sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Ainda Sobre a Solidão


Já falei sobre solidão, neste texto AQUI. Mas ainda há muito o que dizer. Se fosse para dizer tudo pessoalmente não conseguiria jamais. Sou das palavras e não das falas. Acho que por minha timidez, não sei...

Mas, voltando à infância, desde pequenininha, brincava sozinha na maioria das vezes. Gostava dos amiguinhos, quer dizer, amiguinhas, porque naquele tempo, lá no século passado, meu pai permitia só meninas para brincar comigo. Se entrava algum galudinho, ele já ficava de olho. E bastava uma olhada para eu entender e obedecer.

Brincava com as bonecas, que eu amava, com as louças de plástico, ou algum outro brinquedo que eu mesma inventava.

Era louca por uma bicicleta, mas não a tive. Mas aprendi a andar, sozinha! Já contei essa história que acabou num livro de coletânea de contos, mas vou resumir aqui. Peguei a bicicleta de uma amiga e comecei aos poucos, na beira da rua, bem rente à calçada, ainda apoiando os pés no chão. Caía muito, mas muito mesmo, e esfolava os joelhos que ficavam em carne viva. Depois formava aquela casca com pus e não podia nem dobrar os joelhos. Andava de novo, caía de novo, o machucado velho era retirado e um novo se formava. Enfim, tenho cicatriz nos joelhos até hoje. Ah, e tinha aquele Merthiolate, sabe aquele que ardia? Então, ainda sinto as dores por causa dele. Então, aprendi sozinha, na rua, sem ninguém por perto.

Depois foi quando aprendi a nadar, sozinha. Éramos sócios de um clube que ficava próximo de casa e como eu estudava de manhã (outra característica minha, de começar bem cedo o dia), ia ao clube à tarde. Era uma negrinha (apelido que minha avó me colocou), e ia segurando na beira da piscina, enfiando a cara na água, até que aprendi a boiar... Que alegria! E não tinha ninguém por perto para comemorar comigo!

Uma vez, fui ao tal clube. Minha mãe vivia me dizendo para tomar cuidado e blá, blá, blá... Tá bom! E fui direto na piscina "funda", como a chamávamos. E pulava bem no meio, uns três metros de profundidade. E subia devagar, boiando. Para mim não existia prazer maior que esse. E nesse dia, olhando para cima, onde havia um bar, lá estava minha mãe, em pé e com os braços na cintura. Pronto! Apanhei! Saí de fininho, cruzei os braços e fui até ela. "Menina, você não tem juízo não, criatura?". "Mãe, eu já sei nadar", disse, olhando com a cabeça meio baixa, com medo de apanhar. Ela olhou e riu. E eu ri de volta, saí correndo e pulei na piscina funda. Aí a alegria foi maior, pois tinha quem visse que eu aprendi a boiar, a nadar e a pular e voltar na piscina funda.

E muitas outras coisas que sempre fiz sozinha, sem depender de ninguém. Nunca fui de ter turma para sair nas baladas, nem dependia de ninguém para ir e vir a algum lugar. Topetuda mesmo, independente, mas sempre dependendo, entendem?

E desde sempre eu preciso da minha solidão, preciso pensar, raciocinar, inventar, formar diálogos na minha cabeça, resolver problemas, me imaginar amanhã, prever o futuro se isso ou aquilo for feito, orar, enfim, minha solidão sempre foi minha companheira. Não fico confortável quando há multidão, e fico completamente deslocada quando há uma turma grande em que eu conheça todos. Não sou de puxar assunto, mas sou de observar, imaginar, e quem sabe até ler os pensamentos da pessoa. Já fui chamada de arrogante por "não me misturar" com os demais. É muita informação para eu captar tudo ao mesmo tempo. Fico no meu canto, quieta, ou divagando ou prestando atenção em algo, uma coisa de cada vez.

Timidez deve ser assim mesmo. Sou tímida até conhecer a pessoa, depois sou normal, palhaça, chata, metida... blá, blá, blá... E gosto de um bom papo, de perguntar, conhecer... essas coisas.

Bom fim de semana a todos!

10 comentários:

  1. Me identifiquei muito...Sou tímida,bicho do mato e não gosto de ajuntamentos... Gosto do meu espaço e só me solto depois de um tempinho... bjspraianos,chica

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    1. Sim, exatamente assim, Chica, bicho do mato assumida! rsrsrs
      Beijos

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  2. És tímida mas muito querida, Clara
    Te admiro muito!!
    Um ótimo final de semana.
    Beijinhos de
    Verena e Bichinhos

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    1. Vc é muito querida também, Verena.
      Uma ótima semana!
      Beijos

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  3. Ah e como sei daquele ardor do Merthiolate! E também de joelhos que mal podiam se dobrar devido às cascas purulentas! Boas lembranças.
    Eu também tenho necessidade e gosto de estar sozinha. Vez em quando faço as malinhas das crianças para ficarem na fazenda com os avós e eu mergulhar um pouco nessa solidão; me faz bem.
    Beijo!

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    1. É um encontro íntimo que temos conosco. Pra mim é muito necessário essa solidão.
      Bom que não estou sozinha...
      Boa semana, beijos

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  4. Olá, querida Clara
    "E desde sempre eu preciso da minha solidão, preciso pensar, raciocinar, inventar, formar diálogos na minha cabeça, resolver problemas, me imaginar amanhã, prever o futuro se isso ou aquilo for feito, orar, enfim, minha solidão sempre foi minha companheira."
    Parece que tem tudo a ver comigo também... rs...
    Bjm festivo de 2015

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  5. Não sou solitária, mas gosto da solidão. Nada mais gostoso do que ficar sozinha, por algum tempo. Não passei pela solidão, na infância, pq éramos muitos filhos. Sei que existe a solidão em meio a multidão, mas não foi meu caso.
    Bom ler vc, sempre. Clarinha (juntei "Clara" e "maninha". rs)
    Beijo.

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  6. A sensação de subir devagar quando mergulha e depois boiar... que vc descreve, sinto o mesmo sempre que estou em contato com a água: amo! Não sou tímida assim não, mas gosto muuuuito de ficar na minha rs Beijos!

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  7. O mundo de hoje é mesmo demasiado confuso, corrido, barulhento. É bom ter esses momentos de reflexão solitária. Também brincava muito sozinha, quando pequena. Hoje sou um pouco mais sociável (e tagarela) mas muito selectiva.
    Gostei do seu texto.
    Beijinhos, um doce restinho de semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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