quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O Último Dia

 


A noite demorou chegar, antes das dez o quarto já estava arrumado. A cama que ficava encostada na parede já estava com o travesseiro e o cobertor estendido. No chão, dois colchões, um ao lado do outro, bem apertadinhos, prontos para serem desfrutados. 

Na cama de verdade, a pequena Bianca, nos colchões, Benê e mamãe.

Um beijo na testa em cada um, a oração do Pai Nosso, bem pausada, pra todos acompanhem, boa noite e dorme com Deus.

Pronto. Mais uma noite com estratégias.

Será que se sair andando sem rumo, se enfiar num matagal, deixar ser mordida por todos os bichos que aparecerem, até desfalecer e ficar por ali mesmo, seria uma boa solução? Dificilmente encontrariam o corpo e com isso não sofreriam com a morte, e sim com o sumiço, até que as crianças amadurecessem e nem se lembrariam mais do rosto de mamãe.

Ou se se jogasse numa lagoa, numa cisterna, com pedras amarradas nos tornozelos, seria praticamente impossível encontrar o corpo. 

E se deixasse de comer, já que o alimento era bem escasso e assim sobraria mais pras crianças, e aos poucos ia sumindo, assim as crianças acostumariam e não sofreriam tanto.

Pular de um penhasco, num lugar com pouca movimentação, duvido alguém encontrar o corpo.

As horas passavam e mamãe não pregava os olhos tentando encontrar o melhor jeito de sumir, desaparecer, sem deixar rastro e sem que ninguém sofresse. Por fim, os olhos fecharam e mamãe pode dormir, só o necessário pra não se transformar num zumbi.

Assim que o Sol nasceu, a primeira a abrir os olhos era mamãe. Um suspiro e uma seleção extensa de reclamações por ainda estar viva. O diálogo com Deus era severo, triste, lacrimoso, e de nada adiantava. Que Deus era esse que não respondia? E a saga continuava, agora com questionamentos, inconformidades sobre a vida, a inutilidade de viver, coisa mais sem sentido, concluía.

A rotina diária era sempre a mesma, levantar-se, arrumar o café, ajudar nos afazeres da casa... Ah, esqueci de comentar, o quarto em que mamãe e família dormiam era da casa da vovó.

E entre resmungos, reclamações e insônias o tempo passava, e a morte não vinha. Mamãe se sentia incapaz de tirar a própria vida, mesmo não encontrando nenhum sentido pra continuar viva. Pra quê?

Vez ou outra uma lágrima escorria e logo tinha que ser camuflada por causa da chegada das crianças ou de vovó. E continuava tudo bem.

Numa situação como essa, mamãe brincava com as crianças, ria, comprava doces, fazia bolinho de chuva e ficava completamente plena. Porém sua mente exalava morte...

Mamãe não se olhava no espelho... Tão linda na juventude, porém estava irreconhecível. Pra quê?

Seus pensamentos eram sobre a morte, o que tinha lá do outro lado, se era pior, se era inferno... Não podia ser, o inferno era o que ela estava vivendo. Uma dor sem ter como apontar aonde. Um choro atravessado que não saía de jeito nenhum. Tragédias, notícias sinistras, mortes, assassinatos, tudo era assunto interessante pra mamãe. Pelo menos se distraia um pouco.

Bem, as crianças cresceram, mamãe voltou pra sua casa com elas, conseguiu se reerguer e hoje em dia só cuida pra depressão e a vontade de morrer não voltarem mais. Ela sabe que pode voltar e não deseja essa situação pra ninguém.

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Essa é uma história comum entre várias pessoas. A depressão e a vontade de sumir não escolhe cara, nem dinheiro e nem família. 

Como ajudar quem está perto? Prestando atenção nos detalhes, no modo de falar, na quietude (essa é a mais importante), se houve mudanças de hábitos, tanto pessoais quanto alimentares. A pessoa com distúrbios não se importa em estar bem. Na verdade ela quer estar muito mal pra poder acabar com tudo de uma vez.

É uma dor interna, na alma, insuportável. Tudo perde o sentido, não existe empatia com nada e nem com ninguém. A situação é tão intensa e forte que muitos, infelizmente, tiram a vida. E muitos permanecem na depressão suicida por anos.

Não podemos falar nada, nem oferecer livros, nem músicas, nem nada. Isso tudo não tem sentido nenhum. E talvez ficando por perto também só iria incomodar. O deprimido sempre vai procurar a solidão.

O que fazer? Ficar por perto, pegar na mão e levar pra algum tratamento. Se necessário, medicamentos. Mas fique atento aos sinais sutis. E não se sinta culpado por estar diante de alguém que passa por depressão suicida. Ninguém tem culpa. Apenas seja uma ponte, nem que seja uma pinguela, pra mostrar um caminho pra pessoa começar a voltar à vida.

Como pode ter iniciado? Morte de alguém muito importante, perda de emprego, de dinheiro, traição, separação no casamento, separação de algum filho, algo que afete profundamente a pessoa.

Quimicamente, a depressão é causada por um defeito nos neurotransmissores responsáveis pela produção de hormônios, como a serotonina (regula sono, resposta à raiva, comportamento sexual e humor), noradrenalina (capacidade do corpo de reconhecer o estresse), dopamina (hormônio do bem-estar) e endorfina (felicidade).

Quem está deprimido está vivendo no passado, nas dores e vivências que não voltarão mais, e que estão fazendo parte no dia a dia e serão espelho para um futuro próximo, se não for tratado.

Os sinais sutis, esses não devem ser desprezados.

Clara Lúcia


quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Eu e minhas dores

 


Muito se tem falado dessa geração mimizenta, que não suporta nenhum tipo de contrariedade. Porém, nos tempos passados, não era tão diferente.

Meus avós sofreram muito, pois tudo que precisavam era sofrido. Tudo era dificultoso, longínquo, dolorido, escasso... E essa situação fez com que na mente deles e de seus descendentes ficasse registrado que a vida é dura, sofrida, escassa, que pra ter uma suposta estabilidade tinha que trabalhar muito duro e ter a garantia de um emprego fixo.

Hoje, essa geração é assim também, só que, em vez de achar que tudo tem que ser sofrido, prefere achar que tudo tem que ser fácil, sem o mínimo esforço e que seja feita sua vontade. Além de ser cheia de dores e vitimistas. Nenhuma das duas gerações estão certas ou erradas. Apenas fases vividas, épocas diferentes, que seguem tradições impostas.

 A internet facilitou muito a vida de todos, e, sendo muito bem usada, é um veículo fabuloso pra ser navegado.

Por falar nisso, vocês tem consciência de que estamos em plena Revolução Digital?

Voltando a esse tempo de gente dolorida...

Pra fazer parte da vida, muitos se juntam a grupos ou gangues, ou seja lá o que for. O pior é esperar desses agrupadores a salvação coletiva. Não terá. Nem do governo, nem da religião, nem do guru, nem do ator famoso que prega a salvação da Amazônia e não tem noção de que lá há interesses mundiais do que está abaixo da terra. Mas esse é um outro assunto.

Quando sentimos algum incômodo, algum tipo de dor ou sofrimento, não há como transferi-lo para outras pessoas. Somente nós passamos com o que acontece conosco. Pra você, isso não quer dizer nada? Ou será que chegou à conclusão de que somos nós por nós mesmos? Nós e nosso poder sobre nós e sobre tudo que há na Terra? Nós e nossa mente poderosa capaz de decidir como será nossa vida e nosso entorno?

Qual o motivo de pensarmos que não devemos sofrer anulando algum incômodo?

Se temos sentimentos, qual é a lógica de camuflarmos só para não nos chatearmos ou sofrermos? 

Alguém já disse que a dor nos faz crescer. Bem, de todo jeito cresceremos, com dor ou sem dor. Ninguém fica estacionado ou evoluído por sentir dor ou alegria. Crescer é uma lei da natureza.

Vejam bem, quando existe alguém (sempre existe e sempre existirá) que nos incomoda, que entra dentro de nosso ser e nos faz colocar pra fora o que temos de mais dolorido, certamente não foi esse alguém que nos colocou naquela situação. Fomos nós mesmos. O que tem na pessoa que ressoa em nós e que dói tanto? Será o espelhamento? Nos vemos na outra pessoa e isso nos machuca? Ou será que a outra pessoa faz exatamente o que gostaríamos de fazer ou tem a coragem de agir de uma certo modo e nós não temos essa coragem, portanto nos incomoda?

Até os seis anos é nossa fase de aprendizado, de captar absolutamente tudo que vai definir nossos próximos anos. E o que acontece, e que também faz parte da natureza humana, é absorvermos medo, angústia, crença (lá vem falar de crença de novo. Sim, se é crença, não tem outra denominação que a substitua), paradigmas, céu, inferno etc.

E assim nosso mundo gira em torno de nós mesmos. O que vivemos é o que acreditamos que exista. Se não temos acesso, não existe. É simples. E esse mundo é povoado pelas pessoas próximas que vivem conosco. Todos na mesma sintonia. E assim são criados e nomeados os grupos: os pobres, os ricos, os empresários, os atores, os advogados, os médicos enfim. E geralmente não se misturam. 

Por que falo sobre esse assunto? 

Em plena Revolução Digital nunca em todos os tempos tivemos tanto acesso à informações, à sabedoria, às notícias, os mundos, tudo!

E aquela bolha que nos limitava a viver somente o entorno, estourou. O acesso a tudo é para todos a qualquer momento, e o que você consegue acessar, acredite, você pode alcançar. Como? 

Imagine uma pessoa humilde que, em vez de ficar dentro da bolha, resolveu desbravar as mentes diferentes e seguir o mesmo caminho daqueles que vivem num outro mundo. E chegou ao outro mundo. Por que somente alguns chegam a lugares que fogem de seu padrão de vida e outros ficam estacionados?

Pelo medo.

Medo de não dar certo, medo de arriscar, medo de decepcionar pai e mãe, medo de pensar diferente, medo de fracassar, medo de ser julgado, medo da instabilidade, medo de passar fome, medo de se machucar, principalmente machucar as emoções, medo do castigo de Deus, medo de ficar doente, medo de ficar sozinho, medo de assalto, medo de sofrer, medo de prosperar, medo de ficar rico, pois rico "não presta", medo de aparecer, medo de ficar famoso, medo de ser criticado, medo de perder pessoas amadas, medo de morrer.

Se juntar todos os medos, chegamos ao medo de morrer. Medo do desconhecido que é a morte. Medo de ficar doente e morrer, medo de ficar sozinho e morrer e não ter ninguém por perto, medo da instabilidade e passar fome e morrer, medo do castigo de Deus e ir pro inferno quando morrer, medo de ser criticado e não suportar a dor e morrer, ou se matar, medo de ser assaltado e morrer, medo de fracassar, ser a chacota da família, não ter apoio de ninguém e nem como se sustentar, e morrer, medo de ficar rico e morrer assassinado, medo de se machucar e ter alguma complicação e morrer, medo de perder pai e mãe e não ter mais ninguém no mundo, e morrer, enfim.

O medo faz parte da vida, só não podemos ficar travados por causa dele. O amor é capaz de anular o medo. Qual o amor? O amor que Deus sente por nós! Nos sentirmos amados por Ele e nos entregarmos, assim como uma criança pula de um lugar alto para os braços de seu pai...

A morte é natural na vida humana.

Uma vez ouvi um amigo dizer que tinha medo de morrer e deixar a filha sozinha... Eu perguntei por qual motivo ele imaginava que a filha iria ficar de braços cruzados, definhando, até morrer? Ele se assustou e concordou comigo.

Eu já tive depressão e síndrome do pânico e sei muito bem qual é a etapa da dor e do medo. É insuportável! Mas depois de superado, percebi que tudo dependia de mim. Eu decidi alimentar minha dor, e queria alimentar mesmo, inconscientemente. Me torne vítima de meus pensamentos e de minhas atitudes. E confesso que há pouco tempo que realmente aceitei que tinha atitudes de vítima e não de protagonista. Quando entendemos o processo, é bem mais fácil retomar o poder a nós destinado por Deus.

Escrevi tudo isso pra falar pra você que esse medo que você tem, esse sofrimento que não acaba mais, e até essa alegria inabalável é a cura de várias outras pessoas, e através dessas outras pessoas, é sua cura também.

Quantas pessoas você teve notícia de que perdeu filho, pai, mãe, emprego, e a partir de então desenvolveu uma maneira de ajudar quem sofre pelo mesmo motivo? É esse o sentido de todos nós.

É esse o propósito. Se curar através da cura do outro. Ou seja, tudo está em você. Tudo começa e termina em você.

- Clara, por que tenho que ajudar os outros, se ninguém nunca me ajudou?

Porque estamos todos interligados e somente nos curamos através da cura do outro. Porque o outro que está bem próximo a nós é nosso espelho a refletir o que devemos enxergar e canalizar a energia em atitudes de ajuda ao próximo. Nós sabemos o caminho de entrada e saída. Nem todos sabem esse caminho.

VAMOS, RAPAZ, GAROTA, SAIA DA BOLHA E DESBRAVE O MUNDO!

Basta um clique pra conhecer milhares e milhões de situações nunca imaginadas, mas que existem! E você aí preocupado em não magoar o outro, se magoando e dizendo sim a todo momento. É sua autotraição. Certamente conviverá com pessoas traidoras... Você se trai... E atrai exatamente o que você é.

"Ah, mas eu nunca fiz mal a ninguém". MAS FAZ MAL A VOCÊ MESMA! Se trai, boicota suas vontades, faz o que os outros determinam pra você e se pune por não ter obedecido!

Meu Deus do céu!

Meus queridos, somos únicos e essenciais nessa vida, podemos dizer sim e não quando queremos dizer sim e não. Que importa o que dizem de nós? A crítica é única e exclusiva pra quem solta a crítica. E pegamos, sem ser nossa... E ficamos doentes, e com medo, e morremos. 

- Clara, porque tenho que dar um clique, se estou bem como estou?

Porque o mundo é maravilhoso, a natureza é exuberante, as pessoas são essenciais, e a vida é muito curta pra deixar tudo isso encoberto. Tudo é perfeito e está exatamente como deveria estar. E você merece toda a abundância e prosperidade que existe na Terra!

Conhecer a si mesmo é o grande segredo da humanidade.

"O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus".

Você é livre! Inclusive pra continuar do jeito que está!


Clara Lúcia