O Dedo
Na terceira manhã em que saiu aquela gotinha clara, resolvi tomar providências. Mesmo porque a minha mulher olhava meio de lado. Para a gotinha e para o local de onde saía a gotinha. Lá, no incauto cabisbaixo.
Me lembrei que a minha irmã havia se encontrado com um velho amigo de infância de Lins, o Plínio, num hotel de Salvador. E que o Plínio era hoje um importante urologista em São Paulo. Essas intimidades é melhor com gente conhecida, de confiança, pensei. Ligo para a minha irmã, pego o telefone e marco uma hora. E ele me disse que devia ser uma prostatite, também conhecida como gota matinal, que eu não me preocupasse, mas que tinha de fazer o toque. Toque, onde? Marcou horário para o sacrifício.
Foi quando me recordei que o Plínio era gordinho na adolescência. Ligo de novo para a minha irmã. Ela confirma, o cara está gordo. E gordo não tem dedo fino, nem mole, concluí.
Ao cumprimentar o velho amigo, fixei-me mais no dedo do que nos olhos.Uns vinte minutos para colocar as novidades em dia. Pra relaxar, talvez. E eu não tirava o olho do dedo dele. Bem grosso.
Depois das preliminares, me manda tirar a roupa e ficar de quatro em cima da mesinha. Até aí tudo bem. Ele começou a comentar o encontro dele com a minha irmã em Salvador. Ele estava em lua de mel. Convenhamos que lua de mel não é um assunto muito apropriado para um momento delicadíssimo como aquele. Me explicava com quem tinha casado enquanto colocava luvas e vaselina.
Pegou uma folha de papel e colocou debaixo de mim, que já estava de quatro havia uns cinco minutos.
– Pra que isso, Plínio?
– É que, em alguns casos, quando a gente massageia a próstata, a pessoa pode ejacular.
Sentei.
– Vamos conversar. Você está dizendo que pode me enfiar o dedo no rabo e eu gozar?
– É normal. Mas eu estava de falando da praia do Buraquinho…
– Um momento, Plínio. Todo mundo goza?
– Meio a meio.
– Plínio, se eu gozar, amanhã Lins inteira vai saber disso. Conheço aquela cidade. Vai sujar. Já acham que artista é meio viado… Cinquenta por cento é uma porcentagem muito alta.
– E você acha que eu vou sair por aí dizendo que você ejaculou?
– Você, não. Mas no interior tudo se sabe. Não se sabe como. Melhor deixar pra outro dia. Perdi o clima.
– Fica de quatro aí e não me encha o saco.
Fiquei. Tenso.
Ele colocou o dedo lá e continuou a falar da lua de mel, da praia do Buraquinho. E eu lá, compenetrado. No palavreado médico, meu pênis (que palavra mais pornográfica!) praticamente sumiu, não ejaculei e foi uma luta para o Plínio colher a tal gotinha.
Feitos os exames o diagnóstico dele estava certíssimo. E voltamos a ser amigos. Mas sempre vestidos, de pé e de frente um para o outro.
E nunca mais falamos da praia do Buraquinho. Que, aliás, é uma delícia de praia em Salvador.
Conheçam o site oficial de Mário Prata
hahahahahaha grande Mário Prata! abraços
ResponderExcluirMaravilhoso, Ives, irreverente, fantástico!
ExcluirAbraços!
Muito legal! Gosto muito! beijos,chica
ResponderExcluirTambém gosto muito ,Chica!
ExcluirBeijos, gaúcha!
Olá Clarinha!
ResponderExcluirBeleza de crônica! ótima escolha, parabéns! Bjs Marli
Sim, dentre tantas fica difícil escolher e essa foi perfeita!
ExcluirBeijos
Passei para ler.
ResponderExcluirDeixo-lhe as minhas saudações.
Bjsss
Obrigada pela visita, Vieira, é sempre bem-vindo!
ExcluirBeijos
Gostei de ler a crônica, Clara
ResponderExcluirUm beijinho carinhoso de
Verena e Bichinhos
Que bom, Verena.
ExcluirBeijos, ótima semana, querida!
Hahaha, esse assunto é um mega tabu para os homens! Mas precisa desproblematizar, né? A saúde em primeiro lugar.
ResponderExcluirAdorei, Claríssima. E ainda bem que tudo se resolveu.
Beijinhos, um doce domingo
Ruthia d'O Berço do Mundo
Sim, é tabu, infelizmente. Não sei que medo é esse, mas enfim, um dia isso se tornará rotina. Cuidar da saúde está sempre em primeiro lugar e divulgar que isso não é nem um bicho de sete cabeças é obrigação, nem que seja com o bom-humor de Mário Prata.
ExcluirBeijos, querida, ótima semana!
pretty nice blog, following :)
ResponderExcluirThank's, Skyline, welcome!
ExcluirAdorei, dei muita risada Clara. Ele é vivo? Vi esse talento um dia no consultorio do Rubens Molina. Eles estavam fazendo algum projeto juntos e fui apenas visitar. Acho que nessa epoca ele estava usando barba. Faz muiiiito tempo. E lembro de que ele estava com uma doença terminal. Será que é o mesmo, ou estou confundindo? Vou olhar no site. Bjoss
ResponderExcluirSim, vc se confundiu. Ele é muito irreverente e ótimo!
ExcluirConta coisas do cotidiano, detalhes que nem percebemos. Isso nos faz viajar na leitura. Adoro!
Camille, minha amiga, uma ótima semana pra vc!
Beijos
Fui olhar, acho que nao é a mesma pessoa, embora o que eu estou lembrando tb chamasse Prata e fosse dramaturgo. Ali diz que ele é de Minas e morou ou mora a tantos anos em SP. O que eu conheci estava morando no mesmo condominio em Sao Conrado que o RM morava e tinha a clinica. Bjosss e boa semana!!!!
ResponderExcluirOi, Clara!
ResponderExcluirAmo as crônicas do Mário Prata e também do seu filho, o Antônio Prata! Li 3 livros dele, "Diário de um Magro", "Schifaizfavoire" e "Mas Será o Benedito?". A Minha tristeza é ainda não ter assistido uma palestra dele. Por coincidência, a primeira crônica dele que li e publiquei no blogue foi "Aí meu pipi" que descobri procurando o significado da palavra panasca (rs*)
Essa crônica retrata bem o cotidiano de muitos homens e de certa forma, ele faz um trabalho social com ela. Os homens precisam saber que as dúvidas que tem são iguais para todos! Qual homem não já manifestou receio com esse tal exame?
Beijus,
Acho que já publiquei essa crônica. Gosto muito dele também.
ExcluirA gente entra no site dele e não sai tão cedo... fica lendo uma de pois outra, depois outra... e o tempo passa.
Beijos, querida!