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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

E agora, meu velho? - Parte III

Continuação...


      No começo dos dias, depois que Augusto e a mulher se mudaram para os Estados Unidos, os dias de Leonora não foram fáceis. Os de Leonardo também não foram, mas ele era durão, não demonstrava fraqueza nem diante de uma dor muito forte, então era visto como sendo um homem frio. Leonora o conhecia muito bem e sabia que o marido sofria mais ainda por ficar calado, e nas horas em que estavam a sós, se abraçavam e lamentavam aquela situação.

      Os dias foram passando e o prazo de seis meses para terminar o estágio já estava terminando, para alegria dos pais de Augusto. Mas antes da data limite, este entrou em contato e disse que mudara de planos e que ficaria por lá por tempo indeterminado, já que tinha se dado muito bem e enxergava grandes chances de subir na vida. E assim foi feito. Leonora já esperava por isso, pois conhecia o filho mais velho que, apesar de ser educado com mais rigidez, não tinha medo de enfrentar novos desafios. Não sofreu tanto com essa notícia e desejou toda a sorte do mundo para o casal.

      Com o passar do tempo, Augusto mais estabilizado financeiramente, proporcionou a ida de seu irmão do meio, Vicente, para junto dele. Leonora já não sabia mais o que dizer, mas já tinha entregado tudo a Deus e se conformado com mais uma despedida. Dessa vez não teve tanta festa, nem muito choro, nem Leonora se enfiou no hospital para nada. Foi ao aeroporto se despedir do filho e da nora, mandando milhões de recomendações para todos.

      Com isso, sua casa de mãe ficou vazia, seu coração já não via muita graça em nada, nem os parentes mais próximos conseguiam animar aquele casal que antes era tão receptivo com todos. Leonora e Leonardo murcharam. Mas não sabiam que logo o filho mais novo também entraria em um avião para levá-lo para junto dos outros irmãos, e quem sabe, não voltariam mais. Esse dia chegou. Leonor praticamente não saía mais da cama e Leonardo não sabia mais o que fazer.

      A comunicação com os filhos, com o passar do tempo e devido à tecnologia que avançava, ficava mais fácil; então o casal matava as saudades dos filhos sempre que podia, quer dizer, praticamente dia sim, dia não. Uns vinte anos se passaram e os filhos somente voltavam para o Brasil a passeio, duas vezes ao ano.

      Um dia, Leonardo puxou pelo braço da mulher, olhou em seus olhos e sugeriu: - Vamos embora daqui! Vamos morar lá com os meninos! - Leonor não conseguia pronunciar nenhuma palavra. O choque de deixar sua terra, suas coisas, sua casa, seus parentes a deixaram tonta. Se sentou no sofá e por ali ficou a pensar durante horas. Leonardo somente chegava perto e lhe perguntava se estava tudo bem: - Sim, não se preocupe! - Era sempre essa a resposta.

      Não demorou muito, Leonardo ajeitou tudo, vendeu o que podia, desfez de outras tantas coisas, arrumou as malas e partiu com a mulher para viver com os filhos desgarrados. A emoção de Leonora era tanta que ela se esqueceu de despedir de muitos parentes. - Não tem importância. Quando chegarmos lá, eu telefono! - Estava tranquila e muito, mas muito ansiosa com tudo, com essa nova vida que passaria a ter, agora de novo, pela graça de Deus, do lado de seus filhos.

      Na chegada, os filhos fizeram a maior festa para os pais. Não sabiam por onde começar a mostrar o novo país que escolheram para viver e ganhar a vida. Tudo muito novo, muito mágico e uma língua estranha que não entendiam nada! Os filhos, aos poucos, tentaram introduzir o inglês, mas como eles mesmos diziam. "não entra mais nada na cabeça".

      Leonora, assim que começou a prestar mais atenção nos filhos, percebeu que o mais novo continuava rebelde e topetudo. Não tinha jeito! Ele se achava o dono da verdade e ninguém mudaria isso.

Continua...

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7 comentários:

  1. Já estou com pena do casal. Imagino a bomba que há de vir... Não é fácil essa mudança. Pais não devem ir atrás dos filhos.Eles saíram, fiquem lá e voltem pra visitar apenas. cada um no seu canto.melhor do que chegar lá e ver o que não precisavam mais! beijos,chica

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  2. Imagino o uanto deve ser difícil pra uma pessoa desligar-se de tudo que conhece para ir morar em uma terra estranha...

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  3. Primeiro, meu sonho é me desligar..
    segundo, seu blog como sempre, me surpreende.
    Terceiro.. seu conselho pra mim foi essencial.
    Eu vivo pedindo pras pessoas me seguirem.
    Creio que é insegurança ou medo de que ninguém leia meu blog.
    Acontece que isso não é legal não é, muita gente não gosta e não é a melhor forma de se cativar os outros.
    Logo, obrigada pela dica!
    Tentarei pelo menos ser mais discreta. rs
    Beeeeeijos!

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  4. Com todos os assuntos da semana e mais as interações para a ciranda, não acompanhei os capítulos deste teu conto que me parece bem instigante.
    Compreendo e lamento a tua falta na ciranda.Seria bem interessante ler o tema forma de conto, Clara.
    Bjinhos,
    Calu

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  5. Ai, que está na hora de voltar para o trabalho e só vou conseguir ler a quarta parte logo à noite.... vou ficar a pensar nisso, hehe
    Beijos
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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  6. Bem,creio ser acertada a decisão do casal,viver suas emoções
    juntos dos filhos,ainda que num lugar diferente de tudo que sonharam.
    Lembro que quando sai de casa em 1978, alguem da familia,disse para minha mãe, que filho quando sai, nunca mais volta, são passaros com asas.
    Ta curiso Clara. vou logo pra frente.
    Um terno abraço.

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  7. Olá, Clara.
    A chamada Síndrome do Ninho Vazio, quando os filhos partem e os pais fica sozinhos, não deve ser nada fácil de superar.
    Abraço.

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