segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Apenas Mais Uma


      Celular desligado e colocado num lugar que a vista não alcança, música triste no último volume e um dia inteiro, sem fazer nada, conspirando pensamentos que não deveriam habitar a mente de Telma. Mas habitavam, não cabiam dentro dela e escorriam pelos olhos em forma de lágrimas. Uma a uma se espatifavam no chão frio, tão frio como a noite que prometia ser especial. Clóvis...

      Depois de tanto tempo, se reencontraram e a declaração de Clóvis foi convincente, linda, romântica... Telma se encantara em ouvir tantos elogios. Como poderia saber que causava tantos desejos em um amigo da juventude? Tímido na época, mas bem ousado nos dias atuais.

      Trocaram telefones e redes sociais, não conversavam sempre, mas vez ou outra um aparecia para dar um oi, para saber se ainda tinham o mesmo interesse em se relacionarem além do aperto de mãos. E por que não? Pensava Telma, estava sozinha há tempos e pelo que sabia, Clóvis também não estava comprometido com ninguém.

      E aconteceu o que ambos queriam. E foi bom... Diferente, intenso, caloroso... Sem beijos, sem palavras bonitas, sem sussurros, mas foi bom. Uma rapidinha selvagem, ela definia. Inusitado e com desejo de durar a noite inteira. Menos de uma hora e Clóvis já se trocava para ir embora. Compromissos inadiáveis, dizia ele, trabalhava demais e não tinha tempo disponível além daquele. Quem sabe um outro dia? Um selinho de despedida e só.

      Ainda no mesmo dia, Telma tentou contato com Clóvis. Apenas visualizou. Outra vez e respondeu com uma imagem.

      Telma desmoronou. Não que quisesse algo ou coisa parecida, mas não tinha o costume de se entregar e nunca mais conversar com o homem. Não sabia como lidar com essa situação de frieza e abandono. Não era abandono, mas doía saber que foi tão rápido e com um tchau significando adeus.

      O sexo foi de comum acordo, e foi bom. O depois foi péssimo, medonho, dolorido e vazio.

      Qual a dificuldade de Clóvis dar-lhe um bom dia, ou boa tarde, ou fazer um só elogio? Dificuldade bem menor do que o sentimento de impotência de Telma, de não ter tido o bom senso de pensar mais um pouco e não se envolver de maneira tão banal e oca. Chorou muito. Não de saudades ou de paixão, não. De arrependimento. Há tempos já havia combinado com ela mesma em não se envolver com ninguém tão facilmente. Esse tipo de relação não fazia parte de sua vida, sendo tão romântica e carente. A carne falou mais alto... Um sexo casual... Horrível.... De comum acordo, sem interesse sentimental, sem envolvimento. Apenas sexo...

      Não pensava nada além por ter sido tão fácil e com a certeza de ser mais uma na vasta lista de conquistas de Clóvis. Sabia disso e não podia reclamar. A amizade talvez tenha acabado, a ilusão nunca existiu, o corpo padeceu em sangria desatada de uma dor só dela e de mais ninguém. Será que para ele foi tão ruim assim, que nem se interessou em fazer um elogio sequer? Pensando nesta possibilidade se sentiu mais usada ainda. Mas também usou Clóvis e estava tudo certo. Mania que mulher tem de não saber separar sexo de paixão, de amor... Mulher sempre espera algo, uma surpresa, um suspense, uma palavra, mesmo sabendo que poderia não ser verdadeira...

      Apagou todos os contatos e a vontade era de sumir. Como pôde ser tão fácil? Foi. E foi bom. Nem começou e acabou. Como um suspiro lento e profundo...

      Telma respirou fundo, enxugou as lágrimas, e pensou no trabalho do dia seguinte. Nada melhor do que o trabalho para preencher o tempo ocioso. Mente ingrata que captura o que não se deve.

      Os dias se passaram e já nem pensava mais no assunto quando levou um susto ao ler a mensagem no celular: "Oi, gostosa... saudades".

      Engoliu seco, desligou o celular e pensou, como ele conseguiu o número? Ela apagara os contatos, mas ele não. "Quero te ver, que horas posso te pegar?". Telma sentiu um calafrio e toda a lembrança daquela noite intensa e quase inesquecível veio à tona. O coração disparou e teve a certeza que para Clóvis também foi bom, afinal ele estava chamando-a.. Mais uma vez leu a mensagem, encostou o celular no peito e suspirou..

      Sorriu... E por que não? Sem compromisso, sem envolvimento, só sexo, dos bons... Canalha!
   
      Fim.

17 comentários:

  1. Que lindo conto e que pena quando é assim,apenas sexo e nada mais. Aliás, um cara que dissesse : Oi, gostosa!Quero te ver, não me veria por certo!rs

    Tu escreves muito bem e nos faz sentir raiva, nojo dos personagens,rs Isso é legal! bjs, tudo de bom,chica

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Chica, homem é muito prático e mulher muito detalhista, que tem esperanças de algo mais onde não se deve ter. Mesmo concordando e querendo, ainda acha que "vai" mudar o homem... Pode ser que sim, mas em raras exceções.
      Beijos, querida!

      Excluir
  2. Clarinha, bateu uma saudade aqui dos seus contos! Fiquei feliz por chegar aqui e ter um bem fresquinho =) Continue sempre escrevendo, vc escreve muitíssimo bem, linda! Fique com Deus. Bjss. Val.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valquíria, muito obrigada, querida!
      Com esse incentivo vou escrever mais e mais, com certeza!
      Beijos, boa semana!

      Excluir
  3. Pois é Clara vá entender as razões que são levadas pelo coração.
    Um belo conto com personagens afins, para desejos afins e salve quem puder.
    Gosto de ver sua construção dos contos.
    Uma linda semana com paz e alegria ainda que sem folia.
    Um abração com carinho Clara.
    Beijo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Toninho, amigo poeta, é sempre uma honra tê-lo aqui lendo meus contos.
      Um ótimo fim de semana.
      Beijos

      Excluir
  4. Beleza de conto, Clara
    Aplausos para você.
    Chica tem razão:
    Esse "OI GOSTOSA" foi de lascar...rs
    Um grande beijo para você, Clara de
    Verena e Bichinhos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. kkkkkkkkkkkkk
      Eita!
      Um grande beijo pra vc também e pros seus bichinhos um xero!

      Excluir
  5. Você sabe escrever com muita facilidade as cenas da vida.
    Belo conto.
    Beijos, Élys.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Coisas do dia a dia, Élys. Alguns se chocam e outros acham normal uma situação dessa.
      Beijos, bom fim de semana!

      Excluir
  6. Oi Clara!
    Construiu maravilhosamente esse conto!
    Realidade que acontece muito!
    Um beijo Clara!
    Blog da Smareis- É só clicar aqui!


    ResponderExcluir
  7. Oi Clara!
    Sempre um prazer passar por aqui e se deparar com contos maravilhosos. Feito esse que é tão comum de acontecer para a maioria das mulheres. Difícil né amiga?
    Bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Roseli, sempre tão querida!
      É uma situação corriqueira nos dias de hoje. Tudo tão fácil...
      Cada um com seu cada qual!
      Beijos

      Excluir
  8. Olá, querida Clara
    Vc escreve muito bem (indiscutível!) mas se alguém chegasse a me 'dizer' isso, na certa NÃO me veria nunca mais...
    Não ao sexo por sexo sempre... não somos mulas... somos gente e temos um coração (tanto eles como nós, mulheres)...
    Bjm fraternal

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É uma situação difícil, mas há quem separe sexo de amor. Tanto homem quanto mulher.
      Beijos, minha querida iluminada!

      Excluir
  9. Desde que ambas as partes saibam o que estão a viver, não alimentem expectativas erradas, não mintam, não prejudiquem ninguém... cada um sabe de si e da sua felicidade.
    Abraço
    Ruthia d'O Berço do Mundo

    ResponderExcluir

Olá, seja bem vindo e deixe seu comentário!

Eu os responderei por aqui mesmo ou por email, se achar necessário.

São muito bem-vindos, sempre!