segunda-feira, 2 de abril de 2012

Voltas - Parte I

Década de 80, 1985, discotecas fervendo, roupas coloridas, ombreiras, meias lurex e John Travolta. A adolescência nesta época ainda não era tão liberal como de hoje. Ainda tínhamos hora para voltar para casa, tínhamos que pedir permissão para os pais para poder namorar, tínhamos que pedir para sair e avisar o lugar e com quem iríamos. Bem, outros tempos.

E tinha a Cíntia, uma grande amiga de escola. Os pais dela, Antônio e Maria de Lourdes, um pouco mais rígidos  que os meus, ficavam de olho, cuidando, dando bronca, vigiando cada passo da filha. Já eu, sempre fui mais ousada, apesar de ter muito juízo, eu só avisava onde ia, com quem ia e a que horas voltaria; não esperava meus pais pensarem e quem sabe, negarem meu passeio. Me arrumava e ia.

Éramos inseparáveis, um grude só, o que causava até uma certa inveja nas outras meninas da escola. Mas tínhamos confidências secretas e uma entendia a outra apenas com o olhar.

Cíntia era uma menina estabanada, bem humorada, um pouco sem noção do ridículo, mas era minha amiga e eu a defendia sempre, de alguma piadinha maldosa, caso alguém  fizesse.

Não era bonita, era simpática, e isso a matava, porque por mais que se arrumasse, ninguém a elogiava como linda. Apenas diziam:

- Nossa, como você está bem, mocinha!

Está certo que o gosto para se vestir era um tanto duvidoso, o que não agradava aos olhos dos outros. Eu até a incentivava, indo junto comprar roupas, mas não tinha jeito. Quem não tem gosto, não tem jeito; ou a roupa não cominava, ou o sapato não combinava.

Certa vez, combinamos de sair à noite, para uma brincadeira dançante num salão no centro da cidade. E Cíntia me aparece com um sapato imenso, amarelo, mal se parando em pé:

- O que é isso, Cín? Onde arrumou esse trambolho? Que horrível! - comentei, com ar de espanto e chamando a atenção pelo mau gosto.

- Não fala assim, Bete, é a última moda em Paris, eu vi numa loja, e ainda estava em liquidação. Gostei e comprei. - respondeu, dando de ombros e nem se importando se alguém ia reparar ou não.

- Você nem está sabendo andar com isso... Como é que vamos subir esse morro todo com você com esse sapato sem noção? É claro que estava em liquidação; quem compraria isso a não ser você?

- Qualquer coisa eu tiro e depois coloco de novo. Trouxe até uma toalhinha para limpar os pés. - respondeu, dando uma risadinha, como sempre, fazendo piada de tudo.

E lá fomos nós, depois de pedir para os pais, pedir a benção e ouvir um sermão para tomarmos cuidado com a rua. Naquela época não era tão perigoso como é hoje, e podíamos sim, caminhar pelas ruas à noite, sem sermos incomodadas.

Chegamos quando tocava a seleção de "lentas". Quer dizer: ficávamos encostadas na parede esperando os moços nos enxergar e nos tirar para dançar. Eu sempre ia antes, e Cíntia ficava lá, à espera, até que por falta de opção, e quase no final da seleção, alguma boa alma a tirava. Mas pelo caminho, até o centro do salão, muita coisa acontecia: ou ela esbarrava em alguém e quase caía, ou derrubava um copo, ou tropeçava e caía em cima de alguém... nunca era um percurso normal; sempre acontecia alguma coisa, e claro, muitas risadas contidas de todos. E pelo bom humor, Cíntia nem se importava. Já tinha se acostumado com seu jeito e aceitado tudo, mesmo as risadas e gozações. Eu é que me preocupava com ela, achando que talvez ficasse magoada.

O salão era amplo, com ventiladores em todas as paredes e um globo de vidro girando no centro. Amávamos tudo aquilo. Cíntia dançou a última música da seleção "lentas" e permaneceu no centro do salão conversando com o rapaz, que era bem apessoado e parecia que tinha um bom papo. Logo arrumaram uma mesa e foram conversar num canto. Pediram Hi Fi e eu só de olho nos dois, do outro lado do salão, até que o moço, um pouco ousado, tascou um beijaço em Cíntia. Eu vibrei e comecei a bater palmas, escondidinha. Amava muito minha amiga e queria que ela encontrasse alguém sim, que se apaixonasse e fosse feliz. Eu não me importava muito com essa situação de namoro. Queria mesmo era estudar e me formar. Então preferia só "sair" com algum menino, mas sem compromisso.

No final do baile, Marcelo fez questão de nos levar para casa. É claro que voltei calada, só ouvindo o papo animado dos dois.

Chegamos à minha casa e eles seguiram o caminho...

Leia a segunda parte
Leia a terceira parte
Leia a quarta parte
Leia a quinta parte

Continua...

11 comentários:

  1. Ai esse suspense ..........
    Mas gostei da Cíntia, ela é autêntica, gosta e pronto ........
    Mas vamos aguardar rsrsrsr
    Boa semana.
    Beijos.

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  2. Misericórdia!!! Quero logo saber o restante da história! Adorei o jeito da Cintia. Sem se importar com ninguém. Vou esperar pelo resto da história
    Beijos
    Adriana

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  3. Olá!Bom dia!
    Suspense! Autenticidade!
    Vamos aguardar!
    Nossa! Hifi, discoteca, lurex,Travolta...saudades deste tempo!
    Boa semana!Muita paz e luz!
    beijos

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  4. Clara,adoro suas histórias!Vamos ver o que vai acontecer com a Cintia, personagem muito interessante!BJS e boa semana!

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  5. Oi Clara,
    lembro bem dessa época do John Travolta.
    Adorei a Cíntia e fiquei curiosa para seber o que rolou com o Marcelo.
    beijos
    Chris
    http://inventandocomamamae.blogspot.com/

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  6. Oi Clara, primeiramente obrigado pelo oportuno comentário sobre alimentação deixado lá no blog.
    Com relação ao seu texto, apreciei bastante, sobretudo porque também vivi os anos 80, rsrsrsrs. Estou na maior expectativa para a continuação.

    Cordial abraço, saúde e muita paz interior.

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  7. Uau!
    O que virá por aí? Gostei da Cíntia!

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  8. Olá Clara ,o que será que aconteceu hein?
    Estou aguardadndo as cenas dos próximos capitulos..... uai!!!
    Muito legal!!!
    Do jeito que vc escreveu , parecia q eu estava até mesmo enxergando a cena!! nos anos de 96,97,98, eu frequentava um clube tbm muito legal, as domingueiras eram as preferidas da galera... tocava todos os ritmos, a gente dançava os passinhos no meio do salão com os ritmos mais rapidos,remix tudo mais, e depois já lá pelas 10 da noite começava a seção das lentas, onde os casais se formavam e iam dançar tbm, aproveitei muito esta época, eu tinha 14 anos e na portaria dizia ter 17 senão nao entrava rsrsr o época boa viu!!!! bjs boa semana!!!

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  9. Oi Clara!
    Ah, tempo bom! Lembro de como gostava de Os embalos de sábado a noite e Greese, nooossa! Bee Gees, aff.rsss
    Estou torcendo pela Cíntia! Que suspense menina!
    Beijinhos e uma semana abençoada!

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  10. Se eu fosse vc, faria esse conto com umas 45 partes.
    Vc iria matar de curiosidade essa "mulhegada" dos coments.

    hahahahahahahahhahahahhahahahhahaahahha...

    Beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx..

    KK

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  11. ah me fez viajar. há textos assim, que tem a capacidade de nos dar asas. lembrei do meu john travolta. obrigado abraços lamarque

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