sábado, 11 de outubro de 2014

Dia da Criança


A mais remota lembrança de minha infância acho que eu tinha uns quatro anos. Me lembro que brincava sozinha, pelos cantos da casa, com minha boneca. Aliás, a lembrança que tenho de minha boneca Susie era essa, quando ganhei-a de Natal. Queria muito, e deu certo!

Mas acho que um pouco antes da Susi eu brincava com panos, tecidos velhos, pregava-os na cabeça com pregador de roupa e subia e descia as escadas, como se fosse uma noiva. É essa a lembrança mais remota que tenho.

E brincando com a Susie eu queria trocar de roupinha, dar banho, mas não tinha nem roupinha e nem uma vasilha ou cumbuca, ou banheira que coubesse minha Susie. Já tinha uns seis anos, me lembrei agora, e pegava revistas velhas, papel velho, cortava tiras e pregava um sobre o outro com sabão em pedra molhado, pois não tinha cola pra colar. E colava esses retalhos de papel um pouco molhados, na boneca. Pegava escondida um pouco de farinha de trigo e misturava com água e estava pronto o leite. Me lembro que um dia cortei seus cachos. Na minha inocência eu pensava que cresceriam. A franja praticamente sumiu e atrás ficou parecendo um capacete, pois o cabelo não caia mais sobre as costas. Ficavam levantados. A Susie eu guardei comigo até ficar moça. Depois ela se desfez, quebrou toda. Lamentei muito, mas tive que jogar fora. A carinha era essa da foto, mas não tinha vestido lindo assim, vermelho. Não me lembro da roupa original dela... Minha Susie...

Agora, criatividade eu tinha quando brincava com terra. Amava terra! Com minhas panelinhas, pratinhos e toda louça de plástico, ficava no quintal e fazia bolinhos com terra. E pra confeitar pegava lodo e musgo que ficava grudado no muro e espalhava por cima. Depois, um graveto bem pequeno e fino era a vela e umas florzinhas enfincadas pra não ficar muito vazio. E pegava formigas, muitas formigas, matava-as e colocava em outra vasilha. Eram os petiscos. E haviam os tatuzinhos (coitadinhos), que eu não perdoava. Olha, acho que já contei essa história por aqui, e, por favor, não me julguem! Mas pegava escondida o álcool e fósforo e queimava os tatuzinhos, besouros, lesmas e o que aparecesse na frente. Mas não havia sensação mais medonha do que colocar fogo em taturanas, principalmente aquelas peludas. As verdes eram horrendas e demoravam mais para se queimar.e morrer. Que horror, gente! Imaginem o perigo do álcool mais fósforo nas minhas mãos tão pequenas? Bem, graças a Deus passou e nada de ruim aconteceu.

Uma de minhas travessuras preferidas era escorregar na terra. Terra, sempre a terra. Em frente de onde eu morava havia uma casa em construção. E tinha um barranco que pra mim era enorme, mas era pequeno, aos olhos de um adulto. E escorregava várias vezes naquela terra densa e avermelhada. Imaginem como ficava minha bundinha? Então, isso era o terror pra minha mãe. Simplesmente ela me puxava pelo braço e me jogava dentro do tanque de lavar roupas. Que alegria! Mas acho que até hoje ela nem imagina que eu amava tomar banho no tanque. E ficava imersa naquela água fria, por um bom tempo, de molho, pra desencardir. Me lembro como se fosse ontem...

Tive uma infância muito simples, mas muito rica. Criatividade era o que não me faltava. Apesar das travessuras sempre obedeci e respeitei meus pais. Naquela época bastava um olhar e a gente já entendia o recado. Obedecia por medo...

Quando era um pouco mais velha, vez ou outra eu fugia pra casa de minha tia que morava na mesma rua. O lugar era um paraíso! Um quinta imenso, árvores e mais árvores: bananeira, pé de jatobá, pé de jambo, goiaba, cana de açúcar e... Jabuticaba. Ah, que árvore enorme!

Minhas primas Regina, Rita, Lúcia, e Laurene e Elaine eram ainda pequenas, subiam em questão de segundos, e ficavam lá no topo chupando as mais docinhas, maiores e mais brilhantes. E eu, sem ter noção que tinha fobia à altura, empacava no primeiro "degrau" da árvore e nada me fazia ir para cima ou descer de vez. E minha prima Regina descia, grudava em mim, colocava um pé acima e pedia pra eu colocar também. Eu colocava, mas empacava de novo. Por fim ela desistia, apanhava um punhado e levava pra mim. E riam de meus gritos de pavor na esperança de alguém ir me resgatar e me tirar daquela altura estonteante. Minha tia Cida, lá da casa, ficava gritando perguntando o que estava acontecendo. Mas ela sabia o que era. E ria também.

Que tempo maravilhoso! Que infância rica e alegre. Criança é sempre alegre!

As casas onde morávamos já não existem mais. Nem o imenso quintal, nem as árvores... Mas a lembrança é eterna. Que bom!


A árvore era bem parecida com essa, com "degraus" que facilitavam a subida. Menos eu que não conseguia de jeito nenhum!

Dia das crianças e dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Minha mãe espiritual que me protege desde quando nasci, mesmo antes de me dar conta que ela é a mãe de Jesus e muito antes de ser católica de coração. Amém!



7 comentários:

  1. Que lindo te ler, ver tuas recordações e fé! bjs, lindo dia ,bem especial pra ti! chica

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  2. Clara, seu texto ficou de emocionar e não tem como não me lembrar de algumas coisas de minha infancia tb! Lindas lembranças! bjs,

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  3. Oi, Clara, que delicioso passeio por sua infância! Que perigo isso de queimar os bichos com álcool e fósforo! Eu queimava imbiras, mas só com fósfor, mesmo.
    Também tive uma Susi que era meu xodó. Brinquei muuuito de boneca, tentava fazer roupinhas, cortei o cabelo com a mesma ingenuidade que você, e vejo como é bom trazer na bagagem boas memórias para compartilhar. Um abraço!

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  4. Que lembranças ....Que bom quando conseguimos lembrar e se chegam muito fortes é porque nos marcaram e nos fizeram felizes , como diria o poeta :" ai que saudades que tenho da minha infância querida, da minha aurora da vida..." é por ai amiga . Você me emocionou e fez-me lembrar muitas peraltices vividas. Beijos.

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  5. Oiiii
    Estou sumidinha, né?
    Adorei o que escreveu e
    Eu também adorava passar as férias no pequeno sítio da minha tia Lilly.
    Era uma festa chupar as Jabuticabas diretamente do pé.
    E a geléia de Jabuticaba que ela mesmo fazia?
    Que saudades, viu?
    Te desejo uma abençoada semana, Clara
    Um beijinho carinhoso de
    Verena e Bichinhos

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  6. E tudo passa tão rápido... qdo se vê já se passaram 50 anos. E aí muita coisa ficou pra trás, mas as lembranças, essas carregamos pra sempre.

    Beijos e muito obrigada pelos comentários!

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  7. O que ficam nos nossos corações são as lembranças.
    Amo jabuticabas por aqui já plantei 03 pés mas nenhum vingou.
    Faz mais ou menos uns 4 anos que venho colecionando coisas da nossa senhora aparecida outra paixão.
    Já tem post novo lá na casa.
    Abraços
    Janicce.

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