domingo, 26 de setembro de 2021

A MULHER DE CARLOS


 Foto de Sarah Chai no Pexels


 Amor, vai no banco e resolve a pendência desse contrato pra mim? Fale diretamente com Juarez, ele tá te esperando às 09h em ponto - ordenou Carlos para sua mulher.

Ela consentiu com a cabeça e continuou tomando seu café calmamente enquanto terminava de lavar a louça do café da manhã. Ainda tinha um tempo pra se arrumar e chegar até o banco.

No caminho da cozinha pro quarto, ela se lembrou que havia combinado de levar sua mãe até o centro da cidade para comprar roupas íntimas, que estava precisando. Como não era urgente, apenas passou uma mensagem pelo celular não esperando a resposta dela, agendando pro outro dia.

Tomou um banho rápido, reclamou com o espelho sobre a situação do seus cabelos, então fez um coque caprichado, maquiou-se discretamente, algumas gotas de perfume na nuca, vestido confortável e scarpins, pois iria num local onde as mulheres estariam vestidas pra matar. Não entendia como elas conseguiam se sustentar o dia inteiro no salto, e achava isso muito chique, por isso usava sempre seu scarpin azul marinho quando precisava ir ao banco resolver pendências pro seu marido.

Já dentro do carro lembrou-se que não havia colocado brincos. Imagina, coque e sem brincos, nunca! Voltou, colocou os brincos longos dourados em forma de cascata e sorriu pra sua imagem no espelho.

Agradeceu por achar uma vaga fácil pra estacionar, cumprimentou o porteiro e depois o segurança dentro do banco. Perguntou por Juarez enquanto corria os olhos por todo o espaço tentando adivinhar quem seria esse homem que nunca havia visto. O segurança apontou o homem de meia-idade, calvo e grisalho, que atendia numa mesa no fundo do salão.

Ela, andando como uma modelo na passarela, queixo levantado, chegou até a mesa de Juarez cumprimentando-o e aguardando ele estender a mão primeiro. E assim foi feito.

Ela não percebeu, mas algumas pessoas olhavam pra ela admirando o modo como deslizava ao caminhar, sem falar no charme que ela era. Realmente ela tinha uma pitada de sensualidade e discrição. Carlos não sentia ciúmes, era um bom marido, provia todas as despesas e tratava-a com respeito e admiração. Era um casal comum.

Resolvida a pendência, antes de chegar em casa passou no supermercado e fez as compras da semana. No trajeto passou na lavanderia, deixou algumas camisas e ternos de Carlos pra serem lavadas a seco, depois foi ao cartório registrar uns documentos que Carlos havia pedido na semana anterior, e do lado do cartório havia uma pastelaria, a preferida dela. Comprou pasteis, dois de carne e dois de queijo e voltou pra casa.

Carlos estava sentado em sua poltrona assistindo ao noticiário na TV, Ela passou por ele levantando a sacola onde estavam os pastéis, fazendo-o sentir o cheiro fresco. Ele voltou-se para ela, sorriu e jogou-lhe um beijo no ar. 

Ela ajeitou a mesa e os dois comeram os pastéis com suco de laranja. Carlos comentou com ela sobre o noticiário regional e mundial, ela ouvia atenta e vez ou outra perguntava algo pra que ele esclarecesse. 

Depois da refeição rápida, que na verdade era o almoço deles, Carlos se aprontou e foi para o escritório. Deu um selinho na mulher, dizendo que a amava. Ela acompanhou-o até a porta, esperando o aceno dele de dentro do carro, até partir.

Imediatamente ela tirou os sapatos, respirou aliviada e a partir de então começaria sua rotina de dona de casa. Mas antes, no notebook, ela atualizou a planilha de clientes de Carlos, que fazia todos os dias. E, claro, navegou por seus sites favoritos, olhou a agenda e respirou aliviada por não precisar mais sair naquele dia.

O celular tocou, era Carlos...

 Amor, eu esqueci minha agenda em cima da minha mesa no escritório. Você traz ela pra mim?

Ela se jogou no sofá com certa preguiça. Não entendia como ele podia esquecer uma agenda em cima da mesa, oras, ele não vivia sem a agenda!

Colocou os sapatos novamente e foi levar a agenda para Carlos.

Entrando no escritório do marido, percebeu os olhares dos funcionários. Todas as vezes esse episódio se repetia e a deixava incomodada. Na verdade eram olhares de admiração, por ser uma bela mulher, com andar sensual, simples, porém muito bem alinhada. Ela cumprimentou a todos timidamente, como de costume.

Carlos era advogado e tinha uma equipe competente que trabalhava pra ele. Ao ver sua mulher com sua agenda, levantou-se, agradeceu, dando-lhe um beijo mais demorado, um abraço carinhoso e mais uma vez disse que a amava. Ela retribuiu o carinho e voltou pra casa.

Chegando em casa, retirou os sapatos, jogou-se no sofá, conferiu as notícias no notebook e logo em seguida foi cuidar de seus afazeres rotineiros.

Essa é a mulher de Carlos.


Clara Lúcia


6 comentários:

  1. Afff...E essa linda mulher do Carlos que todos admiravam estava sendo bem usada pelo marido,rs..
    Me parece um folgado que deixa tudo nas costas dela..Será? rs
    Adorei te ler e fiquei aqui imaginando quantos nomes lindos de minha delicada boquinha teriam saído ao ter que novamente recolocar os sapatos pra ir até o escritório.
    E depois? Afazeres domésticos.AFFFF...
    Quando tempo gasto pra ela?
    Ela seria o resto da vida a mulher do Carlos?
    Não teria identidade própria...

    beijos,tudo de bom,chica

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    1. Chica, aqui na rua onde moro tem várias mulheres como essa mulher do Cláudio. É bem comum mesmo e são felizes assim.
      Então está tudo certo rsrsrs
      Beijo!

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  2. Ai, ai... mulher maravilha! Será? Vamos aguardar o próximo episódio. Gostei, Clara. Dois excelentes perfis. Essas atitudes de um e de outro, dão muito pano para mangas.
    Bjs, Marli - A Dança das Flores

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    1. Marli, existem muitas mulheres do Carlos por aí, e elas gostam de estarem assim. É que elas não aparecem. Nós não conseguiríamos, com certeza.
      Beijo!

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  3. Bom fim de noite Clara.
    Imaginei muito ao ver o titulo e vi uma grande mulher bonita, que o marido explora, ela é a cabeça dele, os pés dele. Uma guerreira amorosa e cumpridora de seus afazeres e ainda encontra tempo para as coisas do folgado. Mas fiquei curioso sobre a mensagem para a mãe, que ela nem viu o retorno. Será que tem mais? rsrs.
    Gostei amiga como sempre de sua arte nestes contos.
    Beijo de paz no coração.
    Feliz esteja a semana.

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  4. Bom.domingo de paz, querida amiga Clara!
    Há casamentos bem assim onde chegam as Bodas de Ouro numa relação de "empregada doméstica" e satisfeita com tal papel.
    É o retrato da vida de muitos casais que a sociedade aplaude...
    Muito boa e bem escrita a história.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos com carinho de gratidão e estima

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