quarta-feira, 18 de junho de 2014

Inocente

Cena do filme "Divã", do livro de Martha Medeiros

      Depois de um banho rápido e uma vaporada de perfume na nuca, Paula pegou sua maleta e as chaves, se despediu do marido com um leve beijo para não borrar o batom e se foi. Dentro do carro virou o retrovisor para si e deu uma última olhada na maquiagem para ver se estava tudo perfeito. Nem precisava disso, pensava ela, mas se cuidar é bom, concluía, sorrindo.


      Paula era do tipo mulherão, dinâmica, bem sucedida e independente nos seus 36 anos.Era administradora  numa empresa de importação e exportação de material esportivo, e não tinha filhos. Não pensava neles ainda e já cogitara com o marido em não tê-los. Seus planos eram muito ousados, e filhos teriam que ser muito bem cuidados por ela e não por babás e escolas. Tinha consciência de que uma boa educação se começava em casa e abrir mão de um futuro promissor ainda não estava nos seus planos.

      No trajeto para a reunião muitos pensamentos lhe atordoavam e o que mais lhe corroía era o quanto amava o marido Maciel.

      Maciel, 46 anos, lindo, bem-humorado, bem-resolvido, um gentleman, e excelente marido. Era o retrato da família perfeita e que causava inveja principalmente nos familiares que se diziam insatisfeitos com a vida.

      Paula se lembrou de seu casamento e do quanto foi tudo perfeito, amigos, família... A lua de mel dos sonhos... A casa própria... Enfim, tudo perfeito. E era impossível não se lembrar sem estampar um sorriso no rosto.

      Ao longe avistou o local de sua reunião: Motel Paradiso. O coração disparou, um gelo lhe tomou o estômago, respirou fundo e sorriu.

      Na portaria perguntou pelo quarto de sempre, duas vagas na garagem com uma delas já ocupada; um luxo. Abriu a porta e pelo caminho até a cama pétalas de rosas vermelhas, na mesa de apoio um balde de gelo com um champagne e uma cumbuquinha com morangos bem vermelhos e grandes. Um sorriso mostrando os dentes perfeitos e uma rosa na mão aguardava-a na cama. Adriano.

      Ah,  Adriano... Sua perdição de longa data... Daqueles homens que se percebe pelo cheiro quando se aproxima, pelo toque inesquecível na nuca... Se aproximou, se jogou na cama e deu-lhe um longo beijo apaixonado, quente, de tirar o fôlego. Adriano era o tipo de homem envolvente, sedutor e que sabia onde tocar a mulher, na hora certa, sussurrar nos ouvidos, amar enlouquecidamente até desfalecer. 

      Paula e Adriano eram unha e carne no sexo. Não precisavam falar nada; sabiam exatamente o que o outro queria. Não podiam e nem conseguiam ficar longe por muito tempo. Batia a vontade, a saudade, a paixão, o desejo e se não extravasassem, enlouqueciam.

      Ficariam horas, dias, meses enfiados numa cama de motel se assim fosse possível, mas cada um tinha a sua vida. Paula com o marido Maciel, e Adriano com sua linda Olívia, dedicada, boa mãe, excelente companheira, perfeita!

      Se sentiam culpados? Não, já haviam se conformado com a situação. Nunca sequer cogitaram a possibilidade de serem marido e mulher. O que os unia era a carne, o pecado, o sexo... Casamento era família, união, amizade, amor, respeito. E não arriscariam suas vidas felizes e confortáveis por uma paixão louca.

      Passado quatro horas, tomaram banho, vestiram-se e foram cada um para sua família. O próximo encontro? Quando desse vontade...

      Chegando em casa Paula esperou por Maciel para o almoço, que logo chegou, beijou-lhe carinhosamente, disse=lhe que amava-o e que não conseguiria viver sem ele. E ele, num gesto fraterno, disse que cuidaria dela até o fim de seus tempos.

      Almoçaram e voltaram ao trabalho, agora no escritório, e continuaram felizes cada um de seu jeito.

      Texto publicado em 10 de agosto de 2012 - Editado


6 comentários:

  1. Olá. Que gostosa história, de prender a atenção! abraços

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    1. Obrigada, Ives, é sempre muito bem-vindo por aqui!
      Abraços!

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  2. Lindo de ler e que local para uma reunião de trabalho,rs...Pobre Maciel...Ou será que ele sabia ?Talvez também desse seus pulinhos por fora,rs? De qualquer forma, lindo conto, mostrando uma triste situação, quando não se encontra no amor tudo o que gostaria beijos,chica.

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    1. Exatamente, Chica, o amor nem sempre nos dá o que queremos. Tem gente que prefere não ver, não saber, pra não ter que tomar uma atitude que estrague todo aquele encanto de uma vida confortável. Acontece também.
      Beijos, lindona!

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  3. Que reunião de trabalho "caliente," essa, Clara
    Adorei ler mais este conto.
    Beijinhos de
    Verena e Bichinhos

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  4. Oi, Clara, como vai? Mais uma história entre tantos outros arranjos que existem por aí. Há pessoas que são felizes assim, vivendo histórias separadas que se entrelaçam. Quem sou eu para julgar... Eu, nasci para ser de um homem só. #fato Um abraço!

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