quarta-feira, 14 de maio de 2014

Recaída


      De tanta bagunça, tantos papéis espalhados, gavetas empanturradas de quinquilharias e até uns chaveiros sem a argola para prender na chave Anabelle virou as tralhas no chão. Uma lixeira que estava por perto logo estaria cheia. Nada do que estava guardado serviria para alguma coisa. Menos um pen drive perdido há algum tempo. Anabelle nem tinha mais esperanças de encontrá-lo e ele tão perto, gritando para ser descoberto.

      Correu para o computador para vasculhar o que havia guardado, o que dera por perdido e o que mais encontraria naquele pequeno objeto grandioso.

      Alguns arquivos de músicas, todas românticas, fotos de viagens, ensaios de contos, e fotos. Muitas fotos. "Imagina alguém vendo isso daqui, meu Deus, que horror!", pensava enquanto passava foto por foto. Até parar em uma que lhe balançou. Um grande amor de tempos atrás. Nem era tanto tempo assim, mas parecia uma eternidade desde seu fim.

      Não se lembrava mais do rosto dele... Tão lindo... Apoiada com o cotovelo na mesa e a mão sob o queixo, ficou uns instantes olhando, cada detalhe, cada traço... Com o mouse passou a flechinha por todo seu rosto, pelos cabelos cacheados, pelo queixo quadrado, pelos olhos que sempre sorriam, pelos lábios... Entreabriu a boca e sentiu seu beijo, tão intenso, quente, molhado...

      Suspirou e passou a mão em sua figura... Acariciando com os dedos seu rosto, sua boca... Fechou os olhos e voltou aos bons tempos de ternura, de cuidados, de gargalhadas sem motivos, de olhares perdidos um no outro, de abraços... de amor...

      Voltou aos papéis com a esperança de encontrar seu telefone ou algo que pudesse entrar em contato. Havia bloqueado o moço nas redes sociais quebrando qualquer possibilidade de contato. Parou por uns instantes e achou melhor não procurar nada. Tinha a foto, a única sobrevivente além de seu carinho e ternura por um homem que a modificou para melhor numa fase conturbada em sua vida. Mas acabou, melhor assim, melhor ficar como estava. Não queria estragar essas boas lembranças deste momento mesmo tendo cultivado uma raiva temporária e muitos choros por dias seguidos.

      Apesar da dor extrema com o fim de um promissor relacionamento eram essas as lembranças que levaria consigo para sempre, de bons tempos, de amor eterno enquanto durasse, de surpresas inesperadas, de longos telefonemas... Boas lembranças.

      Chorou de saudades... Não imaginava que ele ainda habitava seu corpo, seu coração, seu ser... Esquecera tão rápido e bastou uma foto numa tela fria para voltar todo o sentimento enterrado.

      Nunca mais seu cheiro, sua voz, seus abraços, seu calor... Só saudades...

      Sem fim para nunca mais!

      Fim.

9 comentários:

  1. É... às vezes acontecem essas coisitas de recaídas!! Faz parte da vida e é muito bom a lembrança de um tempo que já passou e dificilmente acontecerá outra vez.

    Fica guardado lá num cantinho de um coração cansado e muitas vezes ferido.

    Mió deixar lá mermo!!!!!

    Bommmm diaaaaaaaaaaa, Claritcha!!!!

    KK

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    1. Sim, acho que se voltar alguma coisa pode até estragar as boas lembranças. Então que fique aquele mistério, aquelas recordações boas, enfim, foi bom enquanto durou.
      Beijos

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  2. Clara, como me vi nesse seu texto! Já passei por isso mulher! É bom demais recordar algo que foi bom mas passou. É importante também a gente se conscientizar que tem coisas que é melhor deixar lá atrás, no passado. Acredita que não consigo jogar fora as fotos do dito cujo mesmo não tendo mais nada nem sentindo nada por ele? Affê! Coisas de canceriana viu!
    Beijão

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    1. Roseli, recordar é muito bom. E é muito bom também virar a página, seguir em frente, continuar vivendo da melhor forma possível. Bom que lembranças ficam, que sejam as boas então.
      Eu consigo me desfazer de muitas coisa, na boa. rsrs
      Beijos

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  3. Ás vezes as lembranças, voltam, mas é sempre bom manter o pensamento que foi bom, mas já ficou no passado. Assim é possível viver melhor o presente.
    Beijos,
    Élys.

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    1. Bom que ficam só as lembranças boas, Élys, afinal a pessoa fez parte da nossa vida, compartilhou dias, meses e até anos, então não é justo que fique apagado assim, pra sempre.
      Beijos

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  4. A saudade dói e machuca demais...
    Mais um lindo conto, Clara
    Não preciso nem dizer que adorei ler, né?
    Tenha uma ótima tarde, querida
    Beijinhos de
    Verena e Bichinhos

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