Martha Medeiros nos conta uma experiência fascinante nesta crônica.
Claro que não lida todo dia com esse monte de crianças.
Aí não seria fascinante mas atordoante!
Sabor de Arco-Íris
O assunto em pauta é literatura.
Semana do livro, Bienal do livro, lançamento de livros.
Aleluia!
Um dia a turma que não lê vai descobrir o que está perdendo.
Pois entre tantos eventos para incentivar a leitura, fui convidada a participar de uma que me deixou ligeiramente aflita: conversar com alunos de um maternal.
Eu já havia estado no colégio Anchieta conversando com a turma da minha filha mais velha, que tem 10 anos.
Agora o convite era para falar com a turma da minha filha mais nova, de 5, no Amiguinhos da Praça.
Fiquei imaginando como seria ficar cercada por um monte de baixinhos que mal sabem escrever o próprio nome.
Que perguntas fariam? Quantos segundos levaria para eles perderem o interesse nas minhas respostas?
Perigo: crianças!
Mas não amarelei. Chegando lá, sentei no chão, numa rodinha. Vários pares de olhinhos me examinavam. Não saí correndo. A tia perguntou se alguém queria fazer uma pergunta. Oba, vou ganhar tempo até um deles criar coragem, pensei. Todos levantaram o dedo. To-dos!
A partir daí foi uma festa. Passei meia hora na Terra do Nunca, bombardeada por um afeto e uma espontaneidade que me tornaram consciente de tudo o que a gente perde quando vira adulto.
Alguém perguntou se era verdade mesmo que o papel vinha da árvore. Se eu já tinha escrito um livro sobre dinossauros. Como é que eu fazia para dormir depois de ler uma história de terror.
Se era eu mesma que juntava as páginas para montar o livro. De onde vem a palavra certa. Por que meus livros não têm desenhos. Se dava para jogar futebol e ser escritor ao mesmo tempo. Qual o chiclete que eu mais gostava. Tu conhece a Disney? Meu pai é engenheiro. Meu pai não tem emprego. Minha mãe te adora. A minha faz macramê. Eu gosto de livro de amor e livro de monstro. Tenho 2 irmãos. Eu, 2 pais.
Ainda durante aquela tarde, ouvi minha filha dizer que pirulito tem sabor de arco-íris. E um menino, malandro, me perguntou o que eu queria ser quando crescesse. E eu lá quero crescer?
(Martha Medeiros em "Montanha Russa")
Recebi esse texto por email do amigo Roberto. Compartilho com vocês um pouco da ingenuidade e a inocência que perdemos tão rapidamente e nos esquecemos com o passar do tempo. Pena!
Adoro Martha e gostei de tuas palavras bem colocadas! beijos,chica
ResponderExcluirEla é um espetáculo! Tem uma sensibilidade em ver as coisas que nos encanta.
ExcluirBeijos
Que delícia esta crônica que você nos trouxe!
ResponderExcluirpirulito com sabor de arco-íris.
Mas você bem colocou que a rotina dela não é esta!
Fico com este sabor da infância, tempo de ingenuidades. Beijo!
Adoro essas tiradas das crianças...
ExcluirTão ingênuas, doces, dóceis, autênticas... e perdemos isso com o tempo. Pena.
Beijos