quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Uma Doce Ex-Namorada


      Mesmo depois de anos e com uma vida amorosa totalmente estável, Matheus não se esqueceu de Marissol, sua ex-namorada, que lhe dava muitas alegrias. O amor acabou, mas as lembranças são permanentes em sua mente.

      Uma mulher feliz, falante, avoada e sem noção de tudo. Falava pelos cotovelos e não tinha a menor vergonha de perguntar indiscretamente o que não sabia. E essa era sua graça, de ser autêntica com uma certa ingenuidade.

      Nunca mais a viu. Mudou-se de cidade e perderam contato. Mas sempre que se lembrava de Marissol um sorriso carimbava-lhe o rosto permanecendo por alguns minutos e, olhando para o nada, ficava com cara de apaixonado pelos bons momentos em que passaram juntos.

      Certa vez Matheus chegou em sua casa - Marissol morava sozinha num quarto e sala alugados - e viu um bilhete dizendo para que entrasse sem bater. Estranhou, mas obedeceu.

      Assim que abriu a porta uma música começou a tocar, romântica e melosa, voz de mulher tendo um orgasmo ou uma síncope. Ele riu, entrou e fechou a porta. A luz estava apagada. Apenas um abajur aceso e com um tecido vermelho cobrindo-o, dando uma sensação de aconchego. Parou, sorriu, cruzou os braços e, antes de continuar a decifrar os avisos pregados propositalmente em lugares inusitados, ficou imaginando o que estaria por vir. Marissol gostava de surpresas que, para ela, eram surpresas, mas eram sempre as mesmas surpresas, os mesmos bilhetes, a mesma luz vermelha, a mesma música, enfim, uma surpresa rotineira. Ele gostava e se divertia.

      Continuando, vários outros bilhetes dizendo do amor que Marissol sentia por ele, com desenhos grotescos de coração e beijos com batom vermelho. Também alguns pingos oleosos nos papéis, que certamente era do óleo corporal que ele adorava. Matheus abriu um sorriso mais largo, mexeu com a cabeça de um lado para o outro e continuou.

      Na porta do quarto um bilhete grande com letras desenhadas com glitter e vários beijos de batom espalhados por todo o papel: "Vem, meu amor, estou te esperando...". Matheus não aguentou e já soltou a primeira risada.

      Abriu a porta devagar e viu a cama vazia. É claro, tinha que achar o amor se quisesse o amor. Sempre era assim e sempre seria. Apesar do quarto minúsculo, Marissol sempre dava um jeito de se esconder cada vez em um lugar diferente.

      Matheus entrou e começou a olhar debaixo da cama. Levantou-se e sentiu os braços delicados de Marissol entrelaçar sua cintura. Fechou os olhos por um momento, acariciando os braços lisos e macios e depois virou-se. Olhou-a de cima a baixo e não aguentou. Caiu na gargalhada!

      -Ah, amor, o que foi? Olha que eu te sento o cacetete, heim? - disse Marissol, com expressão de decepção por não ter sido convincente o quanto queria.

      Estava vestida de policial sexy, com um top que mal lhe cobria os seios, uma minúscula saia preta com imitação de couro, que mais parecia um cinto largo, uma boina e um cacetete enfiado sob a saia fazendo volume em seu baixo ventre. Estava maquiada exageradamente com batom vermelho-cereja, olhos destacados de preto e cabelos presos num rabo-de-cavalo. Linda!

      Matheus, de tanto gargalhar, caiu deitado na cama e se contorceu, com cólicas abdominais. Lágrimas escorriam pelo rosto e cada vez que olhava a carinha de Marissol com aquela roupa mais ele ria.

      Numa respirada pediu desculpas, mas não aguentou e voltou a gargalhar. Marissol, realmente decepcionada, sentou-se na beira da cama, emburrada, braços cruzados e de cabeça baixa. Matheus, vendo que a amada estava ao seu lado, puxou-a para si e encheu-a de beijos e abraços. Ela, por sua vez, não resistiu as suas investidas e rendeu-se ao namorado. Marissol não era sensual. Tinha um jeito de moleca, de bagunceira, de quem preferia ralar os joelhos no asfalto do que trocar roupas nas bonecas.

      Depois de um bom tempo e já recomposto, Matheus fez Marissol desfilar e se fingir de policial, como ela desejava desde o início. Ela obedecia com gosto, se insinuando para ele de todas as formas. Só depois que ele percebeu que a cama estava toda coberta com pétalas de rosas vermelhas e no criado-mudo estavam vários incensos queimando, fazendo aquela fumaça com cheiro forte. Mas que importância tinha a fumaça quando se tinha um fogo inteiro de nome Marissol?

      Essa era Marissol, alegre e sem medo de ser feliz. Esse era Matheus, um eterno enamorado de sua ex-namorada doce e linda.

      Lembranças que seguiriam com ele por toda a vida. Ele de um lado e ela de outro, perdida por aí, sabe-se lá onde. Será que um dia poderiam se reencontrar? Quem sabe?

      Fim.

4 comentários:

  1. Quem sabe mesmo! Lindo conto! Mas achei esse cara muito babaca com essas risadas na hora errada,rs... Pensaria mesmo no cacete, ops, no cacetete... bjs, chica

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  2. Muito bom! Um conto que me prendeu desde a primeira palavra até o seu final,,, Fico torcendo que voltem a se encotrar.
    Você esvcreve cada vez melhor!...
    Beijos, Élys.

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  3. Muito bem escrito. Fico com vontade de chamar uns nomes feios a esse Matheus, que deixou escapar facilmente uma mulher assim.
    Beijnho, um lindo fim-de-semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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