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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A Última Infelicidade


Que triste chegar nos últimos tempos da vida, quando se tem mais a certeza de que a morte pode aparecer a qualquer hora, a pessoa vive infeliz, rancorosa, chata, rabugenta. Dá até para pensar que a vida inteira foi péssima e que agora não resta mais nada a fazer do que respirar e reclamar.

Uma vizinha minha é assim. Aparentemente é uma pessoa calma, que tem uns oitenta anos mais ou menos, mas quando eu parei para conversar com ela fiquei chateada. Eu até estranhei porque ela foi até minha casa oferecer umas bananas que uma das filhas trouxe de um sítio deles. Achei muito amável da parte dela, então comecei a conversar, agradecer e a primeira coisa que ela falou, num tom de descontentamento,  é que não gostava de jeito nenhum desse bairro e que por isso ela não gostava nem de atender a porta quando alguém tocava lá. Depois foi falando das filhas, do marido, do cachorro... Aí fui entendendo quando meus filhos ainda eram pequenos e brincavam no meu quintal e ela ficava gritando de lá da casa dela. Eles não podiam rir, nem jogar bola, nem nada! Ela encostava no muro e começava a xingar falando que eles estavam fazendo muito barulho e que se a bola caísse de lá, ela furaria e jogaria fora.

Hoje, meu filho que já é um moço e que não joga mais bola no quintal, me contou que um dia a bola dele caiu de lá e ela furou e jogou fora. Achei um absurdo, porque eles estavam no quintal da casa deles e a bola caiu não propositalmente. Tá certo que ela não tem obrigação nenhuma de devolver, mas por que tanto ódio assim?

Ela tem netos e quando eram pequenos e a visitavam, gritavam tanto que incomodava todo mundo. Sem falar que choravam demais e isso levava a gente à loucura. E ela quietinha sem reclamar de nada. Nunca fui lá reclamar do neto dela e todas as bolas que ele jogava no meu quintal (sem falar das latinhas, tampinhas, potes de plástico, pedras e o que tivesse por lá), eu devolvia numa boa.

Eu fico com pena de gente assim. Se foi e é tão infeliz, por que não mexe um grão de areia para mudar tudo? É a tal da acomodação. Aí alguém vem e me diz: "naquele tempo, já que ela é idosa, tudo era difícil mesmo". Concordo. Mas precisa despejar em todo mundo essa infelicidade? O que meus filhos têm a ver com isso?

Fim da vida, sem mais nada para fazer e ainda num azedume que ninguém aguenta. Ninguém merece!
Que triste fim, minha senhora... sinto muito mesmo.

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5 comentários:

  1. A idade não é a responsável por erros das pessoas e se alguém teve uma vida difícil não é por isso que deverá ser rabugenta.
    Creio que a o passar dos anos traz a experiência e a compreensão, fazendo a pessoa mais equilibrada.
    Tenha uma bela semana. Beijos.

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  2. Infelizmente vemos mais destes exemplos do que gostaríamos.Quando as pessoas congelam seus rancores, chegam à velhice com um enorme peso, o de carregá-los.
    Uma pessoa intransigente, que só vê os seus direitos, desmerecendo os dos demais,não se modifica só porque está mais próxima do túmulo do que do berço.
    Uma linda semana, Clara.
    Bjs,
    Calu

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  3. Clara,espero nunca ficar assim!Deve ser muito triste chegar á velhice com esse mau humor!Excelente sua cronica!bjs e boa semana!

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  4. Olá, Clara.
    Infelizmente, existe gente assim, que acredita que deve tratar mal todo mundo e não procura entender que ninguém é perfeito.
    Abraço.

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  5. Interessante que a descrição que vc fez da mulher lembra muito uma senhora que conheço. A filha dela, minha amiga, perguntou-lhe dia desses: "O que a senhora lembra da avó Ana?" Ao que a senhora respondeu: "Que era quase uma santa, muito religiosa, alegre, disposta a ajudar quem precisasse". Daí minha amiga - que não aguenta mais a murmuração da mãe - saiu com esta: "E a senhora, mãe, como quer ser lembrada?" Acho que ela está "matutando" até agora na pergunta.
    Realmente é muito triste chegar nesse patamar da vida sem ter doçura nem sabedoria. Que Deus nos permita a bênção de tê-las sempre, cada dia um pouco mais!

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