sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Praia Grande


      Um dia, na minha adolescência, meu pai chegou do trabalho e disse:

      - Vamos pra Santos: Praia Grande; já comprei as passagens de excursão.

      Eu fiquei só olhando e prestando atenção nele conversando com minha mãe, que ficou especulando tudo, inclusive o hotel e a alimentação. Tínhamos uma vida simples e nem sempre podíamos ter regalias de esbanjar o que não podíamos. Mas fiquei feliz porque não conhecia o mar. Nem conseguia imaginar como seria a sua imensidão, o seu gosto salgado, as espumas das ondas, a areia quente e as barraquinhas com todas aquelas guloseimas que eu adoro.

      Demoraria dois meses para chegar o dia do passeio, e nesse tempo ficava tão ansiosa que nem dormia direito. Minha mãe, muito afobada, arrumou as malas um mês antes, com medo de esquecer alguma coisa. E esqueceu: o bronzeador! Naquele tempo, década de setenta, não usávamos protetor solar, então, nos besuntávamos com óleo de amêndoa com sementes de urucum ou aqueles bronzeadores do Paraguai, como o Rayto de Sol, bem vermelhão. A cor ficava linda, mas ardia como pimenta, nas costas, pelo queimado do sol. Depois apareciam as bolhas e depois descascava tudo! Mas as marcas do biquine permaneciam por longo tempo. O bronzeado da praia era diferente do que quando íamos ao clube. Era mais moreno, mais vermelho, mais quente... deve ser por causa do sol e do sal do mar.

      Depois de "décadas" de espera, finalmente chegou o dia! Malas prontas, lanche arrumado: pão com ovo frito e refrigerante de latinha. Simples, mas eu adorava. Entramos no ônibus, onde todos falavam muito alto, riam e bebiam... excursão tem sempre isso: música alta e bebida. Fiquei um pouco incomodada porque nunca estive num ambiente desse; mas gostei! Nunca havia feito uma viagem tão longa... aliás, não tinha ideia da quantidade de horas que ficaria dentro daquele ônibus. Mal dormimos durante a viagem, e chegamos de manhã, praticamente com o nascer do sol.

      O cheiro do mar já invadia minhas narinas; abri a janela, fechei os olhos e senti a brisa fresca vir de encontro ao meu rosto, trazendo junto aquela umidade salgada, diferente, inebriante do mar. E ao longe, aquele risco no horizonte, com espumas bem na beira formando as ondas, todo imenso, imponente, azul: o mar!

      Não me lembro de outra sensação a não ser arregalar os olhos, abrir a boca e admirar aquela imensidão criada pelo nosso Deus todo poderoso. Que lindo! E à medida que íamos nos aproximando, o som contínuo das ondas indo e vindo enchia meus ouvidos, como uma música calma e penetrante. Senti paz.

      Chegamos ao hotel, que na verdade era uma colônia de férias, com piscinas, salão de jogos, salão de refeições e salão de shows. Muito simples e aconchegante. Nos alojamos, nos trocamos e fomos direto colocar os pés pela primeira vez naquela imensidão azul.

      O primeiro toque dos pés descalços naquela areia fina, porém firme e esverdeada, foi uma sensação de liberdade, como se estivesse pisando num outro mundo que até então não conhecia, mas parecia um sonho, como se eu caminhasse no ar. Afundei os dedos para sentir um pouco mais, e minha cabeça sonhadora logo imaginou uma areia movediça dos filme de Tarzã, que assistia na sessão da tarde. Tentei afundar um pouco mais e não satisfeita, ajoelhei e cavuquei para ver como era um pouco mais fundo. Apareceram umas conchinhas... vivas! Fiquei encantada com aquele mundo submerso naquela areia de outro mundo. Meus pais me gritaram e continuei até a água. Será que era gelada e salgada? Sim! O primeiro  impacto da onda em minhas canelas, provocou um grito em mim e em minha mãe. Olhamos para baixo e ficamos zonzas com a onda indo e vindo... caminhamos um pouco mais, de mãos dadas, com medo de cairmos, até chegarmos com a água na cintura. E veio a onda e quase nos cobre. Meu pai morria de rir de nós, caipiras do interior, conhecendo a imensidão azul. Voltamos um pouco, com a água agora batendo nas coxas, de frente uma para a outra e de mãos dadas, ficamos pulando as ondas. Que maravilha!

      Ficamos na praia por três dias, sapecamos, ardemos, as bolhas vieram, descascamos, mas nos divertimos muito. E os próximos anos, voltamos também, agora mais familiarizadas com o local, com a areia que agora era nossa íntima conhecida, com as espumas brancas das ondas, e com aquela imensidão azul, que os olhos perdiam no horizonte, de tão longe que seria o outro lado do mar. O que será que tinha do outro lado daquele mar? Não perguntei, não procurei saber. Apenas ficava imaginando, sem querer saber a resposta, pois como o mistério da imensidão azul, queria ter essa sensação de cada vez que voltasse para Praia Grande, imaginar um final do horizonte de um outro jeito.

      E olhando aquele azul profundo, que escurecia na medida em que ia se aproximando do horizonte, onde os olhos alcançavam, que eu sentia o poder de Deus, o poder da natureza, a beleza de planeta em que vivemos.

Um ótimo fim de semana para todos!!! Ótimo feriado!!!


7 comentários:

  1. Linda emoção ao ver o mar.É sempre um encanto conhecer o mar,está no mar.Navegar e viajar pelo mar,ponto de inumeras inspirações,seja pela manhã, no pôr do Sol ou mesmo pela noite de luz,onde ele se espelha.
    Belas lembranças Clara.
    Viver é este estar das imaginações.
    Carinhoso abraço amiga.

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  2. Minha querida! Fiquei encantada te lendo... que lindoooooooo! Que descrição perfeita e cheia de detalhes, parece até que pude ver cada cena, amei mil vezes! ;)
    Beijo, beijo querida!
    She

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  3. Olá Clara adorei sua visita,e seu comentário.
    Volte sempre beijos.

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  4. Que texto lindo e doce, Clara, apesar do salgado do mar! "Viajei" com você!
    Bom feriado!

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  5. Lindo e o mar nos encanta , energiza e emociona!! beijos,ótimo feriado!chica

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  6. Também lembro da primeira vez que vi o mar. Foi encantamento total! Tanto que prometi um dia morar no mar. É, infantilmente eu não me contentava de morar próximo ao mar. Atualmente a minha vida é totalmente ligada ao mar.
    Esse tipo de lembrança fica para sempre, ainda mais quando é de felicidade compartilhada!!
    Bom feriado!! Beijus,

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  7. que passeio imaginário voce me proporcionou agora. muito bom. obrigado. meu primeiro contato com omar também foi em escursão. sai de americana para a praia grande. e hoje fico a imaginar que meus filhos quando querem estão bem perto, descemos para almoçar, brincar e voltamos. tudo tao diferente. muito bom. abraços clareados - lamarque

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