domingo, 5 de fevereiro de 2012

Rainha - parte I


Cidade do interior, pouco mais de 20 mil habitantes, bucólica, uma praça central com uma igreja, um coreto, alguns bancos e árvores. Também uma sorveteria, pastelaria, botecos, pizzaria e apenas um bom restaurante. Era nesse restaurante que trabalha Milene.
Uma moça comum, de 15 anos, mas já precisando trabalhar, pois a família era bem simples. E além disso, estudava à noite e não tinha muitos sonhos. Vivia como a vida tocava. "Como Deus quer", repetia sempre, assim  como todos de sua família.
Cidade pequena é assim mesmo, a maioria entrega a vida a Deus e vive conforme tem em mãos. Os sonhos são poucos e as condições também são mínimas.
O que predominava na pequena cidade era o trabalho rural, e Milene agradecia por ter esse emprego. Se não fosse isso, seria doméstica em alguma casa de família. Esse era o destino de muitas mocinhas da cidade.
Por ela, já teria parado de estudar, mas por imposição dos pais, terminaria o ensino médio.
Ainda não tinha namorado ninguém; "só paqueras" quando saía à noite, dando voltas pela praça, depois de ir à missa, claro! Família extremamente católica, Milene era a caçula de sete irmãos, todos homens. Por isso, era o tempo todo vigiada, aconselhada e reprimida. E tinha medo de todos eles, principalmente do pai, que mal falava com ela;  apenas o básico. Milene o respeitava por medo e não por respeito. Sempre presenciava as agressões deste com sua mãe, que aguentava calada, pois tinha que cumprir seu papel de esposa.
Milene não concordava e ficava sempre trancada num minúsculo quartinho - o seu mundinho - e não tinha a intenção de se casar um dia. Queria mesmo era sumir dali. Não sabia o que era carinho. Pai arrogante, irmãos arrogantes também e mãe submissa: era tudo o que ela não queria.
Mas como sonhar com algo sem nenhuma condição de nada?
Desabafava com as amigas da mesma idade, riam sempre, planejavam fugir; coisas de adolescentes.
Aos sábados à tarde, Milene fazia um curso de informática, que amava. Aí sim podia viajar pelo mundo sem ter que sair do fim de mundo onde morava.
Algumas amizades, bate-papos, troca de informações, nada de mais. Tinha os pés no chão e já sabia do perigo de amizades virtuais. Milene era uma menina medrosa e arredia.
Em seu trabalho, ficava no caixa, trabalho de responsabilidade que a deixava orgulhosa. Em seis meses, nunca havia faltado um centavo sequer, e sempre era elogiada pelo dono do estabelecimento.
Chegaram as férias de julho e o trabalho aumentou muito, pois na cidade tinha um rodeio.
Mas, além disso, o filho do dono do restaurante estaria voltando, depois de cinco anos de estudos no Rio de Janeiro. Agora era Engenheiro Agrícola, com muito orgulho da família.
Milene estava ansiosa para conhecê-lo, já que os pais dele sempre falavam muito de seu rebento, como se fosse a oitava maravilha do mundo. Filho único!
O dia chegou, todos ansiosos, Milene se arrumou um pouco mais, passou maquiagem e um batom rosa bem clarinho, contrariando sua família que abominava mulher "pintada". Fez tudo isso escondida, no restaurante mesmo.
Quando Ademar chegou, Milene quase teve um ataque! Parecia um daqueles moços que via em fotos pela internet. Lindo! Sorriso largo, dentes perfeitos, corpo esculpido, bronzeado... De tirar o fôlego.
Foram apresentados e o assunto ficou só nisso. Mas Milene não conseguia tirar o moço da cabeça.
Ademar, Ademar, Ademar... Ficava repetindo, quando se deitava na cama para dormir.
Ao mesmo tempo, dava batidas na cabeça: "mas tu é burra mesmo, heim Milene! Imagina se um moço daquele vai olhar pra sua cara!". E continuava sonhando acordada assim mesmo.
Dois dias depois, sendo muito paparicado por todos, foi que Ademar parou para conversar com Milene. Perguntou sobre tudo e fixava seu olhar nos olhos dela que a coitadinha não sabia nem onde colocar a vergonha.
Com o tempo, já tinham até uma certa amizade, e Milene cada vez mais apaixonada, mesmo sabendo que isso seria impossível.
Um dia, o pai de Ademar o deixou responsável pelo restaurante para resolver coisas em uma fazenda próxima. De manhã, já com Milene trabalhando, chega Ademar, a puxa pelo braço, a encosta na parede e lhe "tasca" um beijaço de tirar o fôlego.
Milene não sabia o que fazer; perdeu totalmente os sentidos e ficou paralisada. Ademar só deu um sorriso, a soltou e foi cuidar do restaurante.

Continua...

8 comentários:

  1. Vai ser legal.Já deu pra ver!beijos,ótima semana,chica

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  2. Interessante, seu modo de desenrolar a trama...
    Que bom ficou isso. Sabe é dura a vida de quem vive em uma cidade pequena ( eu já vivi! ) e sei como é.. realizar um amor... encontrar trabalho.. ser respeitado pelo que se é... e mais, não cair na fofoca no mal agouro... é um desafio de Dante! Olha... muito sensível tua visão!
    Bejus Clara Lúcia!

    Do Seu amigo William.

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  3. lindinha....
    ai conta mais....
    adorei, tô torcendo pra Milene.
    agora se este saradão aí for um galinha ou um brucutu dou umas cacetadas nele.
    rs
    beijos.

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  4. Você escreve de uma forma que prende a gente. Aguardo a continuação.
    Beijos

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  5. Clara. Você está escrevendo contos muito bem. Cidade pequena é difícil, mas é única nas experiências. Clara, de seus contos você já pode fazer um livro no futuro.

    Abraço. Neo Charles

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  6. Oto com medo dessa historinha, viu????

    ahahahahhahahahahahahha

    KK

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  7. Own...estou louca agora para saber o final da história. Parabéns, vc escreve muito bem, me prendeu para ler até o final e querendo mais.
    Beijos
    Adriana

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  8. Clara,mais um conto que vai me prender a atenção1Começou bem,amiga!bjs,

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