os dias. Tinha pouquíssimo contato com os filhos e com o Brasil. Disse que não voltaria mais, de jeito nenhum.
Morreu tranquilo, dormindo em casa, com um leve sorriso nos lábios, e deixou toda a fortuna que praticamente estava intacta, para sua amada Leonor, que depois achou melhor dividir com pessoas carentes, criando uma instituição para pessoas abandonadas, com o nome Antero Ferreira da Silva.

FIM

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6 comentários:

  1. Gostei muito!!!

    Iria embora tb, mas sem antes de pagar alguém pra enfiar a porrada nesse FDP.
    Teria que deixar ele sem andar por uns 2 anos.

    Não sou vingativo, aliás particularmente, eu acho que vingança é coisa de babaca. Mas sacanagem eu não admito.

    Continue escrevendo seus contos e tente alçar vôos ainda mais altos e maiores.

    Precisando de ajuda é só dar um grito!!

    PS.: Ainda não aceitei aquilo de ontem.

    Beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

    KK

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  2. Maravilhoso e os filhos foram maus, mas ele também teve muita sorete que a Leonor era correta, pois de trambiqueiras assim,tá cheio!!!

    Adorei! beijos,lindo final! chica

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  3. Eu tinha certeza desse final feliz!!!!
    E fico danada da vida com pessoas que conheço que fazem isso com os pais e eles não tem coragem de agir como seu Antero!!!!!! Como existe falsidade e ganância de filhos para com os pais, não é? Vemos isso em cada esquina.
    Adorei esta leitura da semana. Parabéns!
    Beijos.

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  4. Muito legal o fim Clara. E a decisão dela de doar deu uma característica bem forte à personagem.

    Abração Clara!

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  5. Clara,mais um conto muito bem escrito,com diálogos bem articulados,trama perfeita e final feliz!Eu adorei acompanhar!Bjs,

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  6. Clara
    Adorei o seu conto . Agradável de ler bem espirituoso e alegre. Me surpreendeu toda a trajetória da história e um final feliz com a amada, uma pessoa rara.

    Parabéns
    Beijos

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