segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Vida Difícil, Mas Nem Tanto



No ônibus...

Como aqui é cidade pequena, 365 mil habitantes, existe só uma empresa de ônibus. Isso desde que me entendo por gente. Bem, mas não é isso que quero falar.

Alguns bairros, como o que eu moro, o fluxo de passageiros é pequeno, então retiraram os cobradores, cabendo esta função ao motorista.

E todos o privilégio de não ter que passar na roleta, para gestantes, portadores de deficiência, obesos, cadeirantes, etc, foram retirados. Mesmo assim há um certo conforto por nunca ter lotação esgotada nessa linha.

Faz tempo que uma senhora que tem dificuldades para andar, entra no ônibus já xingando o motorista. Ela não admite ter que passar pela roleta e caminhar, se equilibrando, até o final do ônibus para poder descer em seu ponto.

Já tem até apelido, "véia enguiçada". Maldade...

E hoje foi mais um dia em que ela adentrou ao coletivo e no primeiro degrau já começou a xingar, como se o motorista tivesse culpa. E mais uma vez ela repetiu que vai ligar e vai lá na empresa reclamar,

O problema é que ela fica atrás do motorista, tentando se equilibrar segurando no corrimão, xingando-o e reclamando da falta de humanidade com os idosos por terem tirado o cobrador e o privilégio de entrar e sair pela porta da frente. Isso até chegar ao seu ponto, que não passa de umas quatro quadras, menos de cinco minutos, ela espera o ônibus parar, e vai andando tranquilamente até o porta traseira para descer. Isso se não parar no meio do caminho e bater um papo com algum conhecido. E o motorista todo gentil, afinal é pessoa idosa e é passageira, então o bom senso diz que deve-se calar e esperar.

Que situação difícil! Creio eu que deve ser constrangedor chegar ao final da vida e reclamar de algo que não se pode mudar. A reclamação da senhora não vai modificar o funcionamento da linha do bairro, e nem ela terá privilégios além do que for estipulado pela empresa. Nem é tão complicado assim. Se ela entrasse e gentilmente o motorista esperasse ela passar o cartão, que tem passe grátis, e sentar-se (sempre há lugar vago), e só se levantar quando chegasse seu ponto, não causaria tanto estresse em todos.

Difícil chegar nessa idade e ainda ter que brigar por algum direito, mesmo que não há motivos para brigar. Não conheço essa senhora e nem sei de sua história, mas tem gente que gosta de complicar. Acha que tudo é no xingamento e no grito. Se ela disse que iria à empresa reclamar, por que ainda não foi? Ou então na rádio, naqueles programas sensacionalistas que a defenderia com certeza? Talvez o grande prazer que ela e muitos outros idosos têm é de se fazer presente e se sentirem capazes de lutar por algo que nem é luta. Ficam indignados por dificuldades que nem deveriam ter, nessa fase da vida, como ir e vir, de ter ou não ter, de ser ou não ser, de viver ou esperar a morte...

Todas as vezes que utilizei ônibus, nunca vi um idoso entrar e alguém não ceder-lhe o lugar para se sentar. O bom senso sempre está presente, pelo menos na linha que utilizo.

Boa semana a todos.

10 comentários:

  1. Prezada Clara Lucia eu concordo plenamente com suas considerações. Que bom que o (s) motorista (s) ainda não perderam a paciência com essa senhora, certamente lembram que um dia serão idosos e tem empatia pela situação dela. Muito bom o seu artigo, muito gostoso de ler e gostei da abordagem de um fato cotidiano, simples, mas que você soube dar-lhe um colorido especial. Parabéns!

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    1. Geralmente os motoristas aqui têm paciência sim. Nunca soube de algum mau trato a algum passageiro. Tbm, cidade pequena nem tem trânsito infernal nem nada.. Sem estresse durante o trabalho.
      Robert, bem-vindo!
      Obrigada pelo comentário.

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  2. Sabe, fico pensando que as vezes esse seja o único momento em que essa senhora tem de, digamos, "glamour". É quando ela se sobressai, quando ela se sente dona da razão e com poder. Tadinha. Não adianta nada isso. Mas parece que isso a deixa feliz ou ao menos alimenta algo importante nela. Beijocas.

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    1. Sim, tbm acho assim. Não sabemos nem como ela é tratada com os familiares...
      Pode até ser carência mesmo.
      Muito triste.
      Beijos

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  3. Olá, querida Clara
    Agora que to na fila dos idosos, vejo o quanto se trata não por ser idoso mas por estar bem ou não em todos os sentidos...
    Estava eu no BB e uma senhora 'mal vestida' foi mal atendida e eu e outros fomos bem atendidos...
    E por aí vai, ainda há preconceitos...
    Em outra ordem de coisas, viver reclamando não resolve nadinha... se a gente é idosa (após 60) e trata as pessoas bem, vai ser bem tratada... com raras exceções o contrário ocorre e aí o mundo vai conspirar em nosso benefício como já me ocorreu na Receita Federal onde tinha até todos os motivos pra dar um denúncia e não o fiz porque Deus vê tudo... O pobre coitado não sabe mesmo tratar nenhum idoso seja bem vestido ou não... Deve ser um 'infeliz de pai e mãe'... Pena!!!
    Bjm fraterno

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  4. Rosélia, talvez esse cidadão que não sabe tratar os idosos não saiba tratar ninguém bem que não seja de seu interesse. Triste isso, porque tudo volta pra ele, com o tempo, mesmo que demore. Depois se torna um desses idosos que só sabem reclamar de tudo.
    Beijos, querida!

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  5. Clara, agora te li lá e vim tentar. Vamos ver se entra! bjs,chica

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  6. É uma verdadeira sacanagem o que se vê de desrespeito aos especiais.
    Há muita falta de educação, bem como cooperação.
    Abraços amiga.
    Bjs

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