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quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
A Pequena May
- May, tomar banho, agora, vamos! - a mãe chamou a pequena que brincava em sua "floresta, que tinha velhos panos presos nos cabelos com pregadores de roupa. Era seu véu de rainha.
- Hammmm - interrompeu sua fantasia de rainha, virou-se para a mãe, arrancou os panos dos cabelos e correu em disparada para a casa.
No caminho foi conversando com sua rainha, dizendo que hoje era o dia de ir na loja comprar coisas pra usar no Natal. Ela conversava e respondia pra ela mesma... - Um a um ia listando as prováveis coisas a serem compradas. Uma delas seria um par de sapatos pretos brilhantes, como ela havia pedido pra mãe tempos atrás. Outro item que ela tinha certeza que teria seria um vestido. Não tinha preferência, qualquer um combinaria com seus sapatos.
May, nos seus cinco anos, já sabia escolher detalhadamente o que usar devido aos livros infantis que tinha e aos desenhos animados que assistia.
A floresta era um lugar mágico, com dragões e cobras, porém não eram bichos maus, eram seus amigos e estavam lá pra defendê-la da bruxa malvada que ficava escondida atrás do muro, ouvindo ela brincar e cantar.
Quando chegava fim de ano, era costume da família ir a uma grande loja comprar roupas, sapatos, utensílios para a casa e alguns presentes. Eram definidas como "as compras do ano".
Junto ao encanto de ter roupas novas e sapatos novos, May sabia que era época de comer coisas gostosas e de reunir na casa dos avós e ganharem vários presentes. Esses detalhes ela contava pra rainha da floresta:
- Hmmmm, vai ter refrigerante, bolo, macarrão da vovó, sorvete... E eu vou ganhar um montão de presentes! - confidenciava May.
Também era definida como "a reunião familiar do ano".
Enquanto tomava seu banho, May cantava músicas desconexas, inventadas por ela mesma, como se fossem histórias cantadas. Tinha uma imaginação sem fim.
A roupa já estava em sua cama e sua sandália, que já estava pequena para seus pés, estava posicionada alinhadamente do lado cama.
A mãe de May ajudava-a a se enxugar e a colocar o vestido. Depois penteava seus cabelos cacheados, segurava seu rosto, olhava-a com ternura e, com um sorriso, dizia a ela que era a rainha mais linda da floresta. May sorria e respondia "sim, eu sou".
O pai de May já estava há um bom tempo aguardando as "madames" se embonecarem para irem às compras, impaciente, como todo homem atarefado, mesmo estando em férias da empresa em que trabalhava.
Quando May apareceu na sala, sorriu para seu pai e, inclinando a cabeça para o lado, disse que já estava pronta. Seu pai, como fazia todos os anos, pegou-a no colo e elevou-a ao alto e voltou-a ao chão, fazendo com que seu vestido abrisse como um para-quedas e seus cachos balançassem no ar. Ela gargalhava feliz.
A grande loja ficava longe de casa, por esse motivo a família usava o transporte público. Estava lotado e sem lugares para sentarem-se. May não entendia muito o acúmulo de pessoas dentro do ônibus, apenas observava um e outro, agarrada na mão de seu, que também se equilibrava segurando no suporte algo do ônibus.
May deitou seu olhar numa senhora que estava sentada bem no seu rumo, com várias sacolas e um embrulho bem grande ajeitado entre as pernas. Era um presente.
- O que é isso? - perguntou à senhora.
- É um presente. - respondeu sorrindo para May.
- É pro seu filho? - insistiu a pequena.
- Não, é Papai Noel pro meu neto Tiago.
May encarou a senhora e ficou imaginando o Papai Noel dentro da caixa e logo pensou que ela não teria presente do Papai Noel porque ele estava preso dentro da caixa, e que a avó havia comprado ele somente pro seu neto Tiago.
Próxima parada desceriam. May encarou a senhora até descer do ônibus, inconformada.
Na loja, que estava lotada, May corria pra lá e pra cá, sempre sob os olhos atentos dos pais, que a repreendiam caso esbarrasse em algum objeto. Vez ou outra seu pai pegava sua mão pra que ela se aquietasse. Mesmo assim May continuava brincando, conversando, cantando e apontando uma coisa ou outra. Tudo era encantador, com luzes piscando, músicas natalinas, brilhos, bolas coloridas, e lá no fundo, quem estava lá? O Papai Noel.
May parou e ficou boquiaberta ao saber que o Papai Noel não estava dentro da caixa da senhora do ônibus. Imediatamente ela apontou para ele e gritou: - Papai Noel!
Seu pai repreendeu-a mais uma vez, e sua mãe, com toda paciência, pegou na pequena mão de May e levou-a até ele.
May, com os olhos brilhantes, perguntou:
- O que você está fazendo aqui?
Papai Noel, surpreso pela pergunta, respondeu:
- Estou aqui te esperando, menina!
May sorriu, aproximou-se dele e começou a contar a história do ônibus, mas o tempo era curto e haviam pessoas na fila, foi interrompida. Deu um abraço nele e saiu saltitando de alegria. May tinha certeza de que ele havia fugido da caixa.
Sua mãe sentou-a num puff para provar os sapatos. Não eram brilhantes como havia pedido. May cruzou os braços e não quis experimentar. Os sapatos brilhantes, em verniz, eram um pouco mais caros e o casal teria que abrir mão de alguma coisa para satisfazer os gostos da filha. Ficaram cochichando até chegarem num acordo. Comprariam um presente mais barato para May e assim poderiam comprar os sapatos em verniz. Realmente eram lindos!
As compras seriam entregues na casa deles, pois eram volumosas, muitas caixas e alguns itens eram pesados.
Saíram da loja e foram comer pastéis, como era costume. Pastéis de carne e garapa.
A família de May era bem simples, porém eram organizados nas despesas. A "compra do ano" era sagrada e o dinheiro era guardado mês a mês.
Fim de ano era o tempo de reunir a família e esbanjar um pouco na alimentação, comer pudim de leite, beber guaraná, vestir roupas novas e trocar presentes. Todos ganhavam, todos compartilhavam o que podiam, todos matavam as saudades e tinham o "dia do ano" mais feliz do mundo.
May, vestindo roupas novas, sapatos brilhantes, cachos esvoaçantes, e uma história pra contar cantando pra todo mundo, sobre o Papai Noel na caixa do Tiago.
Coisas da vida.
Clara Lúcia
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Conto mágico e ternos e são tão bons esses sonhos e a magia das crianças! Adorei! beijos, chica
ResponderExcluirBoa noite de Oitava de Natal, querida amiga Clara!
ResponderExcluirGostei muito e todos temos uma May em nós...
.Muito obrigada pela companhia em 2019.
Adentraremos em 2020 com o mesmo gosto bom de uma sincera amizade.
Bjm carinhoso, festivo e natalino ainda
Olá Clara
ResponderExcluirLindo o seu conto.
Me encantou.
Feliz 2020 para você.
Beijinhos muitos
Verena.