sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A Saúde Pública


Pegando carona nessa polêmica dos médicos cubanos, precisei dos serviços do SUS. Mas não é dos médicos cubanos que quero falar, é do SUS.

Tive que consultar um especialista e o tempo que marquei até o dia da consulta demorou um pouco mais de um mês. É muito tempo sim, se fosse de urgência, mas dava para esperar.

A consulta seria as oito horas. Cheguei antes e mesmo assim tive que esperar três horas para ser atendida. Mas não reclamo. Fui muito bem atendida, médico atencioso e gentil.

Mas antes disso fiquei observando tudo, como sempre faço quando vou a lugares públicos. Por que quando é público o ambiente tem que ser feio? Por que vai muita gente? Não digo de sujeira pois estava limpo, mas de feio de mal feito. Piso feito no "tapa", como se não fizessem questão de capricho, paredes mal cuidadas que mesmo pintadas e não sujas, não melha a aparência. Por que a Prefeitura, Câmara e outros órgãos públicos o ambiente é bem diferente? Até ar condicionado tem! Plantas bem cuidadas, quadros, atendentes uniformizados e com crachá, tudo perfeito! Mas quando se trata de órgão público para a saúde, é um caos. Como é por aí, queridos leitores? Só eu tenho essa impressão? Isso é só um detalhe, eu sei, o que importa é o atendimento.

Aqui na minha cidade, pelo menos no dia em que fui, estava tudo organizado, tudo nos lugares, vária lixeiras espalhadas, placas indicativas padronizadas, cadeiras uniformes, enfim, um lugar arrumado.

Sempre nesses lugares o assunto em todos os cantos é sobre doenças. Eu passo mal de ouvir pessoas comentando sobre doenças, feridas, mortes... Não consigo ficar perto. Nesse dia em que fui comentavam sobre tudo e eu só observando. Sinceramente e não é chatice minha, não gosto de bater papo nesses lugares, nem em fila de nenhum lugar. Não tenho paciência. Gosto de ficar quieta no meu canto até ser atendida e ir embora. Não sei explicar, mas sempre fui assim.

E como o povo sofre, não é? Esse povo humilde que depende da saúde pública e de remédios gratuitos. Cada um com sua dor, sua receita na mão, esperançoso de aguentar mais um mês de vida ou até quando Deus quiser.

Gente muito simples, que no frio, vestem muitas blusas, uma calça de tecido fino e chinelo de dedo, mostrando aqueles pés calejados ou até com feridas, inchados, não importa como estão, estão lá porque precisam de ajuda.

Eu, graças a Deus, raramente fico doente e todas as vezes fui bem atendida quando precisei.

Estava sentada e um senhor cego foi chegando com sua bengalinha, não aquelas para deficientes, mas bengala comum, perguntando para quem quisesse responder se havia alguém à sua frente e continuava seu percurso. Nos braços uma sacola e um monte de panos de prato, que ele entrara ali para vender. Um real cada. Quem comprava dava a moeda, ele a colocava no bolso da camisa que ficava escondido debaixo de uma blusa de lã bem surrada e faltando botões. Ele pedia para a pessoa escolher o pano de prato e depois continuava seu percurso. Depois saiu agradecendo todo mundo, quem comprou e quem não comprou. É a vida de gente simples.

E tantos idosos nessas filas que ficam perdidos não sabendo onde é a "moça" que irá resolver seus problemas! E nesse dia vi boa educação e boa vontade dos atendentes. E paciência para quem esperava. Lidar com idosos não é fácil, não é para qualquer um e eles têm dificuldades com tudo. Às vezes não basta uma explicação, às vezes alguém tem que levá-los até o local certo, às vezes não ouvem direito, às vezes não enxergam ou não sabem ler e por isso perguntam muitas vezes a mesma coisa, às vezes vão sozinhos para consultar, saem de lá com várias receitas e ficam em uma outra fila para pegar remédios gratuitos, às vezes ainda têm esperanças de viver mais um tiquinho e quem sabe a saúde melhorar e não precisar mais depender da boa vontade de todos. Difícil, não é?

Esse dia me fez refletir muito sobre tudo, sobre a vida, sobre a minha vida e sobre como será daqui para frente. Me cuidar, me cuidar, me cuidar... Sempre! Principalmente a mente, o bom humor, a leveza em conduzir a vida.

Um ótimo fim de semana para todos!




6 comentários:

  1. Quando entramos nesses lugares com olhos de ver, percebemos tantas coisas... Lindo texto e temos mesmo que nos cuidar! bjs
    chica

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  2. Eu desejo que as pessoas encontrem médicos como o que te atendeu, com atenção, gentileza.
    A saúde de nosso país precisa ser cuidada e precisa muito além dos médicos cubanos.
    Saúde para você! Um bom final de semana.

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  3. Muito bonito e verdadeiro o seu texto, Clara
    Ainda bem que você foi bem atendida
    Um abençoado final de semana para tí
    Beijos de
    Verena e Bichinhos

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  4. Oi, Clara!
    A última vez que fui em um posto de saúde foi para tomar a vacina anti-tetânica e não sei pessoalmente como é o atendimento médico por aqui. Sei por terceiros e o que sei não é nada bom. As pessoas precisam acordar de madrugada para pegar lugar na fila para pegar uma ficha pois existe um número de fichas para serem distribuídas no dia. Se passa do número, o resto é dispensado. Depois você tem que pegar uma outra fila para marcação da consulta. Essa pode demorar no mínimo 3 meses. Médico particular não fica muito atrás. Fui marcar uma primeira consulta com um médico e ele só tinha vaga depois de quase 40 dias. Depois ele me pediu um exame que na hora de marcar, só teriam vaga quase um mês depois e que eu voltei nele depois do exame feito, demorou quase 10 dias. Então, nessa brincadeira não emergencial, custou-me 60 dias. Se eu tivesse tido um piripaque e chegado as vias de fato? Ainda bem que era só uma taquicardia...
    Uma amiga teve crise de pressão alta, corri para a emergência com ela. Tinha um médico plantonista para atender a todas as especialidades e fomos atendidos por uma enfermeira. Não vimos a cara do médico. Ficamos no hospital das 22hs às 6hs do outro dia.
    Essa semana fui no cemitério saber como é o procedimento para ter uma vaguinha lá. Não tem vaga. Acho que é por isso que aumentaram os casos de cremação.
    Beijus,

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  5. Oi Clara!

    Recentemente a secretária da minha vizinha passou por uma cirurgia de emergência. Antes da cirurgia foi atendida na UPA efoi bem atendida. Medico atencioso, resultados de exames sirvam logo. Mas quando foi encaminhada para o hospital foi quecomeçou o desespero. Não por conta de atendimento. Mas a estrutura não suporta tanta gente.
    Pessoas vindo do interior do estado, falta de leitos, gente demais. Os enfermeiros e técnicos de enfermagem faziam o que podiam. Trabalhar com restrições é complicado. Os médicos atendiam como podiam. Mas complicado dividir-se entre tantos doentes. Por falta de leito ela passou a noite no bloco cirúrgico, na estreita mesa de cirurgia com toda aquela parafernalha em volta, mas uma enfermeira prestou assistência o tempo inteiro.

    Teu texto é bem reflexivo. Devemos cuidar mais da gente já pensando na velhice porque de verdade a gente não sabe o dia de amanhã e nem se vai precisar do SUS.

    Beijos!

    Selma

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  6. Clara, texto espetacular.
    As coisas não estão indo bem nem mesmo nos planos pagos...o meu já foi bom, hoje em dia também carece de falta de médicos e superlotação de hospitais. Imagino quem precisa do SUS...
    Não consigo entender esse parâmetro de urgência ou não, né, nem sempre dá para esperar um mês pela consulta.
    Fiquei pensando no senhor cego que citou e me emocionei com sua humildade em trabalhar e agradecer a todos...é que ando sensível com as simplicidades da vida.
    A paciência que os idosos tiveram que ter em uma vida merecem t~e-la de vola em gestos alheios.
    A lição que tirou disso tudo é precisa: cuidar-de, sempre. Vou pensar em fazer isso comigo também.
    Um abraço!

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