domingo, 26 de outubro de 2014

A Outra - O Que Aconteceu com Norma


Por sugestão de uma leitora, sobre o texto ANTERIOR, conto o que aconteceu com Norma quando chegou em casa após ver o marido com a amante.

      Norma se trancou no quarto e se jogou na cama. Chorou como uma criança quando vê seu brinquedo preferido se quebrar durante a brincadeira. Soluçava até quase perder o fôlego. Pegou um travesseiro e abraçou-o contra o peito, enquanto as lágrimas escorriam e molhavam a cama. Aos poucos foi se acalmando até dar um suspiro de "basta dessa palhaçada". Mesmo assim ainda ficou quieta, de olhos fechados, se lembrando do casamento perfeito que tivera nos primeiros dois anos. Eram apaixonados demais e não conseguiam ficar por muito tempo sem se falar. Era tudo o que sempre quisera, desde pequena, com seu príncipe encantado.

      Abriu os olhos e observou todo o quarto, em cada canto, cada detalhe, a começar pelo papel de parede no teto, com fundo azul e margaridas miúdas brancas. Fechou os olhos e sorriu se lembrando da cara do marido quando bateu o pé porque queria o teto decorado e não as paredes.

      Os olhos alcançaram o porta-retratos sobre o criado-mudo. Uma foto da Lua de Mel em Cancun, programada desde o namoro. Uma lágrima escorreu pelo canto dos olhos. Foram felizes, muito felizes. Mas acabou. Seu marido, seu homem, seu protetor não tinha mais interesse por ela. Chorou novamente, apertando os olhos e abraçando o travesseiro. Ainda amava-o, mas sabia que não tinha controle sobre ele e sobre suas vontades e sentimentos. Poderia até lutar para um possível resgate de uma felicidade que há tempos se acabara. Mas o cansaço e o desgaste da relação fizeram-na tomar outra atitude. Sentou-se na beira da cama, enxugou as lágrimas e, decidida, reviveu.

      Pegou as malas e, cuidadosamente, colocou suas roupas, todas dobradas, seus pertences, seus sapatos e perfumes, seus livros, só alguns, e, claro, suas revistas preferidas ainda não lidas. Gostava de acompanhar novelas por elas e não pela TV. Sabia da vida dos artistas e era muito fã de José Mayer. Seu marido José, nos momentos de intimidade, era chamado de Mayer, e deixava-o lisonjeado. Quem sabe se todos os elogios durante todo o tempo fizeram-no se sentir convencido e cafajeste? Acabou!

      Continuou a arrumar as malas, trocou de roupa, passou apenas um batom vermelho, prendeu os cabelos num coque alto e esperou por José, sentada na cama, olhando para o nada e pensando em tudo. Pegou o computador e acessou todas as contas em que sabia as senhas. Transferiu todo o dinheiro para uma conta que José não sabia e mudou as senhas. "Ele que se vire para sobreviver", pensou, com seu lado diabólico aflorado. Correu no escritório e pegou a escritura da casa, apertou-a no peito e voltou ao quarto. Isso não significava nada, mas ela não tinha trabalho fixo e a partir de agora teria que se virar para viver. E José tinha como se abastecer a hora em que quisesse. Uma vingança bem de leve, só para não dizer que saiu com uma mão na frente e outra atrás. Sorriu, mesmo sabendo que essa atitude não atingiria o ego de José. Questão de sobrevivência mesmo e de cansaço de uma situação rotineira e sem volta. Não queria mais voltar àquela casa. Foram momentos bons e felizes que ela se lembraria. Mas sabia que o fim se aproximava e agora era a hora de colocar um ponto final nessa história.

      Ouviu o barulho do carro entrando na garagem, levantou-se, suspirou, fechou os olhos e encarou a realidade. Acabou, pensou ela, repetidas vezes.

      Fim.

      Este texto é referente ao momento em que Norma entrou em seu quarto e o final, quando se deparou com José está no texto anterior, AQUI.


2 comentários:

  1. Assim acabou mais uma história de amor, muito bem escrita por você.
    Beijos, Élys.

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  2. Recomeçar, é o caminho. Achei um barato o apelido dele de José Mayer, kkk, é mesmo, acho que ele se empolgou. Um abraço!

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