Participando da Blogagem Coletiva da Irene Moreira, do Blog Mamyrene. Vamos participar?
Uma Carta no Tempo
Selma, aproveitando o sol da manhã de primavera, observava Luna a correr na grama verde e fresca. Reparou que a pequena havia tirados os sapatos e se deliciava passando os dedinhos no tapete verdinho que cobria todo o pátio que ficava nos fundos de sua casa. Vez em quando se abaixava e pegava algum bichinho e deixava que andasse em seu braço rechonchudo até quase chegar ao cotovelo, mas pelas cócegas, ela ria e o tirava rapidamente daquele lugar, lascando-lhe um tapa de leve. Selma se divertia com a filha cheia de vida.
Ouve um barulho e enxerga o carteiro a colocar cartas na caixa do correio. Selma avisa à filha que vai até o portão mas que volta já. Luna só dá uma olhada para a mãe e continua a correr em roda, imitando os movimentos de um avião tentando pouso. Selma sorri para a pequena e vai recolher as cartas.
Olha uma a uma e se surpreende com uma delas. Volta ao banco de madeira envelhecida e com a pintura de verniz bem gasta pelo tempo, coloca as demais sobre o assento e fica uns minutos olhando essa carta misteriosa. A curiosidade é grande, do mesmo tamanho ou mais do que o medo de ler o que estaria por vir. Cria coragem e abre. Ela solta uma exclamação, coloca a mão na boca e olha para Luna que se assusta com a atitude da mãe, e corre até ela para ver o que tem em mãos.
- Que isso, mãe? - pergunta a pequena, curiosa, mas sem ter noção do que está escrito, pois ainda não era alfabetizada.
- É só uma carta, querida, volta a brincar a sim?
Luna, sem pensar duas vezes, volta a correr pela grama, cantarolando e rindo das borboletas que pousam nas flores.
Selma então abre a carta e começa a ler. Não acredita que ele teve o disparate de aparecer, mesmo que em poucas linhas, depois de tudo o que havia acontecido. Era do pai de Luna, Fernandez, um espanhol que enfeitiçou seu coração e simplesmente desapareceu depois que soube que seria pai.
Selma, trêmula, continuou a ler e a balbuciar pequenos xingamentos, mas no fundo, bem no íntimo, um tremor tomou conta de seu corpo, as mãos gelaram e lágrimas lhe saltaram dos olhos, desobedientes e atrevidas, assim como fora Fernandez, quando estivera no Brasil há cinco anos. Sedutor, romântico, galanteador, cavalheiro, envolvente... E envolveu Selma de uma maneira que a fez acreditar em príncipes em cavalos brancos, castelos medievais e amor eterno. O amor seria eterno com a chegada de Luna, mas o amor era somente de Luna e de mais ninguém.
Como ele teve coragem de se pronunciar, pensava Selma, revoltada e eufórica, inconformada e extasiada. Até pelas poucas palavras era visível sua paixão por aquele Don Juan espanhol. Como conseguia dominá-la mesmo de longe, depois de tanto tempo? Selma não sabia explicar e tinha medo de fraquejar e se perder em seus braços, seus carinhos, seus beijos... E depois o canalha sumir no mundo de novo.
Releu a carta e aí que foi prestar atenção nas poucas palavras. Sim, ele estava no Brasil e queria vê-la. Pediu desculpas, confessou que estava errado e que queria conhecer a filha e, se possível, registrá-la com seu nome e ajudar a criá-la. Disse que depois que foi embora, deixando-a sozinha, não teve um dia sequer de paz. Parecia um castigo por ter abandonado mãe e filha. Despediu-se, deixou o endereço do hotel em que estava hospedado e que esperava resposta. Não sairia do Brasil enquanto não tivesse a resposta de Selma.
Ela encostou a carta ao peito e chorou. Ficou comovida com as lindas palavras e com o modo gentil com que descreveu os momentos em que passaram. O amor ainda existia e isso Selma não se conformava. Não conseguia lutar contra um coração traiçoeiro e dono de si. Como pode um órgão dominar tanto um corpo inteiro?
Selma ficou olhando a filha brincando com as borboletas e a correr na grama. Suas bochechas estavam vermelhas e um suor já escorria de sua testa, de tão inquieta que Luna estava.
Selma não sabia o que fazer, e ao mesmo tempo sabia que Luna tinha todo o direito de conhecer o pai. O medo maior era não resistir aos encantos de Fernandez e mais uma vez ficar magoada e abandonada. Não podia pensar nisso, pois o interesse agora era Luna com o pai. Não podia ser egoísta ao ponto de um capricho amoroso abalar a vida da filha que, com certeza e com o tempo, cobraria essa resposta da mãe.
Sim, Selma já havia resolvido. Iria ao encontro de Fernandez. Primeiro sozinha para que pudessem conversar, e depois levaria Luna para se conhecerem. Era uma obrigação de mãe. O coração que se aquiete e que não dê vexame nesse tempo em que Fernandez ficaria no Brasil. Selma levantou a cabeça empinando o nariz e desafiou o amor. Vamos ver quem é mais forte, pensava, decidida e segura.
E Luna, toda feliz, brincava e rolava na grama, livre, como uma borboleta.
Fim.
Vai dar seguimento à história, certo? Fiquei em pulgas... Quero saber como vai ser esse encontro...
ResponderExcluirBeijinho e um doce fim-de-semana
Ruthia d'O Berço do Mundo
Clara,
ResponderExcluira ideia era escrever a partir da imagem? Achei que seu texto foi bem fiel à atmosfera sugerida pela imagem. Gostei ;)
Que linda história e acho que esse conto merece uma continuação !
ResponderExcluirParabéns Clara! Você sempre nos encantando com seus escritos.
Espero contar com você na próxima edição.
Beijos
Quantas Selmas, Lunas, Fernandez mereciam esta oportunidade da vida ou mesmo das pessoas!
ResponderExcluirUm lindo e emocionante conto.
Parabéns! Bj
Gostei muito, mas concordo com os demais. Deveria haver uma continuação!
ResponderExcluirSurpreendente a cada crônica!!
Continue. Sempre assim!!!
Beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx...
KK
Oi, Clara!!
ResponderExcluirAh, você vai ter que continuar...
Selma e Fernandez terão uma nova chance?
:)
Beijus,
Clara,vc é demais,menina!Conta histórias como ninguém!Cadê seu romance?bjs e boa semana,
ResponderExcluirE Luna toda feliz brincava livre como uma borboleta....
ResponderExcluirAdorei ,Clara. Condizente com a imagem e agradável de ler.
Merece uma continuação. Ficarão mesmo juntos para sempre?
Lindos dias para você.
Bjs.
Olá, querida Clara
ResponderExcluirFinalmente cheguei em casa depois de 12 dias fora...
Conheci uma história assim há pouco tempo...
Tomara que tanto a sua como a que soube, tenham um final feliz para TODOS!!!
Fique bem!!!
Bjm de paz
Muito linda tua participação,Clara! bjs praianos,chica
ResponderExcluirEmocionante, parabéns.
ResponderExcluirTenha uma ótima semana.
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ResponderExcluirOlá hj é um dia especial, deixo aqui
ResponderExcluiruma frase pela bela amizade que temos
Agradeço sempre seu carinho.
Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.
(Albert Einstein)
Bjusss
Rita!!!!