Fim.
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quarta-feira, 7 de maio de 2014
Só Imagens
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quarta-feira, 16 de abril de 2014
O Baile
Participando da Blogagem Coletiva "Momentos de Inspiração". Blog M@myrene. Vamos?
Já estava decidido. Não iria de jeito nenhum! Quem a obrigaria entrar naquele salão onde teria um baile seguido de um pedido de casamento completamente sem propósito algum?
Beatrice ouviu sem querer que seu pai havia escolhido um pretendente para sua princesinha. E justamente escolhera a pessoa mais abominável de toda a cidade. Um perfeito canalha, mulherengo, beberrão e otário. Pensava que poderia conseguir o que quisesse sendo gentil com seu pai; e conseguiu, mas ninguém, nem mesmo seu pai a obrigaria a fazer o que não queria. Já sabia que não contaria com sua mãe, pois dona Amália apenas obedecia o todo poderoso Cleomar. Dr Cleomar, como gostava de ser chamado.
Fugiria! Antes da música começar a tocar já estaria bem longe. Tudo combinado com Edward que a esperaria nos fundos da casa, com sua moto. Amava velocidade e Edward era mais que um irmão para Beatrice. Cresceram juntos e aprontaram muita arteirice juntos. Ela, filha do dono. Ele, filho do motorista.
Beatrice nunca desconfiara, mas Edward era apaixonado por ela. Fazia todas as suas vontades e o que mais queria era fugir com ela na garupa de sua moto. Iria aos céus, ou quem sabe no inferno, só para defendê-la. Quando pequena Beatrice era chorona, enjoada e só Edward tinha a paciência de ficar ao seu lado, tentando consolá-la. Aparentemente Beatrice era frágil como uma folha seca que esfarelava com o vento, mas era forte como um bambu, impossível de se quebrar. Era mimada e não suportava que contrariassem suas vontades. Mandona e autoritária, sem perder a doçura e o encanto. Pequenininha, magrinha e branquinha, além das sardas no nariz, cabelos ruivos e olhos azuis que pareciam faróis que iluminavam quem ousasse encará-la. Não era fácil lidar com Beatrice. Tinha poucas amigas e não aceitava nada menos do que escolher o que fazer e onde ir. Se não fosse do seu jeito, não tinha passeio que a tirasse de casa. Edward era o único que a entendia e defendia. Nem precisava de defesa mas ele fazia questão de estar sempre por perto, caso Beatrice precisasse.
Faltava pouco para a meia-noite. Beatrice ansiosa esperava ouvir o barulho da moto de Edward para poder pular a janela e sumir no mundo. Estava simplesmente linda num vestido longo, branco, com corpete bem acinturado que dava a impressão de espremê-la até cortar-lhe o ar. A saia bem rodada se arrastava no chão, dando a impressão de uma cascata delicada, formada por espumas de algodão. Escolhera sapatos confortáveis para facilitar a corrida até a moto que a aguardaria antes da palhaçada do baile começar.
Começou o baile. Beatrice não ouviu Edward chegar. Seu pai, o todo poderoso Dr Cleomar, foi buscá-la em seu quarto. Por pouco Beatrice não fugiu pela janela, mesmo sem Edward aparecer para resgatá-la. O jeito foi acompanhar seu pai, de braço dado, até o grande salão.
A primeira dança foi com Dr Cleomar e as próximas seriam com o desengonçado do Araújo, o prometido. Antes de chegar na segunda música Beatrice vê Edward na porta, com as mãos sujas de graxa e lhe acenando. Queria matá-lo, com um olhar fulminante. Conversaram praticamente em telepatia, ele explicando o furo no pneu e ela odiando e querendo enfiar a roda da moto na sua cabeça.
Como não teria como escapar da tragédia que se anunciava Beatrice simulou um desmaio. Logo foi amparada e carregada por Araújo. Levou-a ao seu quarto e esperou, junto com sua mãe, que recobrasse os sentidos. Disfarçadamente ela abriu um olho e viu que Araújo estava do seu lado. Fechou-o rapidamente e virou-se para o outro lado. Depois simulou um choro, como uma sangria desatada e implorou para ficar sozinha no quarto. Não queria nem a mãe por perto. E assim atenderam a vontade da mimada Beatrice. Caso contrário seria capaz de quebrar todo o quarto.
Quando todos saíram Beatrice olhou pela janela e lá estava Edward sobre sua moto, acelerando e rindo. Não pensou duas vezes e pulou sem medo de se machucar nas folhagens secas do final de outono. Sua saia ficou presa na janela e à medida que ia caindo, ia rasgando, deixando um rastro de um crime mal-sucedido. Ficou praticamente só com a parte de cima do vestido e um minúsculo pedaço de tule tapando-lhe as partes íntimas. Nem se importou. Edward, vendo aquela cena espetacular não teve outra reação a não ser ficar de queixo caído e com os olhos arregalados. Beatrice correu, sentou em sua garupa e mandou que ele acelerasse o mais rápido possível.
E assim começou a feliz união de Beatrice e Edward. Contrariando toda a família, mas com seu gênio impossível de ser domado, não havia mais o que ser feito. Na verdade quem não sabia desse amor era Edward que jamais sonhara que o que Beatrice sentia era amor... Apenas amor!
Fim.
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quinta-feira, 27 de março de 2014
Se Deixar Ela Volta
Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene. Um pequeno desabafo. Vamos?
Às vezes acordamos com total falta de esperanças, sem ânimo para se levantar da cama, sem vontade de conversar, sem vontade de pensar... Só a música, a única capaz de nos fazer sentir que ainda há vida, pelo tempo que não sabemos.
Um turbilhão de pensamentos nos invade e tudo perde o sentido. Lutamos e não chegamos a lugar nenhum. É assim que enxergamos, indo a lugar nenhum. E ficamos estáticos, cultivando pensamentos depressivos, uma lágrima pronta pra saltar de dentro de nós e, quem sabe, nos aliviar de um conflito interno, uma dor que não sabemos de onde vem, um desânimo...
Fechamos os olhos e nos entregamos ao som suave, sem entender a letra, mas já nos invade de tal forma que viajamos pelo tempo e nos lembramos do que tanto queríamos nos esquecer. Mais uma vez o passado nos bate à porta e espera um convite para entrar, puxar uma cadeira e aceitar um café e um dedo de prosa. Quem sabe um pedaço de bolo de fubá e alguns sequilos de coco também.
O passado já teve seu presente, então que fique no passado sem nos torturar vez ou outra. Simples.
Com uma lábia poderosa e já conhecedora do nosso íntimo, aquele que só Deus conhece e cuida, vai chegando bem perto, com toda sensualidade irresistível e se aloja de novo, dentro de nós.
Depressão. Esta sim sabe muito bem o caminho de volta. Era um lugar tão quentinho, aconchegante, com tanto carinho cultivada e idolatrada. Voltar é muito fácil, mas nem sempre esse convite deve ser feito. Só devemos convidar quem nos enche o coração de alegrias, de tranquilidade, de aconchego... Mas não aquele aconchego que reprime nossas vontades, mas o aconchego que nos enche de esperança de que tudo é bom quando focamos no que é bom para nós.
Somos seres solitários em nosso mais íntimo viver. Tudo depende de nós. Um instante de vacilo e tudo vai por água abaixo. Não pode!
Mais uma vez arregaçar as mangas e seguir em frente, distraindo a mente com alegrias vividas. Ou fúteis só para gargalharmos até doer a barriga. Uma boa gargalhada e um abraço são um dos melhores remédios para muitas curas.
E quando somos carregados no colo então? Uma sensação de cuidado, de carinho, de atenção, de amor... Deus sempre faz isso. Nós é que não percebemos a simplicidade que a vida é e sempre exageramos nas tristezas mesmo com tantas vitórias todos os dias.
Mas temos todo o direito de ficarmos tristes por um tempo... Mas só por um tempo, sem se alongar nas delongas e nas lamúrias enjoativas que usamos para chamar a atenção. Um, dois dias no máximo! Depois voltar à rotina com algumas melhoras e muito aprendizado como sempre tem que ser.
E bom humor, sempre! Amor com bom humor!
Um ótimo fim de semana para todos!
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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Princesinha Rebelde
Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene - 22ª Edição.
- Mas que droga de calçada mal feita essa! - reclamou Maria Divina, caminhando com dificuldade na calçada, quando ia até a padaria, como fazia todas as tardes, comprar pão para seu velho Tobias. - Tinha que ter uma lei exigindo que essas pessoas construam calçadas decentes!
Como sempre fazia, por longos anos, Divina parou no semáforo, mesmo estando vermelho para os carros, olhou para os dois lados e só depois atravessou a rua, ajudada por sua bengala. Do outro lado, como faz desde a semana passada, ficou olhando por um bom tempo para um outdoor com uma propaganda de uma rede de lojas de maquiagem. A foto é belíssima e o carro chama a sua atenção. Um Dodge cor-de-rosa, com três garotas com lábios bem vermelhos. Divina suspira e segue seu rumo.
Na lembrança, enquanto caminha até chegar à padaria, bons tempos de juventude. Juventude transviada, James Jean, velocidade, rebeldia... Tudo o que ela sempre quis mas nunca teve a ousadia de enfrentar a fúria de seu pai e ser como uma daquelas jovens de boca vermelha e olhar sensual. Era a princesinha da família. Seu pai a resguardava como um diamante, praticamente colocando-a numa redoma invisível, sem que ninguém pudesse tocá-la. Mas tudo foi em vão...
Robson, seu único e grande amor, terno e eterno, que teve que abandonar depois de namorar escondida durante quase um ano. Mal se viam e a paixão era avassaladora. Até que um dia não resistiu e se entregou de corpo e alma. Engravidou. Ele sumiu. Ela se casou com o primeiro que apareceu, por ordem de seu pai: Tobias. O homem mais pacato, tedioso, metódico e nojento que ela já havia conhecido. Teve um aborto espontâneo e não teve mais filhos. Por sorte ou por azar, pois pelo menos agora ela teria companhia mais agradável para viver a velhice. Talvez já tivesse netos crescidos, casados e bisnetos para que pudesse enxergar e se conformar que a vida tem sua beleza, apesar das obrigações impostas por outras pessoas.
Divina comprou o pão, voltou pelo mesmo caminho, parou em frente ao outdoor, olhou, suspirou, esperou o semáforo ficar verde para pedestre, atravessou com passos apressados, reclamou da calçada do vizinho, entrou em casa, fez o café, colocou a mesa, partiu o pão, passou manteiga e chamou seu velho:
- Bem, vem, já tá pronto!
- Tô indo, véia... Tô indo...
E a vida continuava, como tinha que ser, apesar dos pesares.
Fim.
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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Com Que Mala Eu Vou?
Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene.
Vamos, gente, vamos escrever e participar!
O dia estava quente, abafado, sol escaldante, asfalto soltando aquele mormaço de derreter sola de sapato e Gabriela indecisa, sem saber o que levar na viagem de férias. Depois de mais de vinte anos, depois de ser praticamente dona de casa e mãe, depois sofrer horrores, chorar pelos cantos, definhar, adoecer, finalmente conseguiu se libertar do passado carrasco que a acompanhava.
Uma depressão deixou-a trancafiada em casa, perdendo parte de sua vida, apenas olhando as paredes descascadas de sua casa e assistindo TV, de preferência aqueles programas dramáticos que discutem a vida sofrida das pessoas. Gabriela viajava naqueles programas, chorava, sofria junto e queria, mentalmente, resolver a vida de cada um. Sofrer para quê, pensava ela, não vale a pena!
Um dia, acordou meio atravessada, com a avó atrás do toco, chutou o balde e mandou todo mundo pras cucuias. Não queria mais ficar enclausurada num mundo só seu, com um mundo tão maravilhoso a sua volta, chamando-a, sussurrando em seus ouvidos, acenando e sorrindo, seduzindo-a dia a dia até que aceitou o convite.
Primeira providência há seis meses: comprar passagens para uma praia paradisíaca, para ir sozinha. Segunda providência: se acabar na academia e na dieta detox! Eliminar tudo o que não lhe pertencia. Terceira providência: renovar o guarda-roupas. Pronto, teria tempo suficiente para se ajeitar.
Os dias passaram rápido, Gabriela não mais assistiu a TV, não mais ficou enfurnada em casa, não foi à academia e não fez dieta detox, mas estava tão feliz que seus olhos brilhavam como dois faróis, na posição alta, irradiando bem-estar e bom humor por onde passava. Quantas pessoas ela reencontrou pelo caminho, tantos amigos que ela pensava terem lhe abandonado quando na verdade foi ela quem se afastou de todos. Foi recebida com abraços, sorrisos, afagos, carinhos, por todos que reencontrava. Queria levá-los todos para viajar com ela, mas tinham compromisso e diziam que na próxima oportunidade, iriam sim, todos juntos.
Um dilema deixava Gabriela triste e sem saber o que fazer. O que levar na mala? Na verdade, na véspera de viajar, Gabriela se deu conta de que não tinha mala decente para viajar. Comprou tantas roupas e sapatos que seriam necessárias duas ou três malas para caber tudo, sem amassar nada.
Não importava isso agora, era só um detalhe. Gabriela, então, resolveu não comprar outra mala. Levaria naquela mesmo e com o mínimo de roupas possível. Iria para a praia, então o maiô seria o que vestiria a maior parte do tempo. Um sapato fechado, um chinelo, um livro e, claro, a foto dos filhos, para não morrer de saudades.
Tudo arrumado, na manhã seguinte Gabriela embarcaria no ônibus intermunicipal, pois a praia ficava somente a 40 km de sua cidade. Não importaria a distância e sim ir, somente ir e voltar.
Fim.
Vamos, gente, vamos escrever e participar!
O dia estava quente, abafado, sol escaldante, asfalto soltando aquele mormaço de derreter sola de sapato e Gabriela indecisa, sem saber o que levar na viagem de férias. Depois de mais de vinte anos, depois de ser praticamente dona de casa e mãe, depois sofrer horrores, chorar pelos cantos, definhar, adoecer, finalmente conseguiu se libertar do passado carrasco que a acompanhava.
Uma depressão deixou-a trancafiada em casa, perdendo parte de sua vida, apenas olhando as paredes descascadas de sua casa e assistindo TV, de preferência aqueles programas dramáticos que discutem a vida sofrida das pessoas. Gabriela viajava naqueles programas, chorava, sofria junto e queria, mentalmente, resolver a vida de cada um. Sofrer para quê, pensava ela, não vale a pena!
Um dia, acordou meio atravessada, com a avó atrás do toco, chutou o balde e mandou todo mundo pras cucuias. Não queria mais ficar enclausurada num mundo só seu, com um mundo tão maravilhoso a sua volta, chamando-a, sussurrando em seus ouvidos, acenando e sorrindo, seduzindo-a dia a dia até que aceitou o convite.
Primeira providência há seis meses: comprar passagens para uma praia paradisíaca, para ir sozinha. Segunda providência: se acabar na academia e na dieta detox! Eliminar tudo o que não lhe pertencia. Terceira providência: renovar o guarda-roupas. Pronto, teria tempo suficiente para se ajeitar.
Os dias passaram rápido, Gabriela não mais assistiu a TV, não mais ficou enfurnada em casa, não foi à academia e não fez dieta detox, mas estava tão feliz que seus olhos brilhavam como dois faróis, na posição alta, irradiando bem-estar e bom humor por onde passava. Quantas pessoas ela reencontrou pelo caminho, tantos amigos que ela pensava terem lhe abandonado quando na verdade foi ela quem se afastou de todos. Foi recebida com abraços, sorrisos, afagos, carinhos, por todos que reencontrava. Queria levá-los todos para viajar com ela, mas tinham compromisso e diziam que na próxima oportunidade, iriam sim, todos juntos.
Um dilema deixava Gabriela triste e sem saber o que fazer. O que levar na mala? Na verdade, na véspera de viajar, Gabriela se deu conta de que não tinha mala decente para viajar. Comprou tantas roupas e sapatos que seriam necessárias duas ou três malas para caber tudo, sem amassar nada.
Não importava isso agora, era só um detalhe. Gabriela, então, resolveu não comprar outra mala. Levaria naquela mesmo e com o mínimo de roupas possível. Iria para a praia, então o maiô seria o que vestiria a maior parte do tempo. Um sapato fechado, um chinelo, um livro e, claro, a foto dos filhos, para não morrer de saudades.
Tudo arrumado, na manhã seguinte Gabriela embarcaria no ônibus intermunicipal, pois a praia ficava somente a 40 km de sua cidade. Não importaria a distância e sim ir, somente ir e voltar.
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quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Quando eu Crescer
Participando da Blogagem Coletiva do Blog M@myrene - 20ª Edição.
Muito a contragosto, dona Mafalda sempre arrastava Fabrícia para que lhe ajudasse com as tarefas de casa. A pequena não gostava nada. Na verdade, dona Mafalda não queria desgrudar os olhos da filha, que não parava quieta e aprontava muito. Então o jeito era arrastá-la para todos os lados e para não ficar emburrada a mãe lhe contava histórias.
Fabrícia ficava observando e fazia perguntas sobre o que a mãe contaria. Muitas vezes ela mesma criava personagens e terminava as histórias. Um momento que seria chato para uma garota que acabara de aprender a ler se tornava prazeroso com a criatividade da mãe.
Um dia, dona Mafalda estendendo roupas no varal, antes de começar a contar mais uma história, perguntou para a pequena o que ela gostaria de ser quando crescesse.
- Jogadora de futebol, mamãe - respondeu prontamente.
- Jogadora, filha, por que? - perguntou curiosa, dona Mafalda.
- Não gosto de bonecas e o papai não me deixa nunca brincar no campinho com os meninos. As meninas são muito chatas e só gostam de brincar de coisas que eu não gosto. Não tem graça ficar sentada no chão brincando. Não gostam nem de apostar corrida. Jogar bola é que é bom. - concluiu a pequena Fabrícia.
Espantada, dona Mafalda terminou rapidinho de estender as roupas e correu para dentro de casa. Não sabia que atitudes tomar quanto à filha, pois meninas são delicadas, mimosas e nunca soube, pelo menos naquela cidade, de meninas jogando futebol. Onde será que Fabrícia viu garotas nesse esporte?
Pegou uma vela e foi ao oratório pedir para Santo Antônio cuidar de sua menina, tão pequena, tão meiga e já querendo chutar o mundo por aí. Não suportava futebol. Seu marido só sabia assistir futebol na TV e agora mais essa, ter que aceitar a filha jogando futebol.
- Santo Antônio do céu, pelo amor de Nosso Senhor, arranca essa ideia da cabeça da menina, por favor, por tudo que é mais sagrado! Onde já se viu uma mocinha indefesa querer jogar futebol com os meninos, Santo Antônio, eu estou certa, não estou? Tenho que preservar minha filha, sua integridade e seu futuro. Então, meu santinho amado, desvie essas ideias tortas da cabecinha avoada dela, tá bom? No seu dia eu prometo doar cinquenta pãezinhos para serem distribuídos para os pobres. Sua bênção, amém!
Dona Mafalda não via a hora do marido chegar e contar a novidade. Teria que ser sem Fabrícia escutar, pois o tanto que o pai gostava de futebol era bem capaz de gostar da ideia e incentivar a pequena.
- Melhor me agarrar com Santo Antônio. Este sim, não me falta nunca!
Fim.
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quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Meu Primeiro Livro
Blogagem Coletiva da Irene Moreira, Blog M@myrene -
19ª Edição. Vamos participar?
Indecisa e por insistência de sua mãe, Lucimara não sabia qual livro ler primeiro. Pegou o mais fino para não demorar muito na leitura. Deu uma folheada e não viu figuras, mas já estava bom, afinal achara esse livro no banco da pracinha, em frente a sua casa. Apenas um bilhete dentro: "este livro não foi perdido e nem esquecido. Ofereço-o a você para que leia e passe adiante. Ele faz parte do projeto BookCrossing, que está na sua 7ª edição."
Achou interessante alguém compartilhar um livro pois sempre foi muito ciumenta com suas coisas e nunca teve o hábito de ler livros. Pegava os resumos na internet e fazia as provas sobre o assunto, enfim, sempre achou um tédio ficar lendo, lendo, lendo...
Era um romance de José de Alencar, A Pata da Gazela. Lucimara nunca ouvira falar desse escritor. Começou a leitura e não mais parou até a última página. Simplesmente amou!
Se encantou com o modo que o autor descreveu a história, as palavras usadas, a emoção, a descrição era tão real que chegou a entrar na cena e visualizar as personagens.
Ainda com o livro nas mãos, abraçou-o junto ao peito, fechou os olhos e ficou triste por ter terminado de lê-lo. Foi tão rápido!
Foi até a estante e pegou um outro livro, agora mais grosso, empoeirado e com as páginas amareladas. Muito tempo sem abri-lo, coitadinho, ficou velho! Era essa a sensação de Lucimara com os livros antigos de sua mãe que sempre deu o exemplo da leitura, mas ela nunca havia se interessado.
As conversas na internet, os passeios à toa com as amigas e as sorveterias ficariam em segundo plano. Queria viajar por mundos descritos, lugares inventados, planetas habitados e distantes, queria conhecer um vasto universo onde as palavras, uma do lado da outra, descritas e bem encaixadinhas, faziam emocionar. Um mundo de fantasia e realidade, vidas escancaradas, gargalhadas escandalosas, moças desfrutáveis, meninos-homens e um cenário que só conheceria folheando algumas páginas escritas. E nem se importava se haviam figuras ou não. As figuras não dizem com tantos detalhes como os escritores descrevem. Sempre fica alguma coisa a ser observada e os escritores sempre observavam esse detalhe.
Uma pilha de livros já estavam na espera para serem lidos. Lucimara, ansiosa, devoraria-os um a um.
Fim.
19ª Edição. Vamos participar?
Indecisa e por insistência de sua mãe, Lucimara não sabia qual livro ler primeiro. Pegou o mais fino para não demorar muito na leitura. Deu uma folheada e não viu figuras, mas já estava bom, afinal achara esse livro no banco da pracinha, em frente a sua casa. Apenas um bilhete dentro: "este livro não foi perdido e nem esquecido. Ofereço-o a você para que leia e passe adiante. Ele faz parte do projeto BookCrossing, que está na sua 7ª edição."
Achou interessante alguém compartilhar um livro pois sempre foi muito ciumenta com suas coisas e nunca teve o hábito de ler livros. Pegava os resumos na internet e fazia as provas sobre o assunto, enfim, sempre achou um tédio ficar lendo, lendo, lendo...
Era um romance de José de Alencar, A Pata da Gazela. Lucimara nunca ouvira falar desse escritor. Começou a leitura e não mais parou até a última página. Simplesmente amou!
Se encantou com o modo que o autor descreveu a história, as palavras usadas, a emoção, a descrição era tão real que chegou a entrar na cena e visualizar as personagens.
Ainda com o livro nas mãos, abraçou-o junto ao peito, fechou os olhos e ficou triste por ter terminado de lê-lo. Foi tão rápido!
Foi até a estante e pegou um outro livro, agora mais grosso, empoeirado e com as páginas amareladas. Muito tempo sem abri-lo, coitadinho, ficou velho! Era essa a sensação de Lucimara com os livros antigos de sua mãe que sempre deu o exemplo da leitura, mas ela nunca havia se interessado.
As conversas na internet, os passeios à toa com as amigas e as sorveterias ficariam em segundo plano. Queria viajar por mundos descritos, lugares inventados, planetas habitados e distantes, queria conhecer um vasto universo onde as palavras, uma do lado da outra, descritas e bem encaixadinhas, faziam emocionar. Um mundo de fantasia e realidade, vidas escancaradas, gargalhadas escandalosas, moças desfrutáveis, meninos-homens e um cenário que só conheceria folheando algumas páginas escritas. E nem se importava se haviam figuras ou não. As figuras não dizem com tantos detalhes como os escritores descrevem. Sempre fica alguma coisa a ser observada e os escritores sempre observavam esse detalhe.
Uma pilha de livros já estavam na espera para serem lidos. Lucimara, ansiosa, devoraria-os um a um.
Fim.
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quarta-feira, 13 de novembro de 2013
Camponês Infeliz
Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene, Momentos de Inspiração 18ª Edição. Uma delícia de blogagem. Vamos participar?
O sol mal acabara de nascer e Hemily já estava sentada no parapeito de sua janela para saltar. Não tinha medo de altura e já fizera esta proeza algumas vezes. Cairia em cima de uma folhagem densa no formato de um muro que cercava toda a casa. Colocou mais dois saiotes para não se arranhar nos espinhos. A mala já estava escondida dentro desse muro verde que Hemily colocara no dia anterior, quando os pais estavam distraídos tomando o chá da tarde.
O único perigo seriam os gansos começarem a berrar, mas Hemily estava acostumada, desde sempre, a brincar com os brancos desengonçados.
Hemily era do tipo inquieta, muito além da época em que vivia, em pleno século XVIII. Não aceitava ordens e nem casamentos arranjados entre as famílias. Não suportava a ideia de conviver com um estranho e muito menos ter alguma intimidade com um homem porco e fedorento, como costumava descrevê-los.
Com muita calma, olhou para o céu e vislumbrou os raios do Sol, espreguiçando e clareando o azulão da noite. Um dia que prometia muita agitação naquela mansão luxuosa da família Streiner.
Hemily pensou em usar a charrete, mas faria muito barulho, então, com coragem, propôs fuga a um admirador camponês, somente para que ele carregasse sua mala. Depois o dispensaria na estrada, dizendo ter mudado de ideia. Mas cadê o moço que não aparece? Não seria fácil carregar uma mala grande e pesada tendo mãos suaves e finas de uma donzela princesa do castelo do rei malvado, como assim descrevia sua vida com seu pai enérgico e carrancudo.
Caminhou pela estrada arrastando as saias e carregando a mala, bufando de cansaço. Não conseguiu nem chegar na porteira que daria para a estrada principal.
Procurou uma sombra para descansar, se sentou em cima da mala e ali ficou esperando Rotsgarden, o camponês, aparecer. Não apareceu o infeliz. A sede apertava, a poeira da estrada e a ventania não seguravam seu chapéu na cabeça. Foi-se o chapéu. Uma prova importante para rastrearem e fossem procurá-la quando dessem por sua falta. Hemily estava tão exausta que nem se importou. Deixou que o chapéu tomasse seu rumo.
Mas cadê aquele que se dizia apaixonado e que carregaria sua mala?
Não apareceu o ingrato! Hemily, então, deixou a mala no pé de uma paineira e voltou para casa, resmungando, praguejando e chutando pedras que se atreviam a ficar em seu caminho.
Chegou na casa grande e se lembrou que pulou a janela, portanto não teria como entrar na casa. Teria que esperar alguém abrir a porta e inventar uma desculpa qualquer para explicar como ela fora parar do lado de fora, assim de manhã cedo.
Podia dizer que era sonâmbula, mas não acreditariam. Diria que caiu da janela, mas também não acreditariam porque perguntariam porque não chamou alguém para lhe socorrer. Diria que não sabia, que acordou do lado de fora, toda vestida e não tinha explicação, como se fosse uma amnésia momentânea. Reclamaria de dor na cabeça, subiria, dormiria o dia todo e ninguém a perturbaria.
Se sentou na escadaria, cruzou os braços, o beiço ressaltado no lindo rosto angelical e esperou... Esperou... Esperou...
A porta se abriu, seu pai, ainda em trajes de dormir, foi até Hemily, puxou-a pelo braço e arrastou-a até o quarto. As janelas já estavam trancadas e a porta também ficaria trancada por um bom tempo como punição por ela ter a ousadia de pensar em fugir. Chutz, o pai carrancudo, já sabia de toda a armação, pois o camponês havia lhe contado.
Fim.
O sol mal acabara de nascer e Hemily já estava sentada no parapeito de sua janela para saltar. Não tinha medo de altura e já fizera esta proeza algumas vezes. Cairia em cima de uma folhagem densa no formato de um muro que cercava toda a casa. Colocou mais dois saiotes para não se arranhar nos espinhos. A mala já estava escondida dentro desse muro verde que Hemily colocara no dia anterior, quando os pais estavam distraídos tomando o chá da tarde.
O único perigo seriam os gansos começarem a berrar, mas Hemily estava acostumada, desde sempre, a brincar com os brancos desengonçados.
Hemily era do tipo inquieta, muito além da época em que vivia, em pleno século XVIII. Não aceitava ordens e nem casamentos arranjados entre as famílias. Não suportava a ideia de conviver com um estranho e muito menos ter alguma intimidade com um homem porco e fedorento, como costumava descrevê-los.
Com muita calma, olhou para o céu e vislumbrou os raios do Sol, espreguiçando e clareando o azulão da noite. Um dia que prometia muita agitação naquela mansão luxuosa da família Streiner.
Hemily pensou em usar a charrete, mas faria muito barulho, então, com coragem, propôs fuga a um admirador camponês, somente para que ele carregasse sua mala. Depois o dispensaria na estrada, dizendo ter mudado de ideia. Mas cadê o moço que não aparece? Não seria fácil carregar uma mala grande e pesada tendo mãos suaves e finas de uma donzela princesa do castelo do rei malvado, como assim descrevia sua vida com seu pai enérgico e carrancudo.
Caminhou pela estrada arrastando as saias e carregando a mala, bufando de cansaço. Não conseguiu nem chegar na porteira que daria para a estrada principal.
Procurou uma sombra para descansar, se sentou em cima da mala e ali ficou esperando Rotsgarden, o camponês, aparecer. Não apareceu o infeliz. A sede apertava, a poeira da estrada e a ventania não seguravam seu chapéu na cabeça. Foi-se o chapéu. Uma prova importante para rastrearem e fossem procurá-la quando dessem por sua falta. Hemily estava tão exausta que nem se importou. Deixou que o chapéu tomasse seu rumo.
Mas cadê aquele que se dizia apaixonado e que carregaria sua mala?
Não apareceu o ingrato! Hemily, então, deixou a mala no pé de uma paineira e voltou para casa, resmungando, praguejando e chutando pedras que se atreviam a ficar em seu caminho.
Chegou na casa grande e se lembrou que pulou a janela, portanto não teria como entrar na casa. Teria que esperar alguém abrir a porta e inventar uma desculpa qualquer para explicar como ela fora parar do lado de fora, assim de manhã cedo.
Podia dizer que era sonâmbula, mas não acreditariam. Diria que caiu da janela, mas também não acreditariam porque perguntariam porque não chamou alguém para lhe socorrer. Diria que não sabia, que acordou do lado de fora, toda vestida e não tinha explicação, como se fosse uma amnésia momentânea. Reclamaria de dor na cabeça, subiria, dormiria o dia todo e ninguém a perturbaria.
Se sentou na escadaria, cruzou os braços, o beiço ressaltado no lindo rosto angelical e esperou... Esperou... Esperou...
A porta se abriu, seu pai, ainda em trajes de dormir, foi até Hemily, puxou-a pelo braço e arrastou-a até o quarto. As janelas já estavam trancadas e a porta também ficaria trancada por um bom tempo como punição por ela ter a ousadia de pensar em fugir. Chutz, o pai carrancudo, já sabia de toda a armação, pois o camponês havia lhe contado.
Fim.
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quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Não Tá Fácil Pra Ninguém
Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene. 17ª Edição. Vamos participar?
Querida Sofia,
Sofia, hoje fui numa livraria comprar um livro de receitas pra dar de presente. Comecei um papo com o livreiro, que acho que é vendedor e lhe perguntei sobre os livros. Queria fazer uma pesquisa sobre como andam as vendas dos livros.
Sabe o que ele disse? E acho que não estava brincando não, que livro de histórias, romances, não tem tantas vendas assim não, que nem os antigos famosos ele consegue vender. Me mostrou um monte de Machado de Assis. Depois me levou numa banca com os lançamentos e estavam todos lá. Ele disse que só os que saem na mídia é que são procurados e que o povo acha caro um livro custar vinte reais.
Eu acho caro também, mas depois que comecei a escrever acho muito pouco. Quanto tempo temos que nos dedicar a escrever pro livro custar tão pouco? E olha, Sofia, que tinha livro pra caramba lá!
Eu lhe disse que era escritora e que tinha alguns contos lançados numa coletânea, portanto nem era tão escritora assim. Ele disse que sim, que eu era escritora por ter lançado escritos meus, não importando como. Bem, se ele disse, quem sou eu pra contrariá-lo?
Me mostrou algumas opções de livros que poderiam vender um pouco mais. Depois perguntei se eu lançasse um livro se ele compraria pra colocar na livraria. Ele disse que não podia fazer isso justamente porque não tinha saída. A única coisa que ele poderia fazer era pegar em consignação, mas que todos que ele pegou em consignação não vendeu nenhum! Então porque eu deixaria livro meu lá?
Ele deu dois exemplos de livros que venderam muito: quando o Faustão faz a propaganda ou quando alguém do Big Brother lê e o país inteiro vê. Aí sim, vendem muito.
Ele também disse que se for escritor da cidade, aí sim, que ninguém compra mesmo. Podem até se interessar, mas se for da mesma cidade, deixam o livro de lado e procuram outro. Que preconceito chato!
Que coisa, heim, Sofia? Que banho de água fria que ele me deu! Será que no país inteiro é assim? Como é que vou me atrever a lançar um livro então?
Sabe, Sofia, eu tenho essa vontade sim, de escrever um livro só meu, mas e se ninguém comprar? Vai ficar encalhado, assim como eu estou? Ninguém me quer e ninguém vai querer me ler também?
O que eu faço. Sofia?
Já sei! Vou escrever assim mesmo. Uma coisa de cada vez. Primeiro escrevo e depois procuro editora, depois sai a publicação e depois vou no Jô Soares com um cartaz imenso lançando meu livro lá! Será que pode? Será que o Jô é chato? O que você acha?
Responde logo, por favor? Esse nosso hábito de escrever cartas é ótimo, mas fico muito ansiosa pra saber a resposta. Me responde no mesmo dia em que você recebê-la, tá bom?
Como você está? Ainda namorando o Valdomiro? E o Antenor, ainda no seu pé?
Me responde logo, certo?
Beijos, saudades!
Querida Sofia,
Sofia, hoje fui numa livraria comprar um livro de receitas pra dar de presente. Comecei um papo com o livreiro, que acho que é vendedor e lhe perguntei sobre os livros. Queria fazer uma pesquisa sobre como andam as vendas dos livros.
Sabe o que ele disse? E acho que não estava brincando não, que livro de histórias, romances, não tem tantas vendas assim não, que nem os antigos famosos ele consegue vender. Me mostrou um monte de Machado de Assis. Depois me levou numa banca com os lançamentos e estavam todos lá. Ele disse que só os que saem na mídia é que são procurados e que o povo acha caro um livro custar vinte reais.
Eu acho caro também, mas depois que comecei a escrever acho muito pouco. Quanto tempo temos que nos dedicar a escrever pro livro custar tão pouco? E olha, Sofia, que tinha livro pra caramba lá!
Eu lhe disse que era escritora e que tinha alguns contos lançados numa coletânea, portanto nem era tão escritora assim. Ele disse que sim, que eu era escritora por ter lançado escritos meus, não importando como. Bem, se ele disse, quem sou eu pra contrariá-lo?
Me mostrou algumas opções de livros que poderiam vender um pouco mais. Depois perguntei se eu lançasse um livro se ele compraria pra colocar na livraria. Ele disse que não podia fazer isso justamente porque não tinha saída. A única coisa que ele poderia fazer era pegar em consignação, mas que todos que ele pegou em consignação não vendeu nenhum! Então porque eu deixaria livro meu lá?
Ele deu dois exemplos de livros que venderam muito: quando o Faustão faz a propaganda ou quando alguém do Big Brother lê e o país inteiro vê. Aí sim, vendem muito.
Ele também disse que se for escritor da cidade, aí sim, que ninguém compra mesmo. Podem até se interessar, mas se for da mesma cidade, deixam o livro de lado e procuram outro. Que preconceito chato!
Que coisa, heim, Sofia? Que banho de água fria que ele me deu! Será que no país inteiro é assim? Como é que vou me atrever a lançar um livro então?
Sabe, Sofia, eu tenho essa vontade sim, de escrever um livro só meu, mas e se ninguém comprar? Vai ficar encalhado, assim como eu estou? Ninguém me quer e ninguém vai querer me ler também?
O que eu faço. Sofia?
Já sei! Vou escrever assim mesmo. Uma coisa de cada vez. Primeiro escrevo e depois procuro editora, depois sai a publicação e depois vou no Jô Soares com um cartaz imenso lançando meu livro lá! Será que pode? Será que o Jô é chato? O que você acha?
Responde logo, por favor? Esse nosso hábito de escrever cartas é ótimo, mas fico muito ansiosa pra saber a resposta. Me responde no mesmo dia em que você recebê-la, tá bom?
Como você está? Ainda namorando o Valdomiro? E o Antenor, ainda no seu pé?
Me responde logo, certo?
Beijos, saudades!
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quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Passado Presente
Participando da Blogagem Coletiva Momentos de Inspiração - 16ª Edição. Blog da M@myrene.
Quinze anos e parece que foi ontem. Valmir, meu irmão querido, tão jovem e que fez o desfavor de ir antes de nós.
Me lembro dessa foto perfeitamente, quando ele, insistentemente, nos fez ir até o matagal que ficava atrás da casa só para tirar uma foto de recordação. Ele queria fazer um poster e colocar na sala de visitas. Um sonhador, um romântico, um batalhador e talentoso em tudo que pusesse a mão para fazer.
Tá certo que tinha aquele maldito temperamento de querer saber de tudo, e sabia de muita coisa mesmo, era topetudo demais para ficar calado quando algum assunto, seja qual fosse, era tema nas rodas de amigos ou de familiares. Estávamos tão acostumados a ele que nem precisávamos procurar respostas em lugar nenhum, ele sabia na ponta da língua. Uma das poucas coisas que não conseguia guardar era o dia do aniversário de mamãe.
Certa vez, nós todos almoçando para comemorar o aniversário de mamãe, ele chegou e nem percebeu a festança ao redor da mesa. Pratos especiais, vinho branco, carne assada - raramente tínhamos carne assada - e um bolo confeitado que estava em cima da geladeira. Mesmo vendo toda essa algazarra não percebeu do que se tratava. Teve que perguntar, atitude rara, e receber nas fuças uma bronca de todos sobre seu esquecimento. O sabichão ainda teimou dizendo que não era aquele dia não, que seria no próximo sábado! Outra bronca nossa, alguns tapas nas costas, na cabeça e um empurrão na cadeira, para ver se ficava sentado e em silêncio. Nesse dia todos ganharam dele. Mas como era gente da paz levou tudo na brincadeira, disfarçando dizendo que estava testando todo mundo. Mais uma chuva de tapas na cabeça desse inconformado em perder algo, mesmo que fosse no par ou ímpar.
A última foto que ele tirou de minha irmã mais nova e eu está num lugar especial, na estante da sala. Somente ela e dois solitários com rosas cor de rosa, um em cada lado do porta-retratos. A última foto expressa exatamente como Valmir era: ousado, mandão, destemido e talentoso. Só não contava que nosso pai estava atrás tirando uma foto dele tirando nossa foto. Essa foto especial está no quarto de mamãe, no criado-mudo, sobre uma toalha branca de crochê, do lado de um abajur e de um copo d'água. Antes havia uma vela sempre acesa, mas com o passar dos anos, convencemos mamãe a colocar a vela num local menos perigoso. Com muito custo ela concordou. Nem sempre está acesa, pois quando ela está dormindo ou quando sai de casa, apagamos a vela. Nunca se sabe o que pode acontecer com uma vela acesa. Mas basta mamãe voltar para reacendê-la e fazer suas orações.
A saudade dói demais e o tempo não a cura, não a arranca de nosso peito, apenas sobrevivemos sem Valdir na esperança de um dia nos reencontrarmos e matar toda essa agonia e sofrimento.
Faz quinze anos, mas ainda sentimos sua presença pela casa, dando ordens, resmungando, cuidando de todos nós com muito carinho.
Ele está num bom lugar. Temos certeza!
Fim.
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quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Vivendo o Momento - Um Conto Sensual
Participando da Blogagem Coletiva - 15ª Edição - Blog da M@myrene. Gosta de escrever? Venha participar!
Mal começou a primavera e o calor já estava infernal. Ruth simplesmente detestava o calor... Se acostumou com o clima europeu, frio, e gostava de se vestir com casacos, botas, luvas, enfim, mesmo ainda sendo uma jovem mulher gostava de se vestir elegantemente.
Eduardo aguardava-a na portaria do hotel em que se hospedara para o casamento de um primo de segundo grau, um dos poucos de sua família que ela mantinha contato. Depois que se casou com um milionário e se mudou de país se afastou de todos no Brasil. A intenção era não voltar mais, porém ficou viúva repentinamente e se sentiu muito sozinha por lá. Fez as malas e voltou.
Morava num flat pois não queria ter preocupações com empregados e nem com chaves, que ela sempre perdia por onde andava. Dois anos já havia se passado e Ruth não tinha vontade de se relacionar com mais ninguém. Ainda sofria pela falta do marido e não tinha olhos para mais homem nenhum. Até que contratou Eduardo, o motorista particular.
Algo nesse rapaz a encantara profundamente. Era educado, discreto, perfumado, tinha as mãos macias - assim ela imaginava quando ele a tocava para ajudá-la a sair do carro - um olhar penetrante e lindo, muito lindo. Sempre quando estavam indo a algum lugar, ele olhava-a discretamente pelo retrovisor. Isto fazia-a corar e de certa maneira despertara os mais bandidos pensamentos. No começo ficava sem graça, mas depois se perdia nas fantasias de se entregar para Eduardo, parando em qualquer rua deserta e convidando-o para se sentar ao seu lado, no banco traseiro do luxuoso carro.
Para disfarçar seus pensamentos pervertidos, Ruth encostava a cabeça, fechava os olhos e imaginava aquele homem cheiroso acariciando seu rosto, beijando sua boca sedenta e molhada que implorava lhe arrancar o fôlego e depois ressuscitando-a, percorrer as mãos macias pelo seu corpo quente que tremia de desejo e paixão... Um corpo imaculado por dois anos, virgem temporariamente, e que implorava explodir debaixo daquele corpo másculo, pele branca e quente, que arrepiava com o toque de sua boca...
O ar condicionado ligado não era suficiente para que se refrescasse de seus pensamentos secretos e seus desejos cada vez mais intensos... Gemia baixinho, passando os dedos em seus lábios, imaginando a boca de Eduardo tocando a sua... Gemia, suspirava e se assustava com a ousadia de seus gestos. Abria os olhos e olhava para Eduardo que tranquilamente continuava seu trajeto. Era bom motorista, cauteloso e delicado.
Não satisfeita, Ruth mais uma vez se entregou aos pensamentos e trouxe Eduardo para cima de seu corpo. Deitou-a no banco macio, de couro preto, se encaixou entre suas pernas, segurando-as com as mãos, fazendo com que vibrasse e gemesse mais alto.
Assustada mais uma vez, Ruth abriu os olhos e se viu quase deitada no banco, com as pernas abertas e suas mãos a lhe percorrer a intimidade. Eduardo, tranquilamente, continuava a dirigir. Sentiu-se corar, se ajeitou, respirou fundo e pediu para que ele andasse mais rápido, pois queria estar em casa antes de anoitecer.
Eduardo, olhando-a pelo retrovisor, apertou os olhos, sorriu e acenou com a cabeça.
Ruth pegou sua agenda e começou a verificar os compromissos da semana tentando se controlar e pensando nas tarefas que faria quando chegasse em casa. Mas antes sorriu, também discretamente, se sentindo viva e livre do luto de dois anos.
Eduardo era um ótimo motorista e não queria estragar a relação de respeito que tinham. Pelo menos por enquanto...
Fim.
Mal começou a primavera e o calor já estava infernal. Ruth simplesmente detestava o calor... Se acostumou com o clima europeu, frio, e gostava de se vestir com casacos, botas, luvas, enfim, mesmo ainda sendo uma jovem mulher gostava de se vestir elegantemente.
Eduardo aguardava-a na portaria do hotel em que se hospedara para o casamento de um primo de segundo grau, um dos poucos de sua família que ela mantinha contato. Depois que se casou com um milionário e se mudou de país se afastou de todos no Brasil. A intenção era não voltar mais, porém ficou viúva repentinamente e se sentiu muito sozinha por lá. Fez as malas e voltou.
Morava num flat pois não queria ter preocupações com empregados e nem com chaves, que ela sempre perdia por onde andava. Dois anos já havia se passado e Ruth não tinha vontade de se relacionar com mais ninguém. Ainda sofria pela falta do marido e não tinha olhos para mais homem nenhum. Até que contratou Eduardo, o motorista particular.
Algo nesse rapaz a encantara profundamente. Era educado, discreto, perfumado, tinha as mãos macias - assim ela imaginava quando ele a tocava para ajudá-la a sair do carro - um olhar penetrante e lindo, muito lindo. Sempre quando estavam indo a algum lugar, ele olhava-a discretamente pelo retrovisor. Isto fazia-a corar e de certa maneira despertara os mais bandidos pensamentos. No começo ficava sem graça, mas depois se perdia nas fantasias de se entregar para Eduardo, parando em qualquer rua deserta e convidando-o para se sentar ao seu lado, no banco traseiro do luxuoso carro.
Para disfarçar seus pensamentos pervertidos, Ruth encostava a cabeça, fechava os olhos e imaginava aquele homem cheiroso acariciando seu rosto, beijando sua boca sedenta e molhada que implorava lhe arrancar o fôlego e depois ressuscitando-a, percorrer as mãos macias pelo seu corpo quente que tremia de desejo e paixão... Um corpo imaculado por dois anos, virgem temporariamente, e que implorava explodir debaixo daquele corpo másculo, pele branca e quente, que arrepiava com o toque de sua boca...
O ar condicionado ligado não era suficiente para que se refrescasse de seus pensamentos secretos e seus desejos cada vez mais intensos... Gemia baixinho, passando os dedos em seus lábios, imaginando a boca de Eduardo tocando a sua... Gemia, suspirava e se assustava com a ousadia de seus gestos. Abria os olhos e olhava para Eduardo que tranquilamente continuava seu trajeto. Era bom motorista, cauteloso e delicado.
Não satisfeita, Ruth mais uma vez se entregou aos pensamentos e trouxe Eduardo para cima de seu corpo. Deitou-a no banco macio, de couro preto, se encaixou entre suas pernas, segurando-as com as mãos, fazendo com que vibrasse e gemesse mais alto.
Assustada mais uma vez, Ruth abriu os olhos e se viu quase deitada no banco, com as pernas abertas e suas mãos a lhe percorrer a intimidade. Eduardo, tranquilamente, continuava a dirigir. Sentiu-se corar, se ajeitou, respirou fundo e pediu para que ele andasse mais rápido, pois queria estar em casa antes de anoitecer.
Eduardo, olhando-a pelo retrovisor, apertou os olhos, sorriu e acenou com a cabeça.
Ruth pegou sua agenda e começou a verificar os compromissos da semana tentando se controlar e pensando nas tarefas que faria quando chegasse em casa. Mas antes sorriu, também discretamente, se sentindo viva e livre do luto de dois anos.
Eduardo era um ótimo motorista e não queria estragar a relação de respeito que tinham. Pelo menos por enquanto...
Fim.
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quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Louco Amor
Participando da Blogagem Coletiva - Momentos de Inspiração - 14ª Edição - Blog da M@myrene.
Depois de oito km pedalando, Armando achou onde descansar, refrescar a cabeça e encostar a bicicleta. Que ideia estapafúrdia de ir ver a namorada em sua cidade que fica a dez km da sua!
Se voltasse ficaria frustrado, se continuasse chegaria na casa de Rosana soltando as vísceras pela boca, de tão cansado. Enfim, descansaria um pouco e continuaria seu trajeto.
"A gente fica apaixonado e fica besta, burro, cego e acha que é o super-homem, que aguenta tudo e mais um pouco", cochichava olhando para os lados com medo de uma cobra que pudesse estar no meio daqueles trilhos desativados. Não poderia nem se deitar para tirar um cochilo, por medo de escorpião que agradasse lhe picar as nádegas. Que vexame seria! Além de chegar morto na casa da Rosana ainda teria que correr para o posto de saúde para tirar o ferrão desse medonho ser traiçoeiro.
"Acho melhor voltar pra casa", continuava resmungando. Mas a paixão era tanta que Armando não aguentaria esperar até o fim de semana para ver a amada, linda, baixinha, gordinha, com o sorriso mais iluminado que já vira. Sim, valia a pena qualquer sacrifício por ela.
Armando, pedreiro de uma empresa multinacional, estava de licença por uns dias devido à fratura de seu dedo mindinho. E como era acostumado a se movimentar achou que seria fácil pedalar uns míseros dez km. A estrada era de chão batido, a paisagem deslumbrante, o barulho ensurdecedor das araras e dos pássaros que voavam em bandos passavam desapercebidos pelos olhos de Armando, que pedalava numa subida ingrata, desviando de pedregulhos e derrapando vez outra, quase se estabacando no chão de terra avermelhada.
Depois de uns bons minutos descansando, Armando subiu em sua magrela e se foi, praguejando pela subida que ainda faltava até chegar na Restinga, onde Rosana se escondia. Cidade pequena onde o meio de vida era a lavoura nas fazendas ao redor. Rosana trabalhava em casa de família e pelo horário que Armando chegaria lá, ela estava de saída. Então se encontrariam na única praça onde ficava a igreja bem conservada, alguns pés de coqueiros e vários bancos de cimento, com propagandas do comércio local. Era nessa praça que eles passavam a maior parte do tempo em que namoravam, nos fins de semana, com o dinheiro já contado, separado do restante do salário, que era pouco, mas suficiente para o lazer.
A ideia de comprar uma bicicleta era exatamente para economizar mais um pouco e assim poder programar um breve casamento com Rosana. Estava apaixonado e ele sabia que ela era a mulher de sua vida. Mandona, autoritária, brigona, mas era assim que Armando gostava, de alguém que o conduzisse pela estrada da vida. Era sossegado que só! Preferia obedecer a ter que tomar decisões, mas a decisão de se casar em breve era totalmente dele. E a decisão de se aventurar na estrada só para ver Rosana também era totalmente dele. E isso o deixava nervoso porque sabia que muitas de suas decisões eram completamente sem noção.
O fato de estar apaixonado, de ter um futuro programado com uma mulher como Rosana, o alimentava diariamente e o deixava esperançoso de uma vida feliz, uma família para sempre, com samambaias, cachorros, filhos, netos e quem sabe bisnetos.
Bem, isso se o pobre chegar inteiro em Restinga...
Fim.
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quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Semana Interminável
Participando da Blogagem Coletiva - Momentos de Inspiração 13ª Edição. Da M@myrene.
Com um feriado no fim de semana, as crianças já ficavam alvoroçadas. Sabiam que iriam à praia. Na terça feira já perguntavam se faltava muito tempo para chegar o sábado. Rodolfo não tinha muita paciência com os filhos, mas Judith entrava na algazarra e se transformava em criança também.
Finais de semana na praia lembrava tanto sua infância que Judith fazia tudo exatamente igual a sua mãe, quando ela, sua irmã Jacira e seu irmão Juvêncio aguardavam ansiosos o passeio sagrado no dia das crianças. Entravam no carro e iam a viagem toda ajoelhadas no banco de trás, olhando a cidade sumir e os carros se aproximando, querendo ultrapassá-los. Apostavam se um ou outro carro seria mais rápido do que o que estavam.
Hoje, vendo seus filhos fazendo exatamente o que fazia quando criança, se emocionava e se perdia nas recordações.
Na sexta feira à noite já não dormiam mais. Acordariam de madrugada para poderem chegar ainda de manhã, com o sol nascendo, e vislumbrar o amarelo ouro sair de mansinho da imensidão azul, pingando um suor na água, provocando as ondas, até acordar de vez e brilhar imponente e quente. Para Judith não existia visão mais linda do Universo.
Mal desciam do carro e as crianças, vestidas com roupas de banho, corriam em direção à espuma branca, ainda gelada, soltando gritinhos de alegria. Depois, fazendo uma concha com as mãos, enchiam com a água salgada e jogavam para cima, para que as gotas molhassem seus rostos e ardessem seus olhos. Riam compulsivamente sem se cansarem. Voltavam para a areia, se enfileiravam e corriam novamente, apostando quem tocaria a água primeiro.
Ricardinho sempre ganhava por ser o mais ágil e o mais magro. Andrea era a última e sempre ficava emburrada, cruzando os braços e deitando o beiço até quase encostar no peito. Ana Luiza não conseguia correr muito porque morria de rir, então não sabia se ria ou se corria. Depois se jogava na areia, com os braços e pernas abertas, como uma estrela do mar e, olhando o sol, apertava os olhos e gritava. Era a liberdade de olhar o céu azul, sem nuvens, com algumas gaivotas sobrevoando a praia e o barulho mágico do mar que ia e vinha, incansavelmente.
E assim passavam o dia. Voltavam para casa já à noitinha, com os três pestinhas com as cabeças pendentes para o lado, dormindo sentados e bem amarrados no cinto de segurança.
O passeio seria o assunto da semana, ou então do mês, dependendo de quem tivesse paciência para ouvi-los contar a mesma história inúmeras vezes.
Fim.
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quarta-feira, 2 de outubro de 2013
Quem Entende a Arte?
Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene. Vamos participar?
- Será que se eu fizer só uns pingos coloridos, esse quadro valerá alguma coisa? - pensou Renata enquanto se sujava toda nas tintas coloridas.
Depois de visitar uma exposição de quadros de novos artistas, Renata resolveu pegar seus pincéis e se aventurar em novos quadros.
Sinceramente não entendia de arte e quadro bonito para ela era quadro com formas e cores definidas. Esses quadros com rabiscos ela apenas achava que eram rabiscos e nada mais. E sendo valiosos, por que não se arriscar nessa forma de arte? Será que alguém entenderia?
- Vou ter que colocar uma história sobre a tela, no verso, para não me esquecer. Como vou criar uma história com rabiscos? Coisa de mestre mesmo. - pensava em voz alta enquanto trocava de pincel e da cor da tinta.
Ficaram até bonitos, coloridos, disformes, manchados, mas ela olhava e gostava. Isso era o que importava.
Bastaria fazer mais alguns, esperar secar e procurar um local adequado para expô-los.
- Internet! Sim, é só procurar na internet que vou achar alguém que tenha interesse. - disse, esperançosa.
Num mesmo dia Renata fez cinco quadros. Todos muitos parecidos um com o outro. Por fim deixou de lado e foi assistir a TV. Estava passando um filme antigo que ela não assistia há tempos.
Outro dia pensaria nos quadros.
Renata era assim mesmo, hiperativa, inteligente, ousada e não gostava de perder tempo com nada. Se queria algo logo lutava e conseguia. Era ajuizada, mas às vezes extrapolava na ousadia.
Antes de terminar o filme, adormeceu. Acordou de madrugada e foi se deitar na cama. E no caminho até o quarto já pensava no que faria de manhã, com o Sol já queimando a pele alva e sardenta dela.
Coisas de Renata. Renatinha para os mais chegados.
Fim.
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sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Vencendo o Medo
Participando da Blogagem Coletiva do Blog M@myrene. Vamos participar?
Mais um fim de semana de tortura para Rafael, pois mais uma vez iriam para a casa nas montanhas. Não gostava de lá pois seu pai sempre insistia em levá-lo para a casa na árvore e a empurrá-lo naquele balanço medonho. Nunca havia sentado naquele balanço pois dava a impressão de que voaria e saltaria para o abismo, mesmo sabendo que não havia abismo nenhum. Era só ilusão de ótica de quem estava do lado da casa, mas indo até a beirada, uma descida os levavam até o riacho cristalino que ficava logo abaixo.
Mas cabeça de adolescente viaja em mundos imaginários trazendo sensações nem tão boas a ponto de vencer fobias. Rafael tinha pavor de altura. Até uma simples escada de quatro degraus já deixava-o agoniado.
O tempo estava bom, com ar fresco e pouco vento. Uma neblina cobria parte das montanhas dando a impressão de estar andando entre as nuvens. Rafael olhou para seu pai, adentrou a casa e jurou não sair dali até o momento de irem embora.
Renato, o pai, ria do filho chamando-o de medroso. Rafael nem se importava e continuava assistindo a TV.
Com todo o cuidado, Renato começou a conversar com o filho, dizendo que o medo é bom, que é o nosso moderador de atitudes e que devemos sempre respeitá-lo. Mas que a casa na árvore e o balanço não representavam perigo nenhum. Elogiou o filho várias vezes até convencê-lo a se sentar no balanço. O pai prometera não ir além do medo do rapaz.
Rafael se sentou de costas para o abismo e o pai empurrava-o com moderação. Ele usava os pés para frear o impulso do pai, diminuindo a velocidade do pêndulo medonho. Depois de algumas empurradas o rapaz já não encostava mais os pés no chão. O vai e vem ficava cada vez mais longo e a sensação era de liberdade, mesmo ele permanecendo a maior parte das vezes de olhos fechados. Com coragem abriu os olhos e inclinou o corpo como se ajudasse a dar um impulso mais alto. O pai vibrava e aplaudia o jovem rapaz.
Com mais outra conversa, Renato convenceu Rafael a se sentar frente ao abismo. Explicou que não havia abismo nenhum, que caso ele caísse, havia grama macia para protegê-lo, e se ele se segurasse com firmeza, não cairia jamais!
Depois de olhar o buraco suspeito Rafael aceitou o desafio e começou tudo de novo, agora vendo as nuvens praticamente aos seus pés. Um impulso mais forte levou Rafael ao alto deixando-o de olhos arregalados e queixo caído.
Não quis balançar por muito tempo pois a emoção do dia já tinha sido cumprida. Desceu do balanço, pernas bambas, foi até o pai e abraçou-o. Mesmo tendo somente quatorze anos não tinha vergonha de demonstrar emoções com os pais. Renato parabenizou-o e disse que o medo continuaria, mas agora saberia seu limite e até onde poderia ir.
Fim.
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sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Paciência
Participando da Blogagem Coletiva da M@amyrene. Contar histórias, poesias, contos, ou seja o que for, para quem gosta de viajar no imaginário, é perfeito!
Pietra, inquieta, não sabia se bufava olhando para aquela maldita porta ou se ia para a rua esperar o digníssimo marido chegar. Já estavam atrasados para o casamento da sobrinha da vizinha e ela não suportava chegar atrasada em nenhum compromisso. Quer dizer, não é bem um compromisso, mas já que foram convidados por que não chegar na hora combinada?
Raul não queria ir de jeito nenhum. Sábado à tarde era dia de futebol com os amigos, depois cerveja, papo, besteiras, enfim, dia de se desconectar do mundo adulto e relaxar. Apenas um dia e nada mais. Mesmo assim Pietra insistia em tirar-lhe esse único dia sagrado com os amigos.
Para evitar brigas, discussões em público, discutir relação, Raul sempre concordava com Pietra, mas nem sempre cumpria com que ela impunha. Às vezes dava um perdido na mulher e inventava uma desculpa qualquer. Isso era a morte para Pietra, pois sabia que ele fazia de propósito só para deixá-la irritada.
Mas no final das contas se entendiam muito bem, o amor predominava sempre e amanhã seria outro dia.
Pietra estava toda arrumada, como se fosse a madrinha da noiva. Muito vaidosa gostava de estar sempre assim, bem arrumada, em qualquer lugar que ela fosse.
Raul era mais largado, não se importava tanto com a aparência, para desespero da mulher que vivia corrigindo-o e arrumando-o. Ele tinha um ótimo bom humor e adorava esse jeito da mulher, de querer enfeitar tudo e todos. Não tinha dúvidas de que Pietra era a mulher de sua vida e repetia isso todos os dias, seguido de um beijo carinhoso e terno. Ela retribuía e se sentia a mulher mais feliz do mundo.
Quase em cima da hora chega o marido desleixado fazendo com que Pietra praticamente o empurrasse para debaixo do chuveiro e ela mesma o ensaboasse, para agilizar e não chegarem tão atrasados no casamento. Raul, todo sossegado, cantarolava e ria para a mulher, que ficava reclamando e não olhava em seus olhos, pois se assim o fizesse, com certeza se atiraria em seus braços, debaixo do chuveiro.
Finalmente o casal saía de casa, com atraso, claro. Chegaram na igreja, a noiva já no altar, e devido ao barulho do salto de Pietra tilintando no assoalho de madeira todos olharam para trás para ver quem eram os atrasados para a cerimônia. Cochichos, risadinhas, caras feias, nada disso tirava o humor de Raul, que foi andando tranquilamente e cumprimentando todos, mesmo não conhecendo ninguém.
Se sentaram e logo se levantaram pois a cerimonia já estava no final. Ele olhou para a mulher e caiu na risada. Ela, sem jeito nenhum, não conseguiu segurar e também soltou uma risadinha discreta. Por educação, foram os últimos a saírem da igreja e resolveram não ir à festa. Raul fez um convite tentador para a mulher e esta apenas lhe respondeu discretamente no ouvido: sim!
E assim, seguiram todos, a multidão para a festa e o casal para um lugar secreto, onde só os dois conheciam, ou só os dois faziam de conta que ninguém sabia de nada. Mas que importância teria isso numa tarde de sábado maravilhosa?
Fim.
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quarta-feira, 11 de setembro de 2013
Um Protetor
Participando do Momentos de Inspiração - 9ª Edição, do blog da querida M@myrene. Vem, gente, participar também!
Anícia, agora sozinha em casa, pegou Diamante Negro no colo e começou a andar pela casa. Não sabia se conseguiria dormir, mas tentaria pelo menos fechar os olhos. Deixaria a TV e o rádio ligados, pois não suportava o silêncio. Sempre achava o silêncio muito barulhento.
Seus pais haviam viajado, passariam o fim de semana fora e Anícia insistiu em ficar sozinha, pela primeira vez. Então os pais confiaram nela para cuidar da casa e de Diamante Negro, o xodó da família. Era um gato preto arredio, não gostava de colo e muito menos de brincar com Anícia. Os dois não se davam muito bem pelo temperamento forte de ambos, que gostavam de comandar o lugar onde estavam. Anícia sempre o expulsava da poltrona verde, que ficava perto da janela, na sala de visitas. Gostava de se sentar nela para ler seus romances mamão com açúcar. Uma contradição para quem era agitada, como dizia sua mãe, ler romances sonsos e depois sair por aí toda estabanada, derrubando tudo. Mas eram justamente esses romances que acalmavam Anícia, que viajava nas histórias e sonhava com os lugares mágicos, e, claro, inexistentes.
Anícia era mesmo uma contradição em pessoa. Não se interessava pelos moços que se aproximavam e nem pelas baladas que suas amigas insistiam em levá-la. Preferia ficar em casa lendo ou assistindo a algum filme de terror. Morria de medo do silêncio mas amava filmes de terror. Nasceu com a avó atrás do toco, como dizia sua madrinha de batismo. Mesmo assim era adorável, educada, bem humorada e linda.
Já passava da meia noite e Anícia ainda caminhava pela casa verificando se estava tudo em ordem e deixando todas as luzes acesas. Diamante Negro dormia na poltrona verde. Anícia chegou devagar e pegou-o no colo. Ele miou mas ficou quieto, ainda sonolento. Foram para o quarto e Anícia aninhou o gato debaixo das cobertas, bem perto de seu corpo. Não estava frio e Diamante tentava vez ou outra sair daquele calor. Anícia segurava-o com ternura, impedindo que ele saísse de perto dela.
Na TV um programa de auditório que envolveu Anícia fazendo-a se esquecer de que estava sozinha. Cochilou. Acordou assustada e começou a olhar em volta, puxando as cobertas até à altura do nariz, imóvel, só mexendo os olhos. Diamante dormia tranquilo, perto dela, mas longe das cobertas.
Anícia olhava as paredes cor de rosa, com alguns quadros de bailarinas e pierrôs e via olhos entre os quadros,. encarando-a. Fechava os olhos e abria de novo e os olhos da parede apareciam novamente. Puxou Diamante para mais perto de si e começou a cantarolar uma música de ninar, que sua mãe sempre cantava quando ela era pequena. Tentava se fixar na TV, mas a parede puxava seu olhar. Arrepiou... Aumentou o som da TV e virou para o outro lado. Fechou os olhos e começou a imaginar aqueles lugares lindos dos romances que lera. Adormeceu.
Os raios do sol batiam em seu rosto através da janela de vidro, Diamante Negro miava e Anícia custou a despertar. Esfregou os olhos com as mãos, levantou a cabeça e olhou as horas. Já era tarde, mas não importava pois era sábado e não tinha horas para se levantar. Se lembrou dos olhos da parede, se assustou e se virou para olhá-la. Estava lá, cor de rosa, os quadros e sem nenhum olho a fitá-la. Suspirou aliviada, abriu um sorriso e deu um bom dia para o gatinho que ainda miava perto da porta, querendo sair; espreguiçou com vontade, se levantou e foi tomar seu leite com canela e açúcar como sempre fazia todas as manhãs.
Foi até a janela onde estava a poltrona verde, puxou a cortina e deslumbrou o belo dia que fazia. Estava orgulhosa de ter passado a noite sozinha, tomando conta da casa e de Diamante Negro. Suspirou mais uma vez e pensou que nessa noite não dormiria em seu quarto. Iria para o quarto dos pais, junto com Diamante Negro. Se sentiria mais segura com o cheiro da mãe na cama fofa. Diamante só observava e parecia concordar com Anícia. O quarto era maior, mais arejado, com paredes brancas e uma TV maior. Não sentiria tanto calor debaixo daquelas cobertas em que Anícia insistia para que ele ficasse. Esperou Anícia sair de perto da poltrona e subiu, se aninhando num canto, com os raios de sol fazendo brilhar seus pelos negros, numa manhã ensolarada e preguiçosa.
Fim.
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quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Segredos Revelados
Participando da Blogagem Coletiva - 8ª Edição - Blog M@amyrene
Alícia não acreditava no tesouro que acabara de encontrar: um diário de sua avó! Praticamente um livro manuscrito, letras desenhadas como se as linhas do caderno fossem de caligrafia. As folhas amareladas e com alguns furinhos de cupins davam uma certa nostalgia. O cheiro de papel velho a incomodava mas não conseguia esperar até amanhecer para ler os segredos da avó que falecera há vinte anos.
Uma curiosidade dela junto com a irmã Aline, que já estava dormindo, a fez encontrar dentro do baú, além das roupas do século passado, vários livros antigos, romances raros, alguns livros pornográficos da década de trinta e esse diário.
Na primeira página, letras desenhavam o nome da avó Querina dos Anjos Aguiar, o ano, a cidade, estado e país. Como se fosse para esse segredo correr mundo afora, denunciando exatamente de onde partiu. Alícia riu do capricho da avó enquanto passava o dorso da mão para limpar as bolinhas deixadas pelos cupins.
Alícia, continuando a ler, cuidadosamente passava a página e cada vez mais se encantava com o jeito poético da escrita daquela época. Sua avó ainda jovem se declarando para um rapaz, bem apessoado, como ela escrevera, que lhe admirava de longe, e ela, a avó, não podia lhe fitar os olhos, pois era moça de família e temia ficar mal falada na cidade.
Continuando a ler descobriu que o rapaz de quem sua avó citava era seu avô Jeremias. Sim, naquele tempo as moças ainda adolescentes se encantavam com os rapazes e estes as cortejavam e casavam, sem demora. Que lindo, pensava Alícia, bem diferente de hoje em dia.
E chegou na página onde a avó descreveu, discretamente, sobre a primeira noite de casada. Ela fizera uma camisola de algodão, branca, que lhe cobria os joelhos e com bordados na gola e nos bolsos. Pena a avó não mencionar detalhes, mas disse que não foi boa não, que era de bom senso a moça não demonstrar emoção nenhuma para não correr o risco de ser devolvida para o pai. Que coisa grotesca, pensava Alícia. Mas continuando a ler, a avó acabou confessando que com o passar dos dias esse momento de intimidade era gostoso e ela podia até sorrir, escondida do marido.
Alícia, em estado de graça, fechou o diário, encostou-o ao peito com as duas mãos e ficou imaginando sua avó e seu avô se conhecendo aos poucos, e vivendo juntos até os últimos dias. Raridade nos dias de hoje.
Não queria ler o restante do caderno. Queria saboreá-lo aos poucos, dia a dia, desvendando os mistérios daquele tempo machista, castrador, difícil, mas muito sincero, inocente e que uma união era para sempre, querendo ou não. As palavras do padre "até que a morte os separe", eram uma ordem e não apenas uns escritos sacramentais. Puro romance, pura nostalgia.
Alícia não sabia se contaria para a mãe. Capaz dela lhe arrancar o diário e guardá-lo num outro esconderijo onde nunca mais mãos humanas tocariam aquela relíquia de família. Leria tudo e só depois revelaria o achado.
Guardou os livros e o vestido no baú e escondeu os escritos da avó, debaixo do colchão, em homenagem a ela, que fazia desse lugar um esconderijo sagrado, como contava sua mãe. Dormiu com um sorriso nos lábios imaginando aquela senhorinha carinhosa, meiga, doce... Vó Querina!
Fim.
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sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Cinturinha de Pilão
Participando da Blogagem Coletiva Momentos de Inspiração - 7ª Edição, do blog M@myrene.
Patrícia, concentrada nas suas pesquisas, encontra algo curioso: os espartilhos da década de 1940. Parou um instante, olhou para a janela com vidraças enormes que a separavam da mata nativa, e se lembrou do filme E O Vento Levou.
- Como Scarlett conseguia usar um espartilho tão apertado? Aquela cena da mucama lhe apertando o espartilho e ela quase sem respirar é nostálgica. - disse, em voz baixa, olhando uma revoada de periquitos barulhentos que passavam bem perto de sua janela.
E hoje é fetiche usar uma peça assim, toda trabalhada, uma verdadeira arte de engenharia. E ainda toda à mostra, sem tabus, pensava Patrícia enquanto continuava sua leitura.
Teria pouco tempo para preparar uma coleção completa para uma rede de lojas de departamentos, sua mais nova ousadia como microempresária. Não faria as peças em seu atelier, apenas algumas peças básicas para serem enviadas para todo o país, onde a rede de lojas fabricaria. Estava tão contente que queria pesquisar o máximo de informações possíveis. E se basearia no passado, quando as peças eram escondidas, mas com a ousadia de agora. Os tecidos já haviam sido escolhidos a dedo, todos exclusivos e com detalhes inovadores, uma outra ousadia da mais nova estilista que logo teria seu nome carimbado no mundo da moda.
Sua inspiração, é claro, seria Scarlett O'Hara, a eterna apaixonada equivocada e lutadora. Como toda mulher deve ser, feminina e forte, lutadora, sem medo de ser vaidosa e sem deixar dúvidas de sua eficiência. Mas nunca equivocada. Este seria o foco da coleção. Apaixonada sim, sem equívocos.
Depois de perder seu olhar em mais uma revoada, agora de pássaros, na privilegiada paisagem que, por coincidência, era os fundos de sua casa, Patrícia voltou às suas pesquisas. Um turbilhão de pensamentos e ideias para colocar no papel e depois transformar em roupa íntima. Será um sucesso, com certeza.
Fim.
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quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Momentos de Inspiração - 6ª Edição
Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene. Gosta de escrever? Participe também!
Márcia, que sempre passava por aquele caminho, nunca havia parado para observar a paisagem deslumbrante do pôr do sol. Apesar da fobia de altura, se arriscou a chegar perto da mureta de madeira que protegia a rua do precipício. Ainda sobre a bicicleta espichou o pescoço para poder ver as formiguinhas humanas que transitavam no buraco medonho.
- Pra quê fazer uma estrada aqui em cima? E por que eu tenho que passar por aqui todas as vezes, meu Deus? - balbuciava indignada por sua atitude corajosa.
Respirou fundo e começou a observar o horizonte.
- Que lindo! Se eu olhar só o horizonte eu não fico tonta... E se fechar os olhos dá pra sentir a brisa que traz o perfume das matas da montanha. Hmmmm... Como é que eu nunca tive coragem pra prestar atenção nessa maravilha?
E continuou a observar a linda paisagem, ao longe as montanhas com vários tons de verde e cinza e umas nuvens que cortavam-lhe o topo, e abaixo, um córrego que cortava a avenida principal da cidade, com duas ruas paralelas, com tráfego contrário uma da outra. As pessoas andavam nas calçadas e se deixavam ver vez ou outra, por conta de árvores frondosas que ofertavam sombra para proteger do Sol quente de verão. Apesar do Sol estar se pondo, alguns raios batiam nas nuvens e um pequeno arco-íris enfeitava a paisagem quebrando o verde das matas e o azul do céu. Alguns raios ainda batiam nas águas correntes do córrego, formando brilhos de luz que ofuscavam a visão de Márcia que nesse instante estava boquiaberta. Como era linda a cidade vista do alto! Num impulso, Márcia encostou a bicicleta na mureta, subiu um degrau desta, abriu os braços e soltou um grito. Depois se deu conta de que não estava sozinha, olhou para os lados e se sentiu aliviada por não ter ninguém por perto.
Olhou para baixo e uma vertigem a fez se segurar, descer e se afastar da mureta. A sensação era tão inebriante que ficou com medo de se jogar no precipício. Respirou fundo, pegou a bicicleta e segurando no guidão seguiu com passos rápidos para o outro lado da rua, até finalmente sair daquele lugar enlouquecedor de tão lindo, tentador que a puxava para baixo, até chegar num lugar seguro, sem a visão do horizonte. Parou numa pracinha, sentou em um banco de madeira e, ainda tremendo, ficou imaginando a queda de um corpo daquela altura até embaixo quando encontrasse o chão. Não sobraria nem o pó para o velório.
Não, melhor não passar mais por ali sozinha. Chamaria Arthur, o namorado, para acompanhá-la e protegê-la de qualquer loucura que ela, por ventura, sentisse vontade de cometer.
Fim.
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