quinta-feira, 12 de julho de 2012

Estou aqui! - Parte IV

Continuação...

      Sônia, chegando em casa, encontrou o marido deitado no sofá, assistindo TV, mas com o olhar perdido e se lhe perguntasse o que estava passando, com certeza não saberia dizer. André brincava no quarto.

      Sentou na beirada do sofá e começou a contar como foi a consulta com a psicóloga, mas Mateus permaneceu como estava: imóvel, e apenas acenava com a cabeça. Ela lhe deu um beijo na testa e foi ver André.

      Andou pé ante pé para que o filho não percebesse sua presença, e mais uma vez o pegou falando com o amigo imaginário, mas chamando-o por Tiago. Não se assustou e continuou quieta, atrás da porta e ouviu do filho:

      - Cadê aquelas figurinhas que você tem? - e ficou em silêncio.

      - Mãe, mãe.... - se levantou, assustando a mãe, que disfarçou para que o pequeno não desconfiasse que ela estava atrás da porta.

      - Pega aquela caixa amarela, que tá em cima do guarda-roupa? - perguntou o pequeno.

      - O que tem lá, filho? - perguntou, só para ver onde essa conversa iria.

      - Tem as figurinhas do Tiago! Pega pra mim? - falou afobado para a mãe, apontando para a caixa amarela.

      Sônia gelou, porque realmente as figurinhas e mais alguns brinquedos estavam na caixa amarela. Ela guardou em cima do guarda-roupas porque sabia que as figurinhas e aqueles brinquedos eram os preferidos do filho morto.

      - Quem te disse que as figurinhas estão lá dentro? - perguntou ao pequeno.

      - O Tiago, ué! Pega lá, mãe, ele falou pra você pegar! - falou muito aflito apontando mais uma vez para a caixa.

      Sônia pegou a caixa, se abaixou e antes de entregá-la ao filho, perguntou onde estava Tiago. André apontou o dedo e mostrou, logo ali à sua frente. Ela olhou e claro que nada viu, e perguntou como ele estava, e se ele estava vendo-a. Ele olhou para o rumo onde havia apontado o dedo e fez um sinal afirmativo para a mãe. Sônia pediu para que André perguntasse se ele estava bem e com quem estava. André olhou, flexionou a cabeça para o lado, como se estivesse prestando atenção na suposta resposta do irmão e disse que ele estava bem e que estava junto com a bisavó Sofia, que estava cuidando dele agora. Sônia arrepiou e caiu sentada, deixando a caixa cair, espalhando tudo o que estava dentro, no chão.

      André começou a rir do tombo da mãe e olhava para o lugar onde supostamente estava o irmão e até dobrava o corpo para gargalhar. Sônia, trêmula, não conseguia se levantar e nem chamar pelo marido. Então, respirou fundo, fechou os olhos, fez uma oração e ficou ali para ver o filho brincar.

      Aos poucos, ficou mais calma e até se divertia com as brincadeiras do filho. Depois de um tempo se levantou e mais uma vez foi falar com o esposo que ainda estava deitado no sofá. Contou tudo o que ouviu e  mesmo assim o esposo não lhe deu confiança na conversa, dizendo que tudo isso não passava de alucinação.

      Inconformada, Sônia foi procurar umas fotos antigas e viu uma com a família de sua avó que já era falecida há mais de trinta anos. Voltou para o quarto onde estava o filho, se sentou no chão e pediu para que André perguntasse ao irmão se ele sabia dizer qual era a bisavó que estava com ele. Alguns segundos depois, André colocou o dedinho em cima da figura da bisavó Sofia. Ela não se conteve, levou a mão à boca e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Sim, era Tiago e sua avó, bisavó dos meninos que estava por ali. Um fio de esperança lhe invadiu a alma, pois sabia que apesar de toda aquela tragédia, seu filho estava bem e amparado pela bisavó.

      Mas ainda não era suficiente para lhe calar o coração; precisava de mais informação sobre aquela tragédia que fez com que toda a família também morresse junto com o filho Tiago. Não pensou duas vezes e foi pesquisar onde havia um centro espírita. Pela lista telefônica, anotou o endereço e se programou para ir no outro dia, no horário em que seu marido estivesse em casa para poder ficar com André. Não conseguiu dormir à noite, e algumas vezes se levantou e foi até a cama de Tiago, para cheirar e abraçar seu travesseiro.

Continua...

4 comentários:

  1. Clara, bom dia
    Maravilhoso sempre vir aqui e ler cada episódio dessa linda história.

    Bjos e boa quinta,Sheyla.

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  2. Oi Clara!
    Está ficando acda vez mais instigante, que maravilha!
    Beijinhos!

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  3. Vamos acompanhando e querendo ver o que a mãe dos meninos ainda nao conseguiu enxergar.
    A cena é bem detalhada por voce, Clara.
    depende dos olhares

    beijos
    Zizi

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  4. Clara

    Teu conto está lindo.Bem escrito. Estou curiosa para ver o desfecho.
    Um lindo dia para você.
    Bjs

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