Continuação...
Sônia, chegando em casa, encontrou o marido deitado no sofá, assistindo TV, mas com o olhar perdido e se lhe perguntasse o que estava passando, com certeza não saberia dizer. André brincava no quarto.
Sentou na beirada do sofá e começou a contar como foi a consulta com a psicóloga, mas Mateus permaneceu como estava: imóvel, e apenas acenava com a cabeça. Ela lhe deu um beijo na testa e foi ver André.
Andou pé ante pé para que o filho não percebesse sua presença, e mais uma vez o pegou falando com o amigo imaginário, mas chamando-o por Tiago. Não se assustou e continuou quieta, atrás da porta e ouviu do filho:
- Cadê aquelas figurinhas que você tem? - e ficou em silêncio.
- Mãe, mãe.... - se levantou, assustando a mãe, que disfarçou para que o pequeno não desconfiasse que ela estava atrás da porta.
- Pega aquela caixa amarela, que tá em cima do guarda-roupa? - perguntou o pequeno.
- O que tem lá, filho? - perguntou, só para ver onde essa conversa iria.
- Tem as figurinhas do Tiago! Pega pra mim? - falou afobado para a mãe, apontando para a caixa amarela.
Sônia gelou, porque realmente as figurinhas e mais alguns brinquedos estavam na caixa amarela. Ela guardou em cima do guarda-roupas porque sabia que as figurinhas e aqueles brinquedos eram os preferidos do filho morto.
- Quem te disse que as figurinhas estão lá dentro? - perguntou ao pequeno.
- O Tiago, ué! Pega lá, mãe, ele falou pra você pegar! - falou muito aflito apontando mais uma vez para a caixa.
Sônia pegou a caixa, se abaixou e antes de entregá-la ao filho, perguntou onde estava Tiago. André apontou o dedo e mostrou, logo ali à sua frente. Ela olhou e claro que nada viu, e perguntou como ele estava, e se ele estava vendo-a. Ele olhou para o rumo onde havia apontado o dedo e fez um sinal afirmativo para a mãe. Sônia pediu para que André perguntasse se ele estava bem e com quem estava. André olhou, flexionou a cabeça para o lado, como se estivesse prestando atenção na suposta resposta do irmão e disse que ele estava bem e que estava junto com a bisavó Sofia, que estava cuidando dele agora. Sônia arrepiou e caiu sentada, deixando a caixa cair, espalhando tudo o que estava dentro, no chão.
André começou a rir do tombo da mãe e olhava para o lugar onde supostamente estava o irmão e até dobrava o corpo para gargalhar. Sônia, trêmula, não conseguia se levantar e nem chamar pelo marido. Então, respirou fundo, fechou os olhos, fez uma oração e ficou ali para ver o filho brincar.
Aos poucos, ficou mais calma e até se divertia com as brincadeiras do filho. Depois de um tempo se levantou e mais uma vez foi falar com o esposo que ainda estava deitado no sofá. Contou tudo o que ouviu e mesmo assim o esposo não lhe deu confiança na conversa, dizendo que tudo isso não passava de alucinação.
Inconformada, Sônia foi procurar umas fotos antigas e viu uma com a família de sua avó que já era falecida há mais de trinta anos. Voltou para o quarto onde estava o filho, se sentou no chão e pediu para que André perguntasse ao irmão se ele sabia dizer qual era a bisavó que estava com ele. Alguns segundos depois, André colocou o dedinho em cima da figura da bisavó Sofia. Ela não se conteve, levou a mão à boca e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Sim, era Tiago e sua avó, bisavó dos meninos que estava por ali. Um fio de esperança lhe invadiu a alma, pois sabia que apesar de toda aquela tragédia, seu filho estava bem e amparado pela bisavó.
Mas ainda não era suficiente para lhe calar o coração; precisava de mais informação sobre aquela tragédia que fez com que toda a família também morresse junto com o filho Tiago. Não pensou duas vezes e foi pesquisar onde havia um centro espírita. Pela lista telefônica, anotou o endereço e se programou para ir no outro dia, no horário em que seu marido estivesse em casa para poder ficar com André. Não conseguiu dormir à noite, e algumas vezes se levantou e foi até a cama de Tiago, para cheirar e abraçar seu travesseiro.
Continua...
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Estou aqui! - Parte IV
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Escrevo sobre a vida e os momentos específicos emocionais.
Assuntos relacionados sobre a mente humana e como conviver com o outro sem a necessidade de mudá-lo.
O conhecimento é primeiro processo de cura.
Sente algum desconforto em seu relacionamento? Vamos conversar?
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Clara, bom dia
ResponderExcluirMaravilhoso sempre vir aqui e ler cada episódio dessa linda história.
Bjos e boa quinta,Sheyla.
Oi Clara!
ResponderExcluirEstá ficando acda vez mais instigante, que maravilha!
Beijinhos!
Vamos acompanhando e querendo ver o que a mãe dos meninos ainda nao conseguiu enxergar.
ResponderExcluirA cena é bem detalhada por voce, Clara.
depende dos olhares
beijos
Zizi
Clara
ResponderExcluirTeu conto está lindo.Bem escrito. Estou curiosa para ver o desfecho.
Um lindo dia para você.
Bjs