quinta-feira, 31 de julho de 2014
Amar e Ser Amado
Depois de um dia exaustivo, Carlos só queria voltar para casa e relaxar sentando na sua poltrona, que ficava em frente a uma janela imensa de vidro com vista para o jardim muito bem cuidado. Um gramado verdinho e muitas flores plantadas num canto, encostadas no muro, enchiam os olhos de quem parava por uns instantes para apreciar a beleza da natureza. Pegaria sua cerveja gelada, tiraria a roupa e colocaria um short folgado, ouviria uma música e ali ficaria até o anoitecer.
Isso se tivesse a paz que tanto necessitava em seu lar, porque geralmente isso era só um sonho...
Fabiana, sua mulher, vivia irritada, parecia que sentia ódio da vida e não fazia outra coisa a não ser reclamar de tudo e de todos. Carlos tinha toda a paciência do mundo em ouvi-la, pois amava aquele baixinha invocada que quando queria era uma formosura de mulher.
O trânsito estava infernal e o calor insuportável. Mesmo assim, Carlos teve paciência de esperar o fluxo de veículos andar num ritmo lento, quase parando. Pensava no frescor que era sua casa, e isso o animava.
Como era previsto, Fabiana estava num dia não muito bom. Para começar, Carlos encontrou a mulher dormindo no sofá, com a TV ligada num daqueles programas de tragédias familiares. Ela estava toda desgrenhada, com uma roupa velha: um short dois números maiores que seu corpo e uma camiseta de propaganda política, já bem surrada. Aliás ela adorava usar essas camisetas como camisola. Carlos não gostava, mas aceitava o jeito da mulher. Assim que entrou em casa fechou a porta. Fabiana acordou com o rosto todo amassado e já soltou sua primeira reclamação:
- Precisa bater a porta para entrar, Carlos? O que custa fechar com educação? Sua mãe não te ensinou bons modos não? - rosnou, franzindo a testa e apertando os lábios a ponto de deixá-los esbranquiçados.
Ele apenas disse um oi para a mulher e seguiu para seu quarto a fim de se livrar daquelas roupas pesadas e quentes. Carlos era organizado, e tudo o que tirava colocava sempre no lugar de costume. Já Fabiana era a bagunça em pessoa, não conseguindo deixar nada, absolutamente nada no lugar. Isto era motivo de brigas diárias, mas quando chegava a noite o amor sempre falava mais alto.
Depois de se refrescar, Carlos pegou sua cerveja e foi se sentar em sua poltrona macia e confortável. Cadê a poltrona?
- Fabiana, cadê minha poltrona? - perguntou irritado.
- Joguei ela fora! Muito feia e você não faz outra coisa a não ser ficar sentado nela. Joguei fora mesmo! - respondeu, com a maior arrogância.
Carlos coçou a cabeça, passou as mãos pelo rosto, pegou sua cerveja e foi se sentar no chão da varanda... E chorou.... Nem em sua casa teria o sossego que queria e precisava. Na verdade estava cansado dessa vida onde fazia de tudo, mas o que recebia de volta era reclamações e mais reclamações. Enquanto tomava sua cerveja, ouvia os gritos da mulher, de dentro da casa, dizendo que Carlos precisava ser mais compreensivo, mais amoroso e mais presente. Carlos, ouvindo todas as intermináveis cobranças, não sabia porque ainda suportava um casamento falido. Por mais que fizesse, nunca estaria bom para a mulher. Além do mais, ela já não era mais aquela mulher linda, vaidosa e perfumada que ele conhecera há alguns anos. Era desleixada com tudo, não penteava os cabelos, sempre estava com um chinelo de dedo e uma roupa bem batida de velha. Tinha vergonha de levá-la a algum lugar, porque além de reclamar de tudo, não se produzia mais como antes.
Tomou o último gole da cerveja, olhou para o chão e percebeu que seu abdômen não estava como antes. Teria que tomar cuidado para não se tornar aquele homem casado e barrigudo que tanto implicava. Levantou-se, colocou uma camiseta e saiu de casa, sem rumo certo, queria paz, sossego e quem sabe alguém que o compreendesse. Não era uma fuga e sim um estado de saturação em ter que ouvir todos os dias as mesmas palavras, e saber que o tesão que antes sentia pela mulher, dia a dia estava acabando. Até quando o amor suportaria uma situação dessa? Era o que pensava enquanto dirigia. Lembrou-se de sua lua de mel, quando escutou sua mulher conversando com a mãe, dizendo que agora já tinha laçado um marido e não precisava mais se preocupar com nada! Será que marido é só para isso? Para um conforto de uma casa? Ou para servir de saco de pancadas, onde se pode esmurrar sempre? Não! Carlos precisava de muito mais que isso; queria amar e ser amado, queria compartilhar uma vida a dois, queria uma companheira, uma amante e um amor, e isso ele não tinha com Fabiana, infelizmente.
O mundo aguardava-o lá fora, com todo seu encanto e mistério, e quem sabe alguém um pouco mais interessante do que Fabiana. Coisas da vida...
Texto publicado em 19 de setembro de 2012 - Editado
Marcadores:
amor,
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Escrevo sobre a vida e os momentos específicos emocionais.
Assuntos relacionados sobre a mente humana e como conviver com o outro sem a necessidade de mudá-lo.
O conhecimento é primeiro processo de cura.
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Muito bom Clara!
ResponderExcluir"Amar e ser amado", porque quando amamos sempre esperamos algo em troca? Seria tão simples somente amar...
Tenha um lindo dia!
(Ah! Conheço alguns tipos parecidos, tanto homem quanto mulher, aff!!!).
Bjãooooooooo
Ahhhh... e eu acredito que a paz existe entre os casais quando um se coloca no lugar do outro.
ResponderExcluirFoi pensando em mim isso???
ResponderExcluirhahahahhahahahahahhahahhahah.....pode colocar os nomes verdadeiros!!
Brincadeirinha, viu??
Beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx...
KK
Olá querida Clara, como vai?
ResponderExcluirSeu texto é o retrato fiel de muitas relações por aí! casamento não é coisa fácil, aliás, todo tipo de convivência é bem trabalhosa, e muitos acabam por não ter mais a boa vontade de mudar as coisas... relacionamentos são exercícios constantes de tolerância, aprendizado e são como aquela velha história da plantinha que se não for cuidada, morre.
Algumas pessoas como esta esposa não percebem isso e se fecham no egoísmo, não enxergam que muitas das suas insatisfações podem ser mudadas por elas próprias e acabam descarregando em quem está próximo, destruindo a relação.
Tenho meus dias de reclamona, não nego, mas na maioria deles me esforço para manter a relação fresca e suave, com companheirismo e energia ;)
Uma questão importante que você citou é a de querermos que as pessoas mudem. Elas podem até mudar no caminho da evolução natural, mas focar nisso o tempo todo é não respeitar o outro, a diversidade e as limitações de cada um.
Se queremos que nos aceitem, porque não aceitamos os outros.
Amor é mesmo como a plantinha, todo dia tem que cuidar, dá trabalho, exige cuidado, mas vale a pena. Viver como o casal do texto e como muitos por aí é uma grande tristeza para ambos :)
Adorei!
Grande beijoooooooooo
Uma situação muito comum, que infelizmente existe, dificultando inúmeras relações.
ResponderExcluirBeijos.
Oi Clara!
ResponderExcluirÉ verdade mesmo! Isto é que destrói muitos casamentos por aí, esta falta de cumplicidade e empatia. Quando só um quer o melhor para os dois nunca dá certo. Um conto bem realista e atual.
Beijinhos!
Clara,tem razão em defender os homens que geralmente são sempre bombardeados em casos de separação,mas penso que a responsabilidade de um bom relacionamento está com os dois!Excelente conto!Desculpe não pintar por aqui antes,mas estou com problemas de conexão no PC!Bjs e meu carinho,
ResponderExcluir✫. `⋎´ ✫❤✫..
ResponderExcluir(⁀‵❤⁀,) ✫✫✫Boa tarde pra você✫.❤
Ser amigo e desejar o melhor para o outro, é um dom de Deus.
Por isso elogio o que vc tem na sua
postagem hoje,gosto de fazer visita, e adoro receber seu carinho
Agradeço pela bela amizade sempre
querida, deixo um abraço carinhoso
um belo texto
Bjusss
Rita!!!
(⁀❤‵⁀,) ✫✫✫..! ♥
.`⋎´✫✫¸.•°*”˜˜”*°•.✫❤
✫¸.•°*”˜˜”*°•.✫❤✫
Você não sabe o quanto eu me identifico com esse pensamento!
ResponderExcluirEu vejo um monte de garotas por aí que só querem ser paparicadas
mas não sabem dar nada em troca. A minha vizinha mesmo disse
que o sonho dela era ter um homem que amasse ela demais,
mas ela queria gostar só um pouquinho dele. Esquisito não?
Gostei demais Clara! Também tomo a defesa dele pois na minha própria família tem muitos casos parecidos. Triste quando um dos parceiros tripudia em cima do amor do outro. Triste quando um das partes deixa de se encantar com a vida e passa a destilar amargor. Não há amor que aguente! Bjs
ResponderExcluirSim, tem mulheres assim mesmo, Roseli... e fico sem entender porque os homens toleram, toleram... sem tomar providências...
ExcluirNão há amor que resista, mas muitos casamentos resistem assim até o fim da vida, né?
Beijos
Há um tempão não conseguia encontrar você. Seu blog não abria e até respondi comentários seus no meu, avisando. Relacionamentos não são fáceis, depois de algum tempo de convivência. Creio que a insatisfação deve ser manifestada logo, para se chegar a mudanças. Existe vida fora, sim, mas é preciso tentar, antes da partida, ver se está tudo findo, realmente. Quando se vai aceitando aquilo de que não se gosta, vira rotina e fica mais difícil cortar arestas.
ResponderExcluirVejo que editou antiga postagem. Abandonou o blog? Bjs.
Estou na torcida que Carlos encontre alguém que o faça feliz
ResponderExcluirUma companheira feito Fabiana ninguém merece...rs
Tenha um ótimo final de semana, Clara
Beijinhos carinhosos de
Verena e Bichinhos
Um casamento assim é uma tragédia grega...
ResponderExcluirGostei da tua narrativa, lê-se de um fôlego.
Clara Lúcia, tem um bom fim de semana.
Beijo.
Hoje estou passando para agradecer
ResponderExcluirsua amizade, desejar sempre o melhor
pra vc, e fazer um convite para
participar do sorteio que vou fazer
pelo niver do meu Blog, são 3 anos
de muita alegria, venha festejar comigo....
Abraços de bom final de semana
Bjusss
(¯`´¯)
`*.¸.*´
¸.•´Rita
Coisas da vida mesmo e quando acontece,tomara os dois encontrem parceiros melhores! bjs, chica
ResponderExcluirNão me conformo com casamentos que se mantém assim. E há vários. Se não for para haver respeito, cumplicidade, amor... melhor cada um seguir o s eu rumo.
ResponderExcluirMuito bem retratada a situação, Claríssima.
Linda semana nova pra vc!
;)
Boa tarde Clara :)
ResponderExcluirQualquer outra mulher, será melhor que essa tal de Fabiana!
Se chegou a esse ponto, a culpa é dos dois.
Muito interessante o conto.
bjs \o/