sábado, 22 de julho de 2017
Depressão Não Tem Cura
Uma fase, acho que a mais difícil da minha vida, quando me separei, me vi sozinha com duas crianças pequenas. Hoje sei que não estava sozinha, mas na época era o que sentia, solidão. Perdi o chão. A responsabilidade de ter filhos pequenos, sem trabalho fixo, extremamente magoada, decepcionada... "E agora, o que eu faço?" — pensava.
Um dia acordei e chorei. Muito! O dia todo. E no outro dia também. Disfarçava quando meus meninos estavam perto, depois me recolhia em algum canto e continuava a chorar. Não me lembro o que se passava em minha cabeça, acho que tudo, desde o começo, não só do casamento, mas o começo da vida. E dúvidas, dúvidas, dúvidas.
No outro dia continuei chorando... Minha mãe me telefonou e eu não consegui disfarçar e nem responder nada do que ela perguntava. Só me lembro de ouvir dela "Arruma suas coisas que vou aí te buscar".
Obedeci. Tranquei a casa e fui. Continuei chorando. Voltei pro meu quarto de solteira, agora com meus filhos. Que tristeza... Não pelo fim do casamento (todo fim é sofrido), mas por tudo, por onde eu tinha errado, porque estava acontecendo tudo aquilo, enfim, mais perguntas sem respostas.
Daí em diante me tranquei. Trabalhava como autônoma e com isso conseguia me manter, e, claro, com a ajuda do ex e de meus pais também. Não saía de casa mais pra nada, a não ser levar os filhos à escola! Era casa, filhos, casa, filhos. Só isso. Engordei muito.
Passado mais um tempo não me importava com mais nada, além de meus filhos. Digo que fiquei uma pessoa idosa e sem alegria nenhuma.
Quando me deitava pra dormir, conversava com Deus. Perguntava a Ele até quando eu viveria? Queria uma resposta, saber quando seria meu último dia. Comecei a ter insônia. Passava noites em claro, me alimentava mal, mas meus filhos ficaram inume a tudo isso. Graças a Deus! Quando acordava na manhã seguinte, ao abrir os olhos, questionava Deus por eu ainda estar viva. Queria nunca mais acordar, queria sumir dali, desaparecer e contava com a ajuda d'Ele. Ficava até brava em ter acordado. Nas noites de insônia eu planejava minha morte. Como seria eu morrer? Como eu morreria sem causar sofrimentos às pessoas? Mais uma vez pedia ajuda a Deus, pois não tinha coragem de acabar comigo.
Ele nunca atendeu meus pedidos...
Depois de um bom tempo, talvez anos, comecei a ter taquicardia. Do nada meu coração acelerava. Ficava com medo de entrar nos lugares e morrer sufocada. Filas, bancos, supermercados? Tinha pavor! Sentia calafrios e taquicardia. Sensação de morte...
Numa de minhas idas ao minimercado, perto de casa (já havia voltado pra minha casa), na fila do caixa, comecei a sentir tonturas. Deixei tudo lá e disse pra moça do caixa que não estava me sentindo bem. Ela, gentilmente me ajudou a atravessar a rua. Eram duas quadras de minha casa... Custei a chegar... Liguei pro meu pai e pedi que me levasse ao Pronto-Socorro.
Cheguei lá o médico fez os exames de praxe e pediu pra que eu me levantasse. Eu respondi que não aguentaria, que iria desmaiar, ou então morreria ali mesmo. Ele insistiu e eu obedeci. Fiquei encostava na mesa, com tonturas. Ele pediu pra eu me sentar e disse que eu não tinha nada. Eu fiquei nervosa e perguntei a ele se ele não via que eu estava morrendo. Ele disse pra eu me acalmar, receitou um floral e disse pra quando eu chegasse em casa, deitasse e não pensasse me nada, apenas respirasse e só isso. Diagnóstico: Síndrome do Pânico, e provavelmente também estava com Depressão.
Acho que depois de ouvir isso de um estranho me dei conta do que eu estava fazendo com minha vida. Hoje eu sei que provoquei, que talvez tenha sido fraca, que não soube lidar com a situação, que, de certa maneira, me tornei vítima da vida e de todos.
Muitas coisas aconteceram durante esse relato, mas o que eu queria colocar era isso: Depressão, mais a Síndrome do Pânico, matam! Perdemos a noção da vida, das coisas, dos valores, das pessoas... Perdemos tudo! A dor é tão intensa e inexplicável, que queremos acabar com ela a qualquer custo. Qualquer lugar seria melhor do que a vida vivida. É a dor da alma... É uma tristeza constante, um desânimo, que pode muito bem ser disfarçado. Mas lá no íntimo é morte em vida, é o desassossego de respirar, de enxergar, de comer, de beber, de fazer coisas, de ter coisas, de ser coisas... É o "tanto faz" estar aqui ou lá, respirar ou não, viver ou morrer... Tanto faz.
Ainda demorou alguns anos pra eu me sentir "curada", mas sei que Depressão não tem cura. Apenas não permitimos mais que tudo isso se aproxime.
Cada pessoa lida de um jeito. Eu, por exemplo, desviei o foco, mudei de direção, deixei pra trás o passado, voltei a enxergar cores, voltei a me enxergar no espelho... Vocês sabiam que quem tem depressão não se enxerga no espelho? Não se identifica com a imagem refletida?
Deus não ouviu minhas preces... Obrigada, Deus! Obrigada por ter me confiado filhos maravilhosos! Eles me seguraram por aqui...
Tem um texto meu, de 2014, que é um dos mais lidos: O Dia Em Que Eu Venci A Depressão.
Portanto, não subestime quem tem sintomas de Depressão. Não é frescura, nem falta do que fazer, nem falta de umas chineladas e muito menos falta de um pinto. Quem tem Depressão precisa de ajuda sim! Tenha paciência e nunca, em nenhuma hipótese, julgue o outro. Ninguém sabe o que se passa e as consequências em ouvir o que não se deve, o desnecessário. Se não tem palavras de conforto pra transmitir, fique calado.
Clara Lúcia
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Escrevo sobre a vida e os momentos específicos emocionais.
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Que maravilha de depoimento e ele pode ajudar realmente muitas pessoas! Valeu! Foste perfeita! bjs, de volta, chica
ResponderExcluirBom dia, Clara
ResponderExcluirQue Deus abençoe ricamente a sua vida, Ele é o nosso Amigo fiel e deseja curar todas as enfermidades. Abraço.
Que bom que passou! Já tive depressão, em 2 ocasiões e fui medicada. Força e fé nos salvam.Além de levar a sério e usar medicamento prescrito. Que seja temporário. Beijo, Clara.
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