Páginas

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

História do Lobisomem - O Começo de Tudo

Para quem leu esse post da querida Eliana Teixeira, aqui a continuação, ou o começo de tudo, como ela mesmo conta. Causos de fazenda...
 
      Quando Frei Leto apareceu para rezar a missa mensal na Fazenda Lagoa Grande estava todo mundo ansioso esperando sua chegada pra contar-lhe a história do Lobisomem, ou Curuzcredo, como muitos chamavam o bicho que Pai Chico matara na armadilha com as balas de prata no Winchester 44. Todos tinham ficado com medo e queriam que Frei Leto benzesse a fazenda e, especialmente, os lugares onde o bicho aparecera. Frei Leto, com paciência, sentou-se pra ouvir o caso. Ouviu a história aumentada muito mais vezes do que, de fato, acontecera – quem conta um conto aumenta um ponto. Dizia-se que o Frei tinha estudado o exorcismo e outros rituais envolvendo espíritos malignos em Roma. Falavam até que ele tinha um livro mágico, uma tal de “Chave de Salomão”. Mas o Frei nunca dissera nada disso. Era um homem bonachão e calado sobre si mesmo. O que dissera foi que o lobisomem é uma alma penada, alguém que tirou a própria vida. Por não ter sido enterrado o corpo em campo santo, a alma não fora encomendada a Deus e ficava a vagar pra pagar os seus pecados. Não vai pro inferno mas também não vai pro céu. Fica em sofrimento eterno, ou até que uma alma caridosa dê fim aos seus dias de penar através da bala de prata, e a criatura pode, finalmente, descansar.       
      Lembraram-se todos do vaqueiro Damião. Damião era uma criatura simples. Um dos melhores vaqueiros da fazenda, tinha sido criado dentro daquele território desde criança. Aprendera a lidar com os bichos ainda menino e parecia entendê-los mais que aos homens. Por não ter maldade no coração, Damião era sempre objeto de chacota da turma. Não sabia nada da vida e já adulto, enquanto os outros homens farreavam com bebida e mulher, Damião cuidava de plantas e bichos. Um dia Dalila, empregada da vizinhança, moça bonita que se deitava com todos os vaqueiros, se engraçou justo com Damião. Pensou, já que estava prenha e não sabia quem era o pai, daria o golpe no ingênuo do Damião. Damião também se envolveu com ela, como os outros vaqueiros. Mas vale sempre o ditado: galinha que acompanha pato morre afogada. Damião não tinha malícia pra entender as pretensões daquela mulher. Pois quando Damião caiu na rede, Dalila foi direto à patroa: - Tô prenha do Damião, sinhá! - Naquele tempo, os patrões tomavam decisões pra resolver também a vida pessoal de seus empregados. E a sinhá levou Dalila e Damião pra casar na delegacia. Damião ficou doido. Sabia que o filho não era seu e ainda virara motivo de escárnio de todos os vaqueiros das redondezas. Seus sonhos viraram pó. Damião foi se entristecendo, foi murchando, e quando todo mundo já tinha se esquecido da história, acharam Damião enforcado numa viga do paiol. 
      Damião teve que ser enterrado numa cova qualquer, sem os sacramentos, mas nunca ninguém pensou que dali ia sair um lobisomem. 
      Frei Leto disse que agora que sua alma estava descansando, já se podia rezar por ele. Fizeram uma cruz na beira de sua sepultura, o Frei rezou e encomendou sua alma. 
      Daquela noite em diante, todo mundo dormiu em paz. Mas que ficou todo mundo pensando, isso ficou:- É, mulher faz cada coisa com um homem. 
      Ah, e ainda querem saber de Dalila? Dalila foi-se embora. Dizem que virou mulher-dama lá pras bandas do Urucuia...
 
 

5 comentários:

  1. Muito bem Clara, um conto como se conta um conto e com um final perfeito.Assim que surgiu o lobisomem pelas redondezas.Ah,como me lembro deses contos na quaresma mineira e eu morria de medo.
    Um abraço e belo fim de semana.

    ResponderExcluir
  2. Nossa!! Essa pele é do lobisomem? Ah, eu li o outro conto e quase enjoei quando abriram o bicho! Olha, no youtube tem um vídeo de um lobisomem que encontraram no Uruguay e não dá para saber se é apenas uma história inventada ou verdadeira. O que muda é que o lobisomem do filme não anda em duas patas como um homem, mas sim em quatro patas como um animal mesmo. Se é lobo ou homem, tanto faz pois quando ferozes é o mesmo efeito!! Beijus,

    ResponderExcluir
  3. Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii Clara!

    Saudades!!! Fiquei emocionado ao rever as imagens do blog do Neo Charles, e achei graça da frase do início de seu blog, que diz que já é quase amanhã, mas eu vim!!!!

    Voltei pra ficar! Abraços!

    ResponderExcluir
  4. Olá Clara depois daquele belo conto lá no Recanto dos Autores tinha que vir te conhecer e adorei a tua casa, você escreve com magia, aquela magia que nos prende do inicio ao fim e no final fica o sabor de quero mais, parabéns, beijos Luconi

    ResponderExcluir
  5. Olá, Clara.
    Bem curioso este conto.
    É interessante como, dependendo da região do país, cada mito tem uma origem diferente.
    Abraço.

    ResponderExcluir

Olá, seja bem vindo e deixe seu comentário!

Eu os responderei por aqui mesmo ou por email, se achar necessário.

São muito bem-vindos, sempre!