Alguns anos se passaram e Leonora ainda não aceitara que o filho mais novo sumira no mundo; um mundo desconhecido que mais parecia um sonho em que não se acordava nunca. Não conseguira aprender a língua, mas entendia algumas coisas. Não saía sozinha nem para ir ao mercado. As letras lhe embaralhavam a visão e ela ficava toda atrapalhada. Leonardo fazia as vezes de companheiro e a levava onde queria. Ele também sofria com o sumiço do filho e mais ainda da neta que nunca mais teve notícias. Também não aprendeu o inglês e sempre que saía carregava consigo um dicionário tradutor. Se virava como podia e os filhos sempre estavam por perto.
Augusto teve uma reviravolta na vida, se separou da mulher e por uns tempos estava morando com os pais. Não era uma situação confortável já que os costumes nos Estados Unidos eram bem diferentes, onde os filhos com dezesseis ou dezoito anos já saíam da casa dos pais para morarem sozinhos. Mas Augusto, com tanta tristeza, preferiu ficar perto deles, ajudar no que podia com os afazeres de casa e assim não ficaria tão sozinho.
Vicente e a família moravam por perto, estavam bem e os negócios prosperavam sem problemas.
A tristeza de Augusto não durou muito e, um dia, conversando com os pais, comentou de sua vontade de voltar para o Brasil, não a passeio, mas definitivamente. Havia conhecido uma brasileira e se encantara por ela e queria ter a oportunidade de recomeçar a vida no Brasil. Queria voltar às origens, ter mais contato com tios, primos e todos os amigos de infância. Tinha tomado essa decisão bem antes, enquanto ainda era casado, mas foi adiando e agora sabia que era a hora da mudança. Leonora quase teve uma síncope quando ouviu tudo isso. Mais uma vez se sentou no sofá e ficou olhando para o nada, por horas, só a pensar no que estava acontecendo novamente. Perderia mais um filho de vista? Não suportaria de jeito nenhum! Era compreensiva e não se intrometia na vida deles, mas sabia que sofreria demais caso isso acontecesse.
Augusto, vendo que os pais ficariam muito tempo sozinhos e não desejava isso, convidou-os a voltar também. Pronto! Novo desespero para Leonora e Leonardo. Este ficava mais quieto, mas Leonora começou a colocar mil empecilhos: a viagem era muito longa, teriam que se desfazer da casa, dos móveis, dos objetos todos e recomeçar tudo de novo. Não! Leonora não tinha mais vontade disso! E também pensava muito no filho mais novo: - E se Antônio voltar e não encontrar mais ninguém aqui, meu velho? - Conversava com o marido. E olhava para a casa, para os objetos muito bem cuidados, as louças, os cristais, a casa grande, o jardim muito bem cuidado, a grama verde, e os netos todos ali. Não! Não tinha mais vontade de fazer essa mudança. Mas como convencer Augusto de que agora não daria mais para refazer a vida no Brasil?
Augusto entendia, mas ficava receoso dos pais ficarem sozinhos por muito tempo e precisarem de algo e não haver ninguém para acudí-los. E pensava no irmão Vicente com a cunhada, e ficava aliviado, mas nem tanto. Augusto era um homem cuidadoso, atencioso, de um coração enorme, que queria cuidar dos pais enquanto eles estiverem vivos. Mas gostaria também de refazer sua vida com a namorada brasileira, no Brasil, e quem sabe, ter mais filhos, já que teve um único filho e que já é um jovem adulto.
Leonora se torturava só de pensar em entrar naquele avião com a mudança, chegar no Brasil, sem casa para morar, ter que se adaptar de novo num lugar que tinha ótimas lembranças, mas a decisão de mudar de país foi desgastante demais para ela repetir essa proeza. Colocava defeitos e empecilhos em toda a opinião de Augusto, que sempre tinha uma solução. Mas não tinha jeito: realmente ela não queria mais ter esse sacrifício de se mudar. Uma coisa é fazer um passeio, outra é se mudar. E isso estava fora de cogitação para ela e o marido. No fundo ainda tinha esperanças de juntar os filhos e netos de novo, numa família feliz e sem discórdias.
Augusto já havia tomado a decisão e não voltaria atrás, mas mesmo assim fez um último convite aos pais, de irem com ele ao Brasil, a passeio, e ficar uns tempos de férias. Depois voltariam para a casa. Leonora disse que iria pensar.
Continua...
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É Clara, dificil decisão desta mãe.
ResponderExcluirA vida as vezes tem tempo para tudo
talvez por isso para ela, recomeçar
era uma tarefa muito dificil. Bem, vamos
ver o que ela nos reserva nesta fase.
Isto tem muito de real de pessoas que conhecemos e tiveram de fazer esta volta.
Vamos lá.
Bem agora estou junto com esta familia e aguardo o desfecho.
Lindo fim de semana a voce amiga.
Belo trabalho.
Meu abraço de paz e luz.
Beijo.
Clara, vim visitá-la porque li sua postagem no Recanto dos Autores, e estou gostando muito do que escreve. Parabéns pelo livro.
ResponderExcluirBeijos
Lita
(http://misturadeafectos.blogspot.pt)
Olá, Clara.
ResponderExcluirQuanta dificuldade; não é fácil viver em família, desejamos que tudo dê certo sempre, mas temos de nos adaptar ao que vier pela frente.
Abraço.