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segunda-feira, 19 de maio de 2014
Provação
Sábado à tarde, já sabiam que não tinha compromisso então não teve como negar o convite. Pietra tomou um banho rápido, vestiu a primeira roupa que encontrou e se foi. Estava ansiosa, afinal muitos anos se passaram até esse reencontro. Estava com medo também, não de encarar certas amigas, mas de seu temperamento nada agradável quando algo lhe deixava constrangida. Medo de sua reação, pois sabia que o assunto voltaria à discussão, com certeza. Mas, arrebitou o nariz e se foi. Um passado que voltara sem permissão para ser presente, sem se anunciar, topetudo e imponente.
A recepção foi boa, havia mais gente do que imaginaria e isso tranquilizou-a. A pessoa ao qual temia apareceu bem depois, quase no final da reunião de amigas. Estava do mesmo jeito, só um pouco mais metida do que de costume. E sentou-se bem à sua frente. Se olharam e sorriram. Elogiaram uma a outra, falaram de trabalho, de filhos, e Andreza, a amiga desmascarada sem saber que fora, começou o rotineiro assunto fútil de falar de outras pessoas. A cada assunto pautado ela nomeava uma cidadã para criticar ou comentar de alguma forma. Pietra se calava nessa hora. Não tinha o que falar, pois estava distante dos assuntos atuais da turma. Algumas lembranças de críticas com algumas delas lhe veio à mente mostrando-lhe o tanto que era arrogante na época. Apesar das lembranças nem tão boas ria muito com as besteiras ditas por outras. Estava sendo uma agradável tarde.
Relacionamentos. Era esse o tema da qual todas gostavam. Cada uma falou um pouco, contou sobre a vida de solteira, de casada, de separada e Andreza reclamou, reclamou, reclamou... Como se a vida fosse ingrata por ela estar casada há tanto tempo com um único homem. Demonstrou claramente a insatisfação e o tédio de uma união onde o amor era peça guardada na estante, empoeirada e esquecida.
Pietra sabia que ela tinha uma vida confortável, quase de luxo, e não entendia o porquê da reclamação. Tão simples se separar e recomeçar! Mas entendeu que a vida que Andreza levava nada mais era do que fora plantado e a hora era da colheita. Assim como a sua e a de todas. Pietra observava cada detalhe, cada gesto, cada palavra da amiga e tirava suas conclusões. É claro que ela não sabia que já fora desmascarada há tempos, mesmo não tendo ido a público e espalhado como papeis picados e lançados ao vento. Que importância teria revelar algo tão comum hoje em dia?
O assunto que Pietra temia fora posto para discussão. Seu relacionamento conjugal. Estava separada há um bom tempo e sempre lhe perguntavam sobre uma possível volta. Já havia se acostumado e a resposta sempre era a mesma: nunca! Curta e grossa para ninguém perguntar mais nada e mudar de assunto. Mas Andreza gostava de cutucar, de debochar, sonsa como sempre não perderia a oportunidade de constranger Pietra. Perguntou-lhe se não voltaria mais, nunca mais, depois perguntou-lhe o motivo de tanta raiva, já que perdoar é um dom divino. Pietra sorriu, calmamente olhou para a miga e disse que já havia perdoado o ex e todas as amigas que tiveram um caso com ele, mesmo ele estando casado com ela. E continuou encarando a amiga. Viu-a mudar de cor, de disfarçar com outro assunto, rir nervosamente sem controle e ainda chamá-la de exagerada. Como assim, ele fez isso? Perguntou debochando. Sim, fez! Respondeu calmamente ainda encarando Andreza. Pietra se sentiu cínica, sonsa como a amiga traidora. Mas gostou da situação.
Logo mudaram de assunto e Pietra se sentiu satisfeita com sua reação. Sim, já havia perdoado. Mas perdoar e se afastar é muito fácil. Difícil seria perdoar e continuar convivendo. Essa seria a provação que teria que passar.
Pensou em Deus e em seus caminhos que fazem as pessoas percorrer. Riu sozinha da cilada em que se metera, mas entendeu que foi necessário encarar as pessoas e se provar que realmente havia perdoado. Nenhuma raiva, nenhum constrangimento, nenhum sentimento de vingança ou ódio. O perdão se fez.
E continuou pensando que as pessoas têm seu caráter. Ou é bom ou é ruim. Não existe meio termo. E concluiu que não há necessidade de vingança em nenhum momento da vida. As pessoas são como são e cavam sua própria cova, sua própria infelicidade. Bastou olhar para Andreza para ter esta certeza. Uma rica menina pobre. Pobre de cultura, de assunto, de caráter, de gratidão... Teve tudo o que sempre quis menos o principal que era a harmonia, a felicidade, o amor... Viveria até o fim da vida reclamando, ainda querendo o que pertencia ao outro, ainda almejando o que nunca fora capaz de conquistar: o amor.
Não seriam amigas, pelo menos da parte de Pietra. Poderiam se encontrar de vez em quando, mas a empatia se rompera, os valores eram diferentes e nada mais tinham que conversar. Pietra estava feliz em ter sua vida como queria, apesar dos pesares, mas a sensação de liberdade de fazer escolhas, de aceitar ou negar uma situação deixava-a confortável perante a vida. Se respeitava, além de tudo. Sabia que ao virar as costas Andreza falaria sobre ela, criticando-a ou colocando algum defeito. Não se importava com isso, pois sabia que só havia futilidades e asneiras para oferecer aos outros. Se sentia livre para não aceitar nenhum comentário sem valor nenhum e que não lhe causaria nenhuma mudança. Apenas alguém falando futilidades e mais nada. Sentiu pena.
A vida dando voltas e esfregando na cara de que nada é em vão. E o melhor ainda é cultivar o que lhe agrada, ir atrás do que acredita, ouvir sua intuição e seu coração. E crer em Deus, na Sua benevolência e cuidados com quem Lhe entrega e aceita a vida.
Uma provação para poucos, uma percepção somente para quem tem sensibilidade suficiente de que não temos nada nessa vida, além dos sentimentos que adquirimos e cultivamos. O amor, esse sim sempre vale a pena.
Fim.
Lindo conto e tais fatos acontecem na real. Há quem sempre quira questionar, indagar e temos que ser mais nós mesmas pra nos dar o direito de não falar o que não tivermos vontade! Só assim as coisas fluem.Se as pessoas não nos respeitam, nós pelo menos temos que nos respeitar! bjs, linda semana,chica
ResponderExcluirQue saia justa, hein?
ResponderExcluirEstou torcendo para que Pietra encontre um novo amor e seja feliz
Beijinhos e votos de uma semana feliz para tí, Clara
Verena e Bichinhos