terça-feira, 22 de julho de 2014

Uma Linda Mulher - Parte 2 - O Milagre da Vida


... Continuação

      Ana, decidida a viver só, foi transferida para uma cidade bem longe da sua, Queria fugir, apagar, romper com todo o passado que a perseguia, e, crendo ela, a distância apagaria tudo.

      Ainda sofria pela falta de Tomás, que ainda a amava, mas insistia pela paternidade. E Ana tinha descartado qualquer possibilidade de gerar uma vida. Queria seu bem e por isso se afastou dele para que pudesse ter a família e filhos que sempre quisera ter. Isso ela não podia dar-lhe e não mudaria de ideia em nenhum momento. Não arriscaria passar sobre suas convicções por puro capricho de um homem. Melhor se afastar e continuar sozinha.

      Alguns meses se passaram e uma amiga de sua cidade natal lhe comunicou de uma grave doença de sua madrinha. No início não deu muita importância, mas a insistência da amiga era tanta que resolveu procurar pela família. Voltou... Estava inquieta em ter que reencontrar todos e se lembrar bruscamente de toda a tortura, mas seria forte para ser solidária com a madrinha que nada tinha a ver com sua triste história.

      Encontrou-a já acamada, praticamente em estado terminal de uma grave doença degenerativa. Muita emoção nesse reencontro, afinal a madrinha era uma das poucas pessoas que disponibilizavam um gesto de afeto à Ana. As duas se entendiam apenas com o olhar, e além da avó materna, a madrinha era seu porto seguro. Chorou ao pegar as mãos da madrinha tão secas e geladas onde as veias azuis faziam caminhos tortuosos denunciando que o fim estava próximo.

      Ana sentou-se na beira da cama e começou a conversar carinhosamente. Mas o que a madrinha queria era falar sobre outro assunto.

      - Ana, minha doce afilhada, eu tenho algo a lhe contar... - com os olhos fixos na afilhada, cumpriria seu objetivo e obrigação de partir dessa sem levar nenhum peso na consciência.

      - Madrinha, não se esforce tanto, fique calma! - Ana ficou apavorada temendo pelo pior em suas mãos.

      - Não, querida, eu prometi a Deus que não morreria sem você saber a verdade...

      Ana gelou, paralisou e depois desabou num choro.

      - Eu vou direto ao assunto: o seu pai não é seu pai. Na verdade não sabemos quem é o seu pai biológico. Sua mãe teve uma aventura e gerou você com outro homem. Toda a família sabe disso, e agora é a sua hora de saber. Mas quero que saiba que você é muito amada por mim e foi também por sua avó. Isso já é passado e você precisa perdoá-los... Já estão mortos e você tem toda uma linda vida pela frente. - Suspirou aliviada, fechou os olhos e assim permaneceu até quando Ana se despediu com um beijo em sua testa.

      Ana não teve coragem de contar à madrinha que já sabia desta história. A única atitude que conseguia ter era chorar, chorar, chorar... Dois dias depois sua madrinha faleceu e Ana voltou ao trabalho.

      Mais alguns meses se passaram e aquela lembrança da infância, do sofrimento, da morte dos pais e da madrinha ainda lhe corroíam a mente. Ainda não havia perdoado e de certa forma se culpava por não ter reagido às investidas do pai. Teria que ter sido mais forte e impedido de alguma forma aquele abominável homem a tocar-lhe a pureza.

      Um dia, chegando ao trabalho, alguém lhe chamou a atenção, como um imã que puxava-a com os olhos para aquele homem de voz firme, gestos calmos e lindo, extremamente lindo.

      Era Talarico, o administrador de uma filial de Paris. Mas era brasileiro.

      Imediatamente ele também percebeu a presença de Ana e a partir daí não paravam de se olhar.

      Ana não entendia nada do que estava acontecendo e seguia sua rotina. Mas Talarico não desistiu até conhecê-la. A empatia foi imediata e não mais se desgrudaram.

      Mas, e todas aquelas travas que Ana insistia em carregar? Continuavam todas ali. Era uma pessoa de personalidade firme, decidida e depois de toda aquela revelação sobre sua paternidade tinha um certo receio com os homens temendo que fossem algum parente ou, quem sabe, um irmão... Deu um jeito de investigar se havia alguma possibilidade e saber sobre sua origem antes mesmo de se apegar e se entregar.

      Talarico não tinha a menor possibilidade de ter laços sanguíneos com Ana, e tendo essa certeza não resistiu aos seus encantos e investidas e se entregou. Fazia tempo que não se sentia tão realizada e amada. Talarico era carinhoso e atencioso, mesmo em alguns momentos em que deixava-a irritada com sua falta de organização. Estava acostumada a viver sozinha e Talarico ocupava quase que todo o espaço do apartamento. E ocupava seu coração por completo. Ana ficava receosa de que todo o encanto se acabasse, como já acontecera outras vezes, mas se sentia tão preenchida que logo o receio dava lugar à noites intermináveis de amor, de prazer, de uma louca paixão. Talarico queria se casar e  levá-la a Paris. Tudo certo, desde que não tocasse no assunto maternidade.

      Antes de sua transferência de país, Ana adoeceu, quer dizer, começou a se sentir mal, com enjoos, tonturas, vômitos, mas não procurou médico, pensou ser apenas um mal-estar.

      No outro dia continuou o enjoo e só então procurou ajuda médica.

      - Parabéns, dona Ana, a senhora está grávida! - noticiou todo sorridente o médico.

      - ????????? - Ana não teve outra atitude que não fosse ficar paralisada e de boca aberta.

      O chão lhe saiu dos pés, não suportava a ideia de ver uma criança sofrer e a maternidade para Ana significava sofrimento.

      Mas a sensação de carregar um ser em seu ventre mudou tudo! Imediatamente um imenso amor lhe invadiu a alma e ela não sabia explicar o que acontecia. Choro, dor, revolta, sofrimento, ódio, vingança... Não! Mas se sentia mãe...

      Amor, compaixão, ternura, esperança, perdão... Perdão... Perdão...

      Talarico, uma pessoa rara, que parecia ser feito justamente para Ana, que entendia cada olhar, cada gesto, cada lágrima, cada dor, estava bem ali ao seu lado, vibrando com a novidade de ser pai.
   
      Praticamente comprou uma floricultura inteira para Ana, com muitos bilhetinhos, carinhos, afagos...

      Ana, à partir do momento em que soube que seria mãe, nasceu de novo.. E todo aquele passado, toda aquela dor agora estava cada vez mais distante.

      Esquecer? Não! Mas não ficaria mais se lembrando, agora o tempo todo disponível seria para aquele filho amado, gerado com muito carinho. Todo o amor embutido por anos seria dado ao filho, em abundância.

      Bem, quanto a Talarico, como todo homem, perfeito é que não era. Tinha aquele lado canalha, mas para Ana isso era tão irrelevante, que nem se importava. Talarico sempre tratou-a como uma rainha, sempre a amou, e sempre esteve ao seu lado e isto sim era o que importava. O resto, era simplesmente resto.

      É a vida que segue!

      Continua...

      Texto publicado em 07/11/2011 - Editado

14 comentários:

  1. A Glória Peres que se cuide , já estou sentindo no ar a reprise da novela O Direito de Nascer.rsrsrsrsr.............

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  2. Hummmmmmmm......gostei!!
    Mas espero a continuação!
    Acabou muito rápido essa transição entre a revelação, já sabida, e a cnfirmação da gravidez.
    Acho que pode ter mais enredo nesse intervalo.

    É apenas uma crítica construtiva.

    Beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxx

    KK

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  3. Eita apareceu outro anonimo , rsrsrs.......
    Bem agora analisando sériamente , o primeiro texto foi bom , o segundo já está partindo para o dramalhão , sabe aquela história da vaca holandesa , que dá 20 litros de leite e depois no final dá um coice no balde !rsrsrsr.......

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  4. Clara,que linda a finalização desse conto!Gerar um filho nos faz mesmo ver a vida completamente diferente!Parabéns pela bela história de amor e superação!Bjs e boa semana!

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  5. É muito ter comentarios, como eu os tenho.
    Adoro todos!

    Vou continuar mais um pouco a história... mas sem cansar ninguém e sem prolongar muito o assunto.

    Beijos a todos!

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  6. Oi Clara!
    Você está cada vez mais criativa! Seu lado contista está forte.rsss
    Adoro estas estórias com revelações e descobertas!rsss
    Beijinhos e uma linda semana!

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  7. A história chegou em um momento, que Ana parece estar feliz. Isto é muito bom depois de tanto sofrimento.
    Beijos.

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  8. Clara, o seus conto são bem explicado de uma forma simples que dá pra entende bem cada parte que a gente ler. A sensação de carregar um ser no ventre é uma benção divina, é uma coisa inexplicável. Homens!!! Pra dizer a verdade não existe homens perfeito, mas o que conta é o respeito, o carinho e o amor, o resto é simplesmente resto...Adorei e espero o próximo capitulo. Beijos e ótima semana.

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  9. Também morrooooooo de ciúmes dos meus! Não te condeno, é um grande exercício de desapego, e te digo não é fácil! Livros p/ mim está acima de qualquer consumo fashion...

    Desculpe, mas hoje não li seu sempre excelente texto! Tô um bagaço! Estava viajando há 3 dias, trabalho e família... Porém já estou na área enchendo o saco dos amigos rsrsrsrs.

    Beijãoooooooooooo

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  10. Clara querida,

    Oba, resolveu fazer a Ana feliz! Sei que a vida não é só uma mar de rosas, mas gosto definais felizes. Tomara que ela não venha a sofrer de novo. rsrs Belo trabalho. Ainda vou comprar livros seus.
    Girassóis nos seus dias. Beijos

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  11. A superação sempre nos apaixona.Uma segunda chance ao amor faz vibra nosso coração esperançoso de boas notícias.Vendo-se diante do inevitável, é que Ana pode seguir em frente despindo-se dos traumas passados.
    Que tal uma continuação p/ esse filho que veio selar a união de Ana e Talarico?Hum, isso dá samba!
    Bjkas,
    Calu

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  12. Clara,

    Adoro um final feliz, quando tudo dá certo, mesmo sendo acusada de ser melosa me faz ver a vida com olhos mais otimistas. Adorei.
    Beijos

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  13. Então, Clara, você conseguiu dar um contorno comovente neste capítulo também, mas agora é uma comoção de ternura, porque vemos a caminho outra criança, mas desta vez, sob a proteção do amor. Parabéns pelo enredo, pois esse lado de recuperação, de cicatrização das dores do passado, felizmente também existe. Excelente.
    Vamos ver o desenrolar da luta da Ana. Até agora ela está sendo fibra forte, regada ao amor que é próprio do seu ser.

    Um abraço.

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  14. Um talarico é sempre bem vindo né não!

    Ui ai!

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