quarta-feira, 15 de abril de 2015

Mãe Bruxa


"Ser mãe é padecer no paraíso".

A sensação de ser mãe, de parir, criar, educar, amar, não tem como descrever, é maravilhosa!

Mas nem toda mãe é boazinha aos olhos dos filhos. Isso é ótimo, pois nos tira do pedestal, do trono e nos coloca como mãe de carne e osso.

Não somos heroínas e nem mágicas, mas somos ninjas em dar conta de tudo e ainda sobrar um tempo pra sermos simplesmente mulher.

Nossa obrigação não é de poupar os filhos, de passar a mão na cabeça ou fazer vistas grossas pras besteiras que eles fazem. Também fomos e somos filhos e sabemos como funciona a coisa.

É doloroso demais esse papel de ensinar, de educar, com toda a sabedoria que nos cabe, que o tempo nos deu, que as dores nos tatuou, que as lágrimas nos enrugou e que os anos não nos deixa esconder a maturidade.

Às vezes (mentira, nunca entendem) não entendem que, por termos opiniões contrárias, por tentarmos mostrar um outro caminho, uma outra porta ou janela, não estamos indo contra e sim a favor. No momento de conflito geralmente não enxergam outras saídas e a reclamação é predominante em todo o diálogo. Pra eles somos mães, e como mães devemos apenas ouvir, ou então aceitarmos que o drama que eles têm no momento é imenso e não cabe na vidinha deles. Nesse momento nos tornamos a mais perversa das bruxas.

É muito bom ouvir, saber com quem andam, o que comem por aí, o que falam, o que acham da gente... Mas gostamos de falar também, de cumprir esse nosso papel de mãe inteligente, madura, que já viveu tanto que adivinha o que deve ser feito. No fundo não queremos que nossos rebentos sofram...

E sofrem... E sofremos juntos, caladinhas, quietinhas, no nosso canto, no nosso íntimo...

Íntimo que filhos não têm ideia que temos. Somos mães e ponto.

Pra eles devemos estar atentas a tudo, saber de tudo, achar tudo, fazer tudo, aceitar tudo, compreender tudo, gostar de tudo deles... E eles, ainda na ilusão de que somos rainhas, não se dão conta de que queremos muitas coisas que não temos, que abrimos mão de outras tantas coisas por causa deles, que não ousamos comer o bife maior pra deixar pra eles, que não podemos ter vontade de sair, passear, pois o dinheiro gasto pode faltar algo que eles estão acostumados a ter.... Não podemos nem gostar de sexo, de beijo na boca ou de namorar... Nem de se olhar no espelho e se sentir mais magra, mais jovem, bonita... Isso é sempre um exagero de mãe. Não podemos sentir dor e nem indisposição. Dor de cabeça, cansaço? Nunca! Mãe não sente nada disso. Preocupação? Imagina, jovens são todos imortais. Contar moedinhas pra pagar um conta? Que isso, só fazer as contas direito que tudo dá certo. Passar vontade de comer alguma coisa? Imagina, mãe já tá criada e forte, não precisa disso mais não.

E quando a mãe é separada, ou viúva, ou solteira? E fica em casa o tempo todo, cuidando de tudo? Sair pra quê, se já tá acostumada a ficar em casa? Ir aonde? Não suporta nem ouvir uma música num volume mais alto! Não conseguem ler nos nossos olhos que talvez a solidão tenha nos corroído a alegria de vivermos em sociedade. Que é difícil sim, pra algumas mães, recomeçar tudo... Talvez nem saibamos qual o momento de recomeçar, ou se sentimos medo... Medo? Como assim, mãe? Então...

E num dia de abandono, de carência (carência, o que é isso?), espera ansiosa pela volta dos bebês quase adultos, sãos e salvos, sadios e felizes.

A tristeza que ontem atormentava um deles, hoje nem existe mais. Só encheu a mãe de preocupação, mas uma conversa com um amigo ou dois, já resolveu tudo e realmente nem era tão estrondoso assim.

Mãe rainha, mãe princesa, mãe de muitos, de poucos, mãe jovem, mãe madura, mãe velha, enrugada, gordinha, sem sonhos realizados, com várias noites em claro, mãe forte, guerreira, domadora e dominada... Mãe perfeita e chata, meiga e estúpida, linda e grisalha, mãe feliz e realizada (????), sim, mãe feliz e realizada por saber que cumpriu a lição de casa, pois filhos não são nossas vidas, mas são nossos corações...

Daqui a pouco todos chegam com um sorriso que já nos derrete, uma palavrinha que já nos enche de orgulho, um abraço e um beijo então... Meu Deus, muito obrigada!

Mãe é um turbilhão de emoções, mas às vezes dá vontade de sumir... Pra casa da vizinha, que é mais perto da gente voltar correndo e começar tudo de novo.

Fim.

Apenas um texto, sem conotação com a autora.
Clara Lúcia

12 comentários:

  1. Apenas um texto?
    Um texto incrível que encheu meus olhos d'água. Os nossos filhos podem nào ter ideia do nosso íntimo. Você o descreveu aqui!
    Beijo.

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    1. Já fomos filhos, Ana, e sabemos o que filhos acham das mães... rsrsrs
      Beijos

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  2. Emocionante texto, querida Clara
    Linda tarde, querida
    Beijinhos mil de
    Verena e Bichinhos

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  3. Olá, querida Clara
    Um texto bem escrito e com profundo conhecimento da causa maternidade... rs...
    Bjm fraterno e carinhoso

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  4. Amiga, que texto emocionante! Vi minha alma descrita nas suas palavras e tenho certeza que muitas mães também se viram. Parabéns! Bjsss

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    1. Mãe é mãe, não é? Tem um diferencial que nos rotula de mãe, e não de mulher....
      Obrigada, querida, beijos!

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  5. Um bonito texto feito escrito por quem conhece bem o que é ser mãe.
    Beijos, Élys.

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  6. Sem dúvida, uma expert, da vida de mãe e da escrita.
    Muito bom, sem nenhum reparo!
    Beijos.

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  7. Todos nós passamos por isso e o bom é que depois passa! bjs, chica ,lindo dia!!

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  8. É bom voltar ao seu blog, ver e ler o que está publicando,só posso agradecer pelos textos,
    com que nos presentei-a,e posso dizer que tem aqui um agradável blog,
    desejo que continue de saude e com muita paz.
    Deixo as minhas saudações, com desejo de muitas felicidades.
    Sou António Batalha.
    Do Peregrino E Servo.

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