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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Linhas Tortas


      "Hoje vou te buscar", disse Henrique, num telefonema rápido para Luiza, "E não tenho horas para te devolver", brincou, fazendo com que Luiza desse um sorriso e o coração acelerasse.

      Na hora combinada ele estava lá, com o mesmo sorriso canalha de sempre, dizendo com os olhos que a noite prometia... Uma noite que sol nenhum iria interromper. Luiza gostava disso e concordava. Não precisavam dizer palavras... Olhares se encontravam e corpos se reconheciam, como uma segunda pele, arrepiando a cada toque... Bocas se achavam e se fartavam num terno beijo molhado, intenso depois de alguns segundos à medida em que as mãos exploravam um ao outro.

      Alguns minutos e já estavam despidos. Luiza deitava e Henrique por cima enchendo-a de beijos, de toques sutis, até se encaixarem e se perderem na noite... Sem horas para se devolverem ao mundo real...

      Mas o mundo real, teimoso e cruel, bateu à porta e os separou. Hora do príncipe montar em seu cavalo e da princesa voltar para a torre do castelo.

      Se perderam no caminho de volta e outras bocas encontraram. Outros arrepios, outros toques, outras vidas...

      Com remorso de tanta crueldade o mundo real conspirou e fez com que Henrique e Luiza se reencontrassem. Os olhos se reconheceram, a pele arrepiou, as bocas secaram esperando uma gota de vida uma da outra... Mas muito tempo havia se passado e nada mais sabiam um do outro. Os olhos contavam tudo mas a boca se calou... O coração batia acelerado e mesmo assim um não ouviu o outro. Luiza estava doente, por falta de amor, e Henrique estava com a outra que ele encontrara pelo caminho perdido...

      Se despediram e se foram, cada um para sua vida, levando aquele olhar e as lembranças da melhor noite que já tiveram... Passado...

      Luiza, por querer o bem, fugia de Henrique quando sentia sua presença em algum lugar, por medo de não resistir àquele olhar que tudo contava, mas que estava com outra pele ao lado. Fugia e seus pensamentos ficavam...

      Inconformado, o mundo real conspirou mais uma vez e fez os olhos se reencontrarem... Luiza, radiante, não mais sofria por falta de amor... Queria vida, queria continuar vivendo a partir daquele dia, daquela noite eterna... Henrique não estava pronto. Fazia que ia e não ia... Medo... O passado estava longe e mesmo assim parecia tão perto... Ontem mesmo se perdeu nos braços de Luiza. Será que os braços seriam os mesmos? E essa boca do meu lado, quem irá beijar a não ser a minha? Dúvidas...

      Luiza esperava, mas sabia que o passado não voltaria... Estava muito distante... Tantas águas rolaram, tantas noites infinitas já amanheceram e aquela noite eterna nem era tão eterna assim.

      Se não era para ser por que os olhos se reencontraram? E por que as bocas continuaram secas, sedentas uma pela outra? E por que o medo dos corpos se tocarem e não conseguirem mais se separar venceu a vontade de voltarem no tempo?

      Não era para ser...

      Luiza, não querendo mais saber de carruagem, caminhou sem olhar para trás, levando consigo por toda a vida, aquela eterna noite que ainda não amanheceu.

      Henrique... Não era para ser...

      Fim.

9 comentários:

  1. Lindo conto, triste fim...Não era pra ser!! bjs praianos,chica

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    1. Triste e comum nos dias de hoje... infelizmente, Chica!
      Beijos, gaúcha!

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  2. Uma pena eles terem deixado passar o momento, ele numa época e ela em outra.

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  3. Que lindo texto.
    Alias tudo aqui é belo.
    Linda semana.
    Bjins
    Catiaho Alc.

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  4. Belo texto, amiga!
    Como sempre gosto do que escreve, querida!
    Mas é triste, parece-me entretanto, que esta história se repete e muito na vida.
    Realmente eu não entendo desse sofrer.
    Nada desses olhares
    O que eu não quis, se foi e foi bem feito!
    Que nunca volte!
    Mas sei e sinto, que já vivenciei e muito em outras vidas!
    Por que?
    Porque me traz uma tristeza enorme ler tudo isso!
    Beijos.
    Uma semana iluminada!

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    1. É mainha, sua sensibilidade não falha nunca!
      É triste mesmo, mas não podemos ir contra os fatos reais. É a vida e suas linhas tortas.
      Beijos!!!

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  5. Muitas vezes não é mesmo para ser e o quanto antes se percebe isso, mais chances se tem de viver o que a vida reserva mais adiante.
    Adorei saber que vc tb faz crochê! Tb não tenho muito tempo, mas vou fazendo uns quadrados... podem virar uma colcha, uma mantinha.... ou uma almofada... rs.
    Obrigada pela força lá no minas!
    Abraço!

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