quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Camponês Infeliz

Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene, Momentos de Inspiração 18ª Edição. Uma delícia de blogagem. Vamos participar?

      O sol mal acabara de nascer e Hemily já estava sentada no parapeito de sua janela para saltar. Não tinha medo de altura e já fizera esta proeza algumas vezes. Cairia em cima de uma folhagem densa no formato de um muro que cercava toda a casa. Colocou mais dois saiotes para não se arranhar nos espinhos. A mala já estava escondida dentro desse muro verde que Hemily colocara no dia anterior, quando os pais estavam distraídos tomando o chá da tarde.

      O único perigo seriam os gansos começarem a berrar, mas Hemily estava acostumada, desde sempre, a brincar com os brancos desengonçados.

      Hemily era do tipo inquieta, muito além da época em que vivia, em pleno século XVIII. Não aceitava ordens e nem casamentos arranjados entre as famílias. Não suportava a ideia de conviver com um estranho e muito menos ter alguma intimidade com um homem porco e fedorento, como costumava descrevê-los.

      Com muita calma, olhou para o céu e vislumbrou os raios do Sol, espreguiçando e clareando o azulão da noite. Um dia que prometia muita agitação naquela mansão luxuosa da família Streiner.

      Hemily pensou em usar a charrete, mas faria muito barulho, então, com coragem, propôs fuga a um admirador camponês, somente para que ele carregasse sua mala. Depois o dispensaria na estrada, dizendo ter mudado de ideia. Mas cadê o moço que não aparece? Não seria fácil carregar uma mala grande e pesada tendo mãos suaves e finas de uma donzela princesa do castelo do rei malvado, como assim descrevia sua vida com seu pai enérgico e carrancudo.

      Caminhou pela estrada arrastando as saias e carregando a mala, bufando de cansaço. Não conseguiu nem chegar na porteira que daria para a estrada principal.

      Procurou uma sombra para descansar, se sentou em cima da mala e ali ficou esperando Rotsgarden, o camponês, aparecer. Não apareceu o infeliz. A sede apertava, a poeira da estrada e a ventania não seguravam seu chapéu na cabeça. Foi-se o chapéu. Uma prova importante para rastrearem e fossem procurá-la quando dessem por sua falta. Hemily estava tão exausta que nem se importou. Deixou que o chapéu tomasse seu rumo.

      Mas cadê aquele que se dizia apaixonado e que carregaria sua mala?

      Não apareceu o ingrato! Hemily, então, deixou a mala no pé de uma paineira e voltou para casa, resmungando, praguejando e chutando pedras que se atreviam a ficar em seu caminho.

      Chegou na casa grande e se lembrou que pulou a janela, portanto não teria como entrar na casa. Teria que esperar alguém abrir a porta e inventar uma desculpa qualquer para explicar como ela fora parar do lado de fora, assim de manhã cedo.

      Podia dizer que era sonâmbula, mas não acreditariam. Diria que caiu da janela, mas também não acreditariam porque perguntariam porque não chamou alguém para lhe socorrer. Diria que não sabia, que acordou do lado de fora, toda vestida e não tinha explicação, como se fosse uma amnésia momentânea. Reclamaria de dor na cabeça, subiria, dormiria o dia todo e ninguém a perturbaria.

      Se sentou na escadaria, cruzou os braços, o beiço ressaltado no lindo rosto angelical e esperou... Esperou... Esperou...

      A porta se abriu, seu pai, ainda em trajes de dormir, foi até Hemily, puxou-a pelo braço e arrastou-a até o quarto. As janelas já estavam trancadas e a porta também ficaria trancada por um bom tempo como punição por ela ter a ousadia de pensar em fugir. Chutz, o pai carrancudo, já sabia de toda a armação, pois o camponês havia lhe contado.
     
     Fim.

38 comentários:

  1. Bela participação Clara!
    Coitada da Hemily, fora obrigada a adotar um estilo de vida que não a fazia se sentir bem. Mais tenho certeza que ela não se limitará a tal destino.
    Parabéns!
    Beijinhos
    http://aspoderosas1.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Naquela época era assim mesmo e ela era arredia e teimosa. Se fosse o contrário ela também não concordaria. Mimada demais!
      Beijos, Larissa!

      Excluir
  2. A Hemily confiou em quem se dizia apaixonado e se deu mal. Coitada!... Belo conto!
    Beijos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acho que ele não era apaixonado nada! Ela que enfiou isso na cabeça, só pode, Élys! rsrsrs
      Beijos

      Excluir
  3. Que lindo e cheio de detalhes que deram um toque bem especial è tua participação! Sempre DEZ de inspiração! beijos,chica

    ResponderExcluir
  4. Muitas vezes decidimos confiar e o resultado é como o de sua heroína

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não é fácil confiar nos outros assim não. Ela é que é mimada demais e acha que todos estão fazendo suas vontades, Vall. Bem-vinda!!!
      Beijos

      Excluir
  5. Olá, querida Clara
    Vc sempre nos apresenta um lindo enredo ou pela forma como é escrito ou pelo conteúdo em si...
    Bjm de paz e bem

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rosélia, minha mente viaja por aí. Essa foto eu tinha muitas histórias e escolhi essa do século XVIII. Acho que sou desse século da reencarnação passada... não sei se acredita, mas me identifico muito, principalmente com as roupas.

      Beijos de paz e luz, querida!

      Excluir
  6. Clara linda participação, Clara seguindo o seu blog convido você para conhecer o meu blog também beijos.
    http://www.lucimarestreladamanha.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bem-vinda, Lucimar....
      Me aguarde que vou no seu blog... posso demorar um pouquinho, mas vou!
      Beijos

      Excluir
  7. Um conto bem detalhista que nos faz penetrar na época e formas de agir.
    Parabéns pela criatividade.
    bjs

    ResponderExcluir
  8. Numa segunda leitura...sem dúvida Hemily sabia que venceria
    Abraços e seja sempre bem vinda no meu espaço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sabia sim, mas era mimada demais pra enfrentar as dificuldades... vamos ver...

      Obrigada, querida, um lindo domingo!
      Beijos

      Excluir
  9. Ficou com gosto de continuação...
    Ótimo e envolvente texto, amiga Clara. Parabéns.
    Prende nossa atenção em seus textos.
    Abraços e paz.

    ResponderExcluir
  10. Clara sua narrativa é maravilhosa. Adorei seu conto e amei essa nossa protagonista. Que bom que nasci em pleno século XX. Coitada, nasceu em época errada e teve de se contentar com esse destino. Mas tenho certeza que ela não pára por aí não. Esse menina ainda vai dar a volta por cima no pai. Ah vai! Bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu acho que na outra encarnação eu fui dessa época... me identifico muito, Roseli, principalmente com essas roupas e muitos saiotes. Com homens daquele tipo, enfim...

      Beijos

      Excluir
  11. Hahaha, o pai deixou-a passar por toda a frustração. Grande lição! Se fosse realmente determinada, fugiria deixando a mala para trás!
    Beijinho, um doce fim-de-semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ela nem sairia com a mala e iria correndo até a estrada principal. Mas é mimada, então não queria ficar sem suas roupas confortáveis.

      Beijos, querida, lindo domingo!

      Excluir
  12. Querida Clara, um excelente feriado para ti.
    Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Carlos, pra vc também um ótimo domingo!
      Abraços!

      Excluir
  13. Nossa ficou muito criativa a sua participação, Clara
    Deverias escrever um livro
    Escreves muito bem
    Beijinhos e para tí
    Verena e Bichinhos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Escrever um livro é fácil, publicar também, mas vender o livro é que é complicado. Tenho que pensar muito... não tem dom pra vender nada então fica difícil.
      Estou pensando num jeito. Esse é meu foco!
      Beijos pra vcs!

      Excluir
  14. Que lindo conto, clara! Até o nome escolhido para a protagonista combinou com a imagem. Muitas vezes isso ocorre com quem se apaixona, não é?
    Abraço!
    Sonia

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Minha mente viaja... a lugares que nem eu imagino... rsrsrs
      Não dá pra confiar assim nas pessoas não, não é? Mas Hemily é teimosa que só!
      Beijos

      Excluir
  15. Acho muito legal essas blogagens !!!Que lindo, adorei e vc é muito criativa! Bjs e bom fim de semana

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Já tá participando? Eu adoro também!
      Ótimo domingo pra vc também, beijos!

      Excluir
  16. Caramba poderia criar um livro somente com contos maravilhosos como este. Amei.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Essa blogagem daria um ótimo livro sim!
      Beijos, Alexandra!

      Excluir
  17. Olá ! Parabéns pelo blog.
    Eu adorei e já estou seguindo.
    Boa semana e um abraço !

    Marco A Okuma
    http://maosecrets.blogspot.com.br
    http://shoppingpamplonasp.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  18. Clara!
    Que conto criativo, gostei muito.

    Desejo que seu final de semana seja carregadinho de sucesso e muitas realizações!
    cheirinhos
    Rudy
    Blog Alegria de Viver e Amar o que é Bom!

    ResponderExcluir
  19. Adorei, muito criativo o texto. Gosto dessa narrativa dos dias de hoje com a capacidade de dizer- muito alem do seu tempo estava no sec....
    E as palavras tb. Toda linguagem pode ser mesmo reinventada a cada texto.
    Bjos e parabens!

    ResponderExcluir
  20. Excelente história e muito bem merecido o castigo que Hemelit recebeu por fugir de casa.
    Como sempre cheia de inspiração e muita criatividade.
    Beijinhos.

    ResponderExcluir

Olá, seja bem vindo e deixe seu comentário!

Eu os responderei por aqui mesmo ou por email, se achar necessário.

São muito bem-vindos, sempre!