Voando como uma borboleta sem plano de vôo: era assim que se sentia Leonora num país novo, com outra cultura, outros costumes, outra língua, outro clima. Era como nascer adulto num lugar diferente, com gente estranha; como um sonho em que saímos correndo, procurando desesperadamente a porta de saída de um lugar desconhecido. Mas pelo menos ela estava com sua família reunida novamente, agora também com os netos. O ruim mesmo foi perceber a distância do irmão mais novo, com toda sua rebeldia, dos mais velhos e, consequentemente, dela e do marido também. Mas o que tinha dado errado que esse filho saiu tão desgarrado de tudo e de todos? Nem bem "esquentaram a cadeira", e já presenciou brigas horríveis de Antônio e Augusto, chegando até a pegar no colarinho um do outro e encostar na parede. Leonora ficava desesperada e se enfiava no meio dos dois, mesmo com toda sua doçura; procurava aconselhar aqueles homens feitos, que irmão não pode brigar com irmão. De nada adiantava. As brigas eram constantes e cada vez mais violentas.
Em sua casa, junto com o marido, conversavam a respeito de Antônio e no que poderia ter saído fora de controle para ele ter essas atitudes. Por outro lado ficavam se perguntando por que Augusto e Vicente não tinham tolerância com ele. Será que não entendiam que ele era diferente deles e que poderiam pelo menos deixá-lo ser como era, ao invés de ficarem brigando, insistindo para que Antônio mudasse seu comportamento? O que teria de tão errado em Antônio que incomodava tanto os outros dois irmãos? Leonora não entendia e sofria. Costumava ficar em seu canto, quieta, chorando escondida ou fazendo uma oração para que aparecesse uma luz e iluminasse o caminho dos três e finalmente eles se entendessem.
Leonardo, apesar de aparentar ser mais calado e sério, também sofria com a atitude dos filhos. Na verdade ele se lembrava da educação que dera para cada um: muita rigidez com Augusto, que sempre tinha que dar o exemplo de tudo, sendo vigiado, castigado e tolhido de tudo o que queria fazer. Já Vicente não foi tanto assim, mas ainda o educou nos mesmos princípios que educou Augusto, que se acostumou a ver o irmão mais velho sempre levar a bronca e ser castigado, e que com o tempo foi pegando o jeito de escapar dos castigos do pai e acabava fazendo o que queria. Já Antônio foi criado solto, não obedecia muito e não fora castigado como Augusto. Tinha mais liberdade e sempre se achou o reizinho da família por ser o mais novo e por não ter a responsabilidade de ser exemplo para ninguém. Tudo isso Leonardo ficava se lembrando e sangrava por dentro, mas sem admitir que errara. Para ele, o que fez estava feito e ponto. Pai sabe das coisas e não deve ser contestado nunca! Era o que pensava, contrariando o que via com seus olhos de que alguma coisa estava errada com os filhos.
Chegou um tempo em que a situação ficou tão insuportável que Antônio simplesmente pegou suas coisas e foi embora com sua família, para um lugar longe daqueles que não admitiam que ele era como era. Leonora, mais uma vez, via sua família se separar e sangrava mais ainda. As lembranças da mudança de país justamente para ficar perto dos filhos foi tão difícil, tão complicada, e agora tudo estava se desfazendo com Antônio não querendo mais viver perto deles. Leonardo nada falou, mas nos momentos de solidão, ficava olhando para o nada e não chegava a nenhuma conclusão sobre o assunto. Bem, já estava feito! Se Antônio preferiu assim, que siga em paz, seja para onde quer que vá!
Antônio saiu, como se sai de um restaurante ou de um cinema. Simplesmente foi sem olhar para trás, sem dar endereço, telefone ou algum contato. Sumiu no mundo.
Leonora pensou que não aguentaria passar por isso, mas arrancou forças não sabe de onde, se apegando às suas coisas, sua casa, seus novos objetos, e assim continuou vivendo, praticamente trancada em casa. Leonardo trabalhava com os filhos, na empresa da família, e não ficava comentando o ocorrido. Na verdade ninguém comentava nada a respeito. Leonardo e Leonora quando conversavam a sós, diziam da esperança do filho voltar e tudo ficar bem, como sempre desejavam. Nada tirava essa esperança de Leonora. E o tempo foi passando...
Continua...
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Tá lindo e vamos acompanhando! beijos,chica
ResponderExcluirOpa!! Tá bom isso aqui, hein? E agora??? rsrrs
ResponderExcluir[]s
Mal posso esperar pelo próximo pedaço...
ResponderExcluirOi Clara!
ResponderExcluirMenina, quantas mudanças nesta família heim? Lí o 2,3 e 4 e fiquei imaginando a coragem do casal em ir embora assim para ficar perto dos filhos. Nem sempre estar junto significa que tudo vai estar bem.
Beijinhos!
As dores do mundo que os pais carregam, quando filhos se desgarram e erram pela vida.Mas Leonora é de fé e vamos ver,como ela contorna estas mazelas.
ResponderExcluirVamos lá Clara.
Muito bom este retrato da familia.
Abraços.
Bjo.
Olá, Clara.
ResponderExcluirÉ realmente triste quando um dos filhos acaba saindo um mané se m noção que acha que o mundo gira ao redor de seu próprio umbigo.
Abraço.