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Acapulco |
Seu Antero encheu Leo de presentes, como roupas, perfumes, maquiagem, sapatos, bijuterias (ela não quis jóias de jeito nenhum), e depois um jantar num lugar simples, mas bem simpático: uma pizzaria regada a chop e música ao vivo. Se lembrava de sua juventude, quando dividia a pizza com mais dois casais amigos, todos pobres, mas felizes. Depois se lembrou de Dorotéia, do quanto ela também era simples e nem ligava para o luxo que tinha aos seus pés.
Nas próximas semanas, viveu dias maravilhosos de felicidade, de paz, de tranquilidade, para o desespero de seus filhos, que por debaixo do pano, moviam uma ação para interditar o pai.
Num dia nublado, com uma fina garoa, friozinho, seu Antero foi acordado por Guida, dizendo que tinha um oficial da justiça procurando por ele.
Levantou, tomou um banho rápido e foi receber o rapaz.
- Em que devo a visita? - disse, estendendo a mão num cumprimento cordial.
- Sou o oficial de justiça Mateus Damasceno, vim lhe entregar esse relatório e lhe informar que a partir de hoje, o senhor não tem mais o livre arbítrio sobre suas propriedades, seu dinheiro, nada mais. - disse o rapaz, secamente, estendendo uma pasta que continha toda a papelada do processo de interdição..
Antero começou a ler e não acreditou! Começou a esbravejar com ódio dos filhos que fizeram isso:
- Malditos, eu os criei, os sustentei, deixei tudo para eles e agora, querem me matar para poderem ficar com o resto? - esbravejou, xingando cada um dos filhos.
- Obrigado, sr. Damasceno. - se despediu do oficial e fechou a porta.
Imediatamente, pegou o telefone e ligou para Antoine:
- Eu quero que você venha aqui agora e me fale tudo isso me olhando nos olhos, seu cretino! - e desligou o telefone, tremendo nos nervos.
Duas horas depois, chega Antoine, com a cara mais sonsa que ele podia demonstrar e apenas disse:
- Eu avisei, pai, eu avisei que isso não ia ficar assim. É para o seu próprio bem... - disse tranquilamente, colocando as mãos nos bolsos.
- Vocês querem me matar? Querem o quê mais, heim, seus mal-agradecidos, interesseiros, insensíveis? Já não basta sua mãe ter ido embora, agora você também quer me ver morto? - respondeu com as lágrimas rolando pelo rosto vermelho de ódio.
- Calma, pai, calma... é só o senhor dispensar essa mulher que tudo volta ao normal. - mais uma vez respondeu com aquela cara cínica de debochado.
- Mas é muita petulância de vocês, seus moleques! Mal saíram dos cueiros e já querem tomar conta de tudo? Eu já dei para todos vocês o que lhes cabia por direito. E minha vida, eu vivo como eu quero! - gritou seu Antero, com lágrimas nos olhos.
- Pai, pai, o senhor não conhece essa mulher... é uma trambiqueira. Quem é a família dela? Por que ela vive tão longe do Brasil? Quem garante que ela não está interessada no seu dinheiro? - respondeu Antoine com a calma de um samurai.
- Eu sei que ela não é trambiqueira e nem interesseira! Interesseiros são todos vocês que querem me matar antes da hora! Eu deveria ter dado umas belas dumas palmadas nessas bundas folgadas que vocês têm, isso sim! - indignado, seu Antero se sentou e colocou as mãos na cabeça, inconformado.
- É para o seu próprio bem, pai, temos que preservar a família. O senhor deve estar confuso com a morte da mamãe...
- Não coloque a sua mãe no meio! - gritou seu Antero.
- Mas pai, temos que preservar a honra de mamãe, e o que os outros vão pensar? Já pensou nisso?
- Que explodam todos os outros e suas malditas bocas! Você pensa que eu sou alguma moleque? Que não tenho vivência, experiência? Quem você pensa que é para falar o que eu devo ou não fazer? - seu Antero se levantou e pegou Antoine pelo colarinho e quase o levantou do chão, com tanta raiva que estava sentindo agora.
- Se acalme, pai, olha a sua pressão... Quer que eu chame um médico? O doutor Alberto?
- Pro inferno, o médico! Eu vou é te internar num hospício! Seu louco! E quer saber, some daqui, agora! - empurrou Antoine que quase caiu para trás.
- Daqui a pouco passa... é só levar aquela mulher para onde ela não deveria ter saído. Só isso, pai! - respondeu, tranquilo.
Seu Antero, nervoso, pegou nos ombros de Antoine e sacudindo-o, dizendo:
- Olha aqui, seu merda, está bem! Vou levar Leonor de volta de onde a tirei. Para isso eu preciso pelo menos do dinheiro das passagens. Pode ser ou não? - disse, encarando o filho bem no fundo dos olhos.
Antoine, pegou a carteira no bolso da calça, tirou uma quantidade suficiente de dinheiro e entregou ao pai, e foi embora satisfeito.
Seu Antero, indignado, não perdeu tempo e foi falar com Leonor que iriam embora daquela casa, para um lugar mais lindo ainda, a beijou e pediu que também arrumasse as malas. Feito!
Foi até a cozinha, se despediu de Guida e Ruan, agradecendo por todos esses anos de fidelidade e bons serviços, deu para cada um o dinheiro que pegara de Antoine, pegou as malas e um dinheiro que tinha, guardado num cofre secreto no seu quarto, e seguiram ao aeroporto, de táxi.
Foram para Acapulco no primeiro voo disponível.
Chegando lá, ao pisar na praia, caiu de joelhos e com os braços abertos e silenciosamente começou uma oração: "Dorotéia, minha amada, agora é aqui que estou, e você estará sempre aonde eu estiver. Aqui que vou morrer para poder lhe encontrar, quando chegar minha hora. Eu te amo, minha amada, meu amor!". E chorou muito, ali quietinho, e Leonor do lado, também chorando, e entendendo a agonia do namorado.
Depois, seu Antero se levantou, abraçou Leonor, a rodopiou nos braços e disse para ela não se preocupar, porque grande parte de sua fortuna estava num dos bancos daquela cidade, que ele havia transferido quando estivera ali pela primeira vez, quando a conheceu. Continuava milionário!
- Que bobagem, Antero, eu faço sanduíches, esqueceu? E quem precisa de fortuna para viver, se temos tudo isso aqui aos nossos pés? - e o beijou longamente.
E a vida dos dois continuou assim por mais doze anos, com muitas alegrias, simples, mas com toda a natureza a lhes presentear todos os dias. Tinha pouquíssimo contato com os filhos e com o Brasil. Disse que não voltaria mais, de jeito nenhum.
Morreu tranquilo, dormindo em casa, com um leve sorriso nos lábios, e deixou toda a fortuna que praticamente estava intacta, para sua amada Leonor, que depois achou melhor dividir com pessoas carentes, criando uma instituição para pessoas abandonadas, com o nome Antero Ferreira da Silva.
FIM
.
Gostei muito!!!
ResponderExcluirIria embora tb, mas sem antes de pagar alguém pra enfiar a porrada nesse FDP.
Teria que deixar ele sem andar por uns 2 anos.
Não sou vingativo, aliás particularmente, eu acho que vingança é coisa de babaca. Mas sacanagem eu não admito.
Continue escrevendo seus contos e tente alçar vôos ainda mais altos e maiores.
Precisando de ajuda é só dar um grito!!
PS.: Ainda não aceitei aquilo de ontem.
Beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
KK
Maravilhoso e os filhos foram maus, mas ele também teve muita sorete que a Leonor era correta, pois de trambiqueiras assim,tá cheio!!!
ResponderExcluirAdorei! beijos,lindo final! chica
Eu tinha certeza desse final feliz!!!!
ResponderExcluirE fico danada da vida com pessoas que conheço que fazem isso com os pais e eles não tem coragem de agir como seu Antero!!!!!! Como existe falsidade e ganância de filhos para com os pais, não é? Vemos isso em cada esquina.
Adorei esta leitura da semana. Parabéns!
Beijos.
Muito legal o fim Clara. E a decisão dela de doar deu uma característica bem forte à personagem.
ResponderExcluirAbração Clara!
Clara,mais um conto muito bem escrito,com diálogos bem articulados,trama perfeita e final feliz!Eu adorei acompanhar!Bjs,
ResponderExcluirClara
ResponderExcluirAdorei o seu conto . Agradável de ler bem espirituoso e alegre. Me surpreendeu toda a trajetória da história e um final feliz com a amada, uma pessoa rara.
Parabéns
Beijos