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segunda-feira, 2 de junho de 2014
Meu Mal-Querer
Sentada num canto do quarto e ainda sem entender o que acontecera, Alexia se culpava o tempo todo. Tantos planos, tantas declarações de amor eterno, surpresas inesperadas, visitas em horários aleatórios, bilhetinhos, paixão avassaladora... Tudo lançado ao vento, ao tempo... Para que leve de uma vez e deixe-a somente com sua dor. Um luto desnecessário, porém não havia outra explicação. Ele tinha outra.
Há algum tempo já havia percebido sua sutil indiferença. Reclamava de tudo, culpando-a por sua falta de interesse, sendo agressivo e mal-educado nos horários mais inoportunos. Alexia aguentava calada para não piorar mais a situação. Talvez seria somente uma má fase, algum problema profissional ou de família que ele não queria comentar.
Foi se fechando em seu mundo, desenterrando diálogo por diálogo tentando descobrir em qual palavra, qual atitude não agradou seu amor. Reconhecia que era uma mulher de fases, com dias completamente insuportáveis de se conviver, mas ele sabia e se afastava, ou então ficava quieto esperando tudo passar. Era paciente.
Um dia ele chegou e simplesmente falou tudo o que não precisava, acusou Alexia de atitudes que antes eram toleráveis, humilhando-a com palavras rudes e gritos, pegou o pouco que tinha em sua casa e se foi. Acabou mesmo.
Decepcionada por não ter sido capaz de ter dado o que tanto seu amor lhe pedia, Alexia se sentiu incapaz e feia. Nunca mais se olhou no espelho, nem penteou os cabelos, nem usou perfume e nem batom coloriu sua boca carnuda. Tinha a certeza de que nunca mais ninguém a olharia como mulher, como fêmea. As palavras do amor de sua vida lhe martelavam a mente, fazendo com que acreditasse que ele realmente tivesse razão. Se sentiu horrível e desprezível. Como não percebera o quão ridícula era? Será que simplesmente a toleravam o tempo todo? O amor de sua vida abriu-lhe os olhos e destruiu até o último grão de autoestima e respeito. A partir de então saberia qual seria seu lugar e de lá não sairia até que alguém a convencesse de que nem era tão insuportável assim. Nem as lágrimas lhe obedeciam como antes. Estava seca por dentro. Exalava repúdio pelos poros que nenhum perfume por mais concentrado que fosse lhe arrancaria desse estado de consciência real, mesmo que tardia. Estava acabada sua vida amorosa.
Tirou licença do trabalho e ficou em casa, sozinha no silêncio e inconformada por não ter percebido a realidade. Sim, ele tinha razão em tudo o que havia falado.
Um bom tempo havia passado e Alexia ainda cultivava um luto vivo e eterno de palavras mal-ditas e assimiladas instantaneamente de uma boca que deveria apenas lhe oferecer um hálito fresco e doces palavras de amor. Se ele não a amasse tanto não teria lhe aberto os olhos. Via-o vez ou outra com uma linda mulher, bem parecida com Alexia, um pouco mais gorda e de cabelos curtos, desalinhados. Não usava batom e nem salto alto. Ele tinha o ar de contentamento e demonstrava estar feliz com seu novo amor. Alexia olhava, reparava e não via nada de mais naquela pessoa comum. Achava apenas que ela o satisfazia em todas suas vontades e fantasias. Que bom para ele, pensava. E suas palavras voltavam quase que imediatamente queimando-lhe a vontade de continuar vivendo. Viveria sim enquanto tivesse seu tempo, e se assim teria que ser, assim seria.
Enquanto andava de cabeça baixa e sem prestar atenção a sua volta uma rosa vermelha apareceu na sua frente. Alexia parou, ainda de cabeça baixa, e seguiu o percurso da rosa, da mão que a segurava e do braço até chegar ao belo sorriso. Parou no sorriso e percebeu um furinho no queixo do rapaz. Seguiu para os olhos e eles também lhe sorriram. Quando percebeu também estava sorrindo para o rapaz. Ficou imóvel até que o jovem comentou que seu braço estava doendo por fica naquela posição e se ela não pegasse a rosa teria uma cãimbra. Foi o suficiente para que ela soltasse uma pequena gargalhada e pegasse a rosa e levasse ao nariz. Fechou os olhos e inspirou seu perfume doce... O rapaz ainda parado a sua frente só observava o encanto da cena. Cruzou os braços e olhou-a de cima a baixo, deixando-a corada de vergonha. Se olhou também de cima a baixo para ver se tinha alguma sujeira na roupa ou um zíper aberto. Não, apesar da roupa simples estava tudo em ordem. Voltou os olhos para ele e ouviu: "linda".
Se apresentaram e Gilberto disse que sempre a via passar por ali, de cabeça baixa, pensando na vida, então resolveu alegrar seu dia com uma rosa. Ela agradeceu. Enfim, por alguns minutos o luto se fez luz e Alexia reaprendera a sorrir. Trocaram telefone, mas Alexia jogou-o fora. As palavras daquele outro homem, do amor de sua vida, voltaram como um relâmpago lembrando-a de que não seria mais admirada e nem desejada. Talvez esse lhe tivesse dado atenção por pena ou caridade. Ou então seria a boa ação do dia dando-lhe a rosa para ver sua reação. Não arriscaria e nem suportaria ouvir as humilhações de novo. Melhor assim, deixar como está. A vida já era tão complicada e uma pessoa para lhe causar problemas e constrangimentos era o que menos queria. Não sofreria de novo, já estava decidido. Nos outros dias mudara de caminho, mesmo ainda tendo a doce lembrança do rapaz, Gilberto, com o furinho no queixo a lhe sorrir e lhe presentar tão gentilmente.
Fim.
Ahhhhhhhhh...tem que dar uma chance pro cara!!!!!
ResponderExcluirEla ainda está deprimida, Giu. Qdo ela se der conta já foi... Pena, né?
ExcluirAlexia:
ResponderExcluirNão fique aí sofrendo...
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima...rs
Linda tarde para você, Clara
Beijinhos de
Verena e Bichinhos