Mesmo com toda a tecnologia, mesmo daqui a cem anos, ainda não inventaram e provavelmente não vão inventar uma máquina capaz de medir a dor e o sofrimento humano.
Quando eu estava na Faculdade, em uma aula, a professora que não tinha nenhuma credibilidade com os alunos - ninguém prestava atenção em nada - mas eu, como perfeita CDF, gostava da aula dela. Não me lembro a disciplina e nem do nome dela. Voltando à aula, ela explicando o que acontece com o corpo quando machuca, quando tem uma fratura, e vendo que ninguém prestava atenção, começou a dizer:
- Quando chega o resgate, a primeira coisa é imobilizar o corpo e verificar os sinais vitais e medir o nível de dor da pessoa....
Ela parou, eu olhei para ela, ela riu e continuou explicando, e vendo que ninguém prestava atenção, começou a chamar um por um perguntando como se mede a dor de uma pessoa, qual o aparelho usado.
É claro que ninguém sabia, porque isso não existe. Enfim, o restante da aula todos ficaram quietos e deram "uma chance" para a aula dela.
É isso mesmo, ninguém sabe medir a dor que a outra pessoa está passando.
Uns são mais fortes, mais resistentes, outros são mais sensíveis e ficam dependentes de medicamentos, outros entram numa tortura tão grande que chegam a não querer mais viver e suicidam. Isso é a pior coisa que existe. Talvez a pessoa está normal, vivendo normal e de repente aparece morta de uma forma trágica dessa.
O que teria acontecido com a pessoa? O que a torturava? Será que quem convivia com ela não percebia nada? Não, nem sempre isso é possível, porque ninguém tem o dom de medir a dor do outro. O que pode ser comum a mim, pode ser torturante para o outro. Cada um reage de um jeito.
Há uns vinte anos, eu perdi um sobrinho, quer dizer, ele nasceu morto. E quem me conhece sabe o quanto sou sensível; a dor foi tão imensa que eu não conseguia sequer entrar no quarto do hospital onde estava a mãe, que também sofria muito. Eu chegava até a porta e empacava e alguém tinha que me tirar dali, para eu não desmaiar. Não sei como tive coragem de ir ver o bebê, ali mesmo no hospital, que tinha a marca do cordão umbilical que o tinha estrangulado. Ainda me lembro da carinha dele...
E no velório, o tempo todo... o tempo todo eu chorava. A dor era imensa que eu não conseguia controlar. Uma pessoa, que não me lembro quem, veio me abraçar, eu desnorteada e ela simplesmente me largou e disse, com toda a frieza do mundo:
- Pra quê tudo isso? Pra quê esse choro todo? É só um bebê! Daqui a pouco ela vai ter outro.
Não sei qual dor foi maior: se a perda do sobrinho ou ouvir um absurdo desse.
De todas as dores, acho que não existe dor maior do que a dor da perda. Essa é a única certeza que temos na vida, mas podemos viver cem anos que mesmo assim não conseguimos nos conformar com a perda, com a morte. Não conseguimos nos preparar para isso.
E essa dor se estende aos nossos animaizinhos de estimação. Quem tem um e ama, sabe como é dolorida a hora da partida desses fieis companheiros. Muita gente não entende essa dor e até desdenha. Mas tudo bem, cada um com sua dor solitária. Na verdade somos solitários no mundo.
Uma outra dor, que é profunda: a dor da perda de pessoas que continuam vivas. Às vezes nos afastamos de pessoas, ou vice-versa, e é dolorido sim, principalmente em datas comemorativas, como foi a Páscoa, como é nos aniversários, no Natal, ou simplesmente para compartilhar uma alegria ou uma tristeza.
Essa dor é profunda, que causa feridas, que não cicatrizam, que vai nos matando aos poucos, que mesmo quando tentamos continuar, querendo esquecer, ela sempre aparece e fica nos rondando, nos atormentando, nos arrancando lágrimas, dores....
Mas o tempo passa, e com toda a sua sabedoria, aos poucos tudo vai voltando nos eixos.... E continuamos vivendo... Como tem que ser: solitários na dor.
Como é que vamos saber o tanto que essa criança está sofrendo? Ninguém sabe, todo mundo riu, eu ri. Mas olha a carinha dele de desespero, de sofrimento. Que dó, que dó, que dó......
segunda-feira, 9 de abril de 2012
As dores do mundo
Marcadores:
comportamento,
morte,
valores
Escrevo sobre a vida e os momentos específicos emocionais.
Assuntos relacionados sobre a mente humana e como conviver com o outro sem a necessidade de mudá-lo.
O conhecimento é primeiro processo de cura.
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Oi Clara, mto bom seu texto. De fato dor não se mede e nem se compara. Mtos seguem fortes após a perda de um filho, como minha avó. Outras caem de cama por uma vida pq não conseguiram um marido fiel, como minha mãe. Como pode isso? Foi uma coisa q sempre me perturbou. Hoje entendo como vc, cada um tem seu limiar para dor - o q para uns é o fim do mundo, para outros é uma oportunidade de aprendizado. Tudo depende da forma com que se encara a vida. Bjos
ResponderExcluirÉ difícil entender mesmo... mas o mais importante é não ficar criticando. Apenas aceite o que a pessoa está passando, o que é mais difícil ainda.
ExcluirBeijos
Clarinha, essas dores realmente não tem como medir.
ResponderExcluirJá vi e senti muitas dores, mas essas dores da perda é mesmo a pior.
Excelente texto.
Boa semana
Xeros
É uma dor que não se acaba, apenas nos acostumamos com ela. Difícil.
ExcluirBeijos e xeros.
Como em uma separação, penso que a dor da separação de um casal seja como se cortassem partes vivas de nosso corpo.
ResponderExcluirNunca vivi uma situação parecida, mas acho que existem pessoas que não o fazem por medo de sentir muitas dores e feridas que não se cicatrizarão nunca.
ANYTHING.....ANYTIME.....ANYWHERE...
Beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
KK
O medo não deixa de ser uma dor... Até com isso nos acostumamos.
ExcluirMas é difícil sim, principalmente qdo temos filhos que amamos muito.
Cada caso é um caso, assim cada dor tem seu dono.
Beijossss
Amei o teu post. Também acho que ninguém pode mensurar a dor que o outro sente. Cada um sente diferente a mesma situação. Não podemos estar dentro do outro para saber o tanto que ele sofre e muito menos desdenhar da dor. Fico PUTA de raiva quando o povo chega e diz que a dor da enxaqueca que sinto é frescura. Só queria que essa pessoa tivesse 1% da dor que eu sinto para ver o tanto de frescura que sinto! Até mesmo um neuro na emergência foi desdenhar da dor que estava sentindo. Só não voei para cima dele pois estou acostumada com isso. Tanto que tem diversas vezes que nem mais comento sobres as dores podem ser fisicas ou da alma!
ResponderExcluirBeijos
Adriana
Adriana, sabe que eu nem importo mais... acho que parei de comentar com quem não tem sensibilidade ou não entende o que se passa.
ExcluirTem muita gente sem noção do que fala mesmo. Ainda mais qdo somos mulheres, aí acham que tudo é frescura ou que tudo se resolve com sexo. Isso é um tédio!
Beijossss
Uma pena que na vida tenhamos que passar por tantas dores, desde pequeninos. Temos que entender mais a vida para sofrermos menos.
ResponderExcluirMas quem disse que é fácil e que conseguimos?
Boa semana querida.
Beijos.
Ninguém disse que seria fácil; uns exageram e outros sofrem horrores, todos solitários, infelizmente.
ExcluirBeijos, Turquezza!
Dói muito, Ale... muito!
ResponderExcluirMas com o tempo nos acostumamos e seguimos em frente, felizmente.
Beijossssss
Jamais conseguirão fazer uma máquina pra medir o grau das dores.Na vida precisamos estar passando por diversas dores, e como dói algumas dores. A dor da perda é terrivel, dói a alma, doi tudo na gente. Ja perdi meus pais, e logo em seguida um sobrinho num acidente de trânsito fatal. Nada podemos fazer a não ser superar cada dores e ter força pra suporta-la sempre.
ResponderExcluirDesejo que sua páscoa tenha sido excelente.
Beijos grandes no teu coração!
A morte de uma criança, esteja ainda na barriga ou não, dói demais pois poderia ter toda uma vida pela frente.
ResponderExcluirCada pessoa tem mesmo uma estrutura diferente para lidar com a dor física ou emocional, e temos que respeitar.
Beijinho e muita paz!
Muito bem colocado a ideia da solidão da dor! Acho que esse é o grande problema... não tem como explicar, mostrar, dividir ou carregar. A dor é sentida e pronto. O que conforta, as vezes, é a atenção que um semelhante nos oferece nesses momentos e não a pseudo compreensão, já que é impossível compreender uma dor sem que ela seja de fato sua!
ResponderExcluirOi Clara!
ResponderExcluirAs pessoas estão ficando como que anestesiadas ou dementes, não sei, mas sei que se sensibilizar coma dor do outro é cada vez amis raro. Eu sou muito sensível e me solidarizo coma dor facilmente. Não gosto de ver cranças, velhinhos e animais sofrendo, acho terrível. A dor da perda é sempre muito doída, já perdi pai e mãe e sei bem como é. O tempo a tudo cura inclusive fazendo reorganizar nossos sentimentos e nos fazendo continuar apesar de. Graças a Deus!
beijinhos e uma semana abençoada!
Clara, parabéns pelo post, realmente mensurar a dor de cada um, é algo bem difícil. E pior, passar por elas, parece que faz parte!
ResponderExcluirUma excelente semana, sem nenhum tipo de dor.
Mil beijos, Sheyla.
Como não se emocionar com esse vídeo, não é mesmo?!
ResponderExcluirAmei teu texto!
Beijocas, Clara!
Clara,
ResponderExcluirmuito bom seu texto. E esse vídeo? Que triste! Eu não ri, não. Na verdade quase chorei com o garotinho, tadinho... judiação. :(
Abraço!
Clara
ResponderExcluirTexto bom demais.
Quantas dores a gente sente e ainda vamos sentir. Eu imagino quão dolorido é essa dor da perda.
Um lindo dia para você.
Clara,amei o seu texto!Vc escreve como seu nome: claramente!...rsss...a gente entende tudo e sente tb!Já passei pela dor da perda e, nâo importa se um animal ou gente, dói demais!Esse video da formiguinha eu assisti e fiquei com muita pena do menino!Por outro lado, o irmão dele nem ligou´mostrando como somos diferentes em relação a dor!Excelente sua msg nesse texto!bjs e meu carinho!
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