sexta-feira, 27 de maio de 2011

Retorno



Hoje foi dia de retorno ao médico pra levar os exames. Já tinha olhado e tava tudo normal. Engraçado que tem gente que tem medo de abrir os exames em casa... Ficam com medo do médico achar ruim... Mas se está no seu nome, você pode abrir. E eu abro.
Não gosto de ir ao médico, nem de tomar remédio, muito menos de ficar doente. Não posso ficar doente, então tenho que me cuidar.
E uma coisa que funciona aqui no meu bairro é a saúde pública. Tem o Núcleo de Saúde da Família, da prefeitura, que atende só os moradores do bairro. Não são todos os bairros que tem. Mas é quase uma mãe pra gente. Todo mês o pessoal vai às casas perguntar como estão, anotam tudo, dão conselhos, dão bronca... E o médico parece um parente da gente que fica especulando tudo, perguntando tudo, escafunchando tudo. Muito bom o atendimento.
São poucos pacientes por dia, por isso não fica lotado. Mas tem a espera mesmo assim de mais ou menos uma hora.
Ficamos sentados em cadeiras paralelas frente a frente. Quer dizer, não nos resta outra coisa a não ser ficar olhando um pra cara do outro. E quando junta gente o que mais tem é... celular. Todos, menos eu. E os toques cada vez mais medonhos... Tinha um com sirene de polícia, outro era pagode, outro um techno. Entrou uma senhora bem corpulenta, cabelos molhados, batom vermelho e o celular pendurado no pescoço numa bolsinha, como se fosse um colar. Sentou e seu marido a acompanhou. Ela não satisfeita com o seu perguntou ao marido por que ele não trouxe o celular. Ele só fez que não com a cabeça. Sacou de sua bolsinha colar e começou a fuçar. Ah, ela também trazia uma pastinha com um monte de papéis-exames. Ligou pra um, pra outro, pra outra tipo conferência, ela falando bem alto e a pessoa do outro lado também bem alto a ponto de todos nós ouvirmos a conversa.
E claro, tinha aquela que atende o celular e sai andando sem rumo, pra conversar lá no outro lugar, onde também tem gente... Os daqui não podiam escutar e os de lá sim.
Tinha também uma mãe com seu filhinho de um ano e pouco. Que chamava pela mãe o tempo todo. Andava pra todo lado e a mãe atrás. Chegava no portão e a mãe:
- Não vai lá não... Olha o homem do saco! (?)
Depois cresce traumatizado não sabe porque. Homem do saco?  Isso é do meu tempo... E ainda existe, nunca mais tinha ouvido essa frase.
Depois entrou mulher pra bater papo. Coisa de vizinha que não tem mais o que fazer e vai lá perguntar da doença alheia. Entrou com a mão cheia de pimenta e começou a perguntar um a um quem gostava de pimenta. Eu abaixei a cabeça e me fiz de sonsa. Ela insistiu e deu uma pimenta pra uma mulher. E ficou conversando, contando coisas da vida.
Depois quando a minha vez já estava chegando, fomos pra uma outra salinha e a mulher que ganhou a pimenta também. Ela me olhou e disse:
- Que coisa... O que eu vou fazer com isso? Sei lá o que ela fez com essa pimenta... Vai que ela fez algum "trabalho" e tinha que distribuir não sei quantas pimentas... Vou jogar fora!
Comecei a rir.
O médico me chamou.
Olhou os exames, disse que estava quase tudo bem, diminuiu um remédio e passou mais três. Arruma uma coisa e peleja com outra. Mas ele pergunta tanto, que dependendo do que ele pergunta eu começo a chorar... Depressão... É por isso que aumentou mais três. Não gosto de chorar longe de casa. Gosto do silêncio e da solidão. Mas o médico descobre coisas... Chega a ser quase um psicólogo. E eu tenho crises de depressão, não tanto quanto antes, mas ainda tenho, e tenho vontade de sumir, de deitar e não levantar, de não comer, de não fazer nada, de me trancar no banheiro o dia todo, de morrer...
Bem, o importante é que aos poucos eu estou melhorando, um dia de cada vez, com paciência, cabeça no lugar, e mente ocupada sempre. Pensar só no que realmente me importa e me faz bem. Difícil, mas necessário.
Outro retorno só daqui a seis meses. E começa tudo de novo... Outros exames, outros remédios, outros choros, outros pacientes e seus celulares absurdos.

5 comentários:

  1. compartilho desse seu horror a celular, um exagero né. e pendurado no pescoço é a cafonice personificada.

    que vc fique bem... e que passe essa depressão. tem muita coisa boa na vida, que a sua seja repleta delas!

    bom dia

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  2. Vai passar... E cada vez que eu encontro gente bacana, ela some um pouco... Daqui a pouco já foi embora pra sempre.
    Bom fim de semana!

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  3. Oi Clara... Espero que já esteja melhor.. Um passo de cada vez, realmente.
    Eu tive uma amiga com depressão e o que a ajudou a ser mais positiva (( por incrivel que pareça) foi jogar videogame.
    Engraçado que ela começou a se relacionar com outros jogadores e então foi esse passo que a salvou.
    Vamos achar o passo que falta p ti?
    besos querida.

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  4. Diva, querida, eu já tô encontrando na internet pessoas bacanas como vc, o Giu, o Alexandre, a Daniela, o Carlos, o Duilio, a Rosana, a Aline, a Daiane e os outros meninos tbm, sempre aparece mais alguém. Todos carinhosos comigo e eu fico realmente comovida com isso. Me emociono fácil fácil e mesmo dentro de casa consigo sair de um buraco que pensava não ter fim.
    Vai passar, Deus é Pai e me ama!
    Obrigada, linda!

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  5. E tem a Camila tbm que ajuda pra caramba com o blog dela que vou lá todo dia... sagrado...

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