domingo, 31 de agosto de 2014

TPM - Tempo Para Morgar


Podem achar que é frescura, enjoamento, desculpa para chamar a atenção, o que for. Não é!

Ela vem, se instala e fica rindo da nossa cara durante alguns dias. Chaaaata que só!

Eu não tenho muitos momentos chatos não, mas sou insuportável quando os tais momentos estão comigo. Passa rápido e consigo até ter crises de bom humor. Mas também passa rápido.

Sabe aqueles assuntos, aquelas pessoas lá do passado que você já havia matado há tempos? Voltam tudo junto e misturado!

A implicância é tanta que a gente tem vontade de ligar para alguém, especificamente aquele alguém que nos deu uma resposta atravessada lá em meados de 1832 e responder à altura, xingar, gritar e depois desligar o telefone, aliviada. Aí a gente imagina como será que está a talzinha. Da pior forma possível, concluímos. E ficamos aliviadas da mesma forma, pela nossa feliz conclusão. Assunto resolvido.

Depois vamos na bendita geladeira, abrimos, fechamos, bebemos água, voltamos para a geladeira, abrimos, olhamos tudo de novo e ai se tiver um doce ou uma gordura bem ao nosso alcance... É mortal kombat na certa!

Depois vem o choro, por ter comido o que não deveria, pelo calor, pela roupa que não entra mais, pela injustiça mundial, pelo domingo chato, pelo rapaz que a gente se interessou mas tem tantos defeitos que a gente fica até com raiva de um dia ter se interessado por um sujeito desse (ele nem sabe de nossa existência). E tem também toda a agenda da semana a ser cumprida e o desgaste já começa imediatamente.

A mente entra em ação de novo e nos lembramos de como teria sido se... E se... E se... E a raiva aumenta de uma tal maneira que só o choro é capaz de nos consolar. Ou então chocolate. Ou doce, ou açúcar, não sei. Prefiro não ter nada disso em casa...

E, no meu caso, olho em volta e há tanta coisa para fazer e os filhos deitados, dormindo. Mas que folgados, pensam que mãe é empregada. Vem um, come algo e a gente já fica de olho para ver se vai deixar sujo na pia. Já olha para a caneta e papel e imagina uma frase-bilhete enorme para pregar na parede dizendo se quer que desenhe ou se é muito difícil lavar a louça que sujou. Mas imediatamente o filho lava a louça e toda aquela estratégia para jogar a culpa na louça suja vai por água abaixo.

Suspiro... E mais uma vez os pensamentos de injustiça mundial nos vêm à mente. Como pode existir pessoas tão ruins? E por que eu tenho que ficar em casa cuidando de tudo? Por que ninguém cuida de mim como eu cuido de todo mundo? Cansei! É a conclusão que chego.

E novamente o choro toma conta e lava tudo! Lubrifica os olhos, leva a angústia, o tédio, as dores nos seios, nas costas, nas pernas, nos pés, na cabeça, na alma...

Ligo e TV e aquele programa que está no ar há anos ainda continua lá. Gente, como conseguem assistir a isso? Mudo o canal e tudo piora. Desligo e vou ouvir música. Aliás música é uma das poucas coisas que me acalma realmente. Ufa!

Ainda bem que a noite foi feita para dormir... Quando eu consigo dormir, é claro... E lá vem chateação de novo...

Eu e meu mundo paralelo... Mas juro que fico quietinha nesse mundo onde só entra quem for especial e que tenha muita paciência.

Não é fácil, gente, não é!


terça-feira, 26 de agosto de 2014

De 0 a 100 em 10 minutos


Onde o 0 a 100 = defeitos do homem.


Que ódio... Isso não se faz... E agora?
Que coisa, custei a encontrar um cara bacana, que me entende, que é lindo... Um Deus Grego que não se encontra em nenhum lugar. Um anjo que caiu dos céus nos meus braços, o homem de minha vida...
E solteiro!
Mas o Universo tinha que conspirar e colocar uma areinha em cima de tudo isso, né?
Sabe aquela pessoa que a gente imagina mas sabe que não existe? Então, ela existe. E eu a conheci.
Tá certo que é um gato, um corpo maravilhoso, umas mãos suaves... Ai...
Tipo canalha, que tem tentáculos no lugar dos braços, que lhe encosta na parede e lhe vira do avesso, aquele perfume que entra na gente pra acabar com o nosso sustento... 
Aquela boca carnuda, maravilhosa, os dentes perfeitos... O beijo... O beijo... Ai...
Mas como todo canalha, chega sem perguntar, sem pedir licença, nos invade, nos deixa de quatro e...
Apronta o que quer com a gente e só?
Ah, não faça isso, rapaz! Isso dói...
Bastou eu me derreter toda pra virar pros lados e achar quem? Qualquer uma que passar a sua frente!
Sim, porque me disse coisas lindas, me levou à beira da loucura e só?
Não durou muito, não foi uma eternidade... Um mês... Mas tá bom né? Tempo suficiente pra gente conhecer.
Eu andei fuçando nos signos e realmente não combinam. O meu é ar e o dele é fogo. Quer dizer que eu sempre vou apagar o fogo dele? Ou será que sempre vou satisfazer o fogo dele? Não importa.
Já sei que ele já está com outra... Mas não quero saber com quem... Pra quê?
Se bem que eu duvido que ele encontre alguém como eu. Pode ser parecida, mas igual, jamais!
O beijo dele não é tão bom assim... Não é daqueles envolventes que a gente perde o fôlego, tanto é que ficaria horas beijando e respirando ao mesmo tempo.
E tem aquele calo na mão que me machuca o rosto quando me toca... Tinha que cuidar disso, a gente tem a pele delicada e não pode ficar marcada por causa de um calo. E as unhas parecem que não são cortadas e sim roídas, com toda aquela cutícula saltitando... Ah não gosto! E o pior de tudo isso? A unha do dedo mindinho maior que as outras. Afff!!! 
O abdome nem é tão definido assim... Tem umas dobrinhas que a gente fica até incomodada de ficar pegando...
E os pés dele? Gente, aquilo não são pés, são garras! Um horror! Bem que eu percebi que de vez em quando ele não tirava as meias pra transar... Affffff!!!
É mais baixo que eu. Então tive que diminuir meus saltos que tanto amo... Pra não constranger o coitado... Ficava até engraçado a gente andando de mãos dadas, ele 5 cm mais baixo e eu com salto quinze. Parecia que era meu filho me dando a mão. Affffffffff!!!
Ah, mas ele fala coisas tão lindas, tão envolventes... Mas não pronuncia o português correto... Chega a doer os ouvidos... De vez em quando ele solta um "menas"... Mas é tão envolvente que eu nem ligava. Não ligava, mas agora me lembro de tudo, tudo!
Mas tinha um perfume tão bom... Mas perfume doce... Onde já se viu homem usar perfume doce? Quer me matar de enjoo?
Agora ele está lá com aquelazinha... 
Não deve ter nenhum pingo de criatividade e deve repetir tudo pra ela, palavra por palavra, vírgula por vírgula e erro por erro.
Coitada, vai ter que aguentar tudo aquilo?
Ah vai... E vai adorar! 
Mas que seja só por 28 dias, porque comigo foram 30, então se ficar ou passar os 30 aí fico preocupada.
Não, que dure 2 semanas e já está de bom tamanho.
Será que ele se lembra de mim? Que me importa? Eu é que não vou ficar me lembrando dele.
Quer saber?
Que traste, que homem horrível, que não tem modos, que não tem pegada, que não sabe beijar, que usa um perfume horrendo, que não tem criatividade no sexo, que nem é tão bonito assim e que não sabe ter um papo decente.
Pronto, falei! Affffffffffffffffff!!!
Que ódio!



Texto publicado em  27 de maio de 2013 - Editado.



sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Delicadezas de Deus


Participando da Blogagem Coletiva da Rosélia, do Blog ESPIRITUAL -IDADE, falando das delicadezas de Deus na nossa vida e comemorando 5 anos de blog.

Eu poderia descrever tudo que Deus criou, toda a bondade humana, toda a inocência da criança, toda a perfeição da natureza, todo o amor dos animais, mas vou contar uma história...

Numa época muito difícil de minha vida, o que eu mais queria era morrer. Simplesmente não estava mais suportando tanta angústia, tanto sofrimento... Meus pensamentos eram destrutivos, minha alma chorava dia e noite, meu corpo padecia, meu espelho não refletia nada além de uma nuvem escura...

Olhava para o lado e via meus filhos, pequenos, tão dependentes de mim e eu não sabendo como fazer...

Num desses dias ajoelhei-me e supliquei a Deus misericórdia. Minhas lágrimas doíam-me as bochechas quando desciam para o colo. Meus ouvidos ziniam, meus soluços levavam-me todo o ar...

Supliquei a Deus misericórdia... E fiquei em silêncio, sem pensar em nada, por alguns minutos.

Depois me levantei e continuei a fazer o que tinha que ser feito.

No outro dia, ou na outra semana, não me lembro, tocaram o interfone. Fui atender e era uma moça, uma jovem senhora, perguntando se era eu que tinha uma máquina de costura, tipo overloque. Eu disse que sim e ela me pediu para passar a costura em volta de uma manta para bebê. O bebê era o netinho que logo viria.

Ela se apresentou como sendo "cliente" de uma vizinha, que vendia produtos de beleza. Pedi para que deixasse a manta e viesse no outro dia buscar. Eu poderia muito bem fazer em 3 minutos e devolver a manta, mas resolvi deixar para mais tarde. Na verdade, hoje sei disso, a manta foi um objeto que me fez mudar o foco de meus pensamentos. Fiquei imaginando o bebê todo enroladinho naquela manta que ainda estava para ser terminada. O que será que a futura avó colocaria como adorno em volta dela? Era linda, macia, azul claro e amarelo. Uma delicadeza.

No outro dia voltou a mulher (reparem bem que não fui à minha vizinha perguntar sobre ela) e lhe devolvi a manta. Não cobrei nada, mas ela fez questão de me pagar R$ 2,00, que era meu trabalho, que eu tinha que cobrar sim. Aceitei.

No outro dia a mulher voltou novamente e, gentilmente, me ofertou uma rosa vermelha. Não entendi. Ela sorriu para mim e disse que a rosa era do quintal dela e que Deus me amava muito.

Foi o suficiente para que eu desmoronasse em prantos. Me segurei enquanto ela estava por perto, mas bastou fechar o portão para me acabar em lágrimas, soluçando, e sem entender nada. Nem minha vizinha e nem ninguém sabia o que estava se passando comigo.

Novamente ajoelhei e agradeci a Deus, por tudo, sem enumerar nada! E depois disso nunca mais deixei de agradecer por tudo, todos os dias.

Deus nos fala através das pessoas, Deus nos sussurra palavras e nem sempre conseguimos ouvir, por estarmos tão cegos com os sofrimentos e não percebermos o que se passa a nossa volta. Às vezes os sofrimentos são tão passageiros que nem percebemos. Continuamos cultivando-o incansavelmente por dias, noites, meses... Desperdiçando o que se tem de mais belo na vida, que é exatamente a nossa vida. Temos vida! E ela pertence a Deus, graças a Deus!

Amém!

Nunca mais vi a mulher...

Delicadezas de Deus...


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Florbela Espanca



Só se Pode Ser Feliz Simplificando


Só se pode ser feliz simplificando, simplificando sempre,arrancando, diminuindo, esmagando, reduzindo:
e a inteligência cria em volta de nós um mar imenso de ondas, de espumas, de destroços, no meio do qual somos depois o náufrago que se revolta, que se debate em vão, que não quer desaparecer sem estreitar de encontro ao peito qualquer coisa que anda longe:
raio de sol em reflexo de estrelas. E todos os astros moram lá no alto.

Florbela Espanca, "Diário do Último Ano"

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O Namorado de Dona Evelina


Quem conhecia Dona Evelina, não dizia que ela tinha 72 anos. Cabelos grisalhos desde os 40 era conhecido como o seu charme, ela costumava dizer que Deus havia pintado o seu cabelo para sempre. Casara com Dagoberto muito cedo e apesar de terem a mesma idade, todos diziam que Dona Evelina parecia mais nova do que ele. Ele era dono de um famoso restaurante do Rio de Janeiro e ela apenas o ajudava na administração de tudo com o único filho do casal, Estevão. Quando completaram 51 anos de casados viajaram por todo o Brasil, conheceram Portugal e o Egito. No outro dia, quando chegaram de viagem, Dagoberto passou mal e faleceu. Engana-se quem pensa que Dona Evelina deixou-se abater. Acreditava em vida após a morte e sabia que o destino de Dagoberto seria bom, pela pessoa que foi em vida. Depois da missa do sétimo dia do marido, Dona Evelina desfez de tudo o que pertencia a ele. Trocou móveis do apartamento, derrubou e pintou paredes, mudou quadros e não queria nada que lembrasse o marido falecido. Decorou a casa com arranjos florais, passou a organizar jantares com amigas, entrou na academia e se matriculou em um curso de informática. O que Dona Evelina queria mesmo era viver a vida. Viúva e com um único filho já casado, nada faria com que ficasse em casa oprimida. Passou a ir com mais frequência à praia com as amigas, para o cinema, para a sorveteria e passou a amar navegar na internet. E foi pela internet que Dona Evelina conheceu Ugo, um rapaz de 34 anos, sobrinho de uma amiga. Descobriu que Ugo era solteiro e trabalhava como arquiteto. Marcaram de se encontrar e depois de um tempo em segredo perceberam que já estavam se gostando e namorando. 

- Amanhã, vou te apresentar ao meu filho Estevão. Ele vai te adorar. 

Ugo estava radiante, finalmente encontrara o amor da sua vida. Já havia namorado garotas da sua idade e a experiência não foi tão legal. Claro, ele estava preparado para enfrentar os preconceitos tanto da sociedade, quanto da família e amigos. No outro dia pela manhã Dona Evelina levou o namorado para apresentar ao seu filho Estevão, que não esperava aquela situação. Ficou assustado, levantou-se da cadeira e falou: 

- Namorado? Como assim, mamãe?

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Participando da Blogagem Coletiva do Blog Mesa de Conversa, onde Carlos inicia uma história e cada um decide um final.
Eis o meu desfecho:

- Calma, filho, que braveza é essa? Cumprimente Ugo, por favor!
Como tinha boa educação, Estevão estendeu a mão e cumprimentou o namorado da mãe. Estranhou, ficou olhando com cara de poucos amigos e não pronunciou nenhuma palavra. Nenhuma pergunta ou sugestão. Calou-se, até que Ugo resolveu se retirar. Estava um clima ruim e não queria atrapalhar a vida de Eve, assim como chamava-a.
Logo que fechou a porta Evelina sentou-se frente ao filho, pegou suas mãos e começou o monólogo.
- Meu querido, estou muito feliz, não se preocupe comigo, sim? Eu sei de minha saúde, sei de minha idade, sei de minha condição financeira, que logo será tudo seu e sei que ainda tenho lucidez suficiente pra não fazer nenhuma besteira. E, claro, não sou hipócrita em achar que um rapaz novo esteja apaixonado por mim. Nunca achei e nunca acharei. Ele me faz bem, me faz companhia, me dá atenção, me ouve, tem um beijo maravilhoso e me dá prazer como eu nunca tive. Só isso! Sei que você vai continuar cuidando de mim e é isso que eu espero de você, que cuide de mim. Tudo quanto aos negócios estarão nas suas mãos, certo? Me deixe viver como eu quero, por favor? - e beijou a testa de Estevão.
Sem ter o que responder e vendo na mãe uma base forte, um porto seguro como sempre foi, não lhe restou alternativa a não ser abraçá-la e desejar-lhe sorte.
E assim Evelina, Eve, viveu dias maravilhosos ao lado do jovem Ugo.
Fim.


domingo, 17 de agosto de 2014

Até Que a Morte nos Separe


      - Mor, eu te juro que não vai ter nada demais... É só uma reuniãozinha com a turma, beber um pouco, me despedir deles e só!

      - Dré, isso não funciona! Despedida de homem sempre tem mulher no meio...

      - Tem nada! Na minha despedida não vai ter não! Eu gravo tudo e depois te mostro... Não se preocupe, te amo!

      - Tô com medo, Dré... Não deixa aqueles marmanjos te machucarem...

      - Beijo, te amo, futura esposa!

      - Beijo, marido!

      André chegou na casa do amigo Tadeu por volta das 23:00h, onde seria sua despedida de solteiro. Esperou pelos demais amigos e, para sua surpresa, não ficaram por ali. Seguiram para uma chácara, que ficava no final da cidade e que não era longe.

      Eram seus amigos de infância, por isso nem se importou com a surpresa. Queria se divertir com os malucos e beber além da conta, até cair e acordar só no outro dia.

      Chegando na chácara, mais alguns amigos dos amigos e, claro, algumas garotas "um tanto duvidosas". André se lembrou de sua noiva; mas já que ali estava, aceitou tudo sem problemas. Sabia de seus limites e tinha muito juízo.

      Era um local afastado, perto de um rio que cortava a pequena cidade. O céu estava estrelado e a Lua iluminava o matagal e refletia nas águas sua imponência noturna, dando a impressão de uma noite medonha, silenciosa e solitária. Era inverno e vez ou outra ouvia-se o uivo da ventania, que passava e voltava, como se vigiasse quem se atrevia a atrapalhar sua melodia.

      Entre bebedeiras, risadas descontroladas, amassos nas "moças" e cantorias gritadas, os amigos fizeram com que André dançasse sobre uma mesa, somente de cueca, depois colocaram uma moça e dançaram os dois num ritmo sensual. Mas André, ainda lúcido, evitava ao máximo se encostar na garota; olhava com ar de reprovação ao grande amigo de infância, e este ria como uma criança. Desviava o olhar da moça, evitava seu corpo, seu toque, mesmo quando ela insinuava a tocar-lhe onde não deveria, esquivava e continuava, afinal era sua despedida de solteiro. Como estavam todos bêbados nem percebiam que André se afastava da moça quando ela rebolava na sua frente, praticamente grudada nele.

      Depois fizeram com que bebesse um copo com várias misturas de bebidas. Virou de uma vez e quase desmaiou, de tão forte. Mesmo zonzo e falando mole disse que não beberia mais nada, e, apesar da reprovação de todos, sua vontade foi atendida, mas pagaria um castigo por isso.

      Levaram André até o quintal e o amarraram numa árvore, de forma que jamais se soltaria. Estava só de cueca, muito bêbado e o tempo gelado.

      Antes dos rapazes voltarem para casa, enfiaram-lhe goela abaixo, na marra, um copo com aquela mistura forte de várias bebidas. Nessa altura, André já nem enxergava mais e desmaiou.

      A bagunça continuou em todos os lugares da casa e as garotas, todas nuas servindo seus corpos, como assim desejassem cada homem. Se esqueceram de André.

      A madrugada foi gelada e todos acordaram quando já se passava do meio dia.

      - Gente!  O André! - alguém se lembrou da noite anterior.

      - O quê?

      - O André ficou só de cueca lá fora... No frio!

      - Deus do céu!

      - Ele tá dormindo ainda? André... André.... Andrééééééé... - Correram para ir até a árvore onde amarraram André.

      - Me ajuda aqui, gente, acorda ele!

      André estava morto. Hipotermia, segundo o laudo médico.

      A cidade era pequena e a notícia se espalhou rapidamente. Houve comoção geral e alguns se programaram para invadir as casas dos envolvidos para um linchamento. A polícia local foi solicitada para conter a fúria da população. André era querido por todos, boa pessoa, honesto e gentil.

      Sua noiva entrou em desespero, e, mesmo depois de quase 15 anos do ocorrido, nunca se recuperou do trauma. Nunca se casou e sua vida segue entre internações em clínicas devido à depressão e vida de andarilha por toda a cidade, praticamente maltrapilha.

      A família de André aguardou um desfecho da justiça, e quem sabe, uma condenação de todos aqueles que se diziam amigos. Seu pai faleceu pouco tempo depois, de infarto, e sua mãe não saiu mais de casa, a não ser para ir ao cemitério chorar no túmulo do filho.

      Os amigos mudaram de cidade e seguiram suas vidas normalmente, casados e com filhos.
   
      Seu túmulo se tornou referência na cidade, pois a população acreditava que, devido à tragédia, sua alma fazia milagres, principalmente para os noivos.

      Fim.

      Texto publicado em 19 de dezembro de 2011 - Editado


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Vida e Morte, Morte em Vida


Uma semana difícil com tragédias sem sentido nenhum. Essa é a vida. Um dia aqui e outro acolá, num outro plano.

Difícil estar com uma pessoa num dia e no outro ela estar morta. Morre a família junto.

Mas vamos falar de vida e morte. O normal é nascermos, vivermos e morrermos, no seu tempo certo, de morte morrida e não de morte matada, ou provocada, ou acidentada ou fora do percurso natural da vida. Isso nos choca, nos deprime, nos causa infelicidade, agonia e nos faz pensar na vida em que levamos. E ficamos neste estado de abismo por alguns dias. Depois outras coisas acontecem, muda-se o foco e tudo volta como antes.

Muitos falam em aproveitar a vida. O que seria aproveitar a vida? Cada um sabe o que de melhor a vida pode lhe oferecer e o que pode ser aproveitado pra valer.

Mas o pior de tudo isso é a morte em vida. Gente que não vê mais graça em nada, que se fecha em seu mundo e morre... Gente que adoece com a certeza de não ter mais nenhuma volta, de que a partir dali é contagem regressiva pra dar adeus aos que ficam... Gente que não tem mais consciência e nem lembranças, gente que tem as lembranças roubadas por uma doença, que aos poucos lhe faz regredir e desaprender tudo o que aprendeu durante a vida saudável.

Hoje presenciei, no ônibus, um casal. Menos de sessenta anos cada um, creio eu. A mulher bem arrumada, bonita, com os cabelos presos num coque alto, roupa justa, mas não vulgar e o homem não aparentava ter nenhuma deficiência. O tempo todo ela tratava-o de "amor". Muito paciente segurava em sua mão, colocando-o sentado num banco vazio.

Eu já tinha visto este casal dias atrás. E o tratamento era o mesmo. Sempre "amor" pra cá e pra lá. E ele, obedecia seus comandos e permanecia quieto.

Outro dia eles entraram no ônibus e o homem estava irritado e não queria obedecê-la. Mas o carinho e cuidado continuavam o mesmo. "Amor" aqui e ali. Depois vi-a chorando e enxugando as lágrimas com o punho.

Hoje, ao entrarem no ônibus, como sempre o cuidado continuou, mas ele ficou agachado e não queria se levantar de jeito nenhum. Ela insistiu e repetiu várias vezes pra que ele se levantasse e se sentasse. Sentaram-se na minha frente. A mulher olhou pra mim, piscou e sorriu. Depois olhou de novo e comentou que ele tinha Alzheimer. Eu não soube o que dizer, então não disse nada. Ela conversava com ele como se fosse um garoto. Depois me olhou e disse que não era fácil não. E continuou conversando com o marido, perguntando se queria comer quando chegasse em casa. Ele dizia que não, que não gostava de comer. Ela, então, perguntou se queria sorvete. Ele disse que sim, que sorvete ele queria. Ela me olhou, piscou e sorriu de novo.

Perguntei-lhe, então, há quanto tempo ele estava assim. "Há dois anos, mas só descobri há um ano. Diagnosticaram como sendo depressão." Eu lamentei e continuei observando.

Não tive como não me colocar no lugar dele, sendo dependente de alguém depois de mais da metade da vida. Que triste! E que bom ele ter uma pessoa pra lhe cuidar. Tenho medo de ficar dependente de alguém por conta de alguma enfermidade. Sempre fui muito independente e não sei qual seria minha reação ter que esperar alguém fazer algo por mim. Parece egoísmo e deve ser mesmo, não sei.

Mas não me senti bem, tanto com essas mortes de pessoas que nem conheço, e com a lembrança de meu irmão que faz dois anos que faleceu e depois esse casal com o senhor totalmente dependente. Não foi fácil, não é fácil, mas é a vida, ou a morte, ou a morte em vida...

Bom fim de semana pra todos.



terça-feira, 12 de agosto de 2014

Robin Williams e Tantos Outros


      Foi encontrado morto com um cinto no pescoço... já leram por aí, claro.

      E foi endeusado e julgado na mesma proporção. E não passava de um homem exposto pelo brilhante trabalho que exercia. Nada mais que isso.

      Depressão o definia, mesmo sem ninguém entender como é que pode alguém famoso, rico, bem-sucedido, casado... blá, blá, blá, ser tão infeliz a ponto de não suportar mais viver.

      Muitos sem entender que depressão não é por vontade do ser humano. Depressão é uma doença silenciosa que deve ser tratada por especialistas e entendida por familiares e amigos do deprimido. Ninguém escolhe estar deprimido. Ela chega, se aloja, fica e vai ficando, ficando... Depois vem consequências que ninguém sabe.

      Frescura? Frescura é pensar que todos conseguem suportar suas dores e sofrimentos. Cada um tem sua vida, seus pensamentos, seus problemas, suas dores, suas alegrias, suas tristezas... E não há dinheiro, sucesso e mesmo companhia diária que lhe prive de um sofrimento. Cada um com seu cada qual.

      Talvez um simples gesto de carinho, uma presença, um abraço, um ouvir sem julgar, sem querer resolver a situação com conselhos fazem toda a diferença. Não que vá curar ou melhorar, mas quando a pessoa está deprimida não consegue ouvir nada. Seus pensamentos e seu buraco negro é mais forte que todas as vozes do mundo.

      Continuam achando que é frescura? Tudo bem, como eu disse, cada um com seu cada qual. Não precisam concordar com nada, bastam respeitar e ficar de olho.

      Depressão não é tristeza temporária. Depressão é tristeza profunda por dias, meses, anos... É mudar radicalmente os atos, é se trancar na solidão da mente, mesmo estando no meio de uma multidão ou simplesmente "acompanhado" o tempo todo. Raramente alguém consegue sair do buraco sozinho.

      Não julguem, por favor! Se não podem ajudar não façam nada que piore a situação. As consequências são terríveis e às vezes irreversíveis.

      Já estive por anos nesse buraco negro e consegui sair. Meus filhos me tiraram de lá. Não foi fácil e a conclusão que chego é que depressão não tem cura. Pode voltar a qualquer hora, com qualquer sofrimento temporário. Não dá para fraquejar depois que já se conhece o buraco sem fundo. É uma luta diária, é uma mudança de vida, de rotina, de hábitos, de amigos, de pensamentos, enfim, não se importar tanto, ter uma vida com mais leveza e procurar ser feliz do fundo do coração. Difícil, né? Mas não impossível.

      Neste post AQUI, conto como consegui me "curar" da depressão e síndrome do pânico. É possível sim e a vida vale a pena. Todos somos especiais e temos nosso valor. Mesmo sendo solitários num Universo povoado. Cada mente é única e cada ser é especial. Cada um a sua maneira.

      Mais amor, mais compreensão, mais afeto, mais presença, mais ouvidos, mais toques...

      Fim.

domingo, 10 de agosto de 2014

Casei Virgem


      O telefone tocou e mais uma vez Augusto chorou ao telefone, querendo voltar com Alessandra. Viviam brigando e se separando por nada. Bastava um olhar atravessado e Alessandra colocava Augusto para correr sem olhar para trás. O coitado chorava as mágoas, se arrependia e voltava, praticamente de joelhos, para os braços daquela que era sua alma gêmea, como assim decidiu que seria.

      Alessandra era geniosa, mas com um coração tão bondoso a ponto de não suportar ver Augusto chorar por ela, preferia relevar e voltar para seus braços, mais apaixonada do que estava antes. "Nunca mais" era a frase constante na boca dos dois. Nunca mais aquele dia, pois tudo voltava a se repetir na semana seguinte. Namoravam desde a adolescência, com turbulências e fases amorosas intensas, mesmo Alessandra tendo feito o voto de se casar virgem. Augusto não se controlava, mas Alessandra fugia dele naqueles dias em que seus braços se triplicavam em seu corpo magro e imaculado.

      O tempo passou e o amor turbulento só aumentava entre os dois. Alessandra não abria mão de seu vestido branquíssimo com calda longa, que, acreditava ela, só poderia vesti-lo se continuasse pura. Voto sagrado sem chances de ser quebrado.

      Marcaram a data do casamento, mesmo contrariando as famílias, pois ainda eram jovens para assumir responsabilidade de um lar e provavelmente de um filho no primeiro ano de casamento. Teimosos, não deram ouvidos aos mais sábios. Marcaram data e pronto!

      Como a avó de Alessandra dizia, quando se marca dia e hora, o tempo voa. E voou! Um mês apenas para concretizar uma união de jovens sem muito juízo, que não se desgrudavam nem nas brigas nem nos momentos de ternura. Amor e ódio os definiam.

      Alessandra começou a ficar preocupada com o dia em que se entregaria ao amado Augusto. Tinha vergonha de perguntar como seria a primeira vez, se doía, se sangrava ou se tinha algum truque para facilitar o ato obsceno. Mesmo fazendo pesquisas virtuais não se contentava só em ver, queria saber da boca dos outros qual seria a sensação de ser perfurada.

      Um dia, curiosa e com medo da dor, pegou um espelho e colocou-o entre as pernas para ver a situação em que estava e imaginando como ficaria depois. "Mas o buraco é muito pequeno, como vai caber aqui?" - se perguntava indecisa. Calculava a espessura do membro do namorado e com gesto com os dedo tentava comparar como seria possível um ato de amor, do primeiro amor, não sangrar e nem doer. "Vai doer" - afirmava ela, suspirando.

      Chegou o grande dia, Alessandra toda linda em seu vestido branquíssimo de renda, véu comprido que se arrastava pelo caminho até o altar e um sorriso de Monalisa grudado no rosto. Se esqueceu que estava prestes a realizar o sacramento matrimonial e não parava de pensar como seria à noite, com Augusto. Uma amiga havia lhe indicado uma pomada anestésica e Alessandra já havia guardado em sua bolsa. Se besuntaria de pomada e não sofreria. Estava resolvido.

      O casamento foi perfeito, tudo tranquilo e em plena harmonia entre o casal. Chegou a noite. Passariam num hotel três estrelas, presente de um dos padrinhos. No dia seguinte viajariam para a praia. Santos, Praia Grande, numa Colônia de Férias. Tudo certo até então.

      Chegando ao hotel Augusto pegou-a no colo e entrou no quarto que já estava preparado para núpcias. Cortesia da casa: champagne no gelo e morangos em um cumbuca de cristal. Rosas vermelhas perfumavam o ambiente, roupões brancos, lençóis de cetim, sabonetes em formato coração e uma música suave quebrava o som o ar-condicionado. Augusto fechou a porta com o pé e colocou Alessandra na cama, deitando sobre ela. "Minha mulher" - disse, apaixonado.

      Alessandra fechou os olhos e esperou o beijo, mas Augusto já estava abrindo a braguilha da calça. Se ajeitou entre suas pernas, levantou o vestido rendado e puxou sua calcinha para o lado. Ansiava por este momento como um faminto ao se deparar com um prato de comida saborosa. O cheiro da fêmea lhe atiçava o instinto animal, se esquecendo da delicadeza prometida por anos, imobilizando a amanda que, assustada, quase não respirava. Havia chegado o momento e não queria mais esperar nem mais um segundo. Alessandra travou. Ansiosa e sem controle começou a chorar. Empurrou Augusto pelos ombros, conseguindo finalmente se esquivar de suas garras. Sentou-se no canto da enorme cama abraçando suas pernas, encostou seu rosto nos joelhos e chorou, compulsivamente. "Não vou conseguir!" - gritava entre um soluço e outro. "Vai doer, vai doer, vai sangrar!"

      Augusto respirou fundo, sentou-se no chão e colocou as mãos na cabeça. Fechou os olhos, se levantou e foi se aninhar no peito de Alessandra. Deitaram do jeito que estavam e adormeceram. Antes dos primeiros raios se mostrarem presentes Alessandra sentiu suas nádegas sendo cutucadas e Augusto a lhe beijar o pescoço, recitando frases de amor em seu ouvido. Sorriu e retribuiu, beijando-o ternamente. Carinhosamente Augusto lhe mostrou a pomada anestesiante, beijando seu rosto todo, com toda a paciência que nem ele sabia que tinha. Alessandra tirou o vestido e se preparou, relaxada. Augusto fez as vezes de enfermeiro e cuidadosamente esguichou a pomada nas partes virgens da mulher. Ela gemeu, pois o choque da pomada em sua pele quente fez com que arrepiasse. Augusto começou a beijá-la, carinhosamente, por todo o corpo. Inebriada com tanto carinho Alessandra sentiu a invasão, sem dor. Sorriu e ficou mais relaxada ainda. Augusto parou com os carinhos e, olhando para a amada, começou a rir, incontrolavelmente gargalhava. Sem entender nada Alessandra ficou séria e preocupada. "Não sinto nada, amor, tá tudo anestesiado!" - disse, segurando o membro e sem ter o que fazer. Alessandra não se conteve e riu também.

      Tomaram banho, café da manhã caprichado e saíram rumo a Santos. Os outros dias foram complicados, pois ainda ficou a dúvida em Alessandra se sentiria dor sem o bendito anestésico ou se já havia rompido o pequeno furo que cabia apenas o dedo mindinho. Não deixava Augusto lhe tocar de jeito nenhum! Travava de maneira que nenhuma força masculina conseguia abrir suas pernas. Lua de mel tensa, só com passeios, comidas gostosas, praia, ardume na pele pelo queimado do sol e sem a consumação carnal do sacramento. Era uma novela convencê-la a tentar mais uma vez, sem ter que presenciar cenas de choro, de tortura, de tapas, de esquivas, de sofrimento inútil, afinal já havia feito uma vez. Mas essa vez foi com o anestésico e sem ele Alessandra não queria arriscar. E com ele correria o risco de Augusto cair na gargalhada e não dar conta de comparecer.

      Augusto já não sabia mais como convencer a mulher de que não doiria, de que era normal e que tudo ficaria maravilhoso se ela relaxasse. Insistia que era tudo psicológico e que se ela ficasse repetindo que iria doer, doeria mais ainda. Alessandra ficava mais apavorada do que estava. Até que com o tempo, só depois de mais de um mês, tudo ficou ótimo entre o jovem casal.

      Só não contavam com a fofoca entre Alessandra e uma tia que fez o favor de espalhar para a família inteira o ocorrido na lua de mel. Mal se alojaram em sua moradia já fizeram reuniões para resolver a virgindade da moça. Os homens de um lado com Augusto, que mais parecia uma confraria de piadas, pois riam o tempo todo. De outro lado as tias, ora passando a mão nos cabelos de Alessandra, ora alisando suas mãos, consolando-a a tentar, que não doía, que depois ela veria estrelas e quem sabe a Via Láctea inteira. E, claro, riam descontroladamente. Quem diria que suas tias idosas já aprontaram muito na juventude? "E nem tinha essa cama fofa, era tudo na palha, no barracão da fazenda", contavam, com os olhos brilhando. "E sabe o que a gente fazia pra ir mais rápido? Os vestidos eram compridos e íamos buscar leite no curral sem calçola. E aí a gente encostava nas tábuas e fazia, de pé." - comentavam, carimbando um sorriso misturado de prazer e saudade da juventude. Alessandra só ficava escutando e perguntando da dor, que era sua principal preocupação. E se divertia muito com as risadas descontroladas das tias.

      Boas lembranças da lua de mel com um anestésico como testemunha. Causos para se contar para os filhos e netos, de todos, da família inteira!

      Fim.

   

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Nelson Rodrigues

O Pediatra


Saiu do telefone e anunciou para todo o escritório:
— Topou! Topou!
Foi envolvido, cercado por três ou quatro companheiros. O Meireles cutuca:
— Batata?
Menezes abre o colarinho: — "Batatíssima!". Outro insiste:
— Vale? Justifica?
Fez um escândalo:
— Se vale? Se justifica? Ó rapaz! É a melhor mulher do Rio de Janeiro! Casada e te digo mais: séria pra chuchu!
Alguém insinuou: — "Séria e trai o marido?". Então, o Menezes improvisou um comício em defesa da bem-amada:
— Rapaz! Gosta de mim, entende? De mais a mais, escuta: o marido é uma fera! O marido é uma besta!
Ao lado, o Meireles, impressionado, rosna:
— Você dá sorte com mulher! Como você nunca vi! — E repetia, ralado de inveja: — Você tem uma estrela miserável!

O AMOR IMORTAL

Há três ou quatro semanas que o Menezes falava num novo amor imortal. Contava, para os companheiros embasbacados: — "Mulher de um pediatra, mas olha: — um colosso! ". Queriam saber: — "Topa ou não topa?". Esfregava as mãos, radiante:
— Estou dando em cima, salivando. Está indo.
Todas as manhãs, quando o Menezes pisava no escritório, os companheiros o recebiam com a pergunta: — "E a cara?". Tirando o paletó, feliz da vida, respondia:
— Está quase. Ontem, falamos no telefone quatro horas! Os colegas pasmavam para esse desperdício: - "Isso não é mais cantada, é ...E o vento levou". Meireles sustentava o princípio que nem a Ava Gardner, nem a Cleópatra justificam quatro horas de telefone. Menezes protestava:
— Essa vale! Vale, sim senhor! Perfeitamente, vale! E, além disso, nunca fez isso! É de uma fidelidade mórbida! Compreendeu? Doentia!
E ele, que tinha filhos naturais em vários bairros do Rio de Janeiro, abandonara todos os outros casos e dava plena e total exclusividade à esposa do pediatra. Abria o coração no escritório:
— Sempre tive a tara da mulher séria! Só acho graça em mulher séria!
Finalmente, após quarenta e cinco dias de telefonemas desvairados, eis que a moça capitula. Toda a firma exulta. E o Menezes, passando o lenço no suor da testa, admitia: — "Custou, puxa vida! Nunca uma mulher me resistiu tanto!". E, súbito, o Menezes bate na testa:
— É mesmo! Está faltando um detalhe! O apartamento! Agarra o Meireles pelo braço: — "Tu emprestas o teu?". O outro tem um repelão pânico:
— Você é besta, rapaz! Minha mãe mora lá! Sossega o periquito!
Mas o Menezes era teimoso. Argumenta:
— Escuta, escuta! Deixa eu falar. A moça é séria. Séria pra burro. Nunca vi tanta virtude na minha vida. E eu não posso levar para uma baiúca. Tem que ser,olha: — apartamento residencial e familiar. É um favor de mãe pra filho caçula.
O outro reagia: — "E minha mãe? Mora lá, rapaz!". Durante umas duas horas, pediu por tudo:
— Só essa vez. Faz o seguinte: — manda a tua mãe dar uma volta. Eu passo lá duas horas no máximo!
Tanto insistiu que, finalmente, o amigo bufa:
— Vá lá! Mas escuta: — pela primeira e última vez! Aperta a mão do companheiro:
— És uma mãe!

DECISÃO

Pouco depois, Menezes ligava para o ser amado: — Arranjei um apartamento genial.
Do outro lado, aflita, ela queria saber tudinho: "Mas é como, hein?". Febril de desejo, deu todas as explicações: — "Um edifício residencial, na rua Voluntários. Inclusive, mora lá a mãe de um amigo. Do apartamento, ouve-se a algazarra das crianças". Ela, que se chamava Ieda, suspira:
— Tenho medo! Tenho medo!
Ficou tudo combinado para o dia seguinte, às quatro da tarde. No escritório, perguntaram:
— E o pediatra?
Menezes chegou a tomar um susto. De tanto desejar a mulher, esquecera completamente o marido. E havia qualquer coisa de pungente, de tocante, na especialidade do traído, do enganado. Fosse médico de nariz e garganta, ou simplesmente de clínica geral, ou tisiólogo, vá lá. Mas pediatra! O próprio Menezes pensava: — "Enquanto o desgraçado trata de criancinhas, é passado pra trás!". E, por um momento, ele teve remorso de fazer aquele papel com um pediatra. Na manhã seguinte, com a conivência de todo o escritório, não foi ao trabalho. Os colegas fizeram apenas uma exigência: — que ele contasse tudo, todas as reações da moça. Ele queria se concentrar para a tarde de amor. Tomou, como diria mais tarde, textualmente, "um banho de Cleópatra". A mãe, que era uma santa, emprestou-lhe o perfume. Cerca do meio-dia, já pronto e de branco, cheiroso como um bebê, liga para o Meireles:
— Como é? Combinaste tudo com a velha?
— Combinei. Mamãe vai passar a tarde em Realengo. Menezes trata de almoçar. "Preciso me alimentar bem", era o que pensava. Comeu e reforçou o almoço com uma gemada. Antes de sair de casa, ligou para Ieda:
— Meu amor, escuta. Vou pra lá. E ela:
— Já?
Explica:
— Tenho que chegar primeiro. E olha: vou deixar a porta apenas encostada. Você chega e empurra. Não precisa bater. Basta empurrar.
Geme: — "Estou nervosíssima!".
E ele, com o coração aos pinotes:
— Um beijo bem molhado nesta boquinha.
— Pra ti também.

ESPANTO

Às três e meia, ele estava no apartamento, fumando um cigarro atrás do outro. Às quatro, estava junto à porta, esperando. Ieda só apareceu às quatro e meia. Ela põe a bolsa em cima da mesa e vai explicando:
— Demorei porque meu marido se atrasou.
Menezes não entende: — "Teu marido?", e ela:
— Ele veio me trazer e se atrasou. Meu filho, vamos que eu não posso ficar mais de meia hora. Meu marido está lá embaixo, esperando.
Assombrado, puxa a pequena: — "Escuta aqui. Teu marido? Que negócio é esse? Está lá embaixo! Diz pra mim: — teu marido sabe?". Ela começou:
— Desabotoa aqui nas costas. Meu marido sabe, sim. Desabotoa. Sabe, claro.
Desatinado, apertava a cabeça entre as mãos: — "Não é possível! Não pode ser! Ou é piada tua?". Já impaciente, Ieda teve de levá-lo até a janela. Ele olha e vê, embaixo, obeso e careca, o pediatra. Desesperado, Menezes gagueja: — "Quer dizer que...". E, continua: "Olha aqui. Acho melhor a gente desistir. Melhor, entende? Não convém. Assim não quero".
Então, aquela moça bonita, de seio farto, estende a mão:
— Dois mil cruzeiros. É quanto cobra o meu marido. Meu marido é quem trata dos preços. Dois mil cruzeiros.
Menezes desatou a chorar.

A vida como ela é...


domingo, 3 de agosto de 2014

Ho`Oponopono

O poder de Deus através das pessoas.
O querido amigo Mauj do blog http://maujale.blogspot.com.br/, direto do Japão, e que postou esta oração havaiana maravilhosa no facebook e eu posto aqui, para o bem de todos.
Uma ótima semana!


A paz começa pela gente. é de dentro pra fora.
E segue a oração Ho`Oponopono
Divino Criador, Pai, Mãe e filho todos em um.
Se eu, minha família, meu parentes e antepassados ofendemos a tua família, parentes e antepassados em pensamentos, palavras e atos, desde o início de nossa criação até o presente, nos te pedimos perdão. Deixa que isso se limpe, purifique, libere e corte todas as memórias, bloqueios, energias. Transmuta estas energias indesejáveis em pura LUZ e assim é.
Para limpar meu subconsciente de toda a carga emocional armazenada nele, diga uma e outra vez, durante meu dia as palavras chaves.
EU SINTO MUITO, ME PERDOA, TE AMO , SOU GRATO.
Me declaro em paz com todas as pessoas da Terra e com quem tenho dívidas pendentes. Por esse instante e em seu tempo. Por tudo o que não me agrada de minha vida presente
EU SINTO MUITO, ME PERDOA, TE AMO , SOU GRATO.
Liberto todos aqueles de quem eu creio ter prejudicado e maltratado, porque simplesmente me devolvem o que eu fiz antes, em alguma vida passada. tempo.
EU SINTO MUITO, ME PERDOA, TE AMO , SOU GRATO.
Ainda que me seja difícil perdoar a alguém, sou eu quem peço perdão a esse alguém agora, por este instante e em todo o tempo, e por tudo na minha presente.
EU SINTO MUITO, ME PERDOA, TE AMO , SOU GRATO.
Por este espaço sagrado, que habito diariamente e com o qual não me sinto confortável com isso.
EU SINTO MUITO, ME PERDOA, TE AMO , SOU GRATO.
Pelas difíceis relações das quais somente guardo lembranças ruins
EU SINTO MUITO, ME PERDOA, TE AMO , SOU GRATO.
Por tudo o que não me agrada na minha vida presente, de minha vida passada de meu trabalho e ao que esta em torno de mim, Divindade limpe em mim o que está contribuindo com minha escassez.
EU SINTO MUITO, ME PERDOA, TE AMO , SOU GRATO.
Se meu corpo físico experimenta ansiedade, preocupações, culpa, medo, tristeza, nostalgia, dor, digo amo minhas recordações: Minha memória, Eu te amo! Estou agradecida pela oportunidade de libera-las a vocês e a mim.
EU SINTO MUITO, ME PERDOA, TE AMO , SOU GRATO.
E neste instante afirmo que TE AMO, penso em minha saúde emocional e na de todos os meus seres amados…TE AMO.
Para minhas necessidades e para aprender a esperar sem ansiedade, sem medo, reconheço minhas memórias aqui neste momento.
SINTO MUITO, TE AMO.
Minha contribuição para a cura da Terra, amada Mãe Terra que é quem eu Sou…se eu, minha família, meus parentes e antepassados te maltratamos com pensamentos, palavras, fatos e ações desde o inicio de nossa criação até o presente, eu peço o Seu perdão deixa que isso se limpe e purifique, libere e corte todas as memorias, bloqueios, energias e vibrações negativas, transmute estas energias indesejáveis em pura LUZ e assim é.
Para concluir digo que esta oração é minha porta, minha contribuição, a tua saúde emocional, que é a mesma minha, então esteja bem. E na medida em que você vai se curando eu te digo que
Eu sinto muito pelas memórias de dor que compartilho com você.
Te peço perdão por unir meu caminho ao seu para a cura e
Te agradeço por estar aqui para mim e
TE AMO por ser quem você é.