— Boa noite, pessoal, bom fim de semana!
— Boa noite, Francisca, vai namorar hoje, né, com essa cara alegre e afoita, só pode! — concluiu Edgar, o engraçadinho da turma da empesa onde trabalhavam.
— Que nada! Nem me lembro mais o que é isso de namorar... Mas tá valendo.
Francisca saiu quase que apressada, no toc-toc do salto fino sobre o piso frio laminado.
— Boa noite, seu José, bom fim de semana pro senhor! — concluiu sua semana de trabalho com o porteiro do prédio.
Francisca andava apressada, por nenhum motivo, desviando dos buracos na calçada que detonavam os saltos de seus sapatos. Já estava acostumada e reclamar não fazia mais parte de sua rotina.
Parando numa esquina com o sinal fechado para pedestres, distraída com o comentário de Edgar e sorrindo disfarçadamente, ouviu um "oi". Olhou para o lado e, antes de responder, gelou.
— Nossa, oi, como vai? Há quanto tempo...
— Então, faz anos já... Tudo bem, Francisca?
— Tudo e você?
Silêncio absoluto, apenas os olhos de um trocando mensagens para os olhos do outro. Na verdade o tempo passado foi de quase trinta anos. E a sensação da presença entre eles era como se o tempo não tivesse passado, como se os olhos tivessem se visto a um dia atrás...
Essa era a sensação de Mônica, que sua maturidade e bom senso pensava ser somente dela. Ela não tinha ideia do susto que o reencontro tenha deixado Pedro completamente fora do prumo, sem saber o que falar... Ele pensava apenas em respirar e olhar nos olhos de Francisca...
Passados alguns segundos, Francisca lembrou-se de cumprimentar Pedro com um beijo no rosto... Ah, o beijo no rosto pra seu descontrole... Tocar naquela barba totalmente branca... Segurou o suspiro pra não demonstrar a ansiedade. Rapidamente olhou para as mãos dele procurando algum vestígio de compromisso. Não encontrou. Sorriu mostrando os dentes e demonstrando satisfação ao vê-lo depois de tantos anos.
Pedro retribuiu o sorriso, olhou Francisca de cima a baixo e continuou sorrindo. Francisca ficou envergonhada e abaixou a cabeça, como se olhasse pra si mesmo conferindo seus trajes.
— Você mora por aqui, Francisca?
— Não, eu trabalho logo ali na avenida, estou indo pra casa. E você, o que faz por aqui?
— Fui atender um cliente, na avenida também, e estou indo pra casa também. Não na sua, na minha. — Francisca percebeu que o bom humor ainda permanecia nele. Advogado, bem-humorado, amor de sua juventude, e pelo jeito, de sua vida toda.
— Ah, claro... — respondeu, sorrindo pra ele.
— Você tem algum compromisso agora?
— Não.
— Então vamos tomar um café ali na Rua do Comércio, uma cafeteria nova, de um cliente meu. — Ela percebeu que ele não a convidou, mas a intimou a ir.
— Vamos sim.
A atitude, agora com mais maturidade, o bom humor entre os dois continuava o mesmo. A cumplicidade de sempre, as conversas calibradas numa seriedade superficial quando na verdade cada um queria ouvir o que o outro teria a oferecer naquele curto espaço de tempo. O encantamento continuava o mesmo e em certo momento questionaram o motivo do afastamento quando eram jovens. Não sabiam o motivo, ou não se lembravam, ou não queriam admitir que não estavam a fim de compromisso na época da juventude.
Um primeiro beijo aconteceu. O mesmo gosto, a mesma sensação de unidade do casal. Talvez agora seria o momento certo pro relacionamento acontecer.
Para Francisca, o momento estava sendo agora, e a todo instante seria agora, amanhã seria agora e assim por todo o futuro.
Encontros e reencontros, sempre acontecem no momento presente. E assim está feito!
Clara Lúcia