terça-feira, 15 de julho de 2014

O Segredo da Família Birautes


A família Birautes morava na esquina da rua Massapé, naquele tradicional bairro de classe média da cidade. Seu Joaquim e Seu Barroso trabalhavam como porteiro e segurança da residência. O que eles não sabiam era o que acontecia todos os sábados pela manhã naquela casa. Era incrível, todos os sábados, como se fosse uma devoção. Todos os familiares dos Birautes iam para lá. Ao todo entravam ali mais de dezessete carros. Neste horário todos os empregados eram dispensados e só voltavam no outro dia, mas somente Seu Joaquim e Seu Barroso trabalhavam, afinal de contas eles cuidavam da segurança da casa e ficavam lá na frente na entrada principal e não corria-se o risco de nenhum deles entrar, ou de nenhuma informação vazar. Certo sábado, quando todos entraram Seu Barroso resolveu arriscar; combinou com o Joaquim para que ficasse na portaria enquanto ele ia bisbilhotar. Tirou os sapatos para não fazer nenhum barulho, colocou boné e óculos de sol para não ser reconhecido. Quando Seu Barroso atravessou a sala principal para adentrar a parte superior da casa, pode observar com os seus próprios olhos. E era exatamente aquilo que ele imaginava ser, o coração deu uma rápida acelerada e ele continuou a observar. Resolveu voltar pra contar ao amigo. Correu. Sentia arrepios. Curioso Seu Joaquim perguntou: 
- E aí? Conseguiu ver algum coisa?
Seu Barroso não sabia se ria, se chorava ou se gritava, ele sempre queria saber o que acontecia ali. Seria um ritual, uma reunião de família, contagem de dinheiro familiar? E hoje ele conseguiu descobrir. Seu Joaquim já estava inquieto quando novamente perguntou: 
- E aí? Conta logo....
- Joaquim, era exatamente aquilo que imaginei... 

(Essa foi a parte criada pelo Carlos Hamilton, abaixo meu desfecho) 

Quando os familiares entravam iam direto aos quartos reservados e se trocavam. Colocavam roupas esvoaçantes, sapatilhas, as mulheres amarravam seus cabelos num rabo-de-cavalo e os homens colocavam chapéu panamá.
Depois seguiam todos para o grande salão onde todos se posicionavam. As crianças ficavam divididas nos quatro cantos e os adultos enfileirados, de um lado os homens e do outro as mulheres, frente a frente.
Começava com uma valsa e os casais se formavam. Depois bolero, tango, e por fim os casais eram desfeitos voltando aos seus lugares. As crianças que estavam nos cantos se posicionavam entre a fileira dos adultos e uma porta se abria e matriarca entrava, com um manto vermelho e uma coroa. Caminhava até o fim da fileira. Depois agradecia e logo depois começava a discoteca. E cada casal simulava chamar os convidados para participarem.
Isto nada mais era um ensaio para o aniversário de oitenta anos da matriarca Ofélia. Fora bailaria na juventude, ganhou vários prêmios e viajou pelo mundo se apresentando. 
Estava no esquecimento, pois muitos já haviam morrido, principalmente quem se lembrava dela. 
Então essa foi uma maneira de homenagear a querida mãe, avó e bisavó. Uma foto com a família toda dançando, relembrando os bons momentos da juventude e tendo a certeza de que tudo passa muito rápido.
Ofélia sempre chorava no final do ensaio temendo não ter saúde suficiente para aguentar até o dia da apresentação, que seria num teatro. 
A ansiedade era tanta que uma das netas que já havia se formado em enfermagem estava sempre de prontidão para atender a avó, caso precisasse.
Como Seu Barroso foi fuxicar e estragou a completa surpresa, foi convidado a participar da apresentação, juntamento com Seu Joaquim. Ainda não sabiam quais papeis teriam, mas choraram de emoção com o convite.
Fim.


Esta é minha participação da Blogagem Coletiva do Blog Mesa de Conversa. Várias histórias por lá. Querem conferir? Cliquem no link.


11 comentários:

  1. Lindo!!Adorei a criatividade e inspiração! DEZ!! bjs,chica

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    1. Vou lá ler o seu, Chica, que deve estar leeeendjooo como sempre!
      Beijos

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  2. Gente que maravilha de blogagem!!
    Uma das mais interessantes que já vi!
    Amei seu final!
    Homenagear com dança, encontro de família e música é celebrar a alegria, o amor, a amizade!
    Beijos!!!

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    1. Uma blogagem muito interessante mesmo, principalmente pra quem gosta de escrever. Tbm amei!
      Beijos, Selma!

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  3. Clara, o seu desfecho é muito ternurento. Eu imaginei logo um segredo tenebroso... mas afinal havia crianças presentes, o que limita logo as coisas. Gostei da iniciativa do Carlos Hamilton.
    Um abraço para os dois
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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    1. Gostei do ternurento...
      A tentação pra fazer um suspense ou um fim tenebroso ficou me comichando... mas preferi ser fofa no texto... rsrsrsrs
      Beijos, querida!

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  4. Uau Clara, o segredo era este? Já imaginou que deslumbre não teve o Barroso ao ver a cerimônia... Maravilhosamente lindo o seu desfecho.
    Obrigado pela participação, minha amiga.
    E já aproveito para te intimar quando tiver um texto que queira me enviar para o "Você faz o final" me envia, ok? Vc escreve muito bem e eu quero ter a honra de ter um texto seu no blog, me avisa.

    Abraços

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    1. Será um prazer ter um texto meu no seu blog. Vou penar em algo e te mando, com certeza, menino!
      Abraços!

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  5. Brilhante final, Clara
    Você sempre arrasando, né?
    Beijinhos de
    Verena e Bichinhos

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  6. Oi Clara Lúcia
    Lindo final! Gostei de Joaquim e Barroso participando da apresentação com a família.
    Você escreve Bem! Concordo que escrever é bom, também gosto!
    Abraços.

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