segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Depois de Ontem

Doce ilusão...


      Três anos se passaram... 

      Joana, magra como uma modelo internacional, mudou de emprego, de casa, o corte do cabelo, mas continuava a mesma romântica de sempre. Vez ou outra se envolvia com algum rapaz, mas o receio de sofrer tudo de novo, de ter que se enfrentar no espelho e encharcar o travesseiro de lamentos e lágrimas, fazia com que interrompesse antes mesmo do coração bater mais forte ou uma pontinha de saudade cutucar seu ombro. 

        "Três anos já e parece que foi ontem...", pensava...

     Não se recordava de detalhes do rosto do ex, aquele destruidor de castelos de sonhos... Achou estranho e foi procurar alguma pista em seus guardados para não sofrer de ansiedade. Uma caixa, que estava guardada bem no fundo do armário de roupas, escondia poemas, frases, gravações em áudio e uma foto. Uma única foto para recordar.

      Colocou a caixa sobre a cama e ficou um bom tempo pensando. Não sentia vontade de chorar e, de olhos fechados, foi se lembrando dos bons tempos, das alegrias, dos risos, dos abraços apertados, dos beijos quentes e do carinho e cuidado que ele proporcionou a ela no tempo em que estavam juntos.

      Nem uma lembrança ruim... Sentiu-se aliviada e talvez seria esse o dia de colocar tudo num túmulo e seguir em frente, abrir o coração e deixar que um novo amor floresça e permaneça pelo tempo que tiver que ser. Nem mais nem menos.

      Abriu a caixa e, papel por papel era recebido com um sorriso nos lábios. Bem no fundo enxergou a ponta da foto. A curiosidade não foi suficiente para pegá-la de imediato. Ainda folha por folha, frase por frase, uma caixinha em veludo preto a fez recordar que o romance interrompido havia sido bem mais intenso do que a dor do término. Abriu e pegou o anel em ouro branco com uma pedra de cristal enorme, um solitário. Lindo! Colocou-o no dedo anular e ficou por um tempo admirando seu brilho e imponência majestosa. Olhou as unhas e lembrou-se de arrumá-las ainda naquele dia. Colocou o anel na caixa e esta sobre a cômoda. Usaria ele ainda na semana. 

      Uma das folhas continha uma poesia, a primeira feita por ele. Cada palavra minuciosamente encaixada numa frase pequena, mas de grande efeito. Não sentiu raiva ao ler cada estrofe. Pensava que quando tivesse a coragem de abrir a caixa choraria ou sofreria. Sentiu ternura, carinho e boas recordações. 

      Cada bilhetinho, papel de chocolate, sabonete do hotel, tudo guardado. Um amor que era para sempre coube numa caixa. Pegou a foto.

      "Nossa, continua lindo e charmoso!", disse em voz baixa, como se tivesse receio de alguém ouvir e deduzir que teve uma recaída. Deitou na cama e apertou a foto em seu peito, fechou os olhos e uma lágrima rolou pela lateral do rosto alcançando o colchão. Respirou fundo e o choro veio, incontrolável. Talvez o último desse romance, a despedida final de um tempo que não voltaria mais. Uma última olhada na foto antes de rasgá-la. Depois de pensar por uns minutos achou melhor queimá-la e acabar com tudo de una vez, E foi o que fez. Joana, mais madura, pensou que toda aquela dor e sofrimento por causa de um relacionamento tenha sido desnecessário. Nem foi o relacionamento que a deixou arrasada, mas os sonhos interrompidos, os planos, filhos, casa decorada, vida a dois, tudo o que se planeja quando se tem a certeza de encontrar a alma gêmea, um companheiro que valha a pena compartilhar o resto de vida, ignorando que contos de fada são apenas contos de fada, que príncipes têm defeitos e que princesas são chatas demais para merecer só felicidade. Além do mais, uma vida sem conflito e diferenças se tornaria um tédio para os dois. Quem aguentaria uma rotina onde se sabe exatamente o que o outro pensa ou que atitude terá no próximo dia ou no próximo problema? "Ainda bem que acabou", pensou aliviada. "Tanta coisa pra eu fazer e ficar à mercê de um relacionamento que se tornaria a única opção pra mulher? Meu caro ex, que seja muito feliz, esteja aonde estiver, e que nunca se esqueça de mim e do que vivemos de bom.", concluiu, aliviada.

      Voltou ao quarto, colocou o anel no dedo novamente, suspirou e começou a procurar uma roupa que combinasse com ele. Um preto básico talvez, um scarpin de salto médio, brincos com a mesma pedra brilhante, cabelos soltos, perfume francês e só faltava escolher o local para desfilar um recomeço a partir daquele dia.

      Junto com a caixa do anel, que estava sobre a cômoda, um cartão de visitas. Rosemberg... Um telefonema e um jantar marcado. Rosemberg era professor universitário e conhecera Joana numa lanchonete que ficava próxima à Universidade. Ela trabalhava em um escritório de advocacia  que ficava ao lado, e vez ou outra tomava um café no meio da tarde. Rosemberg era charmoso, grisalho, estatura mediana e muito, muito perfumado. Esse foi o motivo de chamar sua atenção. Começaram a se olhar, depois um sorriso, um cumprimento e logo já estavam marcando o café no mesmo horário, no próximo dia. 

      Uma boa hora para recomeçar um romance ou então firmar uma amizade. Sem pressa, sem sonhos, sem castelos, sem romantismo... Apenas um dia de cada vez, como deveria ter sido sempre. Ou então na primeira oportunidade Joana se jogaria em seus braços e se perderia, como sempre fazia... O que importava? A vida é feita de momentos e nada dura para sempre. Se estiver bom, que seja muito bom enquanto durar. Se acabar, que acabe! E tudo continuará, como sempre continuou. Lágrimas virão, choros, lamentos, risadas, alegrias, emoções, afinal a vida é um turbilhão de sentimentos e assim que deve ser sempre.

                                                                                                                                                             Fim

3 comentários:

  1. Lindo conto e Joana, na hora, verá o que seu coração vai pedir e então fará acontecer,rs...beijos, lindo dia! chica

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  2. Acho que términos são sempre difíceis... mas eles tem que acontecer, a vida é assim. Belo texto, Clara.

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  3. Menina quem já não passou por isso hein? Me vi totalmente Joana! rs
    Mas que bom que tudo passa e aí, vemos que ou foi tudo ilusão ou, algo bom que teve começo meio e fim. Como tudo na vida. Parabéns Clara por mais esse belo conto.
    Bjs

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