terça-feira, 19 de setembro de 2017

Quando Eu Morrer, Não Tenha Medo De Mim


Quando eu morrer, não tenha medo de mim...
Continuarei a ser a mesma pessoa, que estará em outra dimensão. Você acredita na outra dimensão?
Eu sim. Acho um desperdício a gente viver somente aqui, num corpo perfeito, numa alma inexplicável, depois morrer e acabou. Muito pouco, não acha?
No começo sei que vai ser difícil, haverá choros e sofrimentos. Mas passa... Eu sei que passa... Você tem sua vida e deverá cuidar dela até chegar sua hora de partir, assim como eu partirei.
Talvez você sinta calafrios, tremores, arrepios e medo. Pode ser eu, ainda inexperiente, nessa minha nova morada, tentando me aproximar para matar a saudade. Mas nem todas as vezes que sentir essas coisas serei eu. 
Às vezes eu fico pensando na morte, em como ela chegará para mim, se de modo inesperado ou em conta-gotas. Pena não poder escolher, mas é melhor assim. Imagina a angústia ficar em contagem regressiva para o adeus terreno? Eu morreria! Hahaha, foi uma péssima piada!
Talvez você sinta uma brisa suave a movimentar seus cabelos, e se sentir vontade de fechar os olhos, suspirar e se lembrar de mim, saiba que, mesmo não sendo eu, de alguma forma saberei que me imaginou nesse instante. E ficarei feliz.
Acredito que depois da morte alguns sentimentos acabarão. Só o amor sobreviverá...
Talvez você sinta cheiro de rosas... Pode ser eu sentada num lindo jardim a lhe observar de longe... E sorrirei... 
Sinto saudades de muitos que já partiram. Quem será que verei primeiro? Será que vou poder abraçar, beijar? 
Talvez você sonhe comigo, um sonho leve, com luzes, brisas e crianças correndo. Bem, não entendo esse negócio de sonhos, mas sei que não ficarei nesse lugar lindo de imediato. Há todo um aprendizado a percorrer, até subir os degraus da evolução e sentir aquela paz tão recomendada durante o velório.
Por falar nisso, quem irá se despedir de mim?
Talvez você acorde no meio da noite e chore... Certamente chegarei correndo para lhe confortar... Choro a gente não deixa passar. Tentarei lhe tocar, lhe beijar, lhe abraçar, mas não conseguirei, e você não sentirá minha presença. Mas ficará sofrendo até adormecer novamente... E a vida seguirá, sem mim... E eu sem você. Eu lhe verei, você só terá lembranças...
Você estará perto de pessoas que lhe ama, que saberão lhe acolher, lhe confortar, abraçar quando precisar...
Eu estarei sozinha, pois terei uma caminhada até chegar ao plano dos que já se foram. 
Lembra quando eu dizia que nascemos só e morremos só? É isso.
Claro que não estarei sozinha isolada, haverá gente, quer dizer, almas por perto. Você seguirá sua vida, sua família estará por perto, por longos anos, eu espero. Aproveite a vida! Ela é muito preciosa para ser desperdiçada com sofrimento fútil. 
Lembra quando eu falava que a maioria dos sofrimentos nós mesmos que provocamos? Então, ainda acredito nisso. Mas são atitudes que só com o amadurecimento adquirimos. Quanta bobagem nós provocamos, em troco de nada... Quanta dor inútil... Quanto choro em vão... Quando na verdade o que vale a pena é nosso bem-estar, nossa saúde, nosso prazer na vida. 
Ainda acredito que a vida é única, no sentido de ser preciosa, de ser absolutamente divina e que jamais deve ser deixada para lá por causa de uma outra pessoa. Cada vida um valor. Nem mais, nem menos.
Talvez você não consiga entrar no meu quarto, mexer nas minhas coisas, sentir meu cheiro... Talvez você veja vultos...
Olha, lembra do amor que você declarou a mim por esses longos anos? Então peço-lhe que não sinta medo... Sou eu! Não tenha medo!
Vou olhar por você de onde eu estiver, isso eu tenho certeza! E se eu puder fazer com que você saiba disso, farei. Mas talvez não... O medo é traiçoeiro... Talvez demore alguns anos para que isso aconteça... Lembre-se que a alma é eterna, e no plano que estarei, não morrerei mais. 
Como será a contagem do tempo no céu? Podemos chamar de céu o lugar para onde vamos? Sei também que antes de chegar lá há uma longa caminhada, mas sempre fui disciplinada, então chegarei com tranquilidade.
E esperarei até o dia em que poderei lhe abraçar e matar a saudade...
Hoje já sinto saudade, mesmo estando assim, grudadinha em você...
Não se esqueça, nem hoje, nem nunca: eu te amo!

Clara Lúcia


domingo, 3 de setembro de 2017

Geração De Crianças Mimadas


Ultimamente a geração diminui cada vez mais. Antes, quando era contada de dez em dez anos, hoje, creio eu, é de cinco em cinco anos (se alguém souber, por gentileza, me informe).

Não se pode comparar gerações, pois cada uma tem suas delícias e suas derrotas, mas o que vemos hoje são crianças em redomas, que não podem ser contrariadas ou que não devem sofrer.

Um dia, faz tempo, um grupo de psicólogos disse que criança tinha que ter autonomia e decidir, desde cedo, o que queria. Me lembro muito bem disso, mas não sei quando foi. Até hoje fico pensando qual o aprendizado, qual a opção de uma criança que ainda não tem histórico nenhum, em escolher o melhor pra ela?

Hoje em dia está tudo muito fácil, o que não é errado, só que, claro, a maioria não aproveita essa facilidade.

Viajando na minha infância, tínhamos que buscar respostas, fabricar brinquedos, esperar a roupa ficar pronta, a comida era feita em casa, enfim, coisas de minha geração. Pra mim, que não sabia como seria se fosse diferente, não foi dificultoso. Era costume.

Na infância de meus pais, era bem difícil em tudo! Eram de família humilde, como a maioria era, e tudo era longe! Não havia condução coletiva, carro, só os ricos tinham. A comunicação à distância era através de carta, ou então pelo rádio, caso houvesse algum falecimento.
Aprenderam tudo na lida dura do dia a dia, e não sofreram nada com isso. Sobreviveram muito bem!

Meus avós moravam em fazendas, comiam o que plantavam, não tinham geladeira, o fogão era à lenha, tudo muito simples. Escola era muito difícil, pois era tudo muito longe. Minha avó apenas assinava o nome e, pra mim, era a pessoa mais doce e esperta que já conheci, justamente pela dificuldade de não saber ler nem escrever. Meu avô sabia. E também sempre foi um exemplo. Tiveram sete filhos e do mais velho ao mais novo, uma diferença enorme! O mais novo tinha bicicleta e depois carro. Desfilava pelas ruas como se fosse o famoso do pedaço. Tudo bem ser assim, mas engraçado como um objeto modifica uma pessoa.

Voltando a minha infância, me lembro que brincava sozinha, conversava sozinha e era muito curiosa, como toda criança é.

Mas as crianças de hoje, gente, o que mais eu ouço do pais "Nossa, mas meu filho é muito esperto, aprende tudo muito rápido". Sim, eles são assim mesmo pela quantidade de informações que recebem. E são tratados como tal, como gênios, donos da verdade e supremacia. Não podem ser contrariados e nem adianta impor condição nenhuma. Não estão nem aí pra regras. Não são todos, claro, mas uma grande quantidade deles sim.

Eu não me acostumo em ver criança dando birra em público ou então ofendendo pai e mãe, seja a hora que for. A hierarquia mudou de lugar, o respeito deu lugar aos caprichos, filhos mandando mãe calar a boca e debochando de alguma frase dita por ela. E nem digo que são ricos, que têm tudo, são simples também. E vejo pais reclamando desses mesmos filhos, dizendo que são sem educação, agressivos e que não respeitam nada. Por que será, né?

Dia desses ouvi uma filha adolescente mandando a mãe calar a boca porque ela ainda estava falando. Me deu arrepio, mas como não tenho nada a ver com a vida de ninguém, engoli e continuei quieta.

Pra quem é de uma geração em que uma olhada do pai bastava pra obedecer, hoje presenciando filhos mandando os pais calarem a boca, dói.

Geração que basta um clique pra ter tudo à mão, que basta teclar e já se comunica com quem quiser, que basta um celular e o mundo à volta se torna invisível.

Não sei como é viver numa geração diferente da minha, mas fui muito feliz quando era criança, mesmo não tendo condições pra ter o que eu queria. Escorregar na terra, esfolar os joelhos no asfalto, tentar subir em árvore e não conseguir, devido ao pavor de altura, arrancar a tampa do dedão no asfalto e voltar sangrando pra casa, ah, isso nunca teve preço! A gente cresce sabendo como é a dor, como é a derrota, como é o querer e não ter, mas que futuramente, com trabalho, pode se ter tudo o que quiser, isso me fortaleceu muito! E o sofrimento não dura pra sempre, a dor um dia vai embora, o sorriso às vezes fica incontrolável, as lágrimas continuam sendo salgadas, o suor é saudável, andar descalço fortalece o corpo, cair, machucar, sarar e continuar tudo no outro dia, isso só acrescentou em mim. E cair, pra mim, nunca foi problema. Sempre tive a opção de me levantar e continuar. Apenas continuar...

Cada geração com sua infância, seja como for, nem melhor, nem  pior, apenas diferente.