domingo, 10 de agosto de 2014

Casei Virgem


      O telefone tocou e mais uma vez Augusto chorou ao telefone, querendo voltar com Alessandra. Viviam brigando e se separando por nada. Bastava um olhar atravessado e Alessandra colocava Augusto para correr sem olhar para trás. O coitado chorava as mágoas, se arrependia e voltava, praticamente de joelhos, para os braços daquela que era sua alma gêmea, como assim decidiu que seria.

      Alessandra era geniosa, mas com um coração tão bondoso a ponto de não suportar ver Augusto chorar por ela, preferia relevar e voltar para seus braços, mais apaixonada do que estava antes. "Nunca mais" era a frase constante na boca dos dois. Nunca mais aquele dia, pois tudo voltava a se repetir na semana seguinte. Namoravam desde a adolescência, com turbulências e fases amorosas intensas, mesmo Alessandra tendo feito o voto de se casar virgem. Augusto não se controlava, mas Alessandra fugia dele naqueles dias em que seus braços se triplicavam em seu corpo magro e imaculado.

      O tempo passou e o amor turbulento só aumentava entre os dois. Alessandra não abria mão de seu vestido branquíssimo com calda longa, que, acreditava ela, só poderia vesti-lo se continuasse pura. Voto sagrado sem chances de ser quebrado.

      Marcaram a data do casamento, mesmo contrariando as famílias, pois ainda eram jovens para assumir responsabilidade de um lar e provavelmente de um filho no primeiro ano de casamento. Teimosos, não deram ouvidos aos mais sábios. Marcaram data e pronto!

      Como a avó de Alessandra dizia, quando se marca dia e hora, o tempo voa. E voou! Um mês apenas para concretizar uma união de jovens sem muito juízo, que não se desgrudavam nem nas brigas nem nos momentos de ternura. Amor e ódio os definiam.

      Alessandra começou a ficar preocupada com o dia em que se entregaria ao amado Augusto. Tinha vergonha de perguntar como seria a primeira vez, se doía, se sangrava ou se tinha algum truque para facilitar o ato obsceno. Mesmo fazendo pesquisas virtuais não se contentava só em ver, queria saber da boca dos outros qual seria a sensação de ser perfurada.

      Um dia, curiosa e com medo da dor, pegou um espelho e colocou-o entre as pernas para ver a situação em que estava e imaginando como ficaria depois. "Mas o buraco é muito pequeno, como vai caber aqui?" - se perguntava indecisa. Calculava a espessura do membro do namorado e com gesto com os dedo tentava comparar como seria possível um ato de amor, do primeiro amor, não sangrar e nem doer. "Vai doer" - afirmava ela, suspirando.

      Chegou o grande dia, Alessandra toda linda em seu vestido branquíssimo de renda, véu comprido que se arrastava pelo caminho até o altar e um sorriso de Monalisa grudado no rosto. Se esqueceu que estava prestes a realizar o sacramento matrimonial e não parava de pensar como seria à noite, com Augusto. Uma amiga havia lhe indicado uma pomada anestésica e Alessandra já havia guardado em sua bolsa. Se besuntaria de pomada e não sofreria. Estava resolvido.

      O casamento foi perfeito, tudo tranquilo e em plena harmonia entre o casal. Chegou a noite. Passariam num hotel três estrelas, presente de um dos padrinhos. No dia seguinte viajariam para a praia. Santos, Praia Grande, numa Colônia de Férias. Tudo certo até então.

      Chegando ao hotel Augusto pegou-a no colo e entrou no quarto que já estava preparado para núpcias. Cortesia da casa: champagne no gelo e morangos em um cumbuca de cristal. Rosas vermelhas perfumavam o ambiente, roupões brancos, lençóis de cetim, sabonetes em formato coração e uma música suave quebrava o som o ar-condicionado. Augusto fechou a porta com o pé e colocou Alessandra na cama, deitando sobre ela. "Minha mulher" - disse, apaixonado.

      Alessandra fechou os olhos e esperou o beijo, mas Augusto já estava abrindo a braguilha da calça. Se ajeitou entre suas pernas, levantou o vestido rendado e puxou sua calcinha para o lado. Ansiava por este momento como um faminto ao se deparar com um prato de comida saborosa. O cheiro da fêmea lhe atiçava o instinto animal, se esquecendo da delicadeza prometida por anos, imobilizando a amanda que, assustada, quase não respirava. Havia chegado o momento e não queria mais esperar nem mais um segundo. Alessandra travou. Ansiosa e sem controle começou a chorar. Empurrou Augusto pelos ombros, conseguindo finalmente se esquivar de suas garras. Sentou-se no canto da enorme cama abraçando suas pernas, encostou seu rosto nos joelhos e chorou, compulsivamente. "Não vou conseguir!" - gritava entre um soluço e outro. "Vai doer, vai doer, vai sangrar!"

      Augusto respirou fundo, sentou-se no chão e colocou as mãos na cabeça. Fechou os olhos, se levantou e foi se aninhar no peito de Alessandra. Deitaram do jeito que estavam e adormeceram. Antes dos primeiros raios se mostrarem presentes Alessandra sentiu suas nádegas sendo cutucadas e Augusto a lhe beijar o pescoço, recitando frases de amor em seu ouvido. Sorriu e retribuiu, beijando-o ternamente. Carinhosamente Augusto lhe mostrou a pomada anestesiante, beijando seu rosto todo, com toda a paciência que nem ele sabia que tinha. Alessandra tirou o vestido e se preparou, relaxada. Augusto fez as vezes de enfermeiro e cuidadosamente esguichou a pomada nas partes virgens da mulher. Ela gemeu, pois o choque da pomada em sua pele quente fez com que arrepiasse. Augusto começou a beijá-la, carinhosamente, por todo o corpo. Inebriada com tanto carinho Alessandra sentiu a invasão, sem dor. Sorriu e ficou mais relaxada ainda. Augusto parou com os carinhos e, olhando para a amada, começou a rir, incontrolavelmente gargalhava. Sem entender nada Alessandra ficou séria e preocupada. "Não sinto nada, amor, tá tudo anestesiado!" - disse, segurando o membro e sem ter o que fazer. Alessandra não se conteve e riu também.

      Tomaram banho, café da manhã caprichado e saíram rumo a Santos. Os outros dias foram complicados, pois ainda ficou a dúvida em Alessandra se sentiria dor sem o bendito anestésico ou se já havia rompido o pequeno furo que cabia apenas o dedo mindinho. Não deixava Augusto lhe tocar de jeito nenhum! Travava de maneira que nenhuma força masculina conseguia abrir suas pernas. Lua de mel tensa, só com passeios, comidas gostosas, praia, ardume na pele pelo queimado do sol e sem a consumação carnal do sacramento. Era uma novela convencê-la a tentar mais uma vez, sem ter que presenciar cenas de choro, de tortura, de tapas, de esquivas, de sofrimento inútil, afinal já havia feito uma vez. Mas essa vez foi com o anestésico e sem ele Alessandra não queria arriscar. E com ele correria o risco de Augusto cair na gargalhada e não dar conta de comparecer.

      Augusto já não sabia mais como convencer a mulher de que não doiria, de que era normal e que tudo ficaria maravilhoso se ela relaxasse. Insistia que era tudo psicológico e que se ela ficasse repetindo que iria doer, doeria mais ainda. Alessandra ficava mais apavorada do que estava. Até que com o tempo, só depois de mais de um mês, tudo ficou ótimo entre o jovem casal.

      Só não contavam com a fofoca entre Alessandra e uma tia que fez o favor de espalhar para a família inteira o ocorrido na lua de mel. Mal se alojaram em sua moradia já fizeram reuniões para resolver a virgindade da moça. Os homens de um lado com Augusto, que mais parecia uma confraria de piadas, pois riam o tempo todo. De outro lado as tias, ora passando a mão nos cabelos de Alessandra, ora alisando suas mãos, consolando-a a tentar, que não doía, que depois ela veria estrelas e quem sabe a Via Láctea inteira. E, claro, riam descontroladamente. Quem diria que suas tias idosas já aprontaram muito na juventude? "E nem tinha essa cama fofa, era tudo na palha, no barracão da fazenda", contavam, com os olhos brilhando. "E sabe o que a gente fazia pra ir mais rápido? Os vestidos eram compridos e íamos buscar leite no curral sem calçola. E aí a gente encostava nas tábuas e fazia, de pé." - comentavam, carimbando um sorriso misturado de prazer e saudade da juventude. Alessandra só ficava escutando e perguntando da dor, que era sua principal preocupação. E se divertia muito com as risadas descontroladas das tias.

      Boas lembranças da lua de mel com um anestésico como testemunha. Causos para se contar para os filhos e netos, de todos, da família inteira!

      Fim.

   

7 comentários:

  1. rssssss....Apesar de ser um caso sério, não posso deixar de rir ,pois imagino tuuuudo anestesiado! Credo! isso foi conselho de uma amiga da onça! Mas acabou bem! Lindo de ler e as tias, danadinhas,né? Sabiam bem aproveitar a vida...linda semana,chica

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    1. A amiga quis ajudar, Chica... rsrsrss só sugeriu e no aperto e medo Alessandra fez! E deu no que deu!
      Safadeza existe desde que existe o ser humano!
      Beijos, querida

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  2. Adorei Clara, o carinho de todo modo foi a melhor anestesia. Tudo vai melhor com muito carinho, nao é?
    Bjos e parabens pelo conto,
    Cam

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    1. Sim, carinho é necessário em qualquer lugar, quanto mais melhor, né?
      Beijos, Camille!
      Sempre tão carinhosa comigo... <3

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  3. Hahaha. Imagino que essa piada familiar foi repetida por muitos e longos anos. Existe mesmo essa anestesia, disponível para qualquer um comprar?
    Abraço, obrigada por estas gargalhadas
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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    1. Existe sim, Rithia, e imagino que funcione assim mesmo. rsrsrs
      Uma linda semana pra vc, querida! Beijos

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  4. Como sempre um belo conto e com um bom humor incrível. Parabéns, você escreve cada vez melhor.
    Beijos, Élys.

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