Augusto continuava insistindo com os pais para que fossem para o Brasil a passeio. Leonora já estava a ponto de ficar maluca de tanto pensar. Andava de um lado para o outro, sem rumo e não tinha mais paz com esses pensamentos e essa pressão toda. Leonardo não ajudava em nada! Parecia até que tinha lavado as mãos e deixado para a mulher tomar essa decisão. Muita coisa para uma pessoa pensar sozinha, reclamava ela com o marido; mas tudo em vão. Ele também ficava perdido em seus pensamentos, andava de uma lado para outro, mexendo aqui e ali, olhando a casa, a grama verde, o lugar calmo em que moravam e não conseguia chegar a nenhuma conclusão. Leonora pensava em Antônio, na neta que nunca mais viu e na dor de deixar Vicente com a família para trás.
Depois de dois meses, Leonora finalmente concordou em viajar a passeio para o Brasil, com o coração em pedaços e na certeza de que voltaria para sua casa nos Estados Unidos.
Viagem longa, cansativa, mas os ares brasileiros fizeram muito bem ao casal deixando Augusto muito feliz. Se hospedaram num hotel para não ter que incomodar ninguém e descansaram o resto do dia. Augusto combinou de se encontrar com a namorada logo pela manhã para apresentar aos pais. Eles gostaram muito da moça e ela se encantou por eles. Augusto ficou aliviado. Depois todos foram para a casa de uma das irmãs de Leonora que já estava esperando, junto com o restante da família. Quando chegaram, a festa foi tanta que deixou o casal emocionado. Há tempos não viam os parentes e a saudade era tanta que não se deram conta de que faziam falta dessa maneira. Foi difícil dividir a atenção com todos os outros irmãos, primos, primas, sobrinhos, afilhados, enfim, uma família bem grande e acolhedora.
Leonora havia se esquecido do tanto que era bom conviver com seus parentes. Tinham desavenças, mas nada de muito grave que separasse um do outro. Voltou a se sentir em casa. Vez ou outra se lembrava de como era sua vida naquela pequena cidade do interior dos Estados Unidos: acordava tarde, ligava a TV e assistia praticamente o dia todo e também à noite, o canal de TV a cabo onde passava toda a programação brasileira. Era assim que ficava sabendo sobre tudo o que acontecia no Brasil. Quando saía, tinha que ser acompanhada ou do marido ou de algum filho e só! Essa era a vida que levava.
Mas no Brasil era muito diferente e Leonora ficava emocionada praticamente o tempo todo, com tantas novidades, o calor humano de todos, as gargalhadas, os causos contados, o ar diferente, tudo isso mexeu muito com ela.
Depois de três dias, seu filho que ficou nos Estados Unidos ligou para saber se estavam bem e Leonora falou um bom tempo com ele, o que não fazia quando estava por perto, e falou também com os netos, um a um, que também era muito raro encontrá-los. Tanto tempo morando perto e agora que estava longe, tiveram uma conversa acolhedora. Leonora chegou à conclusão que não bastava estar por perto para viver junto, que o que importa era o coração estar perto e a saudade doer. E quando reencontrou todos aqueles parentes, se deu conta de como doeu se afastar de todos eles e viver praticamente enclausurada numa bela casa, mas sozinha a maior parte do dia.
Augusto não cabia em si de tanta felicidade, agora praticamente com um compromisso certo, com vários planos e tudo encaminhando como ele imaginava.
A passagem de volta estava marcado para o próximo mês, mas Leonora chamou Augusto num canto e disse que gostaria de ficar mais uns tempos. Augusto abraçou a mãe e disse que não teria problemas com isso. Na verdade, estando longe de Vicente e dos netos, estava mais perto, pois se falavam praticamente todos os dias. Augusto então sugeriu que os pais ficassem no Brasil o tempo que quisessem, e quando tivessem vontade, voltariam para os Estados Unidos. Os dois concordaram. A casa ficaria fechada enquanto eles estivessem no Brasil. Logo Augusto alugou uma casa, perto da casa de uma das irmãs de sua mãe, para que ficassem mais à vontade. Estavam realmente muito felizes em retornar.
E assim continuaram vivendo, agora mais felizes, com os parentes e os amigos. Augusto se casou e junto com sua mulher adotaram duas meninas lindas.
Leonora ainda pensava em seu caçula que nunca mais deu notícias, mas rezava todos os dias para que Deus tomasse conta dele e da família e se um dia ele retornasse, seria bem vindo! Vicente e a família sempre viajavam para o Brasil, para visitar os pais e matar saudades. Nisso Leonora chegou à conclusão de que era mais fácil eles virem até ela do que ela e o marido ficarem atrás de todos. Afinal eles ainda eram a base de tudo, então eles que tinham que ficar quietinhos e só irem até os filhos para passear. E mais uma vez agradeceu a Deus por tudo!
FIM
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Assim é que deve ser mesmo. Os filhos estavam na casa, saíram, foram atrás de suas vidas. Os pais devem permanecer e esperar. Estar juntos dos que perto deles estão, torcer pra poder reencontrar os de longe e seguir suas vidas. Lindo conto! beijos,chica
ResponderExcluirClara, escrever é uma mágica, podemos dar asas à imaginação. Pensei o tempo todo num outro desfecho. Também acho que o lar é nosso porto seguro, só deve haver mudança na vida de um casal por decisão deles, não dos filhos. Como se fosse uma imposição estar perto. Tenho filha que mora longe de mim, aqui no Brasil mesmo, com marido e filhos. Não é confortável para eles viverem longe da família, mas é o melhor, financeiramente. São escolhas que fazemos, não por pressão. Só não gostei desse filho ter sumido no mundo, o Antônio. Cadê ele, afinal? rsrs Eu o colocaria pelo menos em contato com os pais. rs Que bom deixar a mente vagar e conseguir colocar tudo para fora, como vc tão bem o faz. Beijo!
ResponderExcluirClara os pais realmente são o alicerce, as sementes que levadas pelos ventos da vida que se distanciaram é que deve retornar para visitá-los, eles formaram seu jardim longe, o preço é a saudades, lindo conto beijos Luconi
ResponderExcluirOs homens sempre deixam as coisa para as mulheres resolverem né?kkkkkk fico feliz que vc vai participar!Seja bem vinda ! se puder divulgar eu agradeço tb. Beijos e uma boa semana!
ResponderExcluirFiquei contente por este final feliz. Crescer como ser humano é também crescer como pai/mãe e soltar "as amarras" quando chega a altura certa. Porque, como diria o meu querido Saramago, os filhos foram-nos emprestados...
ResponderExcluirGostei muito da sua história
Beijos, mil
Ruthia d'O Berço do Mundo
Clara,só hoje consegui parar e ler com calma todo seu conto e adorei!Uma história comovente,real,tantos filhos saem do país e pode acontecer dos pais irem atrás!Gostei do final,pois Leonora percebeu que mais vale ficar bem em seu lugar e deixar que os filhos venham até eles,afinal já tem idade para ter sossego e estar com a familia!Parabéns pela sua inspiração!bjs,
ResponderExcluirOlá, Clara.
ResponderExcluirÓtimo final de história; acho que tudo que os pais podem fazer é esperar que os filhos continuem a visitá-los, ainda que morem longe.
Deve-se deixar os filhos viverem suas próprias vidas e cometerem seus próprios erros, mas isso não quer dizer separar-se definitivamente.
Abraço.
Oi Clara!
ResponderExcluirNão poderia ficar sem ver o fim desta saga.rssss
É, devemos nos conformar que os filhos ganham asas e vez por outra pousam em nossos ninhos, mas cada qual no seu quadrado.rsss
Beijinhos!
Bela história! Pôe-me em contatoo com a minha realidade de, tendo filhos adultos, vê-los alçar vôo. Se há, por um lado, a tristeza do ninho vazio, há, por outro, a alegria de ter desempenhado bem o meu papel - prepará-los para a vida.
ResponderExcluirGrande abraço!