quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Inocêncio II

Com o passar do ano de 1987, como o nosso curso de Educação Física era noturno, às vezes tínhamos estágio na manhã seguinte. E para evitar viajar de volta e ida de novo, dormíamos lá, na sala de Ginástica Olímpica. Que ficava do lado do laboratório de Anatomia. Onde estava o Inocêncio.
Essa sala de Olímpica era toda forrada com tatami (aqueles colchonetes onde se treina o judô) e uns colchões enormes pra Ginástica Olímpica. Era lá que dormíamos - ou tentávamos.
Mas gente jovem e destemida tem "minhocas" e histórias tenebrosas na cabeça. Dormir de que jeito, com o Inocêncio lá nos olhando? Ah, não vai dar... e não dava mesmo. Era a noite toda conversando, contando histórias, uns iam até a janela de vidro só pra verificar se Inocêncio estava lá quietinho mesmo... A "loira do banheiro" perdia feio pro Inocêncio. Coitado...
E o ano terminou, o Inocêncio ficou e nós fomos pra outras disciplinas.
Mas ao final do curso, uma dedicatória em sua homenagem, afinal foi ele que se emprestou pra termos um pouquinho mais de conhecimento. À ele, nossa gratidão:

"AO CADÁVER
Aluno ou mestre, ao curvares com a lâmina fria do teu bisturi sobre este cadáver desconhecido lembre-se:
Ele nasceu do amor de duas almas, recebeu carinhos e cuidados, cresceu à luz da fé e da esperança. No Deus que o criou e se tornou sem fim. Foi criança, correu, brincou, sorriu alegre e, jovem viveu sonhos felizes. Ilusões, como vives agora talvez humano, amou e sentiu-se amado, e também teve saudades de outros que partiram. Agora, jaz na fria mesa, mais um serviço somado à tantos que prestaram em vida para sobreviver, aí está nas tuas mãos sem nome, sem lágrimas, sem nada. Mas servindo ao teu conhecimento ajudando-te a crescer e ser alguém. Nada te pede em troca, mas uma coisa espera do teu sentimento humano respeito a isso que lhe resta. E, se lembrares... Também uma prece."

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