quarta-feira, 30 de abril de 2014

Um Detalhe


      Segundo dia de encontro com aquela deusa, Rafael estava empolgado. Não diria apaixonado, mas estava muito próximo de se perder por aquela menina. Ruth. Uma deusa especial que cruzou seu caminho e lhe fez trocar a cerveja com os amigos por uma sala fria de cinema 3D.  Não se lembrava do filme, mas por ser 3D provavelmente seria de algum super herói.

      Se sentaram bem lá no fundo para terem maior liberdade aos beijos e abraços. Não queria pressa para os finalmente. Um dia de cada vez e tudo seria completo.

      Ruth era moça para casar, linda, meiga e com um sorriso encantador. Difícil conquistá-la e como era o segundo dia a conquista ainda não havia terminado. Qualquer descuido e perderia a rica oportunidade de, finalmente, ter um relacionamento sério. Já passara da hora em pensar em família, filhos, cachorro e viagens nas férias. Ruth era a escolhida, a eleita para ocupar o suposto cargo.

      Rafael era detalhista, observador, rígido até demais em suas escolhas. Detalhes bobos não passariam pelo seu crivo de observação. Todos os passos eram medidos meticulosamente e estudados para ser tudo com a maior perfeição. Desde um oi seguido de beijo na mão até um até amanhã, meu amor. Era chato e exigente. Ele escolhia e nunca se permitia que o escolhessem. Não gostava de certas atitudes das mulheres abordarem o rapaz. Isso estava completamente fora de cogitação de acontecer. Nem uma saída rápida compensava o desgaste e os gastos desnecessários. Não arriscava nunca. Mas aí apareceu Ruth com toda sua meiguice e timidez. Laçara o coração do moço de imediato, sem tempo para réplica ou tréplica. Rafael estaria apaixonado depois do segundo encontro.

      Os abraços já definiam os contornos do corpo de Ruth, uma severa exigência do moço. Os olhos cor de mel com cílios longos e pouca maquiagem eram perfeitos para sua futura esposa. O modo de andar, como uma gueixa, o deixaria de quatro em pouco tempo. Os seios médios e normais não corriam o risco de despencar tão rapidamente após a amamentação do primogênito. Tudo perfeito!

      Ruth falava pouco por causa de sua timidez, mas gostava de namorar. Quando se empolgava suas mãos iam até onde não deveriam. Isso assustava um pouco, mas Rafael gostava e permitia. E retribuía. Só não esperava que a empolgação da moça fosse tanta a ponto de deixá-lo maluco e levá-la para um lugar mais discreto. Um motel. Mudança de planos não era o que ele mais apreciava. Quebrar suas regras não o deixavam confortável, mas Ruth estava tão linda e fogosa que homem nenhum resistiria.

      Na metade do filme saíram e foram para o motel mais próximo. Um simples, por escolha dele. Não queria gastar além da conta por essa quebra de leis. Entraram e logo se jogaram um nos braços do outro. Deitaram na cama e Rafael começou a despir Ruth. Nunca imaginaria que aquela meiga gueixa teria um vulcão escondido. Corpo perfeito, perfumado, tudo em cima. Foi para os pés da moça. Os pés eram seu fetiche mais secreto. Se perdia nuns pés perfeitos e bem cuidados. Por um deslize nunca vira os pés de Ruth, pois sempre estava de sapatos fechados. Que importância teriam os pés para um corpo tão perfeito daqueles?

      Foi descendo e beijando suas pernas até chegar aos pés. Tirou o sapato de um, depois do outro e... Subiu novamente sem beijar nada. Olhava para os pés de Ruth e para seu rosto. Não conseguiu mais colocar as mãos neles. Esqueceria daquela parte e ficaria só com o que realmente interessava.

      Mas, vez ou outra, descia os olhos para aquela coisa branca e disforme. Fechava os olhos e se concentrava no que realmente queria fazer. Nada! Olhava para os pés de Ruth, suspirava fundo e beijava-a longamente, tentando buscar um prazer perdido. Nada!

      Não tendo mais o que fazer sentou-se e ficou olhando para os pés de Ruth. Ela, ingênua, se insinuava para ele, tocando os pés em seu corpo. E nada! Não conseguia imaginar como era possível uma linda mulher com uns pés tão esquisitos, com o dedo médio bem maior que o dedão e ainda por cima, como se não bastasse, sem um mínimo de cuidados. Não estavam bem-tratados. Estavam como pés de gente que não se cuidava. Nem sequer um esmalte ou uma lixa nos calcanhares. Um horror! Ruth sem entender nada continuava seu jogo de sedução tocando-o com a ponta dos pés. Com a ponta do dedo médio de tão maior que era dos demais.

      Sem ter mais o que fazer e sem conseguir se concentrar, Rafael pediu desculpas dizendo que teria que ir embora, pois acabara de se lembrar de um trabalho incompleto que terminaria até na manhã seguinte. Passaria a noite empenhado nessa tarefa. Ruth, meiga e inocente, acreditou, se vestiu e foram embora.

      Nunca mais Rafael viu Ruth. E se visse certamente não a cumprimentaria. Mudaria de calçada se preciso fosse. Mesmo ficando ainda um bom tempo pensando naqueles lábios doces, naquele colo perfeito e nos olhos cor de mel encantadores. Mais um pouco teria se apaixonado. Mais outro pouco e teria se casado com Ruth, e mais uma vida teriam netos.

      A busca continuava, agora com uma exigência a mais nas regras de Rafael: os pés! Se não os visse não teria a mínima chance de sequer ganhar um beijo seu.

      Fim.


10 comentários:

  1. Argh! Que nojo me deu desse Rafael,rs...Tu escreves tão bem que nos faz entrar na história!

    E me deu vontade que ela aproveitasse o o momento em que ele nada mais conseguiria fazer a não ser concentrar-se nos seus pés e usá-los,dando um bom chute onde quiserem ou puderem imaginar,rs...

    Adorei! E tomara Rafael passe pela vida encontrando pés horrorosos e fedorentos, chulezentos.Ele não merece nada melhor! Viu como fiquei irada?rs Tua culpa!!rs beijos,chica

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    1. Chica, não tem coisa melhor do que brigar com os personagens... Adoramos isso!
      E Rafael ainda vai ter o que procura, mas tudo sem amor... um pé lindo, um corpo perfeito e tudo que ele escolher... rsrsrs
      Beijos

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  2. Clara Lúcia
    Escreveste uma belíssima história. Naturalmente o fetiche de Rafael são os pés, só isso acabou por merecer a sua atenção. O que menos devia interessar, deitou tudo a perder. A Ruth, com sabor a frustração (?), acabou por se livrar de uma aberração de homem.
    Beijos

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    1. Sim, que sorte que ela teve, não é? Ele ainda vai acabar sendo escolhido. Quem muito escolhe acaba nas mãos mais impróprias do mundo!
      Obrigada, Daniel, Beijos

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  3. Será que algum dia Rafael vai encontrar a esposa perfeita?
    Acho que vai ser difícil...rs
    Rafael ainda vai levar muita lambada da vida e vai se dar muito mal, tomara
    Adorei a sua história, Clara
    Ótimo feriado para tí
    Beijinhos de
    Verena e Bichinhos

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    1. Encontra sim, Verena, sabe aquelas pré-fabricadas? São perfeitas pra ele, sem dúvidas. Agora, amor mesmo, acho que não... rsrsrs
      Beijos lindo feriado pra vc também!

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  4. Ah concordo o pé nao significa nada, mas tb né sem lixar o calcanhar? De matar

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    1. Então, Ana, sem lixar é de matar mesmo. Acho que não existem pés feios, existem pés mal-cuidados, isso sim!
      Beijos, querida!

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  5. Clara,esse Rafael não está com nada! Onde já viu definir uma pessoa pelos pés que ela tem? Vc escreveu com detalhes que me fizeram entrar na história! Adorei! bjs

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    1. Então, há gosto pra tudo, né Anne... ele é um pouco arrogante mesmo, mas não arrumar os pés também não é bom... rsrsrs
      Beijos, querida!

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