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terça-feira, 25 de março de 2014

O Mistério da Casa na Ponte


Participando da 39ª Blogagem Coletiva do blog Café entre Amigos. Uma foto, muitas histórias. Garantia de boa leitura. Vamos participar?

      Rubens Matsouri não viu que a ponte terminava em uma casa. Ou a casa estava no lugar errado? Havia uma estrada após a casa? Indagava para sua mulher Stefânia. Estavam em lua de mel procurando um lugar para passarem a noite. A lua brilhava imponente, clareando as dunas de areia e as aves empoleiradas na única árvore existente no quintal daquela mansão. As luzes estavam acesas mas não havia nenhum sinal de alma viva. Poderiam ter seguido viagem na estrada principal, mas avistaram as luzes dessa casa e resolveram dobrar a esquina e verificar, pelo brilho das luzes, se seria alguma pousada.

      Ao passar a ponte e estacionar o carro sentiram um arrepio medonho. Como se alguma alma transpassasse seus corpos. O coração disparou e uma ventania esvoaçou seus cabelos. Stefânia não quis ficar sozinha no carro. Grudou no braço do marido e foram bater à porta. Ouviram um uivo vindo de dentro da casa. Se afastaram, mas a curiosidade era maior que o medo, então permaneceram imóveis com os olhos esbugalhados ao verem um cachorro da raça são bernardo abrir a porta. E ficou encarando os dois, como se esperasse dizer alguma coisa ou então entrar de vez.

      - Berti, quem é? - alguém se aproximava perguntando ao cachorro quem estava batendo na porta.

      Mustafá, um homem simples, baixo, magro, careca e que usava terno e pantufas.

      - Olá! O que desejam? - perguntou ao casal.

      Rubens e Stefânia, ainda boquiabertos, demoraram alguns segundos para responder ao senhor bizarro. Perguntaram se sabia de alguma pousada por ali. Mustafá disse que não, que não havia outra casa pelos arredores, mas se precisassem poderiam aceitar o convite e passarem a noite em sua casa. Rubens olhou para a mulher e entendeu que poderiam ficar aquela noite na casa misteriosa.

      Ao entrarem se espantaram ainda mais. O salão principal todo iluminado com refletores gigantes, uma mesa imensa ornada com hortênsias de todas as cores em seus vasos transparentes e gigantes, e em cada cadeira, uma mulher morena. No total oito mulheres morenas, todas iguais, como se fossem gêmeas. Precisavam da luz dos refletores para não perderem a cor da pele, explicou Mustafá.

      Rubens, mesmo com receio de perguntar o que significava aquela cena, cumprimentou-as, acenando com a cabeça. Elas não se moviam, nem piscavam. Inertes elas ficavam. Mustafá riu e explicou para o jovem casal que não se tratava de gente e sim de bonecos de cera. A imagem era a da sua bela Catarina que morrera fazia pouco tempo. Dez anos, mas parecia ontem, dizia, abaixando a cabeça e quase soltando uma lágrima. Se sentia tão solitário que resolveu aproveitar seu dom de esculpir e fez várias Catarinas para lhe fazer companhia.

      Chamou o casal e subiu a escadaria que levava aos quartos. Abriu porta por porta e em cada quarto uma Catarina dormia, exatamente como as do salão principal. E também os refletores para conservar a cor da pele. Oito quartos no total. Perguntou para Rubens se não se importariam de dormir na biblioteca, onde havia uns colchões e roupas de cama e banho. Não queria incomodar as Catarinas que repousavam tranquilas em seus quartos. Rubens concordou prontamente.

      Mustafá levou-os à biblioteca e qual não foi a surpresa quando viu que as paredes todas eram forradas com fotos de Catarina, exatamente como as bonecas de cera. A mesma posição, o mesmo olhar, tudo exatamente igual. Rubens olhou para a mulher e riu, olhando a sua volta um pouco assustado.

      - Esse cara é louco! Ou muito apaixonado...

      Stefânia não respondeu, mas disse que se programassem uma lua de mel bizarra não teriam conseguido. Achava tudo medonho, mas ficara encantada por aquela casa que, para começar, ficava logo após a ponte atrapalhando a passagem para a continuação da estrada. Depois, várias Catarinas espalhadas pela casa. Só faltava achar alguma passagem secreta e descobrir algum sarcófago da amada. Rubens olhou para a mulher e caiu na risada.

      É claro que não conseguiram pregar os olhos durante a noite com tantas Catarinas encarando-os. Mas já teriam uma história fabulosa para contar para os sobrinhos, filhos, netos, bisnetos e quem sabe um escrito em capa dura, com letras góticas desenhadas com pena e nanquim, guardado a sete chaves, numa passagem secreta jamais descoberta enquanto estivessem vivos. Talvez enterrassem o livro capa dura na parede e deixariam escondido no sótão o mapa para achar o tesouro. Quando tudo isso acontecesse já estariam mortos, talvez junto de Catarina...

      Fim.

   

11 comentários:

  1. Oi Clara!
    Adorei sua história. No início, pensamos que algo de ruim e tenebroso iria acontecer. Mas, ufa, logo veio o alívio de que nada aconteceu ao casal.
    Belo conto e parabéns pela imaginação!
    Um abraço!

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  2. A paixão é assim, transpassa o tempo, transforma-se em bonecos de cera e fotos pelo quarto! linda história, envolvente! abraços

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  3. Puxa, que linda história criaste! Vai guardando pra um livro, o teu que faria sucesso! Escreves muito bem sempre, em qualquer gênero. beijos,chica

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  4. Muito boa mesmo fiquei empolgada em ler até o fim uma imaginação e tanto.

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  5. Estou encantada com o conto, com certeza não faltaria historia para contarem e que homem obcecado não rsrs parabéns!!!!

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  6. Sempre arrasando, né Clara?
    Eu não passaria a minha lua de mel numa casa dessas, nem morta...rs
    Parabéns pela participação!
    Um beijão de
    Verena e Bichinhos

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  7. Olá,

    Gostei muito da sua história, com certeza foi uma lua de mel dessas jamais será esquecida, rs

    Abçs

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  8. Que lua de mel hemm rsrs, parabéns pelo conto, ha o amor , faz o ser humano fazer loucuras.

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  9. Clara você arrasou nessa história. Gostei demais de tudo! Parabéns! Bjs

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  10. Achei a historia perfeita parecia filme, meus parabéns!!

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  11. Meus queridos, muito obrigada pelos gentis comentários!
    Me alegra tê-los por aqui sempre.
    Boa noite, beijos!

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