quarta-feira, 21 de maio de 2014

Pássaros Feridos


Trecho do livro Pássaros Feridos, Colleen McCullough.

      Pouco antes de seu décimo quinto aniversário, quando o calor do verão principiava a aumentar, rumo ao seu máximo estupeficante, Meggie notou manchas pardas, irregulares nas calças. Um ou dois dias depois as manchas desapareceram, mas seis semanas  mais tarde, voltaram, e a vergonha mudou-se em terror. Na primeira vez julgara-a sinais de um traseiro sujo, e daí a sua mortificação, mas, na segunda, viu que se tratava inegavelmente de sangue. Não tinha a menor ideia da sua procedência, mas presumiu que viesse do traseiro mesmo. A lenta hemorragia desapareceu três dias depois e não voltou por mais de dois meses; a lavagem furtiva das calças passara despercebida, pois era ela mesma que lavava quase toda a roupa. O ataque seguinte lhe trouxe dor, as primeiras cólicas não hepáticas de sua vida. E a sangria foi pior, muito pior. Ela furtou algumas fraldas dos gêmeos, que tinham sido postas fora de uso, e tentou amarrá-las por baixo das calças, horrorizada pela perspectiva de que o sangue pudesse transpassá-las.

      A morte que levara Hal havia sido como uma visita tempestuosa de algo fantasmagórico; mas essa cessação do próprio ser era aterradora. Como poderia ela procurar Fee ou Paddy para dar-lhes notícias que estava morrendo de alguma doença indecorosa e proibida do traseiro? Somente a Frank teria ela podido contar suas dificuldades, mas Frank estava tão longe que não sabia onde encontrá-lo. Ela ouvira as mulheres falar, à mesa do chá, em tumores e cânceres, mortes lentas e horripilantes, que suas amigas, suas mães ou suas irmãs haviam sofrido, e aquilo lhe parecia, sem dúvida, uma espécie qualquer de tumor que lhe corria as entranhas, roendo-as em silêncio na direção do coração assustado. E ela não queria morrer!

      Suas ideias sobre a morte eram vagas, como era vaga a ideia que fazia do seu futuro "status" naquele incompreensível outro mundo. Para Meggie, a religião era muito mais um conjunto de leis que uma experiência espiritual, e não poderia ajudá-la de maneira alguma. Palavras e frases acotovelavam-se, aos pedaços, em sua consciência tomada de pânico, proferidas pelos pais, pelas amigas, pelas freiras, pelos padres nos sermões, pelos homens maus nos livros quando ameaçavam vingar-se. Não havia maneira com que pudesse chegar a um acordo com a morte, procurando imaginar se a morte era uma noite perpétua, um abismo de chamas que ela teria de transpor num salto para chegar aos campos dourados do lado oposto, ou uma esfera, como o interior de um balão gigantesco, cheio de coros que se alteavam e luzes atenuadas por janelas sem fim de vidros pintados.

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      Um livro delicioso, instigante, emocionante e que vale a leitura. A saga de uma menina por seu amor a um padre, proporcionando momentos de alegrias e de muita dor, tristezas, perdas... A vida como ela é.
      Um vídeo de um seriado gravado e exibido no SBT há anos.




8 comentários:

  1. Que instigante conto, que da vontade de continuar! A religião é o freio do ser humano! abraços

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    1. Leia o livro, Ives, ou então assista a minissérie. Tem no Youtube ela completa. Vale a pena. Vai adorar, tenho certeza! Tanto o livro quanto o vídeo são maravilhosos. Mas no livro tem mais detalhe que a gente não percebe. É grosso, tem mais de 600 páginas mais dá pra ler em pouco tempo, de tão intenso que é.
      Abraços, amigo!

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  2. Isso tudo fez um sucesso danado mesmo!

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  3. Grande Clara! Amei a dica, nem lembrava mais.
    Bjs
    Marli
    Blog da Marli

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    1. É lindo, Marli, vale a pena uma reprise, com certeza!
      Beijos, querida!

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  4. Comentei sobre ele, será que foi no Facebook? Amo o livro e assisti ao filme, nas duas vezes que passou a série. Lindo, lindo, os atores escolhidos a dedo. Um dos filmes bem fiéis ao livro, é imperdível. Não me lembro de quem li, era emprestado, e vou comprar o meu, reler e me apaixonar de novo. rs Este é um dos livros que a gente não dá, é para ser relido periodicamente.
    Beijo, Clara.

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    1. Um livro inesquecível! Cada fase a gente se lembra. Eu li o livro primeiro e depois assisti a minissérie. Não faltou nada! Amei os 2!
      Beijo,s querida!

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