Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene, Momentos de Inspiração 18ª Edição. Uma delícia de blogagem. Vamos participar?
O sol mal acabara de nascer e Hemily já estava sentada no parapeito de sua janela para saltar. Não tinha medo de altura e já fizera esta proeza algumas vezes. Cairia em cima de uma folhagem densa no formato de um muro que cercava toda a casa. Colocou mais dois saiotes para não se arranhar nos espinhos. A mala já estava escondida dentro desse muro verde que Hemily colocara no dia anterior, quando os pais estavam distraídos tomando o chá da tarde.
O único perigo seriam os gansos começarem a berrar, mas Hemily estava acostumada, desde sempre, a brincar com os brancos desengonçados.
Hemily era do tipo inquieta, muito além da época em que vivia, em pleno século XVIII. Não aceitava ordens e nem casamentos arranjados entre as famílias. Não suportava a ideia de conviver com um estranho e muito menos ter alguma intimidade com um homem porco e fedorento, como costumava descrevê-los.
Com muita calma, olhou para o céu e vislumbrou os raios do Sol, espreguiçando e clareando o azulão da noite. Um dia que prometia muita agitação naquela mansão luxuosa da família Streiner.
Hemily pensou em usar a charrete, mas faria muito barulho, então, com coragem, propôs fuga a um admirador camponês, somente para que ele carregasse sua mala. Depois o dispensaria na estrada, dizendo ter mudado de ideia. Mas cadê o moço que não aparece? Não seria fácil carregar uma mala grande e pesada tendo mãos suaves e finas de uma donzela princesa do castelo do rei malvado, como assim descrevia sua vida com seu pai enérgico e carrancudo.
Caminhou pela estrada arrastando as saias e carregando a mala, bufando de cansaço. Não conseguiu nem chegar na porteira que daria para a estrada principal.
Procurou uma sombra para descansar, se sentou em cima da mala e ali ficou esperando Rotsgarden, o camponês, aparecer. Não apareceu o infeliz. A sede apertava, a poeira da estrada e a ventania não seguravam seu chapéu na cabeça. Foi-se o chapéu. Uma prova importante para rastrearem e fossem procurá-la quando dessem por sua falta. Hemily estava tão exausta que nem se importou. Deixou que o chapéu tomasse seu rumo.
Mas cadê aquele que se dizia apaixonado e que carregaria sua mala?
Não apareceu o ingrato! Hemily, então, deixou a mala no pé de uma paineira e voltou para casa, resmungando, praguejando e chutando pedras que se atreviam a ficar em seu caminho.
Chegou na casa grande e se lembrou que pulou a janela, portanto não teria como entrar na casa. Teria que esperar alguém abrir a porta e inventar uma desculpa qualquer para explicar como ela fora parar do lado de fora, assim de manhã cedo.
Podia dizer que era sonâmbula, mas não acreditariam. Diria que caiu da janela, mas também não acreditariam porque perguntariam porque não chamou alguém para lhe socorrer. Diria que não sabia, que acordou do lado de fora, toda vestida e não tinha explicação, como se fosse uma amnésia momentânea. Reclamaria de dor na cabeça, subiria, dormiria o dia todo e ninguém a perturbaria.
Se sentou na escadaria, cruzou os braços, o beiço ressaltado no lindo rosto angelical e esperou... Esperou... Esperou...
A porta se abriu, seu pai, ainda em trajes de dormir, foi até Hemily, puxou-a pelo braço e arrastou-a até o quarto. As janelas já estavam trancadas e a porta também ficaria trancada por um bom tempo como punição por ela ter a ousadia de pensar em fugir. Chutz, o pai carrancudo, já sabia de toda a armação, pois o camponês havia lhe contado.
Fim.
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
Camponês Infeliz
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Escrevo sobre a vida e os momentos específicos emocionais.
Assuntos relacionados sobre a mente humana e como conviver com o outro sem a necessidade de mudá-lo.
O conhecimento é primeiro processo de cura.
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Bela participação Clara!
ResponderExcluirCoitada da Hemily, fora obrigada a adotar um estilo de vida que não a fazia se sentir bem. Mais tenho certeza que ela não se limitará a tal destino.
Parabéns!
Beijinhos
http://aspoderosas1.blogspot.com.br/
Naquela época era assim mesmo e ela era arredia e teimosa. Se fosse o contrário ela também não concordaria. Mimada demais!
ExcluirBeijos, Larissa!
A Hemily confiou em quem se dizia apaixonado e se deu mal. Coitada!... Belo conto!
ResponderExcluirBeijos.
Acho que ele não era apaixonado nada! Ela que enfiou isso na cabeça, só pode, Élys! rsrsrs
ExcluirBeijos
Que lindo e cheio de detalhes que deram um toque bem especial è tua participação! Sempre DEZ de inspiração! beijos,chica
ResponderExcluirChica, querida, sempre me mimando.... sua linda!
ExcluirBeijos
Muitas vezes decidimos confiar e o resultado é como o de sua heroína
ResponderExcluirNão é fácil confiar nos outros assim não. Ela é que é mimada demais e acha que todos estão fazendo suas vontades, Vall. Bem-vinda!!!
ExcluirBeijos
Olá, querida Clara
ResponderExcluirVc sempre nos apresenta um lindo enredo ou pela forma como é escrito ou pelo conteúdo em si...
Bjm de paz e bem
Rosélia, minha mente viaja por aí. Essa foto eu tinha muitas histórias e escolhi essa do século XVIII. Acho que sou desse século da reencarnação passada... não sei se acredita, mas me identifico muito, principalmente com as roupas.
ExcluirBeijos de paz e luz, querida!
Clara linda participação, Clara seguindo o seu blog convido você para conhecer o meu blog também beijos.
ResponderExcluirhttp://www.lucimarestreladamanha.blogspot.com.br
Bem-vinda, Lucimar....
ExcluirMe aguarde que vou no seu blog... posso demorar um pouquinho, mas vou!
Beijos
Um conto bem detalhista que nos faz penetrar na época e formas de agir.
ResponderExcluirParabéns pela criatividade.
bjs
Obrigada, Norma, sempre carinhosa!
ExcluirBeijos
Numa segunda leitura...sem dúvida Hemily sabia que venceria
ResponderExcluirAbraços e seja sempre bem vinda no meu espaço
Sabia sim, mas era mimada demais pra enfrentar as dificuldades... vamos ver...
ExcluirObrigada, querida, um lindo domingo!
Beijos
Ficou com gosto de continuação...
ResponderExcluirÓtimo e envolvente texto, amiga Clara. Parabéns.
Prende nossa atenção em seus textos.
Abraços e paz.
Obrigada, Milton, vc sempre gentil!
ExcluirBeijos
Clara sua narrativa é maravilhosa. Adorei seu conto e amei essa nossa protagonista. Que bom que nasci em pleno século XX. Coitada, nasceu em época errada e teve de se contentar com esse destino. Mas tenho certeza que ela não pára por aí não. Esse menina ainda vai dar a volta por cima no pai. Ah vai! Bjs
ResponderExcluirEu acho que na outra encarnação eu fui dessa época... me identifico muito, Roseli, principalmente com essas roupas e muitos saiotes. Com homens daquele tipo, enfim...
ExcluirBeijos
Hahaha, o pai deixou-a passar por toda a frustração. Grande lição! Se fosse realmente determinada, fugiria deixando a mala para trás!
ResponderExcluirBeijinho, um doce fim-de-semana
Ruthia d'O Berço do Mundo
Ela nem sairia com a mala e iria correndo até a estrada principal. Mas é mimada, então não queria ficar sem suas roupas confortáveis.
ExcluirBeijos, querida, lindo domingo!
Querida Clara, um excelente feriado para ti.
ResponderExcluirAbraços
Obrigada, Carlos, pra vc também um ótimo domingo!
ExcluirAbraços!
Nossa ficou muito criativa a sua participação, Clara
ResponderExcluirDeverias escrever um livro
Escreves muito bem
Beijinhos e para tí
Verena e Bichinhos
Escrever um livro é fácil, publicar também, mas vender o livro é que é complicado. Tenho que pensar muito... não tem dom pra vender nada então fica difícil.
ExcluirEstou pensando num jeito. Esse é meu foco!
Beijos pra vcs!
Que lindo conto, clara! Até o nome escolhido para a protagonista combinou com a imagem. Muitas vezes isso ocorre com quem se apaixona, não é?
ResponderExcluirAbraço!
Sonia
Minha mente viaja... a lugares que nem eu imagino... rsrsrs
ExcluirNão dá pra confiar assim nas pessoas não, não é? Mas Hemily é teimosa que só!
Beijos
Acho muito legal essas blogagens !!!Que lindo, adorei e vc é muito criativa! Bjs e bom fim de semana
ResponderExcluirJá tá participando? Eu adoro também!
ExcluirÓtimo domingo pra vc também, beijos!
Caramba poderia criar um livro somente com contos maravilhosos como este. Amei.
ResponderExcluirEssa blogagem daria um ótimo livro sim!
ExcluirBeijos, Alexandra!
Olá ! Parabéns pelo blog.
ResponderExcluirEu adorei e já estou seguindo.
Boa semana e um abraço !
Marco A Okuma
http://maosecrets.blogspot.com.br
http://shoppingpamplonasp.blogspot.com.br
Bem-vindo, Marcos
ExcluirVou dar uma olhada nos seus.
Abraços
Clara!
ResponderExcluirQue conto criativo, gostei muito.
Desejo que seu final de semana seja carregadinho de sucesso e muitas realizações!
cheirinhos
Rudy
Blog Alegria de Viver e Amar o que é Bom!
Obrigada, Rudy!
ExcluirÓtimo domingo, beijos
Adorei, muito criativo o texto. Gosto dessa narrativa dos dias de hoje com a capacidade de dizer- muito alem do seu tempo estava no sec....
ResponderExcluirE as palavras tb. Toda linguagem pode ser mesmo reinventada a cada texto.
Bjos e parabens!
Excelente história e muito bem merecido o castigo que Hemelit recebeu por fugir de casa.
ResponderExcluirComo sempre cheia de inspiração e muita criatividade.
Beijinhos.