Sônia e Mateus estavam concentrados assistindo TV, onde passava uma filme de suspense, e por alguns minutos se esqueceram dos filhos: Tiago de oito anos e André de cinco anos. Acabara de conversar com o esposo que precisavam ficar de olho nos dois, pois estão numa fase de muita curiosidade e muitas perguntas. Tiago costumava mexer em gavetas e vasculhar, como se estivesse procurando algo, o que deixava a mãe irritada.
O filme estava interessante, e o casal parecia ter se teletransportado para a história do filme. Ouviram um forte barulho, deram um pulo, mas pensaram que fosse do filme. Mas este continuou normalmente, até que se deram conta da falta dos filhos. Sônia saiu correndo a vasculhar os cômodos e a chamá-los. Abriu a porta do seu quarto e quase caiu para trás quando viu seu caçula André com a arma do esposo na mão, e Tiago bem à sua frente, caído, todo ensanguentado.
Ela cambaleou e não teve forças para chamar Mateus, que alguns segundos depois, apareceu para ver o que estava acontecendo. Soltou um grito e foi pegar a arma das mãos de André, que assustado começou a chorar. Sônia, conseguiu se levantar e abaixou para ver Tiago, que já estava imóvel e sem sinais de vida.
Mateus, trêmulo, pegou o telefone e ligou para a ambulância, que chegaram em questão de minutos. Confirmaram a morte do garoto e foram cuidar de Sônia que entrou em choque; a levaram e a internaram. Com todo esse movimento, logo os vizinhos começaram a chegar e alguns ainda presenciaram aquela cena chocante de Tiago caído, morto. Mateus ainda com André no colo não sabia o que fazer ou que providências tomar. Logo chegou a polícia para fazer a ocorrência.
Mateus era policial, estava de férias nesse período. Um bom homem, responsável, amoroso, caseiro e que sempre tivera o maior cuidado com a arma, deixando-a em lugar seguro e descarregada. Não entendia como cometeu esse deslize, e também não entendia como seus filhos foram encontrá-la, já que estava em um lugar bem alto, dentro de um pequeno baú de madeira e trancado à chaves. Não conseguia chorar, devido ao choque de ver aquela cena do filho morto, pela arma que era seu objeto de trabalho, e que de certa forma lhe garantia o sustento. Estava pálido, trêmulo e não conseguia pronuncia palavra por palavra. Apenas ficava quieto, com o filho André, ainda chorando, em seu colo.
As vizinhas tentaram de alguma forma acalmar aquele pai, lhe oferendo um copo com água e açucar, ou até mesmo um chá calmante, mas nada disso ele aceitava. Apenas ficava imóvel com o filho no colo, olhando todo aquele sangue, que era parte de seu sangue. Seu filho estava morto e o policial ainda não tinha se dado conta da gravidade.
Começou a se lembrar da alegria que sentiu quando soube da gravidez de Sônia, de como eles queriam esse filho, pois Sônia, com um pequeno problema no útero, fizera um tratamento para poder gerar um filho em seu ventre. A família toda comemorou e logo Mateus comprou uma bola de futebol e um pequena chuteira, para aquele primogênito tão esperado. "Mas nem sabemos se será homem!", indagava a esposa; "Vai ser homem sim e vai se chamar Tiago", respondia todo orgulhoso o pai.
A expectativa de seu nascimento fez com que Mateus tirasse licença de seu trabalho, pois a agonia de esperar pela hora certa o tirava de concentração, e como seu trabalho era de grande responsabilidade, fez o melhor naquele momento. Tiago cresceu num ambiente calmo, com muito amor e atenção, até que soube da gravidez da mãe. Era ainda pequeno, mas já sentia que teria que dividir a atenção e o carinho de todos com o novo irmão que chegaria. Mudou seu comportamento, ficou agressivo e estúpido, o que contrariou seu pai, que era tão calmo e amoroso, mas nessa fase ficou completamente transtornado com a atitude do filho. Era apenas uma criança, mas já era tratado como um homenzinho de responsabilidades, e Tiago perdeu todo aquele encanto de criança e passou a ser um menino sério, um quase adulto. Para o pai, isso era frescura de criança, que tinha que aprender na marra, a amar o irmão que nasceria. Tiago se trancou em seu mundo e nunca mais foi a mesma criança.
Continua....
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Estou aqui! - Parte I
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Escrevo sobre a vida e os momentos específicos emocionais.
Assuntos relacionados sobre a mente humana e como conviver com o outro sem a necessidade de mudá-lo.
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Oi Clara!
ResponderExcluirMenina, me arrepiei!Este tema é muito controverso e delicado. Armas em casa e criança não combina, mas se é instrumento de trabalho como fica não é? Criança é bichinho curioso e basta um segundo e a desgraça está feita. perfeita a sua maneira de desenvolver o conto. parabéns e vamo que vamo.rsss
Beijinhos e uma alegre semana!
Arma em casa que tem criança é um problema...
ResponderExcluirSe a arma é objeto de trabalho e tem de ficar em casa tem que ter um cuidado redobrado.
Um conto como sempre bem escrito.
Beijos.
Tenha um bom fim de semana.
Élys.
Que coisa chocante! Só mesmo vidas passadas ou carmas, poderá compreender tão situação...Estarei esperando a 2ªparte, então...
ResponderExcluirbeijos, boa segunda,Sheyla.
Que coisa isso.Acompanhei de perto com uma professora minha que teve isso em casa!beijos,chica
ResponderExcluirMinha filha, agora com 38 anos, teve um coleguinha que matou o outro, numa situação dessas.
ResponderExcluirtodos na família, viveram suas vidas destroçadas por muitos anos.
excelente escrita, serve de alerta!
bijos
Zizi