domingo, 30 de novembro de 2014

Promete?


      - Quem fala? - perguntou Alesca, segurando o celular com mãos trêmulas.

      - Rute. Quem é? - respondeu do outro lado da linha.

      - Oi, aqui é Alesca, você não me conhece, mas preciso te contar umas coisinhas. Pode me ouvir? - ainda com mãos trêmulas e com voz embargada, quase se derramando num choro.

      Rute, mesmo estranhando ouviu pacientemente. Alesca contou, com riqueza de detalhes, sobre um homem que ficara noiva. Antônio Pedro. O mesmo Antônio Pedro que vivia junto com Rute. Contou como se conheceram, de todas as promessas feitas, detalhes de como planejavam casamento e até o dia em que conheceu sua família.

      Na verdade já moravam juntos e devido ao seu trabalho, Antônio Pedro viajava semana sim, semana não, sempre voltando todo fogoso para seus braços. Abriram até uma conta conjunta e guardavam dinheiro para viajarem no fim de ano, em suas férias. Alesca era vendedora autônoma, então seus horários eram flexíveis, sem problemas para viajar e tirar uma folga de vez em quando.

      Rute ouvia e retrucava, chamando Alesca de maluca, de drogada, de imbecil, mas não tinha coragem de desligar o celular. Por fim perguntou onde conseguira seu número. "Na agenda de Antônio", respondeu de imediato. "Peguei mais alguns contatos e investiguei até chegar a você". Sentou-se na beira da calçada e desligou, indignada.

      Sabia que era verdade o que a tal de Alesca havia lhe contado. Não era a primeira vez que passara por situação semelhante ou até pior. Uma vez arrastara Antônio Pedro de dentro de uma igreja, quando estava prestes a se casar com uma zinha sem eira nem beira que encontrara pelo caminho. Desde que o conhecera já havia decidido tomar posse absoluta dele. "É meu e ninguém tasca", repetia para quem quisesse ouvir. Chorou, de ódio, de revolta, de cansaço de tanto ir atrás de seu amor, sua paixão, e nunca ser reconhecida como a única a ser idolatrada eternamente por ele. "Ah, vai ver homem é assim mesmo", pensava alto, enxugando as lágrimas que lhe borravam o rosto por causa do rímel. E imediatamente respondia que o homem dela não seria assim não, que ela daria um jeito custasse o que fosse.

      Alesca, no entanto, apesar de ter desabado num choro inconsolável, se sentiu vitoriosa. Tinha certeza que o canalha ficaria sozinho por um bom tempo e se dependesse dela não arrumaria mulher nunca mais. Ainda amava-o, mas não suportava a traição. Arrancaria o mal pela raiz e se esqueceria dele, com o tempo. Falava em voz baixa que mulher como ela não arrumaria em lugar algum, afinal canalha só atrai mulher vagabunda. Essa era sua fórmula de esquecimento, rogar praga para o resto da vida naquele que lhe roubou o coração e jogou fora. Bem feito para ele, repetia, ficou sem uma boa mulher, quem perdeu foi ele e não eu.

      Rute, ainda com os olhos molhados, ligou para Antônio Pedro e exigiu sua presença imediatamente em sua casa. Claro que foi atendida prontamente, pois quando falava "grosso" ele obedecia, para seu bem. Ele gostava, e como gostava dessa disputa entre fêmeas por seu macho.

      Ainda demorou um bom tempo até o canalha aparecer para, mais uma vez, se fazer de vítima. Assim que colocou os pés para dentro, Rute foi logo lhe arrancando as roupas e arrastando-o para o chão, no tapete já surrado, imitação de persa, comprado em vendedor porta a porta.

      Ele, como um bom obediente e temeroso com a braveza da mulher, concordava com tudo, beijando-a em todas as partes do corpo. Ela, fazia-o prometer mais uma vez que nunca mais repetiria a safadeza de traí-la com qualquer ordinária que ele encontrasse pelas ruas. Mulher dele era só ela.

      E, claro, pela milésima vez, obedecia, feliz.

      Fim.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Um Fiapo de O Tempo e o Vento


      Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o capitão Rodrigo Cambará entrara na vila de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar lá pelo meio da casa dos trinta, montava um alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul, com gola vermelha e botões de metal. 

Tinha um violão a tiracolo; sua espada, apresilhada aos arreios, rebrilhava ao sol daquela tarde de outubro de 1828 e o lenço encarnado que trazia ao pescoço esvoaçava no ar como uma bandeira. Apeou na frente da venda do Nicolau, amarrou o alazão no tronco dum cinamomo, entrou arrastando as esporas, batendo na coxa direita com o rebenque, e foi logo gritando, assim com ar de velho conhecido: 


– Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho! 

– Pois dê. 

Um pouco de Érico Veríssimo. Um trecho do livro O Tempo e o Vento. 
História belíssima e digna de ser lida.

Obs: Trecho retirado da net, portanto se algo não condiz com o livro estou à disposição para fazer a correção. Quando li o romance, peguei emprestado e na verdade não me lembro muito da história contada. Só fui recordar quando assisti à minissérie. Isso faz tempo...

domingo, 23 de novembro de 2014

Ser ou Estar Sozinha?


"Você é bonita, por que não arruma um namorado?" Esta é a frase que mais ouvi nos últimos 15 anos.

Gostaria que tivessem me perguntado se estava bem, se precisava de alguma coisa, não sei... Mas depois de tanto tempo chego à conclusão de que a vida se resume em relacionamentos. Assunto mais comentado em todos os lugares.

Existe a alma gêmea? O parceiro perfeito? Você seria a alma gêmea de alguém? O(a) parceiro(a) perfeito(a) pra alguém? Geralmente procuramos quem se encaixa melhor nas nossas exigências, mas nunca pensamos em nos encaixar da melhor maneira na vida de alguém. A velha mania de querer mudar o parceiro.

Pra quem ainda me faz essa pergunta, estou bem, estou sozinha, mas não solitária. Preciso dessa solidão pra me sentir bem. Se aparecer alguém, que seja bem-vindo e que acrescente e compartilhe vida comigo. Se não, tudo bem também. Isso não me causa sofrimento.

Não é fácil viver sozinha, tenho minhas carências, mas jamais colocaria minha felicidade e meu bem-estar nas mãos de uma pessoa. Isto é de minha competência e responsabilidade. Assim como não daria felicidade embrulhada num pacote a ninguém.

"Mas você não sai, não vai passear, não vê gente, não conhece gente nova, não faz amizades, não dança, não se entrosa, não conversa, não se diverte..." Gente indignada com minha vida...

Nunca fui de badalações e nem de frequentar lugares tumultuados, exceto os shows que eu ia. Tenho uma certa fobia social. Sou assim mesmo, caseira, tranquila, quieta, porém, minha mente faz todas as vezes de uma vida agitadíssima. Sou feliz assim, acreditem!

Com o tempo me descobri metódica. Não gosto de mudanças na minha casa, nem de bagunças e nem de nada que possa me estressar. Metódica e chata. E com isso não sei se conseguiria conviver com outra pessoa novamente. Por um tempo pode ser, mas a liberdade que tenho dificilmente seria capaz de compartilhar, ou perdê-la.

Isso é definitivo? Não! A única certeza é que tenho dias a menos de vida e esse dia pode ser hoje. Amanhã não sei. A maturidade às vezes castiga a gente. Tem o lado bom, o da sabedoria, da leveza, da tolerância, do conhecimento acumulado, dos valores que realmente valem a pena, enfim, velhice tem o lado bom. E o lado ruim é que é muito breve também. A vida é muito breve, em todas as suas fases.

Digamos que sei de minha vida, mas não sei do querer da vida dos outros. Sei o que quero e o que não quero, mas não tenho controle sobre as pessoas. Então não dá pra programar nada envolvendo outras pessoas, ainda mais as que ainda não conheço. Como programar começar namorar, casar etc? Procurando? Hmmmm, acho que não sei fazer isso não. Não mais. Deixa assim como está.

Ah, sim, já amei muito, poucos, mas muito. Tenho um amor eterno, antigo, bem lá do comecinho, que continuará sendo eterno, tenho um platônico que continuará sendo platônico, tenho um carnal, que ainda tenho esperanças, e tenho esperanças de um novo amor sim. Contraditório? É, pode ser. Mas confesso que tenho um pouco de preguiça... Preguiça de sofrer caso não dê certo. O último relacionamento é sempre o mais sofrido, o mais dolorido e o que nos faz repetir novamente que nunca mais, mas coração é traiçoeiro, tem vida própria, samba no peito da gente e teima em querer quem não se deve querer. Finca o amor na cabeça da gente e nem lavagem cerebral é capaz de tirar. A gente tenta ter os pés no chão, mas não adianta, o coração domina tudo! Não procuro, mas quem sabe alguém esteja procurando desesperadamente por mim em algum lugar do planeta? E perdeu o mapa? Então!

Depois de tantas besteiras, vamos pra última semana de novembro e logo dezembro, natal etc... Pra completar, não gosto das festas de fim de ano... Esquisita, eu.

Boa semana pra todos!



terça-feira, 18 de novembro de 2014

Milagre Divino


O milagre da vida!

Primeiro uma "sementinha" que cresce rapidamente, depois vem o bebê e nos enche de sentimentos jamais experimentados até então. Nasce um filho e nasce uma mãe.

É como se o mundo parasse e Deus estivesse ao nosso lado, sorrindo, passando a mão na nossa cabeça e dizendo no nosso ouvido: "cuide bem dele".

O amor é tão intenso que não cabe dentro da gente. Eu sempre disse que mãe deveria ter vários corações espalhados pelo corpo, pra dar conta de tanto amor e tanto cuidado.

Se eu tivesse poderes, concederia ao homem uma única oportunidade de gerar uma vida. Não com todas aquelas dores, isso não. Mas sentir no ventre um ser crescendo, se fazendo, coração pulsando e depois a maior mágica de todos os tempos, o nascimento. Ficariam loucos, tenho certeza!

Eu e meus filhotes



domingo, 16 de novembro de 2014

Tempo de Colheita


      Roberto, mais uma vez saiu batendo a porta, irritado, daquele lugar que vez ou outra cumpria a obrigação de visitar. O asilo era bom, limpo, idosos bem cuidados, onde seu pai, seu Arnaldo estava morando há cinco anos, depois que sua esposa falecera. No começo relutou em aceitar, mas não tinha outra alternativa: ou ia para o asilo ou viveria sozinho em sua casa, e, como precisava de cuidados o tempo todo, aceitou contrariado se mudar para o Lar da Melhor Idade.

      Sempre que Roberto aparecia, Arnaldo quando o via de longe já se levantava e ia encontrá-lo. Abraçava-o e chorava, dizendo que ali era maltratado e que ninguém gostava dele. Roberto sabia muito bem o motivo de ninguém gostar de seu pai, que era o cão em pessoa! Mas como era um lugar pago, tinham que aguentá-lo enquanto estivesse vivo.

      Arnaldo não se conformava em ter deixado sua casa para viver no meio de pessoas estranhas:

      - Beto, eu quero ir embora daqui... Eles ficam me olhando de longe e cochichando... - resmungava para seu filho.

      - Mas pai, não tem jeito: ou fica aqui ou vai viver sozinho até morrer. - respondia Roberto secamente.

      Quando Roberto finalmente entrou em seu carro, mais uma vez começou a chorar. Não por piedade, mas por raiva, pelo modo como sempre fora tratado por ele. Era o mais velho de três irmãos, todos homens, e sempre ouvia que tinha que dar o exemplo, portanto, não podia fazer nada que desonrasse a sua conduta. Quando jovem não podia sair para lugar nenhum e nem namorada podia trazer em casa. Era briga na certa com seu pai que não media esforços para ofendê-lo diante da namorada. Isso deixava-o revoltado, mas por respeito ao pai, aguentava calado.

      Lembrou-se de um dia em que levou sua namorada, que hoje é sua mulher, para almoçar com sua família, por insistência de sua mãe Leonora. Relutou até o último minuto, mas acabou concordando para agradar sua mãe. Chegando lá, todos à mesa, Arnaldo fitou o olhar para Roberto e começou a sessão de humilhação na frente de todos:

      - Sabe, Elaine - disse para a namorada de Roberto - esse daí é o filho mais ingrato que um pai pode ter. Imagine que ele recebe o ordenado dele inteiro e nem dá nada para mim? Eu que sustentei esse vagabundo até hoje, comeu, bebeu, vestiu e agora é isso daí... Tá doidinho para casar e sumir daqui. A obrigação do filho é entregar todo o ordenado para o pai. O pai é que sabe o que fazer com o dinheiro da casa, e como ele ainda vive aqui, de graça, tem que me entregar o dinheiro e ficar quieto. E ainda agradecer por ter uma casa para viver.

      Pronto! Foi o suficiente para que Roberto se levantasse, puxasse Elaine pelo braço e fosse embora dali na mesma hora. Elaine não sabia o que dizer, ficou indignada e concordou que seria melhor ir embora e não voltar mais. Nunca passara por situação mais constrangedora e entendia Roberto de ficar estressado por causa do pai. Era uma mulher doce, mas sabia que não precisava ouvir asneiras e nem humilhações de ninguém.

      Com os outros irmãos era a mesma coisa, só que como eles já presenciaram a situação do irmão, não levavam ninguém para conhecer sua família.

      Quando sua mãe morreu, ainda suportou "aquele velho", como costumava chamar por mais alguns meses. Mas a convivência era tão insuportável que não pensou duas vezes em pagar um asilo para colocar aquele filho que não era de Deus, como assim definia seu pai.

      E hoje, por obrigação e por ter prometido à sua mãe que cuidaria do pai, ainda o visitava, mesmo sabendo que ficaria completamente estressado. Era impossível não sair de lá xingando, berrando e desejando a morte daquele ser que só sabia humilha-lo. Os outros irmão nunca apareceram para ver o pai, e isso irritava-o ainda mais, pois sabia que esse carma ele teria que carregar até o último suspiro "daquele velho".

      Mas quando voltava para casa, sua filha Juliana vinha correndo lhe abraçar, fazendo com que se esquecesse de todos os transtornos, todos os traumas e todos os desgostos que passara até hoje por culpa daquele que deveria amá-lo, mas a único sentimento que via em seus olhos era ódio, rancor e arrogância.

     Depois do aconchego da filha e da paz que havia em sua casa ficava mais aliviado, pois voltaria naquele lugar tempos depois, talvez uns dois meses depois, e não se esquecia de fazer orações para que Deus finalmente tivesse misericórdia e levasse-o para a morte. Orava também para que conseguisse perdoá-lo quando partisse e que tivesse paz para onde fosse. Era o que desejava ao pai.

      Tempos de colheita, seu Arnaldo.

      Texto publicado dia 27 de agosto de 2012.


   

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Depois, quem sabe...


      Mesmo calçando sapatos de salto alto, Monique correu para seu o prédio onde ficava seu apartamento, numa sangria desatada. Trêmula, não conseguiu chamar o elevador, então arrancou os sapatos e subiu pelas escadas. Fôlego de maratonista que nem ela sabia possuir e com as chaves na mão, abriu a porta e correu para a janela que dava para a rua de onde chegara. Uma garoa deixava o tempo cinzento e frio, e com sua respiração deixava a janela embaçada. Trocava de lugar a cada embaço, mas não queria perder de vista o homem idolatrado por anos, que nem imaginava que ela possuía e guardava a sete chaves esse sentimento. Amor platônico e eterno, repetia ela, em pensamento.

      Ele ainda era visível, de longe, caminhando tranquilamente, de cabeça baixa e mãos nos bolsos. A brisa úmida fazia com que seus cabelos brilhassem. Ele brilhava por onde passava, pensava Monique, apaixonada. Uma lágrima rolou, depois outra e logo o choro compulsivo e descontrolado tomava conta da situação.

      Monique se jogou no sofá, abraçou a almofada azul céu de cetim e desabou num choro dolorido. Não se conformava com a situação de não tê-lo por perto, por toda a vida, ou talvez por algum tempo. Como seria se não tivesse terminado tudo há exatos oito anos? Amava-o tanto que preferiu abrir mão de seus sentimentos do que tornar a vida do amado um caos, pelo ciúme excessivo que sentia. Queria seu bem e não sua tortura. Se afastou de forma brusca, sem dar chances para uma explicação. Não tinha explicação. Ela decidiu pelos dois e não havia o que discutir.

      Nesse tempo todo muitos homens já haviam passado pela sua vida, mas nenhum chegava aos pés de Danilo. E coincidência ou não, todos eram muitos parecidos fisicamente com ele. Estatura mediana, magro, cabelos negros e anelados, poucos pelos pelo corpo e uma pele branca, rosada quando permanecia alguns minutos ao sol. Mãos com unhas bem cuidadas, pés idem, e nunca, jamais, deixava de usar perfume amadeirado. Dormia e amanhecia perfumado. Parecia TOC, mas não se sentia bem quando uma pequena gota de suor se atrevia a atravessar sua nuca. Ficava inquieto até se banhar e se perfumar novamente. Adorável, sedutor, tranquilo... E sem atitudes. Não era homem de iniciativas, apenas concordava, pois não gostava de discussões infundadas e todas as discussões que tinham eram infundadas. Por esse motivo Monique tomava as atitudes que lhe convinha. Sempre.

      Hoje cruzara com ele na rua, se cumprimentaram e ela correu para seu apartamento. E chorou as lembranças não vividas, os beijos não dados, os carinhos não trocados, o amor que não se acabara com o tempo... Estaria ele casado? Não queria saber. Melhor assim, cada um no seu canto. Aparentemente estava bem e feliz e isso era o que importava. Saber ou deduzir que o amor de sua vida estava bem e livre de seu ciúme perturbador.

      Continuaria vivendo e procurando alguém que preenchesse o vazio provocado por ela mesma, mas foi uma decisão sem volta. Melhor assim. E continuou chorando, encharcando a almofada que agora abrigava suas lágrimas, fazendo rodelas de azul céu escuro, sem estrelas para contar o tamanho da dor da solidão daquele momento. Melhor assim, repetia...

      Assim que viu Monique, Danilo tremeu, perdeu os passos, mas continuou firme em sua direção, cumprimentou-a, abaixou a cabeça e seguiu. Olhou para trás e não mais viu Monique. Chorou, quieto, sem temer que alguém presenciasse e quem sabe lhe perguntasse de qual mal sofria. Mal de amor eterno, mal de abandono, mal de desprezo pela mulher amada, responderia sem medo.

      Reconhecia que era covarde e que não tivera a coragem de procurá-la, respeitando sua vontade e também querendo vê-la feliz e em paz. Amava-a tanto que não se atreveria nunca a perturbar sua felicidade e sua vida. Viveria até os últimos minutos com lembranças tortas e mal-resolvidas. E assim quis, assim foi feito. Repetia, incansavelmente pelas ruas úmidas. Vez ou outra arrumava os cabelos, enxugava a testa com o dorso da mão e continuava cultivando as lágrimas que caíam, uma a uma, discretamente.

      Queria ter a coragem de dizer que a ainda amava-a e sempre a amaria, eternamente. Mas foi melhor assim, apenas um oi e a vida seguiria seu destino. Cada um na sua vida, com seus outros amados, com suas alegrias, com sua paz. Assim ela quis, e assim foi feito.

      Fim.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Marlon Guido


Meu nome é Marlon Guido, sou filho de dona Marta e até hoje me lembro de coisas e fatos que se deram em minha vida, ocorridos quando eu ainda era bebê. Um deles, me lembro nitidamente, ainda ia fazer dois anos de idade, minha mãe confraternizava com amigos, sentados numa mesa às margens do Rio Paraíba do Sul, em São João da Barra, quando ela me pegou no colo e em fração de segundos me atirou lá dentro do rio. Caí próximo ao dique e logo a fadiga de estar bebendo água e tê-la entrando no meu nariz já tinha tomado conta de mim. 
Minha mãe foi mãe solteira, me teve aos 18 anos e, expurgada de casa, foi para o Rio de Janeiro comigo nos braços, e só voltou a ter contato com a família quase dois anos depois. Até um ano e meio de idade eu não tinha nome. Passeando comigo no carrinho, na rua, as pessoas brincavam com o filhinho de Marta e perguntavam: "qual o nome dele"? "Sorvete. Ele ainda não tem nome", dizia minha mãe. Pois bem, o tempo passou, minha mãe prosperava dia após dia, como vendedora, galgava postos cada vez mais altos nas empresas à nível nacional, como o grupo Garavelo na época, Golden Cross, foi gerente de banco e aparentemente era muito requisitada. Também, foi "Garota Alternativa", "Garota Objetiva", garota isso, garota aquilo, era um monte de concursos de beleza que hoje correspondem a esses novos que lançaram aí. Mamãe era de fato uma mulher muito bonita, eu a amava e passava horas olhando-a como se o tempo parasse. 
No decorrer de toda sua vida, todas as suas atitudes comigo foram no sentido de me fazer virar homem o quanto mais rápido possível. Era como se ela quisesse que eu fosse precoce em tudo, até na natação, como já relatei. Seu desejo era, que meu nível de entendimento, visão de mundo e defesas, fossem aguçados ainda que totalmente fora da minha capacidade. 
Depois de termos a vida que pedimos a Deus, de obtermos tudo aquilo que sempre queríamos, numa fração de pouquíssimo tempo minha mãe já havia se tornado totalmente dependente do álcool A rapidez com que aquela mulher obteve a ascensão foi a mesma do fracasso. Das reuniões nos restaurantes chiques no Rio de Janeiro pros pedaços de pedra embaixo da ponte da Lapa, acompanhada de outros alcoólatras e que muitos deles moravam ali mesmo. Foram quase quinze anos, onde ela parecia ter como objetivo o suicídio lento, regado pela bebida e pelo cigarro. 
Algumas manias ela nunca perdeu, como a de viajar por exemplo, só que agora nós não andávamos mais nos leitos dos ônibus e nem nos carros, mas nos caminhões de carona, onde eu passava noites em claro vigiando-a, a fim de coibir aquele momento em que o motorista mudaria a marcha e levemente se aproveitaria pra tentar alisar sua perna. Era quando eu sempre simulava uma tosse pra que ele percebesse que eu estava acordado e vendo, a fim de quebrar o clima e ele interromper a empreitada. 
Eu tinha um ciúme da minha mãe que não gosto nem de me lembrar. Eu tinha um cuidado com ela que minha disposição de levar dias acordado e sem me alimentar direito era abastecida pelo simples fato de saber que alguma coisa poderia lhe acontecer no momento em que eu dormisse, ou que me enfraquecesse por falta de comida. Minha saliva era suficiente e me manter longos minutos sem piscar era uma estratégia para espantar o sono. 
Ruas, becos, vielas, favelas, prédios abandonados, obras inacabadas, terrenos, rodoviárias e ate beiras de praias eram lugares comuns onde passávamos horas, dias e até meses. 
Muita coisa não dá pra ser explicada por aqui, mas o que eu quero trazer à tona, sem o mínimo constrangimento, é que eu amo minha mãe cada vez mais a cada dia, ainda que ela já não esteja mais aqui na terra há mais de dez anos. pois a cada momento em que me lembro dela, me lembro também de cada ato dela comigo durante o tempo em que passamos juntos. Parecia que ela já sabia que me deixaria cedo demais e talvez eu não estivesse ainda preparado pra enfrentar o mundo sem ela, sozinho. Mas sobrevivi, e tenho certeza que tudo que ela fez me ajudou, me preparou, me fortaleceu, até os atos mais loucos. Agradeceria a ela desde o dia em que me jogou naquele rio, onde alguns longos segundos depois, um cara que provavelmente estava sentado naquela mesa com ela, pulou e parece que posso sentir ate hoje suas mãos nas minhas costelinhas, me subindo de volta à superfície. Não sei quem ele é, mas tenho certeza que conta isso ate hoje, se estiver vivo. 
Agradeceria também a todas as noites nas rodoviárias, testemunhando aquelas cenas e fazendo feições de quem poderia fazer mal a qualquer um que se aproximasse dela, mesmo estando totalmente temeroso e indefeso, mas sabendo que havia um Deus que nos protegia e nos guardava, senão Ele sabia que pra mim não tinha sentido Ele não proteger nós dois, então que eu ficasse desprotegido, e não ela. 
Agradeceria também pelo nível de realidade que ela me ensinou a viver, por me ensinar a analisar as pessoas, as coisas, os ambientes, o "feeling" pra detectar os mínimos detalhes e fatos que se dão num curto espaço de tempo entre pessoas, sem que elas percebam que foram vistas e "lidas", me facilitando reações e me permitindo elaborar situações pra me safar do que quer que seja e progredir em qualquer necessidade. 
Eu ficaria aqui por horas, até dias, contando coisas que provavelmente você só verá em filmes, alguns até baseados em fatos reais, mas sem o teor e a veracidade do relato sendo contado pelo próprio autor da história real. Se valorize mais, vencer na vida é uma questão de visão, talvez você já seja um vencedor e não reconhece isso... ‪#‎Amor‬

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Este é Marlon Guido, de Campos de Goytacazes, RJ, amigo virtual querido, desses que a gente esbarra por aí e nem imagina que teve uma história dolorida. Rapaz sério de olhos brilhantes, olhos que falam e sentem, ternura que esbanja por onde passa, rapaz que sentiu as muitas dores na carne, na alma, e nunca se deixou abater. Vive como tem que viver, com Deus no coração sempre, valorizando o que é de valor e agregando o que lhe convém. Simples, como tem que ser. Um vencedor, produtor rural, que vive e faz a diferença por onde passa. Respira com vontade, com garra e nunca, jamais, desiste de seus sonhos e objetivos. Teve um anjo cuidador, sua mãe, mesmo, às vezes, com atitudes duras, e foi um anjo pra ela, cuidando-a com tanto cuidado como se tivesse a impressão que se quebraria caso alguém lhe encostasse um dedo. Ainda vamos ouvir falar muito dele. Guardem seu nome!

Obrigada, Marlon, por me permitir compartilhar sua vida.





terça-feira, 4 de novembro de 2014

Qual a Maior Dor do Mundo?

Alguém consegue medir a dor? A minha dor é maior que a sua dor? Qual a maior dor do mundo?

Abertura do Programa do Jô, após perder seu filho Rafinha. 

Não dá pra saber o tamanho da dor de um pai quando perde um filho... Como ele diz, é uma inversão natural da vida...

Assistam! Cliquem no link abaixo.