Elias acordou mas demorou muito pra abrir os olhos. Estavam pesados... Pareciam grudados. Enfim conseguiu abri-los. Uma luz forte o impedia de decifrar o que via.
Não conseguia se mexer, nem falar, e parecia que não respirava.
Fechou os olhos novamente e esperou. Sentiu alguém lhe tocar os ombros.
Abriu os olhos e a luz já havia sumido, apenas o azul do céu e a pessoa que não conhecia ali na sua frente.
Levantou a cabeça, tentou perguntar algo mas não conseguia soltar a voz. Estranho, mas ouviu em sua mente o que a pessoa lhe dizia:
- Como vai, Elias? Como se sente?
E ele na ânsia de responder mas sem conseguir, pensou na resposta:
- Que lugar é esse?
- É um lugar pra se recuperar...
- Recuperar de quê?
- Calma, Elias, tudo bem... Tudo já passou, fique tranquilo e relaxe.
Deitou novamente e não conseguia pensar em nada. Fechou os olhos e fez um esforço pra lembrar de sua última ação... E de como chegara até aquele lugar.
- Quem me trouxe aqui?
- Você veio sozinho, Elias.
- Onde está minha filha? Que rumo é a minha casa? Onde estão as compras que fiz no mercado?
- Calma, Elias, o Morbackt já vem conversar com você.
Tornou a deitar e lampejos de memória começaram a vir... Viu sua filha, seus netos, o cachorro e seu quarto.
Se levantou novamente e sentou na cama. Notou algo diferente... Estava com outra aparência... Mais moço, enxergando bem, ouvindo bem - apesar de não conseguir soltar a voz.
Se lembrou que saiu pra ir ao mercado perto de casa e que foi atravessar a rua e apagou... Não se lembrava de mais nada.
- Que lugar é esse? É hospital?
Chega Morbackt e se senta ao seu lado, na cama:
- Elias, você sofreu um atropelamento quando foi atravessar a rua. Não resistiu e veio pra cá.
- Não resisti? Como assim não resisti? Não resisti de quê?
- Você fez a passagem pra uma outra dimensão. Agora sua casa é aqui. Vai estudar, ajudar quem precisa, evoluir e daqui a um bom tempo se tornar espírito de luz.
- O quê?
Morbackt repetiu tudo, colocou a mão na cabeça de Elias e o fez lembrar de tudo, inclusive do acidente.
- Eu morri? Nããããão, eu não posso morrer... Tem minha família me esperando!
- Tentou caminhar mas não conseguiu. Tentou gritar mas a voz não saía. Chorou. Chorou feito criança quando cai e faz um machucado.
Nesse instante sua vida terrena lhe passava como um filme pela cabeça... Os parentes todos... As suas coisas, a sua casa... A sua filha... A viu chorando muito.
Sentiu angústia...
- Vamos, Elias, é hora de irmos.
- Onde?
Num piscar de olhos lá estava Elias e Morbackt no velório... No velório de Elias!
- Eu morri mesmo? Quanta gente! E eu lá no caixão! É... Até que fiquei bonitinho.
Cada pessoa que Elias olhava, visualizava tudo que a pessoa tinha lhe feito enquanto vivo... De bom e de ruim... Todos, todos...
Ouvia o comentário de vizinhos dizendo que:
- Coitado, já tava velho, 92 anos, mal conseguia andar, não enxergava bem, não ouvia direito e as filhas nem pra tomar conta dele... Sempre ele ia atravessar a avenida... Deu no que deu, coitado, descansou!
E isso era verdade, a família o tratava com puro descaso, sem se importar com seu bem estar. Apenas convivia com ele, mais nada!
- Pelo menos ele morreu sem sofrer numa cama de hospital... Nem viu como foi... descansou... Foi sem sofrer... Imagine quem ia cuidar dele doente? Ninguém!
Às vezes ria, outras chorava, outras sentia um ódio a ponto de querer sair no braço com a pessoa.Traições, mentiras, fingimentos, roubos, descaso, fofoca... Tudo ele via em todo mundo.
Chegou a hora de fechar o caixão e Elias ser enterrado. Pranto, desespero, choro por parte das pessoas e Elias ali vendo tudo e até se divertindo.
- Não quero ir... Vou ficar!
- Não pode... Mas você também tem o livre arbítrio de fazer o que achar melhor. Se ficar vai fazer sofrer sua família e você não evoluirá... Ficará preso à matéria... E com o tempo só verá escuridão e ficará à mercê do mal, dos outros espíritos não evoluídos.
- Vou ficar! Eu tenho que tomar conta de minhas coisas... Vão dar minhas coisas... Vão mexer no meu dinheiro... Não vou!
Morbackt lhe tocou a cabeça novamente e o colocou na cama, naquele primeiro lugar onde estava.
- Como me trouxe pra cá? Quero voltar...
- Primeiro você vai se recuperar, depois você decide o que fazer.
E assim foi feito.
Deixo o final em aberto pra quem quiser imaginar o que acontece depois.
Clara,
ResponderExcluirEle escolherá permanecer na outra dimensão.
Esse tipo de história me sensibiliza muito!!!
Girassóis nos seus dias.
Beijos
Celina, eu gosto e tenho muita curiosidade sobre o assunto. Nos conforta saber que tudo não acaba na morte. Isso não me entra na cabeça.
ResponderExcluirEu me sensibilizo muito com isso tbm.
Beijos estalados!!!
Ele vai virar cronista e as publicará em blog. O título do blog? Coisas pra fazer depois de morto!
ResponderExcluirAhahahah.
Boa semana Clara!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirAh Neo, só vc mesmo.... adorei!!!
E nós vamos ser seguidores do blog, até chegar nossa hora!!!!
Beijos... boa semana!